O Rio Paraná vai ganhar a Rota dos Pioneiros. O rio que dá nome ao Estado sempre foi uma importante rota de navegação. Ao longo dos séculos, indígenas, espanhóis, jesuítas, bandeirantes e migrantes de diferentes nacionalidades atravessaram as águas do Rio Paraná para encontrar em suas margens terras férteis para viver, explorar e conquistar.
Novos navegadores querem agora retomar o trajeto dos antigos para criar aquela que promete ser a maior trilha aquática do mundo, nominada justamente como Rota dos Pioneiros. A proposta é percorrer 300 quilômetros de caiaque pelo último trecho de águas correntes do rio, a parte não represada pelos reservatórios das hidrelétricas.
“A ideia é aproveitar o que já existe em termos de estrutura nas margens do rio, como os portos e cidades onde o navegador pode dormir, acampar e se alimentar, além de conhecer a paisagem local”, explica o biólogo Erick Xavier, do Coripa (Consórcio Intermunicipal para Conservação do Remanescente do Rio Paraná e Áreas de Influência), um dos idealizadores do projeto, ao lado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Ele afirma que a trilha já é a maior do Brasil e, com o projeto completo, será a maior do mundo.
A iniciativa vai reforçar o turismo de aventura e natureza que o Governo do Estado passou a incentivar a partir do ano passado, para divulgar as belezas do Paraná e buscar o desenvolvimento econômico, com sustentabilidade.
O percurso completo pode durar vários dias e conta com trilhas terrestres para trekking e pedalada, além de locais de apoio nas áreas de várzea e nas ilhas que compõem o Parque Nacional de Ilha Grande e a Área de Proteção Ambiental (APA) das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.
TURISMO SUSTENTÁVEL
A Rota dos Pioneiros busca promover, nos municípios ribeirinhos, o turismo sustentável e de base comunitária. É também uma atração à parte em uma região que vê crescer o número de visitantes que vêm em busca das belezas e aventuras que o Rio Paraná tem a oferecer.
No percurso, os navegadores passam por centenas de ilhas, praias de água cristalina e uma paisagem cinematográfica que mescla a biodiversidade de três dos principais biomas brasileiros: a Mata Atlântica, o Pantanal e o Cerrado.
OPORTUNIDADES
Os pontos de apoio podem se espalhar por todo o trecho da trilha, gerando novas oportunidades de negócios nesses locais, com a instalação de restaurantes, campings, pousadas e oferta de serviços como de guias turísticos e aluguel de caiaques.
Na definição dos organizadores, a Rota dos Pioneiros é uma grande trilha que conecta paisagens, unidades de conservação e pessoas. “Municípios, comunidade e o setor privado devem se apropriar desse produto e perceber as oportunidades de negócio, já que um dos objetivos da rota é gerar emprego e renda”, afirma Xavier.
O poder público também se envolve nessa empreitada, com o apoio dos municípios para que a trilha tome corpo. “Estamos criando um produto para que os empreendedores ofereçam serviços e montem seus roteiros”, explica Camila Terron, secretária municipal de Turismo, Esporte e Cultura de Guaíra. “Para os municípios, a exploração dessa rota é importante para desenvolver a cadeia turística, que envolve hotéis, transportadoras, empresas de embarcações e uma série de prestadores de serviços”, avalia.
PARANÁ AVENTURA
Na parte do Estado, está a regulação dos esportes de aventura e natureza, para tornar atividades desse tipo mais segura para seus praticantes. O Governo do Estado está elaborando o programa Paraná Aventura, um marco legal com normas de segurança previstas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
TRILHAS E PEGADAS
Quem já quer se aventurar pela Rota dos Pioneiros precisa ficar atento às pegadas, literalmente. A trilha aquática faz parte da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso (Rede Trilhas), que busca conectar as unidades de conservação de todo o Brasil.
