No começo deste ano começaram a limpeza e terraplanagem de uma área em Chinchero, no Peru para a construção de um aeroporto internacional em uma das mais belas e visitadas regiões do planeta. Apesar do incremento prometido à economia local através do turismo, um dos mais importantes pontos históricos e culturais do mundo corre risco real de destruição, segundo especialistas.
De acordo com publicação da revista Science Mag, 200 especialistas (dentre eles arqueólogos, antropólogos e historiadores) assinaram uma carta destinada ao presidente peruano, Martín Vizcarra pedindo que seja considerada a realocação do projeto, ou seja, que seja suspensa a construção em Chinchero. Até o momento da publicação deste texto, a petição online (que está aqui) conta com mais de 66.000 assinaturas.
“O aeroporto projetado na localidade de Chinchero é uma grave ameaça para a conservação de um dos conjuntos patrimoniais mais importantes do mundo. Além de afetar a integridade de uma complexa paisagem Inca, construir um aeroporto no entorno do Valle Sagrado terá efeitos irreparáveis pelo ruído, aumento do tráfego e da urbanização descontrolada.”, diz em resumo, o texto que abre a petição.
Chinchero está a cerca de 30Km ao noroeste de Cusco, tendo vista para o Valle Sagrado, uma das primeiras áreas conquistadas pelos Incas quando da expansão de seu império. “É um dos lugares mais arqueológicos e historicamente complexos do Peru”, afirmou à publicação Natalia Majluf, historiadora de arte peruana da Universidade de Cambridge, ex-diretora do Museu de Arte de Lima e uma das organizadoras da petição online, acrescentando “colocar um aeroporto no meio daquela paisagem é um desastre”.
A historiadora de arquitetura da Universidade da Califórnia, Stella Nair, reforça a importância do local: a preservação de Chinchero é fenomenal e “a chave para estudar a arquitetura é encontrar lugares que não foram alterados para o consumo turístico. E isso [encontrá-los nessas condições] é incrivelmente difícil”, alerta.
Já Alan Covey, arqueólogo da Universidade do Texas, que fez uma pesquisa na região em 2004 e 2005, afirma que o local do aeroporto tinha pouca evidência de ocupação pré-colombiana medida por cerâmicas e arquiteturas visíveis, porém o arqueólogo peruano e estudante de doutorado da Universidade Vanderbilt, Abel Traslaviña Arias, disse que não houve trabalhos de escavação no local, “não sabemos o que está por baixo”. Ambos e os demais especialistas temem que o aeroporto fomente o desenvolvimento desregulado, com as competições para construções de hotéis de luxo, por exemplo. Ainda segundo a publicação, novos complexos de apartamento para abrigar uma comunidade deslocada pelo projeto já surgiram ao longo de uma estrada principal.
Uma matéria falando sobre o assunto no The Guardian alerta para o fato de que os aviões passariam por Ollantaytambo e seu parque arqueológico de 348Km², causando danos potencialmente incalculáveis às ruínas incas locais, segundo especialistas. Outros se preocupam com a bacia hidrográfica da Laguna Piuray, que abastece quase metade da cidade de Cusco.
Ainda segundo o jornal britânico, no mês passado, o ministro de Finanças do Peru, Carlos Oliva declarou aos jornalistas em uma coletiva de imprensa que o aeroporto seria construído “o mais rápido possível porque é muito necessário para a cidade de Cusco” e que “há uma série de estudos técnicos que apoiam a construção deste aeroporto”.
O aeroporto tem previsão de ficar pronto até 2023 e permitirá voos diretos das principais cidades da América Latina e dos Estados Unidos.
Você também pode seguir a página ‘Salvemos Chinchero’ no Facebook, para saber mais sobre o que pedem os especialistas e acompanhar o desenrolar do caso.
Com informações de Science Mag e The Guardiam.
A foto (da home e) que traz até este post é de área do Valle Sagrado. Foto de Paulo Tomaz, sob licença Creative Commons.