Salve, mochileiros!
Hoje vou compartilhar minha experiência na Pedra do Telégrafo. Localizada no Parque Estadual da Pedra Branca, na zona oeste do Rio de Janeiro, essa pedra é famosa pela ilusão de ótica que proporciona nas fotografias simulando um grande abismo. Fui com o grupo Anjos Radicais, e, mais uma vez, minha alma voltou com a certeza de que a natureza e as boas conexões que fazemos na vida, são o que realmente importa.
Saímos de Petrópolis bem cedo e chegamos em Barra de Guaratiba por volta das 09:00. Ao iniciar a trilha, comecei a observar algumas das dificuldades que tenho tido a algum tempo na questão da falta de ar e do cansaço. Sou fumante e em contrapartida, amante da natureza. O grande dilema da minha vida gira em torno de largar vícios antigos x ter mais qualidade de vida para experienciar vivências novas. E, minhas limitações físicas e mentais, se tornam bem aparentes quando preciso me esforçar um pouco mais.
Em trilhas, enquanto caminho e admiro toda a beleza á minha volta, geralmente costumo pensar em como andam minhas escolhas, o que tenho feito de diferente e o que preciso melhorar. Nem sempre as respostas são aquelas que eu gostaria de ouvir. Faz pouco tempo, que realmente tenho me esforçado para cortar hábitos destrutivos. E toda mudança, provoca um certo tipo de dor! O despertar vem acompanhado de muitas responsabilidades!
Ao final da trilha, quando, completamos o objetivo que era chegar até a pedra para tirar uma foto com o ângulo famoso e privilegiado que tanto temos visto nas redes, nos deparamos com uma fila imensa que chegava a dar voltas. Primeiro problema do dia para a maioria do grupo, e o segundo problema para mim que já estava com a pressão baixa devido a minha falta de preparo físico e ao sol. Admito que meu primeiro pensamento foi de decepção, por ter chegado até lá, ter me esforçado e ter que esperar horas por uma foto. É incrível o quanto distorcemos a realidade das coisas quando agimos pelo estado da euforia, da raiva ou da frustração. Na hora, eu não pensei que só de estar lá, de estar apreciando aquela vista linda, de ter conseguido chegar até o final mesmo passando mal, já era motivo suficiente para o meu primeiro pensamento ser de gratidão e não de decepção. Só fui me dar conta disso na hora em que nos reunimos,e uma parte do grupo propôs descer e curtir a praia e a outra parta preferiu ficar e esperar para conseguir a foto. Entrei em mais um dilema: Ir ou ficar? Esperar para tirar uma foto em um lugar famoso, ou apenas ser grata por estar ali e descer para me refrescar no mar e renovar minhas energias? Ir ou ficar? Esperar por horas no sol quente com a pressão baixa só para provar que estive na Pedra do Telégrafo e postar uma foto nas redes sociais, ou respeitar minhas limitações e me dar a chance de conhecer o local por outros ângulos ?
Resolvi descer com uma parte do grupo, e minhas reflexões continuaram! Primeiro pensei se eu fui conhecer a trilha e a pedra pelo lugar e pela experiência de vida, ou se fui apenas por uma foto. Notei que, tanto a vista da pedra do Telégrafo quanto das pedras em volta dela, era a mesma. E que a única diferença era realmente o ângulo de visão. A beleza é uma só! Não julgo a parte do grupo que ficou mais de 4 horas na fila esperando pela foto porque elas ficaram realmente incríveis! Cada um sabe o que é melhor para si e até aonde está disposto a ir por uma motivação interna. Eu também teria ficado se a fila estivesse menor, se o sol não estivesse tão forte, se minha pressão não estivesse baixa, enfim… se causas e condições estivessem melhores. Mas, por outro lado,toda essa impermanência, me trouxe a oportunidade de refletir o meu real motivo de estar naquele lugar! Vivemos na ”Sociedade do Espetáculo” onde cada curtida nas fotos postadas, equivale a sua posição em um mundo completamente virtual. E com isso, a maioria se esquece do que é real. Não é uma crítica as redes ou as fotos, eu também utilizo dos meios para me expressar e compartilhar momentos, a reflexão é justamente com que INTENÇÃO ou MOTIVAÇÃO nós postamos ou compartilhamos algo que vivemos? Se realmente estávamos vivenciando a experiência e registramos o momento para guardar com carinho, ou se apenas estávamos no local para tirar uma foto e esperar por algumas curtidas. Muitas pessoas que se encontravam na fila para registrar a famosa foto, reclamavam do sol, da falta de sombra, da falta de água, do cansaço e da demora. Outras, esperavam com um sorriso no rosto e olhando tudo á volta. Se eu tivesse esperado também, imaginei que tipo de pessoa eu seria naquela fila!
Quando parte da turma que permaneceu na pedra nos encontrou na praia no final do dia, estavam satisfeitos por terem esperado e feito suas fotos. Eles nos contaram a experiência por outro ângulo de visão. E nós, a outra parte que tinha descido a trilha mais cedo, também tínhamos algumas histórias. Foi uma troca rica de olhares e diferenças. O que mais me encanta em momentos como esses,é a subjetividade com que cada um enxerga um mesmo lugar com percepções completamente diferentes. É isso que enriquece o caminho e o caminhar. Cada um, a sua maneira, encontra exatamente o que precisa. Sei que tanto para eles quanto para nós, não foi apenas uma fotografia, foi tudo que envolveu a chegada até ela, foram as risadas na trilha, a água compartilhada, as dificuldades encontradas e os limites superados. Foram as lições aprendidas pelo caminho. Foi a vida se apresentando em toda a sua magnitude e simplicidade. E só enxerga quem consegue abrir mão de suas certezas e estar disposto a olhar por outros ângulos! Agradeço aos companheiros dessa aventura e a equipe Anjos Radicais. Foi lindo. Que possamos sempre ter em mente o real motivo de estarmos realizando determinada ação. Que não seja apenas por estar, mas que seja para permanecer. Tantos nas fotografias quanto em nossas almas! Até a próxima estrada!