Um grupo, um casal, os amigos, o leitor, o pescador amador com seu cachorro e todos com seus inseparáveis mates vendo o pôr-do-sol na Rambla foi a primeira cena com a qual nos deparamos na capital uruguaia, Montevidéu.
O ‘calçadão’ à beira rio (da Prata) tem mais de 20Km e pelo jeito, as tardes ali seguem tranquilas, como o país. Nos arredores, ruas arborizadas e bela arquitetura e um vai e vem de gente indo e vindo. Mas não é aquele vai e vem frenético dos grandes centros urbanos, é um vai e vem compassado, sem estresse.
Ah, e se você escutar algum montevideano dizer que a partir da Rambla se avista o mar, ou que a cidade tem saída para o mar, não se preocupe, você não está em lugar errado. É que eles costumam chamar o rio de mar; talvez porque pertinho dali, a partir de Punta del Este a costa do país já comece a ser banhada pelo oceano (Atlântico); ou porque o Rio de la Plata, formado pelos rios Paraná e Uruguai seja o mais largo do mundo… Além de importante na História desses países, mais Espanha e Portugal, o rio segue emoldurando belamente e desde sempre, a vida da capital uruguaia.
Para entender um pouquinho Montevidéu
Montevidéu foi fundada com caráter mercantil e militar, sendo o principal porto do Rio de la Plata na época. Hoje é possível ver algo daquela época na Ciudad Vieja – no Porto, em El Cabildo, na Igreja Matriz e na Puerta de La Ciudadela, por exemplo. Da ‘parte moderna’ há também muita beleza e muitas obras de arquitetos e escultores italianos e espanhóis.
Para decidir o que explorar mais na cidade, uma boa opção é pegar o “Bus Turístico”, que durante aproximadamente 2h30m passa pelos principais pontos da capital, a USD 20 por pessoa, ou cerca de 390 pesos uruguaios (coisa perto de R$ 40).
Nós pegamos o último ônibus de uma quarta-feira, o das 17:20h, próximo à Plaza Independencia (onde deixamos nosso carro em um estacionamento), praça que mescla um pouco da Montevidéu antiga com a Montevidéu moderna: No centro da praça a estátua do herói nacional, José Gervasio Artigas; em volta, a sede do poder executivo, a Puerta de la Ciudadela, o ‘calçadão’ Sarandí e o Palacio Salvo, um dos mais emblemáticos prédios montevideanos, o maior da América do Sul, quando de sua construção (inaugurado em 1928).
E mais adiante, ali pertinho, na Reconquista s/n esq. Bartolomé Mitre o belíssimo Teatro Solis, inaugurado em 1856. As visitas guiadas pelo teatro são de terça a domingo, às 11h, 12h e 17h. Aos sábados há um horário a mais, o das 13h. Para visitar a Sala de Exposições e Fotogaleria a entrada é franca, também de terça a domingo, das 11h às 20h.
O ponto negativo do ônibus é que ele anda muito rápido e o que é falado na gravação sobre os locais onde se está passando é um pouco dessincronizado, mas vale a pena.
No trajeto
Dos pontos por onde o ônibus turístico passou nos chamou a atenção a Plaza de Los Desaparecidos, não exatamente pelo que ver, mas pelo ‘conteúdo’: ali, todos os 20 de maio de cada ano, há uma manifestação popular contra os crimes contra a humanidade.
Na Avenida Agraciada, 2623 está a “Vieja Farmácia Solis”, que na verdade hoje é um espaço cultural, com shows e exposições, além de bar e restaurante. O aspecto da farmácia antiga que ela já foi é mantido em seu interior. Bom cenário pra quem curte fotografia.
No Parque Prado, mais uma vez o trio cadeira de alumínio + grama + mate mostra a tranquilidade com que os uruguaios aparentam viver. Por ali também está uma escultura dos índios de origem patagônica, Charruas, que habitaram os campos do que hoje são Rio Grande do Sul, Uruguai e nordeste da Argentina. Os “últimos charruas” (4 deles) foram enviados a Paris para ‘estudos científicos’ e percorreram a Europa em circos, expostos como ‘espécies exóticas’ ou antropófagos do ‘novo continente’.
O parque fica no bairro El Prado, área com vários casarões do século XIX e muitas árvores. Ali está também a Residencia Presidencial de Suárez y Reyes (Avenida Joaquin Suárez, 3773 – esquina 19 de abril). O atual presidente, José Mujica vive em sua chácara na periferia da cidade e utiliza a Residencia Presidencial somente para fins oficiais. A residência em El Prado só é aberta ao público em alguns anos, durante as celebrações do Dia del Patrimonio, que ocorre em outubro.
Para quem gosta de futebol, o ônibus também passa em frente ao Estádio Centenário, que foi construído para sediar a Copa do Mundo de 1930. Nem todas as partidas foram feitas lá, devido a atraso nas obras; mas a final sim e, entre Uruguai e Argentina, vencida por 4 a 2 pelo Uruguai! Lá há um Museu do Futebol contando a história deste esporte no país.
Outro ponto, no mínimo curioso é o Punta Carretas Shopping. Antes de ser um centro de compras, foi centro cultural e cadeia! Um motim no ano de 1986 fechou a prisão. Esta é uma das paradas do Bus Turístico e 90% dele desceu ali, presos ao consumo, e ou à curiosidade.
Mais à frente, já voltando ao nosso ponto de partida, passamos novamente pela Rambla (quando chegamos foi sem o ônibus) e na Avenida República del Peru há até uma espécie de Copacabaninha (em alusão à Copacabana carioca), com várias pequenas praças e um povo descolado curtindo o fim de tarde.
