MB – Como e quando começou seu interesse pelas explorações arqueológicas, quantas expedições já fez com esse objetivo e quais foram os destinos?
Na realidade meu interesse pela busca arqueológica começou há muito tempo, mas foi a partir de 2006 que comecei a organizar expedições em zonas remotas das selvas da América do Sul e nos Andes, visando a busca arqueológica num trabalho de campo com povos indígenas. Fiz até agora, 18 expedições em 4 diferentes países sulamericanos: Colômbia, Peru, Bolívia e Brasil.
MB – Além de explorações você também já fez viagens pelo mundo, no estilo Mochila nas Costas e Pé na Estrada? Se sim, quantos países você conhece, qual foi sua última viagem e qual a que mais lhe impressionou e por quê? Dos destinos que conheceu, para qual pretende voltar? Por que?
Comecei a viajar como mochileiro em 1984, quando eu tinha 16 anos de idade. Minha primeira viagem foi à Espanha e depois à Grécia e Turquia.
Em 1977 viajei também como mochileiro à Índia – em uma viagem aventureira até Varanasi, cidade sagrada para os hindus.
A viagem mais longa da minha vida foi feita em 2002, por terra, de Singapura à Gênova (Itália). Nesta viagem atravessei mais de 15 países, entre eles Indonesia, Vietnã, China, Mongólia e Rússia. Voltei à Europa com o famoso trem ‘Transiberiano’ e conheci várias cidades russas, entre elas Cazán, Moscou e São Petesburgo.
Também tive a oportunidade de viajar à trabalho. Trabalhei em barcos de cruzeiro durante 6 anos. Nestas viagens, sobretudo na América e África pude conhecer mais de 90 países; mas como tinha pouco tempo livre, conheço mais os principais portos.
MB- Nos fale um pouco de sua carreira como escritor. Quantos livros tem publicado e sobre quais temas? Quais deles tratam sobre as expedições?
Onde podem ser adquiridos? Estão em quais idiomas e podem ser adquiridos no Brasil?
Publiquei 8 livros até o momento. 4 deles relacionados à busca histórica e arqueológica: “En busca de El Dorado”, “1542 Los primeros navegantes del Rio Amazonas”, “Crónicas indígenas del Nuevo Mundo” e “Exploraciones en América del Sur 2006-2011”. Somente este último está traduzido para o português e pode ser adquirido no país no portal Lulu.com.
MB – Nos fale um pouco sobre o livro ” Exploraciones en América del Sur 2006-2011″.
No livro “Exploraciones en América del Sur 2006-2011” [disponível em português] estão os relatos de 18 expedições cuja finalidade principal é a busca arqueológica.
Foi durante uma longa caminhada na Serra Nevada de Santa Marta, a montanha mais alta da Colômbia, que me encontrei com os nativos Kogui, quando me dei conta de que ainda havia um mundo paralelo na América do Sul: o dos nativos, que têm uma visão ‘diferente’ da vida em oposição ao nosso (ocidentais) típico individualismo.
Segui a exploração além da aldeia dos Koguis, até a ‘Ciudad Perdida’, Teyuna, um interessante sítio arqueológico localizado no mesmo vale.
Desde então, pude constatar que a América do Sul é um tesouro inesgotável de vilas e também de restos arqueológicos ocultos, senão totalmente desconhecidos, à espera de serem descobertos.
No livro também é relatado, além da busca arqueológica, o contato com vários povos indígenas como os Ashaninka e os Matsiguenkas, do Peru e os Tsimane e Mosetenes, da Bolívia.
MB – Assistimos uma entrevista, na qual você fala sobre a descoberta de ruínas de uma possível cidade pré-colombiana localizada no município de Costa Marques em Rondônia, a “Cidade Perdida de Labirinto”. Na entrevista você diz que existe a possibilidade que sejam as ruínas de Paititi. Nos conte um pouco sobre essa descoberta.
O sítio arqueológico de Labirinto não foi estudado. Sendo assim, sabe-se muito pouco sobre sua origem e uso. Na exploração, estudo (sem escavação) e documentação fotográfica que realizamos em 2001 com vários investigadores independentes brasileiros, conseguimos averiguar que o sítio é muito interessante do ponto de vista arqueológico.
