Brasileiro está dando uma volta ao mundo… a pé!

Ninguém pode lhe dizer se você é ou não capaz de fazer algo, a não ser você mesmo

A viagem de Matias Tartiere começou quando ele se deu conta de que não havia ninguém que pudesse lhe dizer do que ele era ou não capaz, a não ser ele mesmo. Abaixo, com suas próprias palavras* ele divide um pouco de sua história de viagem com a gente.
(Quando ele compartilhou isso, ele já havia percorrido 1.800Km de sua jornada a pé pela Europa).

“Minha viagem começou quando me dei conta de que não havia ninguém que podia dizer que eu era capaz de fazer algo ou incapaz, exceto eu.
Tive muito medo no começo. Tinha muitas perguntas das quais queria encontrar uma resposta e foi o que mais me fez seguir adiante.
Antes de começar a viagem toda minha família e amigos me diziam: não te descuide de nada, tenha muito cuidado, cuide bem das suas coisas porque vão tentar te roubar, vão te sequestrar, tenha muito cuidado por favor porque tem muita gente má neste mundo. E a surpresa e o maior descobrimento tem sido esse, que as pessoas de bom coração predominam neste mundo.
Se o medo está te segurando, Bom, o medo faz parte da vida, aí tu escolhe que o medo que decide por ti ou que tu decide pelo medo. Se quer algo vá pelo o que quer e ponto.
Somente tu pode se segurar, somente tu pode conseguir o que quer.
Você não pode ficar toda a vida se preparando para algo, até que não começar a viver não vai começar a se tornar realidade.

Há anos atrás tive bastante contato no meu trabalho com pessoas das quais estavam por fazer o caminho de Santiago de Compostela ( Espanha), existem vários caminhos que levam até a Catedral de Santiago, mas o mais conhecido é o que começa na França (Saint Jean Pied de Port), são 800km e exige 30 dias para ser percorrido. Muitos procuram fazer esse caminho por vários motivos, mas a maioria é mais por questão religiosa. Assistam o filme: “Em busca de um caminho” (The Way), merece a pena ser visto! 261d5 vezes já. Rsrs

Bom, e conversando com essas pessoas vi que que querem levar o mínimo de peso possível na mochila, até porque ela se tornará parte do seu corpo por longo período, apenas o uso de roupas específicas e um saco de dormir, nada de barraca e fogareiro, em todo seu caminho há hospedagem e onde comer.
A partir disso tive a magnífica ideia de fazer o Caminho de Santiago também, mas só que de uma forma totalmente diferente, ser autossuficiente levando todos os equipamentos necessários… por que não levar tudo o que preciso? Dormir onde quero, fazer minha própria comida? Viajar sem regras, sem ter a preocupação de que teria que chegar em tal lugar para dormir, ou comer! Sempre gostei de dormir em barraca, e chegar depois de uma longa e cansativa caminhada, ter que montar acampamento, preparar a comida e tal, para muitos é exaustivo, mas para mim tem seu valor, é onde todo aquele cansativo dia de caminhada fica para trás e você fala: que dia hein??, e você fica super contente em estar fazendo aquilo que gosta ao lado de um lago super cristalino onde pessoas passam sem perceber nem que ali estava.
A questão de muitas pessoas era levar uma mochila com no máximo 6kg, e por eu ter que levar todos os equipamentos, então carregar 25kg em uma mochila nas costas seria de matar, desistiria nos 5 primeiros dias; caso concluísse o caminho de total certeza teria que voltar a percorrer o caminho de carro para que eu pudesse encontrar onde eu tinha perdido minha coluna. 1f602

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Matias e seus pertences | Foto: Arquivo pessoal.
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Liberdade | Foto: Arquivo pessoal.

Então por que não levar todos os equipamentos em um carrinho? Assim sofreria apenas em subidas e descidas.
E assim foi feito, em abril de 2015 desenhei uns rabiscos em um papel, mostrei para um amigo e falei sobre os planos de uma caminhada com um carrinho e perguntei se era possível fazer… falou que sim, e em menos de 30 dias me mandou mensagem dizendo que o projeto estava quase pronto… como assim?? Só perguntei se era possível 1f602…foi aí que vi que essa caminhada tinha que acontecer já que o trenó com rodas estava meio caminho andado.
Como eu já tinha outros planos para início de 2016, então o projeto do Potro 1f434 ficaria para 2017, mas sempre abria o mapa no computador e ficava imaginando: por que não fazer mais que um caminho de 30 dias? por que não fazer um caminho de 90 dias iniciando na Itália, cruzar os Alpes entrando pela Suíça, cortar a França, fazer Espanha (Compostela) e finalizar em Portugal? Seria uma caminhada de 2.600km em 90 dias. Para isso teria que pedir umas férias prolongadas para o patrão! Quem já conseguiu 50 dias, o que era 40 a mais?? 1f602 eu comprava as minhas férias, não tinha problema kkk (lembrem-se, férias foram feitas para ser aproveitadas e não vendidas).
Início de 2016 saí de férias e assim que voltei o plano era dedicar para essa caminhada.
Assim que o Potro esteve pronto, planejei um percurso e em setembro fiz um teste de 120km em 3 dias, praticamente 1 maratona por. A partir disso vi que percorrer grandes distâncias diárias seria exaustivo e que não aproveitaria nada do passeio, pois teria que sair cedo e chegaria tarde demais e sem muito descanso no decorrer; feito o teste, tive que mudar todo o plano do qual tinha marcado as cidades onde dormiria e dividir a km diária pela metade, caminhando no máximo 20km/dia.

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Chegando à Itália | Foto: Arquivo pessoal.
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Foto: Arquivo pessoal.

