Uma das coisas mais interessantes de se viajar de maneira independente é a flexibilidade do roteiro, tanto na viagem como um todo, quanto nas atividades diárias durante o mochilão.
Um roteiro é o que de mais pessoal há numa viagem. Há aqueles que o planejam com bastante antecedência e o seguem religiosamente. Há os que planejam com bastante antecedência e na hora não seguem nada do que imaginavam fazer.
Quem nunca?
Você foi pra um lugar sobre o qual estava curioso. Chegando lá supresa: o lugar era muito melhor do que o esperado! Pronto, mais dias pra ele! Ou, você pensava que x lugar era fantástico e chegando lá o lugar não é bem a sua cara… polegar em ação ou pernas pra rodoviária!
Minha experiência na elaboração de roteiros: confesso que para viagens curtas não costumo criar um roteiro (basta saber pra onde eu vou), mas já montei pelo menos 2 ‘grandes’ – um de uma viagem de 3 meses por alguns países da América do Sul e quase toda América Central e outro de uma viagem de 3 anos pelo Brasil.
Confissão 2: também já aconteceu de eu planejar uma viagem ‘descompromissada’ de fim de ano, sentido norte (é, não região norte, mas para o norte, partindo do Rio de Janeiro) e mudar totalmente o roteiro indo parar no Uruguai. Motivo: fuga da chuva. Tipo aquela música: “… e se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou…”. Foi uma ótima escolha, que me garantiu uma viagem inesquecível.
Abaixo seguem algumas dicas a partir de experiências próprias. Não é uma fórmula, mas uma base pra ajudar nos primeiros passos de quem está com dificuldade de montar um roteiro de viagem:
1 – Orçamento e tempo disponíveis
Levante quantos dias você terá disponível para essa viagem
Levante qual será o orçamento total para a viagem.
Levante quanto custará o transporte até a ‘base’ do destino (Exemplo: capital de determinado Estado ou país, onde chegará seu avião/ônibus ou quanto gastará de combustível pra chegar lá de carro ou moto, ou quanto gastará nas paradas – alimentação e hospedagem – se for de bike…)
Dentro do orçamento estime ao menos os gastos diários com o trio básico: hospedagem, alimentação e locomoção. Coloque na conta também as atividades que pretende fazer (passeios, visitas a museus e parques pagos, serviço de guia etc).
Evidentemente, nem todos os lugares apresentam os mesmos custos, em uns você gastará mais com uma coisa, em outras menos, mas se você delimitar por exemplo, um gasto diário de R$ 100 para hospedagem, alimentação e locomoção e só gastou R$ 80 num dia, ótimo, guarde os R$ 20 que sobraram para a próxima parada (que poderá ter algo mais caro) ou compre uma lembrancinha – Tudo vai depender do seu jeito de ser.
2 – Lugares
Agora que você já sabe que terá X dias e Y reais pra essa viagem, faça uma lista com os destinos que pretende visitar.
“Ah, eu tenho 15 dias pra conhecer a Europa”. Muito legal, mas a Europa é um continente, formado de vários países e muuuuitas cidades. Comece pensando no país, depois nas cidades, são nelas e em seus arredores onde estão o que você quer conhecer. E sobretudo, pense no que mais lhe agrada: um roteiro histórico-cultural, um que privilegie a natureza, montanha, litoral…?
3 – Melhor época
Você já sabe que tem X dias, Y reais e basicamente pra onde quer ir. Agora levante informações sobre se esta época é boa pra visitar esses locais. Quando dizemos, boa, quer dizer se você conseguirá aproveitar ao máximo seus dias no local. Nada é absolutamente previsível, mas você pode checar que fevereiro é uma época em que chove muito na região de Machu Picchu e decidir por si só se irá pra lá ou não nesta época, por exemplo.
4 – Inspire-se
Consulte roteiros já feitos por amigos e outros viajantes MAS, leve em consideração primeiramente os seus gostos pessoais. Não adianta você tentar fazer um super roteiro feito pelo viajante B do site A pelo litoral do Caribe se você não gosta de praia (ok, foi um exemplo absurdo, quem não gosta de praia?)
5 – Informe-se
Leia sobre os locais que pretende visitar. Podem ser reportagens (impressas ou na web), fóruns, relatos de viagem, blogs, guias e até a Wikipédia! Mais uma vez, tudo vai depender do seu jeito de ser. Se você tem tempo e gosta de ler e pesquisar, poderá encontrar algo curioso num texto e ir até o local pra conferir. Agora se você é do tipo que não faz questão de saber se um personagem histórico sentou as nádegas onde você sentará as suas, aí dispense a Wikipédia ou sites no estilo – risos.