É verdade que as crônicas do Paititi apontam ao Rio Guaporé, mas até agora não está comprovado que os descendentes de Huáscar estavam justamente nesta área. O que é certo é que os altos muros existentes no Labirinto provavelmente não foram feitos por portugueses ou espanhóis. Acima destes muros que formam o Labirinto há alguns ‘espaços habitacionais’ nunca vistos antes.
Quem viveu ali? Não sabemos.
Na minha opinião é possível que o sítio tenha sido habitado por indígenas amazônicos e depois utilizado pelos portugueses para extração de pedras para a construção do Forte Príncipe da Beira. É uma possibilidade, mas de qualquer forma o sítio de Labirinto segue sendo um mistério.
MB – Você foi um dos poucos exploradores que visitaram a região das lendárias Pirâmides de Pantiacolla. Quais foram suas impressões? São realmente formações naturais? Sabe se já fizeram alguma escavação no local? Se sim, quem fez? (Explorador, governo etc)
Na realidade a área das pirâmides é muito grande e inserida em uma das selvas mais difíceis do planeta. Chegar até as pirâmides é realmente um desafio, já que, além da selva o rio Inchipato é muito insidioso e difícil. A quantidade de insetos também complica a exploração. Esta foi a razão pela qual o japonês Sekino não pôde chegar às pirâmides que foram alcançadas pela primera vez somente em 1996, por meu amigo Gregory Deyermejian.
Ainda que haja uma lenda relatada pelo explorador Carlos Neuenschwander, sobre o fato de que as pirâmides tenham sido utilizadas como local para esconder os tesouros de Huáscar, até agora não foi encontrado nada.
Sobre o fato delas serem formações naturais ou artificiais, posso dizer que pelo que vi, são formações naturais e não creio que tenham sido utilizadas pelo homem no passado. Porém a área é tão extensa que não se pode ter uma resposta definitiva no momento. Nunca foram feitas escavações na zona.
MB – Você realizou um exploração aérea no “Parque Nacional Noel Kempff Mercado” na Bolívia. Descobriu indícios de alguma ruína? Pretende fazer uma exploração em solo? Nos fale um pouco sobre.
Na realidade a exploração aérea que fiz com meu amigo, o piloto Jorge Velarde tinha o objetivo de analisar possíveis rotas terrestres para uma exploração por terra no Parque Nacional Noel Kempff Mercado, na fronteira Bolívia/Brasil. A região é muito importante porque, na opinião de Velarde, ali poderiam encontrar-se algumas ruínas antigas, que poderiam estar relacionadas com a exploração dos bandeirantes feitas em 1753, relatadas no famoso ‘Documento 512‘.
MB – Em 2011 você realizou a Expedición Marcahuasi. Quais foram suas impressões sobre a região?
O altiplano de Marcahusi é um dos lugares mais interessantes do mundo sob o ponto de vista arqueológico. Há vestígios de culturas Huanca (3 cidadelas) e muitos outros megalitos que ao que parecem, foram esculpidos pelo homem na época arcaica. Ainda que não haja prova definitiva das intuições de Daniel Ruzo, na minha opinião é possível que povos pré-históricos tenham vivido em Marcahuasi como os demais em Sacsayhuaman, Tiahuanaco e Ingrejil.
MB – Em todas as explorações que já realizou, qual foi sua maior descoberta?
Descobrir não quer dizer somente explorar e encontrar.
Descobrir quer dizer: explorar, encontrar, estudar, interpretar e difundir a informação. Por exemplo: o continente americano havia sido conhecido por muitos povos antes de Cristóvam Colombo (muito provavelmente pelos Fenícios, entre outros), mas foi Colombo que levou a notícia deste continente à Europa, já que difundiu este conhecimento.
Nas minhas atividades pude explorar sítios arqueológicos remotos, alguns deles já conhecidos, outros completamente desconhecidos.
A exploração da ciudadela pré-inca de Miraflores foi muito importante, já que ela era completamente abandonada; tampouco o Ministério de Cultura do Peru a havia incluído nos sítios arqueológicos do país.
Também a exploração, individuação e estudo do sítio arqueológico conhecido como ‘Serra da Muralha’ que batizei como ‘Fortaleza do Rio Madeira’ foi de máxima importância. Neste caso, alguns estudiosos de Porto Velho sabiam do sítio, mas não lhe deram a devida importância e pensavam (erroneamente) que ele havia sido construído pelos portugueses no século XVI.