Se você procura artesanato, vale dar uma voltinha na Feria (feira) del Cabildo, que fica no calçadão Sarandí, na Ciudad Vieja, pertinho da Plaza Independencia. Ali os artesãos expõem e vendem seus trabalhos nas banquinhas de segunda a sexta, das 9h às 17h.
Outro passeio legal é a visita ao Mercado del Puerto (inaugurado em 1868), que fica na Julio Herrera Y Obes, Zona Portuária. Se você achar que tudo está meio caro nos restaurantes e lojas dali, vale o passeio por este que é um dos monumentos históricos nacionais do Uruguai.
O Tango é afro? Também?!
Ainda no ônibus, quase chegando à zona portuária, estão os bairros Sur y Palermo, os bairros afrodescendentes montevideanos. Na segunda metade do século XVIII o Porto de Montevidéu era a única entrada de africanos escravos até o Virreinato del Río de la Plata (território estabelecido pelos espanhóis como parte integrante do Império Espanhol em 1776 ). Ao final do século, 35% da população da cidade era de descendência africana. Nas horas de liberdade recriaram ritos de sua antiga terra, celebrações estas que ficaram conhecidas como Tangos ou Tambos.
Com o passar dos anos, essas pessoas foram se agrupando de acordo com sua origem. Nesses grupos, chamados Naciones (Nações, em português) havia comemorações próprias e ali tocavam tambores, uma das características do ritmo Candombe.
Os elementos das Naciones foram agrupados, dando nascimento ao que se denominaria Sociedade de Negros y Lubolos, que logo mais se integraram ao Carnaval, festa de toda cidade.
Hoje o Candombe é executado na rua, nos fins de semana e feriados. É um espaço de encontro para dançar ou simplesmente escutar os tambores. Nos dias 6 de janeiro, eles comemoram o Dia de San Baltasar, sendo uma oportunidade para conhecer um pouco deste ritmo, bem imaterial uruguaio.
Mais sobre o Candombe aqui e sobre o Tango, aqui (onde há também endereços de ‘Tanguerias’ para os interessados. Não tivemos a sorte, mas alguns viajantes relatam que é possível se deparar com uma autêntica apresentação de Tango, numa bela rua qualquer de Montevidéu.
Circulando por Montevidéu
Se você não quiser pegar o ônibus turístico, ou se pegou e quer explorar mais a cidade, pode utilizar taxi ou ônibus. O site da prefeitura de Montevidéu tem um aplicativo que talvez ajude nos deslocamentos: http://www.montevideo.gub.uy/aplicacion/como-ir
Onde comer em Montevidéu
Como ficamos circulando com o ônibus e depois tomando fotos, chegamos tarde de volta ao estacionamento onde estava nosso carro, na Plaza Independencia. Quase tudo estava fechado, exceto os bares e restaurantes em direção ao Teatro Solis.
Como estávamos com o orçamento apertado e ainda iríamos pegar a estrada, decidimos comer algo simples, sem as tentações que um bar ou restaurante pudesse oferecer, ainda mais uruguaios (são carnes e doces deliciosos!). Compramos algo no “Bocado”, ali em frente a praça pra comermos no carro, ali no estacionamento. O Bocado é uma espécie de conveniência/mini-mercado. Eles vendem lanches e pequenos pratos (ok, comida fria e embalada no papel filme!) e o melhor, abrem até a 01h, um verdadeiro achado.
Onde ficar em Montevidéu
Bem pertinho do Teatro Solis e com diárias a partir de USD 17 há o Splendido Hotel.
Outra opção indicada pelos viajantes é o Che Lagarto, que também fica nas proximidades, na Plaza Independencia, 713. Diárias em quartos coletivos/banheiros compartilhados, a partir de USD 10,8 (baixa temporada) e USD 23 (alta temporada)
Mais opções de hospedagem em Montevidéu aqui.
Como chegar
Se você tem acompanhado nossa série no Uruguai, viu que estamos viajando o país de carro. Para chegar em Montevidéu viemos de Colonia del Sacramento, via Ruta 1. Da pequena cidade colonial uruguaia ou da capital argentina é possível chegar em Montevidéu até de barco!
Partindo do Brasil, as principais capitais têm ônibus ou avião direto para a capital uruguaia. O terminal rodoviário do país tem um site com as empresas que operam por lá: http://www.trescruces.com.uy
Nossa jornada
De Montevidéu seguimos pela Ruta 1, sentido Punta del Leste, cidade pela qual passamos batido (por questão de gosto mesmo – a “argumentação” você pode conferir na primeira matéria da série: https://www.mochileiros.com/blog/destinos/uruguai ). Dali seguimos para a região de Rocha (Departamento), onde está entre outras belezas, o magnífico, Cabo Polonio, Parque Nacional uruguaio do qual a gente falará amanhã!
[justified_image_grid preset=3 link_title_field=title img_alt_field=caption title_field=title caption_field=caption lightbox=prettyphoto]
Oi Natália!
Adorei o post!
Acho que vc pode me ajudar! 🙂
Terei apenas um dia e meio para conhecer (ou tentar) Montevidéu. Vc recomendar tomar o Bus turístico ou fazer tudo à pé mesmo, já que ficaremos no centro?
Grata!
ainda vou ai! se deus quiser!
Lindo, lindo, lindo! As dicas vão me ajudar muito, parabéns pelo relato!
🙂 obrigada Natália! Amanhã a gente vai falar sobre Cabo Polonio (tente ficar pelo menos uma noite por lá!!!). Abraço!