As demarcações feitas pelos organizadores seguem a sinalização nacional da Rede Trilhas: pregada ou grafitada em árvores está a marca de uma sola de botina na cor preta em cima de um fundo amarelo. No meio da pegada, se vê uma pessoa em um caiaque com um remo nas mãos, destacando as características desta grande trilha anfíbia.
Até agora, já foi demarcado um trecho de cerca de 118 quilômetros pelo rio, que marca a divisa entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul. O percurso, já reconhecido como a maior trilha aquática do Brasil, começa em Porto Camargo, em Icaraíma, passa por nove municípios – cinco deles do Paraná – até chegar à Ponte Ayrton Senna, em Guaíra, no limite entre o rio e o lago da Itaipu Binacional.
A ideia, porém, é expandir para outros municípios. Já foi iniciada a sinalização de uma rota saindo de Porto São José, em São Pedro do Paraná, que passará pelo Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, no Mato Grosso do Sul. A trilha atravessa o Rio Paraná e desce pelo Ivinhema, até voltar a Porto Camargo e continuar o trajeto até Guaíra.
Outra meta é fazer a ligação entre unidades de conservação e outras trilhas já consolidadas. No sentido da nascente do rio, há a previsão de um novo trecho que vai incluir no roteiro a Estação Ecológica do Caiuá, em Diamante do Norte, e as trilhas do Morro do Diabo, em São Paulo.
A continuação da rota a partir de Guaíra, poderá levar ao Parque Nacional do Iguaçu, onde estão os remanescentes do Caminho de Peabiru, outra trilha de longo curso que remonta ao antigo caminho indígena que ligava os oceanos Atlântico e Pacífico.
PAISAGENS
Os percursos já sinalizados permitem uma imersão na biodiversidade das matas que compõem o Rio Paraná, que abrigam importantes espécies de animais, como pássaros, primatas e felinos. Na paisagem, também estão as praias de água doce, com bancos de areia fininha que se encontram com o rio de água cristalina.
As trilhas de longo curso também cumprem uma importante função ecológica, formando corredores de biodiversidade que permitem o trânsito de animais entre as unidades de conservação. Recentemente, ciclistas que faziam a trilha da Lagoa Xambrê, em Altônia, avistaram macacos e uma onça-parda.
“Quando estiver pronta, a trilha será um grande corredor de dispersão da fauna. Os animais isolados nas unidades de conservação poderão se conectar pela paisagem deste corredor de biodiversidade do Rio Paraná”, explica Xavier.
Na Lagoa Xambrê, a rota de três quilômetros passa por propriedades rurais e pode ser feito a pé ou de bicicleta. Outro ponto de apoio é a Ilha São Francisco, em Guaíra, também chamada de Ilha do Pacífico. O local, que foi todo reflorestada por um ex-frade franciscano, o Frei Pacífico, poderá ser usado como área de camping.
Já a trilha da Ilha Grande, a maior do Parque Nacional, está sendo demarcada e terá 17 quilômetros de extensão. “O percurso de um ponto de apoio ao outro leva cerca de um dia de remada. A ideia é que o navegante faça o percurso tranquilamente, parando nas praias, para tomar banho de rio, para comer e conhecer a história do local”, explica o biólogo.
OS PIONEIROS
A Rota dos Pioneiros remete à história do Rio Paraná e da própria ocupação do território paranaense, afirma Erick Xavier. “Por um bom período de tempo, quando ainda não havia estradas, diversos grupos de pessoas chegaram a essa região pelo rio. Toda a história do Rio Paraná é permeada de pioneiros”, diz. “A pessoa que fizer isso aqui de caiaque, a pé ou de bicicleta vai fazer o caminho que muitos povos percorreram”.
Em busca do que chamavam de terra sem males (Yvyv Marã’y, no tupi-guarani), indígenas guaranis já atravessavam o rio de canoa dois milênios atrás, e faziam em suas margens uma cultura de rotação: pescavam, plantavam e caçavam. Depois de um tempo, trocavam de local e, ao retornarem, encontravam novamente a floresta recuperada. “Algo parecido com o manejo florestal que é feito atualmente”, explica o biólogo.