Neste caso eu descarto a tese de que a Fortaleza do Rio Madeira/Serra da Muralha seja uma construção feita pelos europeus, já que teríamos uma ‘crônica’ da construção. Na minha opinião esta é uma construção indígena e possivelmente feita por povos andinos visando o controle da Amazônia.
Na realidade as crônicas antigas descrevem o controle de Antisuyo (o que hoje são Acre e Rondônia no Brasil e Beni, Pando e Madre de Dios, na Bolívia) por parte dos Incas. Me refiro ao famoso Paititi, a área dominada em parte pelos Moxos até o começo do século XVII.
MB – Dentro do ‘universo das explorações’ qual é o seu grande sonho?
Meus objetivos são dois:
1) A busca de evidências que dêem suporte à teoria do pré contrato entre os povos do Oriente Médio e os povos da América do Sul. Me refiro à possibilidade de que Sumérios, Fenícios e Cartagineses tenham conhecido e explorado a América do Sul no período entre 3.000 a.C e 500 d.C
2) A busca de evidências que dêem suporte à teoria de que os povos andinos e os Incas tenham controlado a Amazônia. O estudo da Fortaleza do Rio Madeira/Serra da Muralha se insere nesta busca.
Também é muito interessante a possibilidade de que os descendentes de Huáscar tenham se escondido em um enclave secreto, o “Patiti andino”, considerando os escritos de Blas Valera.
MB – Qual será sua próxima expedição?
Se eu tiver tempo e dinheiro disponíveis gostaria de voltar à selva, mas no momento não posso dizer aonde.
MB – Você atualmente mora na Colômbia, certo? Quando não está viajando, qual a sua principal ocupação?
Atualmente trabalho como professor de idiomas, mas sempre me dedico a organizar expedições com a finalidade de explorar áreas pouco conhecidas. A Colômbia está lentamente melhorando sua situação interna e tem imensas possibilidades no setor de turismo de aventura.
Imagens:
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Esta entrevista em italiano pode ser conferida aqui e em espanhol aqui.
Aprecio assuntos arqueológicos, acredito na presença dos povos fenícios nas Américas e Açores, as evidências são poucas mas interessantes para se levarem adiante novas pesquisas. Notar que dentre as moedas da ilha do Corvo nos Açores não foram encontradas moedas de prata entre as de ouro e de bronze cirenaicas e cartaginesas (a prata é dissolvida na água do mar por esta razão não são encontradas em achados submarinos), a pedra das caretas no Pará (com o desenho de criança chorando como se estivesse para ser sacrificada, com lágrima ao estilo de Pablo Picasso no quadro Gernica), a máscara de Guaratuba achada a quatro metros de profundidade junto aos rochedos e já no oceano aberto, bem junto ao costão de uma península (quase uma ilha), esta com um detalhe onde se nota expressão de dor, com os chifres de touro (ilha de Creta), alguma coisa a respeito da presença fenícia no Maranhão (para onde a estátua do herói da Maratona da satrapia perdida da Bahia poderia estar apontando) e o Darico de Ouro (época de Dario III) também descrito no relatório da cidade perdida da Bahia. Coisas que também nos levam a pensar na extensão do império macedônico ao Brasil (a exemplo da ida do homem à lua, estas presenças se dariam em épocas especiais da história universal (na busca de minas para o sustento de nações em guerra). E as palavras de Monteczuma a Cortez na conquista do México relatando que pessoas do oriente (Espanha ?), já teriam na confederação asteca e estes eram seus vassalos (tropas de Anibal ?), estátua de elefante conduzida por um conarca indú por lá.
Os interessados em conhecer as referências mitológicas mais antigas do Rio Amazonas, ver “Viagem ao Inferno Mitológico” no portal: http://www.rioartecultura.com/enricomattievich.htm e o artigo “Descobrimento do Brasil por Cadmo” publicado no blog do Instituto Histórico de Petrópolis: http://www.ihp.org.br
Os interessados em conhecer as referências mitológicas mais antigas do rio Amazonas ver "Viagem ao Inferno Mitológico" no portal: http://www.rioartecultura.com/enricomattievich.htm e o artigo "Descobrimento do Brasil por Cadmo" publicado no blog do Instituto Histórico de Petrópolis: http://www.ihp.org.br.
Grande aventureiro… como o Ismael de Moby Dyck… hoje o mundo moderno não faz mais aventureiro, mas apenas turistas…
Muito inspiradora e interessante a entrevista.