Importante: há uma ‘corrente de viajantes’ que diz que informar-se demasiadamente sobre o local a ser visitado tira o encanto ou as surpresas da viagem. Eu discordo quando levo em conta que cada viajante é único; tem seus próprios olhares e sentimentos sobre as coisas. Também considero que você irá ler o que de fato lhe interessa, imaginando que você pulará partes do que foi relatado pelo outro.
Interessar-se, pesquisar, estudar e informar-se nunca é demais, seja qual for o assunto!
6 – Reservas e compras antecipadas
Passagem aérea: É sabido que, se compradas antecipadamente, as passagens aéreas podem sair bem mais baratas (tem até o ‘truque’ de mudar de pc. Vai que…). Para não perder as oportunidades, mais uma vez entra em cena a pesquisa. Busque nos sites das companhias, em agências e sites especializados, e em site de comparações como o www.mundi.com.br, www.fly.com, www.skyscanner.net, www.momondo.pt, www.kayak.com/flights/ etc.
Se você vai viajar por muitos países, em continentes diferentes uma ‘passagem volta ao mundo’ (bilhete ou ticket RTW – Round the World) pode baratear sua viagem. (Em breve falaremos sobre).
Hospedagem: é cada vez mais comum os viajantes utilizarem serviços de reserva de hospedagem. Para aqueles que têm fobia de uma viagem ‘engessada’ é válida a reserva de pelo menos a primeira ou as duas primeiras noites no local.
Se você chegar à noite por exemplo, não corre o risco de ficar vagando atrás de uma cama numa cidade desconhecida ou ficar à mercê de taxistas ou outros ‘prestadores de serviço’ do turismo que ficam nas rodoviárias da vida e levam (mui gentilmente) os viajantes para a pousada ou hotel que lhe paga melhores comissões.
Se você não curtiu o estabelecimento, o atendimento, os serviços ou o bairro onde a hospedagem está, com uma ou duas só noites reservadas, você consegue mudar (sem grandes prejuízos financeiros) para uma que lhe agrade, que tenha visto pessoalmente ou consultado novamente pela internet.
Três dos sistemas mais utilizados por viajantes do mundo todo são o Booking.com, o Hostel World e, mais recentemente, o Airbnb.
7 – Já no local
Uma das coisas que mais enriquecem uma viagem (e por consequência, a nós mesmos) é a interação. Interagir com outros viajantes e sobretudo com os locais além de tudo o positivo que carrega, é uma boa chance de ficar sabendo de um lugar imperdível a ser visitado, das mais belas vistas locais, da comida mais barata e saborosa e de fugir de roubadas.
Aí você junta as ‘novas informações’ ao seu roteiro e certamente fará uma viagem inesquecível.
8 – Distribua os dias e atividades
Para visitar os lugares além do que ‘todo mundo já conhece’, você não pode passar correndo pelo local. Então, distribua os dias que tem disponíveis de acordo com o que mais lhe atrai. Se você está amando um local, não hesite em ficar mais um tempinho nele. “Poxa, mas não deu pra eu conhecer as 41841471892 cidades que gostaria”. Mais uma vez entra em cena o seu próprio jeito de ser. O que você espera de uma viagem? (Quantidade?!) É uma das perguntas que você deve fazer ao elaborar o roteiro.
Case a distribuição dos dias com as informações que você tem sobre o local. Por exemplo, você sabe que levará mais dias se deslocando para lugares cujas opções de transporte são escassas ou lentas.
Se há várias opções de transporte, analise o que é melhor pra você considerando orçamento e tempo. Exemplo: não estou com dinheiro para o avião, mas também não quero ou não tenho tempo para ficar 39 horas num ônibus de Lima pra Quito – é eu fiquei e curti! – o que posso fazer nesse caso?
Se você curte ‘city tours’ há sites especializados que podem ajudá-lo na escolha ou a estimar os gastos. Dê uma olhada nos http://www.toursbylocals.com/, http://www.city-discovery.com/ e http://www.viator.com/, MAS não deixe de pesquisar e neste caso avalie se não seria melhor contratar o serviço no local, que geralmente tem muito mais ofertas. (Esses sites foram citados apenas para que você tenha uma ideia de que tipos de city tours são oferecidos em vários lugares do mundo. Uma busca por ‘city tours’ no Google também mostra várias opções). Outra opção é também ‘alugar um amigo (local)’ para conhecer a cidade com a ajuda de quem vive nela. Há também as opções gratuitas (tópico abaixo) ou ‘pague o que você achou que vale’ (como por exemplo num trekking guiado e gratuito por Santiago e arredores).
