Você já pensou em fazer uma viagem para Antártica? Qual foi a primeira vez que você ouviu falar do continente gelado? Eu fiquei sabendo da existência da Antártica aos 12 anos de idade quando preparava um trabalho de geografia para a escola. Enquanto crescia, me deparei com as histórias do navegador Amyr Klink, primeiro brasileiro a invernar por lá, e com a incrível sobrevivência do explorador britânico Ernest Henry Shackleton e seu grupo, considerada uma das mais impossíveis de todos os tempos. Me encantei tanto que a vontade de conhecer esse lugar me perseguiu por quase três décadas.
Durante a faculdade de biologia procurei os projetos que iam para o extremo sul do planeta. As opções eram poucas, a fila de espera longa e os temas em andamento não me apeteceram. O Programa Antártico Brasileiro também leva alpinistas para auxiliar e dar segurança no trabalho de campo, mas ser selecionado para isso exigiria um belo investimento em tempo e dinheiro. Mais tarde, dando palestras em um navio de cruzeiro, ao saber do meu sonho, me indicaram para pilotar os botes que levam seus passageiros pra passear em meio ao gelo. Nunca tive retorno, mas foi ali que tudo mudou. Um senhorzinho que me ouvia, indignado ao saber que meu maior sonho era dar a volta ao mundo de veleiro e eu nem velejar sabia, me fez perceber que eu deveria fazer mais por mim mesmo.
Eu tinha 35 anos, era 2011, e passei então a dedicar todas as minhas energias para, um dia quem sabe, me tornar um capitão de veleiros. Comecei a navegar na represa Guarapiranga em São Paulo e a ler tudo que podia sobre o assunto. Um texto do Amyr Klink falava que os veleiros que vão para a Antártica partem de Ushuaia, extremo sul da Argentina. Veleiro? Antártica? Danou-se! Olhei no calendário, faltavam dois meses para a temporada começar. Eu não sabia onde estava me metendo, mas fui pra lá tentar a sorte.
Há quem compare navegar de veleiro para a Antártica a escalar as mais altas montanhas do planeta. Integrar uma tripulação dessas exige grande capacidade e conhecimento. Um dos capitães que conheci, que dali alguns anos viraria meu grande mestre e guru, o holandês Henk Boersma, me recusou por que minhas mãos eram muito finas para o trabalho, fora minha total falta de conhecimento. Para dar uma ideia, seria o equivalente a querer integrar uma expedição para o Everest tendo como experiência apenas algumas práticas em um muro de escalada. Não foi dessa vez, mas finalmente tomei contato com esse mundo das viagens para o extremo sul do planeta e minha vida mudou para sempre.
Hoje, entre outras coisas, eu comando expedições de veleiro para a Antártica e ministro palestras em que abordo temas como liderança, motivação, ensino, aprendizado, preparação e superação de desafios baseados na experiência de minha trajetória.
Como realizar uma viagem para a Antártica?
Embora seja possível fazer uma viagem para Antártica pelo ar, a grande maioria vai navegando. Todos que pesquisam sobre o assunto imediatamente aprendem que a travessia pode se dar em condição de mar bravio, atravessando o Estreito de Drake. Muitos ficam apreensivos, mas, ao se darem conta que existem navios e veleiros fazendo esta travessia algumas vezes por temporada já há mais de 30 anos, os ânimos se acalmam. Tendo cruzado o Drake em 7 viagens, sendo 3 como marinheiro e 4 como capitão, posso afirmar que o Drake costuma ser mais calmo do que a maioria imagina.
Como devo me preparar para fazer uma viagem para Antártica?
Pouca gente sabe que uma viagem para Antártica está ao alcance de pessoas comuns e que não é necessário que sejam aventureiras, como Amyr Klink, para chegar até lá. A opção de navio conta com mais regalias, como serviço de quarto e banheiro exclusivo, mas os grupos costumam ser enormes, de algumas dezenas a centenas de pessoas, e os desembarques e atividades são por tempo bastante limitados, além do período passado no continente ser normalmente mais curto.
Sem nenhuma dúvida, a forma mais intensa de viver o continente gelado é viajando de veleiro. Para esta opção, é essencial a disposição para sair da zona de conforto, para o aprendizado, trabalho em equipe e convivência com um grupo de pessoas em um espaço reduzido durante pelo menos 3 semanas.
Por que fazer uma viagem para Antártica?
Muitos perguntam o que há de tão especial na Antártica e porque não nos cansamos de voltar para lá. Primeiro é importante enfatizar que o continente não pertence a nenhum país, de maneira que há um tratado internacional para sua total preservação e utilização para a cooperação científica e, acima de tudo, para finalidades pacíficas.
A característica ímpar de enorme abundância de diferentes formas de vida somada ao extremo cuidado imposto a todos os visitantes para que respeitem o meio ambiente fazem dessa região um espaço em que a vida se desenvolve praticamente sem nenhum impacto causado pelo homem. A sensação é de voltar 300 anos no tempo. Encontros com focas e baleias são quase que diários e abundantes. Colônias de pinguins e outras aves também são avistados constantemente. Nos desembarques em terra, é frequente a perplexidade das pessoas, tão encantadas com tanta beleza e o privilégio de estar num dos locais mais remotos do planeta. Uma vez, uma pessoa que navegou conosco disse uma frase muito marcante: “Não foi nem inesquecível, foi transformador”.
