Na escola eu aprendi o que foi o nazismo, o ano que ele aconteceu e o número de pessoas que morreram. Mas foi num campo de concentração na Alemanha que eu cheguei mais perto de entender o sofrimento daquelas pessoas, que eu vi as camas que elas dormiam, os banheiros que elas tomavam banho e até as câmaras de gás em que elas eram assassinadas.
Na escola eu aprendi sobre Mao Tse Tung, quem ele foi, quantas pessoas ele matou e quão poderoso ele era. Mas foi tomando chá de manteiga no interior da Índia com refugiados tibetanos que eu vi de perto o sofrimento que ele causou, as famílias que ele destruiu e as feridas que ele deixou.
Na escola eu aprendi sobre as colonizações européias. Decorei datas, nomes e países. Mas foi conversando com refugiados nigerianos, congoleses e camaronenses que eu entendi o real sofrimento que essas invasões causaram. E as consequências que elas têm até hoje.
Foi na escola que eu aprendi os diferentes sistemas políticos, os prós, os contras e exemplos de cada um. Mas foi numa vila na Dinamarca que eu vi o anarquismo em prática de verdade, foi nessa vila que eu entendi como funciona uma cidade literalmente sem leis. E foi nessa vila que eu me surpreendi por essa sociedade funcionar tão bem.
Foi na estrada que eu aprendi a dividir o que eu tenho, pois muitas vezes quem não teve nada fui eu. Foi na estrada que eu aprendi a dizer mais “sim”, que eu aprendi a superar os meus medos, que eu aprendi a me virar com o que eu tinha. Foi a estrada que me mostrou que eu preciso muito menos do que eu pensava que precisava.
Na estrada eu aprendi que quanto menos você tem, mais você tem. Foi ela que me mostrou que fazer o bem, te traz o bem. Foi ela que me ensinou que não existe nada no mundo mais importante que a minha liberdade.
E que não há nada mais libertador do que se sentir bem na própria companhia.
A estrada me mostrou o quanto – as vezes – é necessário você se afastar de tudo que conhece, me mostrou o bem que isso pode fazer.
A estrada me fez duvidar de todas as certezas que um dia eu já tive. Me fez questionar. Me mostrou que o mundo vai muito além do que o que a gente vê pela janela.
Me ensinou a ouvir mais e falar menos. A observar mais e julgar menos.
Foi na estrada que eu conheci o mundo que nunca me mostraram na escola.
A estrada me mostrou o mundo além da Europa e dos Estados Unidos. Me mostrou guerras e genocídios além do Holocausto.
Foi na estrada que eu aprendi que, se você não tiver medo do mundo, o mundo não terá medo de você.
E te receberá de braços abertos.
Foi a estrada que me ensinou a deixar o olhar arrogante pra trás, a não me sentir superior ou mais inteligente que ninguém, por ter tido acesso a educação privada. Foi a estrada que me mostrou como somos todos tão parecidos em nossos sonhos e frustrações, independente de quão diferentes formos.
Hoje eu te digo com toda a certeza do mundo: as pessoas mais incríveis que eu conheci, na enorme maioria das vezes, foram as que menos tinham posses materiais.
E as mais pobres de espírito quase sempre foram as com mais diplomas em baixo do braço.
Não me levem a mal, a escola é importante sim, e muito. Não sou louca de negar isso. Mas o diploma não é o único caminho para o conhecimento. Pra quem tem sede de viver, o que se aprende na escola está longe de ser suficiente.
E não é necessário ir pro outro lado do mundo pra entender o que eu quero dizer. Quando eu falo ‘estrada’, eu estou falando das experiências de vida num geral. Senta e conversa com pessoas de fora do seu círculo social. Toma um lanche com quem não tem nada e veja se eles são tão violentos quanto dizem. Participe de manifestações contra o governo e veja se os manifestantes são tão baderneiros quanto dizem. Senta e ouve o que militantes têm para dizer e veja por si só se eles são tão radicais quanto dizem. Passe o dia com muçulmanos e veja se eles são tão perigosos quanto dizem. Converse com refugiados africanos vendendo artesanato na Praça da República e vejam se eles são tão vagabundos quanto dizem.
Veja o mundo pelos seus próprios olhos, e não pelos olhos dos outros.
Tire as suas próprias conclusões. Não aceite as verdades alheias como verdades absolutas.
Não se contente com a informação que chega pra você de graça. Ela nunca vai ser inteiramente confiável.
A vida ensina, muito mais que qualquer diploma seria capaz.
Ela me ensinou, e continua ensinando todos os dias.