Durante mais de 12.000 anos, o rio Tigre sustenta o povo de Hasankeyf, que é considerado um dos mais antigos assentamentos humanos conhecidos. Agora o tempo está se esgotando para a cidade antiga, que está prestes a ficar submersa pelas águas da albufeira da barragem de Ilisu, na Turquia, devido a um projeto controverso que busca o desenvolvimento econômico da região e a injeção de milhões de euros nos cofres públicos.
A arqueóloga portuguesa Joana Freitas foi uma das estudiosas que se uniu a uma grande corrente mundial que buscava impedir o avanço da construção da barragem, já que Hasankeyf é um dos mais antigos assentamentos humanos conhecidos no mundo inteiro. Contudo, apesar das reivindicações, já que o sítio reúne 9 dos 10 requisitos para ser considerado patrimônio da humanidade, a construção avançou e estima-se que até abril de 2020 toda a cidade antiga esteja totalmente submersa.
Por esse motivo, de modo a deixar um registo histórico, Joana Freitas lança o livro “Hasankeyf – onde a história pode ser esquecida” pela editora MF Press Global: “passar para palavras o que se passa em Hasankeyf funcionará como um registo de memória. Seja o que for que vá acontecer, mesmo que o mais provável seja o pior desfecho, o mundo viu, o mundo alertou e foi ignorado. Será uma perda irreparável, insubstituível de um lugar com milhares de anos de história e de histórias. Hasankeyf servirá como um local metáfora, o espelho da humanidade destruindo a sua própria história, o seu passado, cortando as suas raízes”, referiu a arqueóloga.
Entenda o caso
A barragem de Ilisu, construída ao custo de US$ 1,3 mil milhões, atravessa o rio Tigre a 46 quilômetros de distância de Hasankeyf em direção às fronteiras do Iraque e da Síria. É uma estrutura maciça – 138 metros de altura e quase 1280 metros de largura, que foi planejada por mais de 60 anos e finalmente foi concluída no ano passado.
O governo turco diz que a construção faz parte de um ambicioso projecto para aumentar o suprimento de eletricidade na região e, com sorte, inaugurar um boom econômico. No entanto, os moradores têm dúvidas de que colherão qualquer benefício, e os arqueólogos e investigadores acreditam que o custo humano, histórico e ecológico é alto demais. O reservatório da represa cobrirá 121 milhas quadradas, deslocando cerca de 15.000 pessoas na região e a condenar 300 sítios arqueológicos e assentamentos a ficar para sempre nas profundezas. Em Hasankeyf, onde a água subirá cerca de 200 pés, 80% da cidade desaparecerá.
Sobre o Livro
Hasankeyf: onde a história pode ser esquecida
Autor: Joana Freitas
Formato: e-book
Editora: MF Press Global
Distribuição e venda: Amazon (mundialmente) – Online
https://www.amazon.es/Hasankeyf-Onde-hist%C3%B3ria-esquecida-Portuguese-ebook/dp/B084HNWGGW/
A imagem (da home e) que traz até este post é de vista de Hasankeyf | Foto: Divulgação/MF Press Global.
ESTE LIVRO PODERIA SER TODO ESCRITO NA BARRAGEM DA REPRESA, E AS GRAVURAS TAMBÉM; DAQUI 10 MIL ANOS TERÍAMOS DUAS HISTÓRIAS PARA CONTAR…A CIDADE PERDIDA E OBRA CONSTRUÍDA…
Entendo a preocupação da arqueóloga, mas as pessoas que precisam do pão de cada dia carecem de uma oportunidade para alcança-lo.
Se calhar, submersa estraga-se menos.
Morando no Rio de Janeiro onde muitas obras históricas são demolidas, incendiadas ou furtadas
infelizmente percebi que o homem não valoriza sua história, esquece seu passado, destruindo o seu futuro.
Já que irão erguer uma muralha, porque não cercam a cidade também. Iria se tornar ainda mais atrativa por estar envolta em águas e ambos os projetos poderiam sobreviver.
O império Otomano destruiu no passado praticamente todos os vestígios arqueológicos da presença cristã primitiva no território hoje chamado de Turquia. Cometeram genocídio e impuseram à força a cultura islâmica em terras cristãs. Destruir mais um sítio arqueológico e uma comunidade milenar constitui apenas a sequência de uma trajetória histórica.
Falta total de respeito com a História.