‘Ócio’: pense que é saudável para o roteiro ter um dia de nada pra fazer. Por que não? Livre, numa praça, num bar, vendo a vida passar pode acontecer sim muita (ou alguma) coisa legal (se não acontecer também não tem problema, porque você tá aberto pra isso). Você puxa um papo (ou alguém puxa um papo com você ) e de repente você tá conhecendo a família de alguém, jogando uma pelada com moradores, aprendendo uma receita de comida típica…
9 – Busque economizar
Controlar o orçamento é a parte mais importante de qualquer mochilão. Uma mesma viagem pode ficar terrivelmente mais cara se você não tomar certos cuidados. Antes de perguntar se sua grana será suficiente faça uma reflexão sobre os seus hábitos de consumo.
É necessário que você conheça seus limites e o quanto estará disposto a sair da sua zona de conforto. Pense o quanto estará disposto a perder de sua privacidade em diversos momentos do dia,(principalmente na hora de dormir), o quanto consumista e exigente você é, e principalmente o quanto estará disposto a pesquisar e pechinchar antes de comprar um produto ou serviço. Isso fará toda a diferença no valor final da viagem.
Publicamos algumas dicas de ‘como economizar com alimentação durante a viagem’ (considere também outras opções que podem baratear as refeições e tornarem-se parte da viagem, como os sistemas KitchenParty e o EatWith), ‘como mochilar gastando pouco com hospedagem’, ‘como mochilar gastando ZERO com hospedagem’, ‘como economizar com transporte antes e durante e a viagem’ , vale ler para ajudar na elaboração do roteiro e no dia-a-dia da viagem.
Pechinche com respeito: Valorize, incentive e entenda o trabalho dos profissionais do destino visitado, mas não tenha vergonha de negociar.
0800: Levante todas as atrações e atividades gratuitas disponíveis nos locais a serem visitados e, se realmente lhe interessarem, coloque-as no seu roteiro.
10 – Busque o que lhe fará bem
Ao montar um roteiro ou já em viagem, no meio de um, vá atrás do que lhe faz bem. Se você não dá a mínima pra Torre Eiffel, assuma e não visite o monumento só porque todo mundo que vai à Paris faz isso. Se você é louco pra tirar uma foto fazendo hang loose (mesmo não sendo surfista) na frente da Torre Eiffel faça (Ok, hang loose também não) e seja feliz, afinal a gente viaja, também, pra isso.
Premissas universais para um mochilão (que devem ser consideradas na elaboração do roteiro):
Não tenha medo de enfrentar perrengues, situações adversas, ter um plano B (c, d, e, f…), não ter plano algum;
Esteja com mente e coração abertos.
E … ‘carpe diem’!
A foto que abre o post é de Connor Bleakley.
E você, tem alguma dica pra montar um roteiro de viagem?
Ajude-nos a melhorar o post, deixando suas dicas e considerações nos comentários!
1) descubra com antecedencia os feriados locais.
2) telefone para os locais a visitar e pergunte se estarao funcionando. Ex: as termas de Poços de Caldas fecharam num feriadao.
3) A maioria das cidades do interior tem agencias da CEF e BB.
Ótima dicas Tania!
Obrigada. Abraço.
Olá Claudia, tudo bem?
Adorei as suas dicas. Em 2016 farei um mochilão pelo Brasil durante seis meses e, nesta matéria, li que você viajou durante três anos pelo Brasil. Gostaria (claro, se pudesse) compartilhar um pouco desta sua experiência.
Desde já agradeço e mais uma vez parabéns pelo blog!
Att,
Aline Monteiro
m
QUERO VIAJAR SOZINHA PELA AMERICA DO SUL E SE VC TEM BOAS DICAS PARA AUXILIAR NO MEU ROTEIRO…
Olá Claudia!
Bacana o texto! Quanto ao informar-se demasiadamente sobre o local, eu sou um dos que "advogam" contra, mas principalmente quando a gente já tem muito experiência na estrada. Para quem começa eu concordo que quanto mais informação você adquire, mais preparado e seguro você se sente e mais economiza dinheiro também. Mas com o tempo eu aprendi a valorizar bem o "inesperado" e as surpresas e talvez depois do que você fala no ítem 7, sobre interação, é o que eu mais valorizo nas minhas viagens hoje em dia.
Um abraço,
Gusti Junqueira – http://www.vagamundagem.com
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