Antes disso, aquela vontade de querer conhecer vários outros lugares sempre me consumia, aí resolvi fazer outro itinerário só para ter um segundo plano, só que para o outro lado seguindo para o Leste.
Como todos já sabem, vivo para viajar e sou muito feliz quando faço isso, simples assim. Dessa vida não levarei nada, apenas as lembranças do que foi vivido…
Por que não tirar um tempo para mim?? Pesquisa sobre “Ano Sabático” aí! 1f44c
Por que não renunciar ao trabalho fixo para viajar???
Parece loucura, mas ter férias uma vez ao ano é uma estupidez, não sei quem inventou esse sistema, mas ninguém se atreve a viver seus sonhos, deixam seus sonhos de lado.
Ainda sou criticado pela forma como administro minha vida… mas sempre me pergunto: o que quero ter no final?? Quero colecionar as vontades das quais não vivi ou quero chegar no final da vida e dizer: vivi o que eu queria viver!! Sim, isso pra mim é ser uma pessoa bem sucedida.
Muita gente deixa de viver coisas incríveis por ter medo. Quando eu saía de férias eu me sentia realmente feliz, por que não posso ser feliz o resto do tempo, por que tenho que trabalhar 11 meses no ano e ser feliz só um mês no ano?
Quando estou viajando parece que 1 semana parece 1 mês, aí olho para trás e digo: nossa, quanto tempo estou vivendo isso? Parece que se passou 1 mês e foi antes de ontem; e quando tu tem um trabalho estável, uma vida normal de trabalhar de segunda a sexta, passam semanas, passam meses, passam anos e passou a vida. Acredito que viver assim como eu e muitas outras pessoas é uma forma de viver 2 ou 3 vidas, de alongar muito mais, ser imortal…não sei!
Anos atrás se me perguntassem qual era meu sonho eu não saberia responder, mas agora mesmo quero que continue, não tenho outro sonho diferente porque estou vivendo o que quero viver, que meu sonho continue me fazendo feliz muito tempo.
Em março de 2017 segui para Europa iniciando na Itália e terminando na Turquia. Quando completei 420 km em 20 dias resolvi abandonar a caminhada comprei uma bicicleta, assim que montei na bike vi que tinha feito besteira, só que era tarde demais e seguiria o mesmo trajeto só que de bike…. em três dias e 200km percorrido tive problemas com meu joelho e cada pedalada era uma dor terrível, acabei voltando para o Brasil mas a vontade de retomar a caminhada tinha que acontecer… 2 meses depois eu estava no avião e pronto para seguir o caminho só que dessa vez pelo ponto final, Turquia.

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Turquia | Foto: Arquivo pessoal.

Já andei 1.300km em 35 dias e cruzei por 6 países. Nunca esqueço do dia que fui seguido por 2 indivíduos na Romênia, foi o dia que mais caminhei, 62km.
30 dias atrás tive uma oportunidade de conhecer a Mongólia, e aqui estou de mochila… saí da Grécia, cruzei a Turquia, Georgia, Cazaquistão, Russia com o trem Transiberiano e Mongólia. Dentro de alguns dias estou voltando para Macedônia para continuar minha caminhada. Mas antes de chegar até lá tenho um longo caminho pela frente, Mongólia, Russia, Bielorrússia, Polônia, Eslováquia, Hungria, Servia, Macedônia. Assim que retomar a caminhada tenho pela frente 13 países, e 7 ou 9 meses para finalizar, tudo depende do inverno como vai ser, pois caminhar no verão é de matar, mas pode avançar longas distâncias.

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Foto: Arquivo pessoal.
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Barracas quase sempre proporcionam belas vistas | Foto: Arquivo pessoal.

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Recado | Foto: Arquivo pessoal.

*Texto originalmente publicado por Matias Tartiere no grupo Mochileiros, no Facebook .
Você pode acompanhar mais sobre esta jornada perfil dele no Facebook: https://www.facebook.com/matiastartiere

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O Mochileiros.com é um blog e um fórum para viajantes independentes e mochileiros. Está online desde 1999 e foi responsável pela inclusão do verbete "Mochileiro" na Wikipédia em Português. Possui mais de 10.000 relatos de viagens publicados. Recebeu com muita honra o "Prêmio Influenciadores Digitais" nos anos de 2017, 2018 e 2020.

7 comentários em “Brasileiro está dando uma volta ao mundo… a pé!”

  1. TENHO ACOMPANHADO O MATIAS TARTIERE PELO YOUTUBE SE OUTRO MOCHILEIRO TIVER CANAL NO YOUTUBE REPASSA PRA GENTE, ACHO MUITO SHOW A IDEIA DE PERORRER O MUNDO A PÉ

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  2. Que bom que não sou o único!!!! Fiquei sabendo de ti somente hoje. Até então eu estava dizendo que eu era o único brasileiro que estava fazendo uma volta ao mundo a pé.
    Faz um ano e meio que estou caminhando. Percorri 8 países (sul do Brasil, Uruguay, Argentina, Chile, Bolivia, Peru, Equador e atualmente estou na Colômbia. A intenção é caminhar ininterruptamente por 10 anos pelos cinco continentes.
    Em meu projeto juntei o desejo de viajar com transformação social. O projeto se se chama Caminho de Aline: uma volta ao mundo a pé, pela vida e contra a Aids, em homenagem a minha irmã que faleceu em decorrência dos estigmas que marcam a vida de pessoas vivendo com HIV. A ideia é, enquanto caminho, dialogar com as pessoas sobre nossos preconceitos e construirmos caminhos para um mundo mais empático.
    Matias, espero que nossos caminhos se cruzem!!! Bom caminho!!!!
    Quem quiser acompanhar

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