Com a ocupação do Brasil pelos colonizadores europeus no início do século 16, a região acabou entrando na rota dos conquistadores espanhóis. Na confluência entre os rios Paraná e Piquiri, próximo de onde são hoje os municípios de Guaíra e Terra Roxa, estava a Ciudad Real del Guahyrá. Pertencente ao Império Espanhol, a fundação da cidade remonta à 1556.
Na esteira da conquista, também vieram as missões jesuíticas, e a localidade abrigou uma redução onde viviam milhares de pessoas. Os jesuítas acabaram expulsos por um novo grupo de pioneiros que chegou à região pelo rio: os bandeirantes paulistas que conquistavam novas terras Brasil a dentro.
Com a saída dos bandeirantes, as margens do Paraná voltaram a ser ocupadas pelos antigos nativos, até novas navegações avançarem pelas águas. Por elas vieram imigrantes italianos, alemães, portugueses e japoneses. Neste trecho, também foram encontradas afundadas embarcações da Revolta Tenentista de 1924, outro importante capítulo da história brasileira.
Os ciclos econômicos do Estado e do País também acompanharam as correntezas do rio, desde a erva-mate, que era escoada de barco até a Argentina, até o aproveitamento hidrelétrico, que faz girar as turbinas de grandes usinas para gerar energia.
É no lago da gigante Itaipu Binacional que termina a Rota dos Pioneiros, e onde pode começar uma nova remada para quem quer explorar a fundo o Rio Paraná.
Confira as orientações para fazer a Rota dos Pioneiros com segurança
A página do Facebook da Rota dos Pioneiros (www.facebook.com/RotaDosPioneiros) tem algumas orientações para quem for navegar pela trilha com segurança, tendo a melhor experiência possível.
A primeira dica é contratar um guia ou aproveitar as expedições para conseguir conhecer os melhores pontos. A Pachamama Expedições é a primeira empresa a oferecer esse serviço, e o contato também pode ser feito pelo Facebook https://www.facebook.com/Pachamama-Navirai-133889427218372/
É necessário solicitar na página da Rota dos Pioneiros o arquivo do trekking para salvar no GPS. Outro documento importante de se ter em mãos é carta náutica da Administração Hidroviária do Paraná (Ahrana), além de aplicativos de mapas e navegação. A sugestão dos organizadores é o Avenza, pois é leve e compatível com o mapa do Parque Nacional de Ilha Grande, que também é disponibilizado pelo Facebook.
O que não pode faltar: colete salva-vidas, faca, apito de emergência, remo, remo reserva, água potável, lanches rápidos (barrinhas de cereais, frutas, chocolate), isotônicos para hidratar, filtro solar, roupas para proteger do sol e de insetos, óculos de sol, luvas, boné ou chapéu.
Quem vai acampar deve levar barraca, saco de dormir, isolante térmico, lanterna, bateria externa para equipamentos eletrônicos, produtos de higiene pessoal (papel higiênico, sabonete, creme dental), remédios de uso controlado, remédios para dores musculares e de cabeça, utensílios (garfo, faca, colher, copo e prato), sabão e esponja.
Importante não esquecer dos equipamentos de primeiros socorros, como gaze, faixas, algodão, esparadrapo e spray higienizante; e dos equipamentos de localização: bússola, mapa impresso da rota, GPS com a rota a percorrer e celular com o aplicativo com o mapa do parque.
Canoagem de longo curso é uma modalidade pouco pratiicada no Brasil. Temos inúmeras oportunidades para isso no país, tanto em águas interiores como no litoral.
Não pode acampar no parque nacional de ilha grande, pois é uma área de preservação ambiental.
Parabéns pela matéria! O Brasil é um grande parque de diversões quando se trata de aventura. Basta nós, brasileiros, exploramos sem depredar.