Molly Steele tem 26 anos de idade, nasceu em Melrose na Flórida e já foi presa por viajar ilegalmente em um trem de carga. As fotos de suas viagens são feitas com seu smartphone e compartilhadas no Instagram, onde já conta com mais de 60.000 seguidores. Molly faz parte de uma nova geração de “Hobos”, andarilhos que viajam ilegalmente pelas ferrovias dos Estados Unidos e Canadá.
A prática conhecida como “Train-Hopping”, (Pulador de Trem em português) já foi o principal meio de locomoção dos “Hobos”, andarilhos desempregados que rodavam os EUA em busca de trabalho. Segundo um artigo escrito pelo professor Layal Shafee para o Jornal “The New York Telegraph” em 1911, o número de hobos chegou a ser estimado em 700.000 pessoas entre o final do século XIX e início do século XX. Entre elas muitos veteranos que retornavam para casa no fim da Guerra Civil Americana. Também após a grande depressão de 1929, ao menos 250.000 adolescentes viajaram ilegalmente pelas estradas de ferro do país. “Alguns saiam de casa porque se achavam um fardo para suas famílias; outros fugiram destroçados pela vergonha do desemprego e da pobreza. Outros viajavam por aventura. Com a bênção dos pais ou como fugitivos, eles pegavam a estrada em busca de uma vida melhor.” É o que conta o livro “Riding the Rails: Teenagers on the Move During the Great Depression” de Errol Lincoln Uys.
Hoje a coisa é muito diferente, os hobos modernos não são miseráveis em busca de trabalho, não estão fugindo da miséria e da recessão. São jovens viajantes em busca de aventura, que postam suas fotos em redes sociais como Instagram e frequentam sites como squattheplanet.com , hitchwiki.org e trustroots.org , nos quais trocam experiências e buscam companhia para novas viagens, não apenas nos EUA, mas em vários lugares do mundo onde há uma malha ferroviária extensa.
Entre os vários estilos de viajantes do mundo pós-internet, os hobos modernos talvez sejam os que mais se aproximem do desbunde da Geração Beat, mesmo que os livros de Walt Whitman tenham sido trocados pelos smartphones e que as curtidas no Instagram pareçam entorpecer mais que Efedrina. Ver que ainda há uma juventude interessada em transgredir, nem que seja o muro da linha férrea, já é algo que renova as esperanças em um mundo menos bunda mole.
A fotojornalista canadense Kitra Cahana falou sobre o assunto no Ted Talks. Quando era jovem, ela sonhava em fugir de casa para viver livremente na estrada. Agora, adulta e auto-proclamada andarilha, ela segue esses nômades modernos em suas casas: vagões cobertos, pontos de ônibus, estacionamentos, banheiros de parada de ônibus; dando um vislumbre nessa cultura viajante marginal. Confira:
Fotos: Molly Steele