O diferencial do veleiro é poder se aproximar de maneira ímpar desses encantos da natureza que dificilmente serão vistos em outros lugares da Terra. Estar em um grupo pequeno, de até 14 pessoas, permite seguir um ritmo próprio, com tempo para absorver, viver a aproveitar todas as emoções despertadas por uma experiência única.
E o frio? Que roupas devo comprar para essa viagem?
Uma dúvida comum é em relação ao frio. Muitos associam a Antártica às histórias antigas de conquista do Polo Sul e os problemas de congelamento enfrentados pelos famosos exploradores do início do século XX. Mas o destino de nossas viagens é a Península Antártica, situada bem ao norte do continente. Como vamos nos meses de verão, de dezembro a fevereiro, o frio é menos intenso e é raro as águas congelarem. As temperaturas em geral são próximas de zero graus, às vezes positivas, às vezes negativas, mas nada que impeça as pessoas de aproveitarem todos os momentos durante a estadia no continente gelado. As roupas utilizadas são, em sua maioria, trajes comuns para atividades ao ar livre no frio, e podem ser encontradas na maioria das lojas de equipamentos esportivos. Há momentos em que é necessário ficar bem agasalhado para aproveitar o ambiente externo, mas sempre se retorna para o ambiente quente e confortável do veleiro.
Que tal se juntar à nossa tripulação?
Nessa temporada que se aproxima, de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020, faremos 3 navegações para a Antártica com duração de 3 semanas cada. As viagens foram aprimoradas e tomaram a forma de 2 cursos de campo. Um, ministrado por Charlie Flesch, aborda a compreensão do ambiente natural de uma forma global, assim como faziam os Naturalistas, cientistas da antiguidade como Charles Darwin, tratando das noções básicas sobre as ciências da natureza como clima, biologia, geologia, oceanografia, geografia e navegação. O outro curso, ministrado pelo renomado fotógrafo André Dib, aborda a documentação do ambiente através da fotografia de natureza, se valendo da grande quantidade de belezas e proximidade com os animais de uma maneira que só se encontra na Antártica.
Projeto Homo Zarpiens
O sonho de dar a volta ao mundo mergulhando está mais vivo do que nunca. O projeto está em fase de planejamento e pretendemos abordar o tema da conservação dos oceanos com parceiros que são grandes referências de excelência na documentação da natureza, no ensino e na produção científica. Nesta primeira fase do projeto a Antártica se tornou nosso campo de provas e os cursos de campo fazem parte dela. Quem está confortável navegando por lá, está preparado para quase tudo. Aprendizado é o ponto chave das viagens e daí o nome Homo zarpiens, a mistura do nome científico da espécie humana, Homo sapiens – que representa a nossa enorme capacidade de aprender, saber, buscar a sapiência – com o ato de viajar. O ser humano que zarpa, solta as amarras e aprende por onde passa é uma nova espécie de viajante, é um Homo zarpiens.
Charlie Flesch – Comandante do veleiro Fernande e Palestrante
Para saber mais sobre as viagens e sobre palestras entre em contato conosco através de nossas mídias ou Whatsapp
Thalita – 11 98160 2789
Instagram: @homozarpiens
Facebook: Homozarpiens
email: info@homozarpiens.com
www.homozarpiens.com
Tudo bem Pablo? Eu não conhecia essa informação de quando o turismo na Antártica começou, apenas sabia que de veleiro se iniciou apenas na década de 70. Realmente, Punta Arenas é uma das bases de saída para a Antártica, inclusive era a cidade de ondes todos partiam até Ushuaia se desenvolver e ‘roubar’ esse posto do Chile. Ushuaia é um pouco mais perto da Antártica e tb é um destino turístico mais intenso que Punta Arenas, por isso imagino que a maioria dos navios de turismo partem de lá. Os veleiros até hoje nunca conheci nenhum que tivesse partido de Punta Arenas, apenas conheci quem partiu de Ushuaia e Malvinas. Quanto a Ushuaia ser mais ao sul, isso é uma velha briga entre Chile e Argentina. Puerto Williams no Chile está mais ao sul que Ushuaia, mas até poucos anos atrás estava mais para povoado, por isso Ushuaia se dizia a cidade mais ao sul. Agora que Williams está ganhando tamanho é possível que não só assuma o posto de cidade mais ao sul como também que vire o ponto preferencial de partida para a Antártica. Um abraço
Concordo plenamente com o texto: “A Antártica não é inesquecível, ela é transformadora”. Estive lá em 1988 na VI Expedição Brasileira ao Continente Antártico. Parabéns pela iniciativa, coragem e energia!
Legal, especialmente o aprendizado de que é necessário se “mexer” para poder alcançar os seus sonhos! A vida é um sábio mestre.
No demais, já faz tempo, ir até a Antártida é relativamente fácil. O turismo no continente iniciou na década de 50 pelo Chile e Argentina, até pela questão da reinvindicação territorial que, sem querer entrar em discussões com “Los hermanos”, no caso Chile são mais consistentes, coerentes e antigas dos que da Argentina. Apenas achei uma pena, pela falta de conhecimento, em afirmar que os veleiros saem de Ushuaia, bom, eles também saem de Ushuaia… Já que muitos veleiros e o expedições saem de Punta Arenas no Chile, lembremos também que Ushuaia não é a cidade mais austral já que existe pelo menos uma cidade chilena mais austral, desconsiderando outras duas por serem vilas exclusivamente militares. Tanto é verdade que a propaganda de Ushuaia neste sentido foi eliminada.