Dicas de Fernando de Noronha:
Não é novidade que Fernando de Noronha não é um destino barato, mas o que talvez seja novidade para muita gente é a frequência com que se tem visto fotos de amigos, parentes e colegas de trabalho visitando a ilha. Todo mundo conhece alguém que já foi. Parece até perseguição ou coisas do destino, basta entrar nas redes sociais ou ligar a TV que está lá a famosa imagem do Morro dos Dois Irmãos e a sensação de que só falta você lá. Mas será que todos os seus amigos ficaram ricos de repente? Não, eles certamente se planejaram bem.
Não é a toa que Nando Cordel canta que “Noronha é a ilha da paz”, não dá pra aproveitar na pressa, nem chegar em um dos seus incríveis mirantes apenas para tirar uma foto sem parar para contemplar (a paisagem, e não apenas a foto por anos a fio). Mas como existe uma Taxa de Preservação Ambiental (TPA) diária que o visitante paga, muita gente acredita que economizará ficando o mínimo de tempo possível.
Juntando com o fato de que “só tem praia”, há ainda quem pense que após alguns dias vai se sentir entediado sem mais nada pra fazer, ledo engano. Pra começar, a “economia” na TPA não é muito esperta, é que o visitante compra o Ingresso do Parque Nacional Marinho (PARNAMAR) que é válido por 10 dias e custa quase R$ 100,00 (e o dobro para estrangeiros), cujo valor não varia se você usufruirá do livre acesso a área durante 2 ou 10 dias. E ainda tem o peso do valor da passagem aérea. Então é aconselhável colocar na balança quanto custam sua hospedagem + TPA + custos variáveis (alimentação, festas e passeios) com quanto você investirá em passagem e Ingresso do Parque, para encontrar o equilíbrio ideal dentro do seu orçamento e perfil.
Aconselhamos no mínimo 5 dias inteiros na ilha para conhecer e desfrutar tudo, lembre-se que praticamente só há voos à tarde e dependendo do horário dos seus, pode ser que não dê tempo de fazer muita coisa no primeiro e no último dia.
Lembre-se também de respeitar o seu perfil de viajante, não precisa nem deve fazer tudo que todos fazem, Noronha é um dos melhores pontos de mergulho de cilindro do mundo, mas isso pode não ser sua praia. Tem rapel, tem trilhas inclusive gratuitas (e as regras de agendamento* dessas trilhas as tornam impossíveis para quem fica menos de 4 dias na ilha, mais uma razão para ficar mais tempo), tem o passeio de barco simples e aquele adicional que você paga pra ser puxado por uma pranchinha usando snorkel (opcional), tem travessias aquáticas com uma rica vida marinha, tem forró a noite, tem cerveja cara na balada, tem cerveja mais barata nos mercados e tem quem não vai gastar com isso porque não bebe, então existem mil possibilidades e se você for bem assessorado pelo staff da sua pousada ou hostel, saberá usar bem seu dinheiro e seu tempo.
A ilha tem a segunda menor BR do país com apenas 7km, mas nem por isso dá pra fazer tudo a pé, são muitas ladeiras, curvas e algumas estradas sem asfalto (que em dias de chuva viram caminhos de lama), estou lhe passando esta informação não para assustar, mas para ajudar a se planejar pois há quem acredite que alugar uma bicicleta seja a melhor alternativa, mas pode ser cansativo e perigoso, moto requer um guia experiente, carro requer um investimento alto (buggys estão a partir de R$ 250,00 a diária sem contar com a gasolina), ainda tem o ônibus que custa R$ 5,00 e te deixa em pontos-chave ao longo da via principal e você complementa seu trajeto a pé, além da boa e velha carona que é bem comum e segura na ilha.
A gastronomia do Nordeste é sempre incrível e Noronha possui bons restaurantes e chefs renomados, não dá pra reclamar do preço quando em seu dia-a-dia na cidade em que você mora tem o hábito de comer fora em restaurantes caros, é igual! Quanto o turista já vem de outros destinos nordestinos e já provou de tudo é até compreensível priorizar a economia e comer apenas nos “pratos feitos” (R$ 30,00) e quentinhas (R$ 25,00) que há pela ilha, mas se sua viagem no Nordeste se resume à ilha, não pode deixar de desfrutar dos peixes, temperos e sobremesas pernambucanas imperdíveis. É como não comer massa na Itália, Paella na Espanha ou Tacacá no Pará. Entre uma boa refeição e outra recomendamos se hospedar próximo a supermercados, o bairro com a maior concentração deles é a Vila do Trinta onde também há uma praça com comida de rua à noite (com tapioca a R$ 10,00 e muito mais), outra dica de ouro é escolher uma hospedagem que ofereça café-da-manhã, você pode não acreditar mas é bem comum esse serviço não ser oferecido devido aos custos da ilha (logísticos e de mão-de-obra). Para passar um dia inteiro na praia sempre leve um salgado, doce, fruta e água de 1,5L pois em algumas delas não há venda de nada, ou há poucas e caras opções, mas não precisa trazer nada disso de fora como alguns exagerados recomendam (a não ser que você venha ficar um mês!), pois os supermercados vendem e não é o dobro do preço do resto do Brasil (as frutas sim).
Sempre que eu viajo me hospedo em hostel que tem cozinha comunitária e boas áreas sociais, pois é na convivência e interação com outros viajantes que faço não só novos amigos como obtenho as melhores dicas de viagem, vejo com os que chegaram antes o que vale e o que não vale a pena fazer, dividimos de pizza a aluguel de carro, e essa troca de experiência não tem preço além de sair mais barato do que me sentir só em um quarto do hotel. Noronha agora tem hostels e a Casa Swell é o único que oferece café-da-manhã e cozinha equipada sempre à disposição, e por ser maior que os demais há mais chances de conhecer pessoas legais. Também escolho hostel pelo tamanho, e sobretudo no exterior opto pelos quartos com maior número de camas já que são os mais baratos.
O que torna as passagens aéreas para Noronha mais caras é a boa e velha relação oferta e procura, uma vez que o aeroporto funciona em horário restrito por razões ambientais, e pelas mesmas razões existe limite de visitação (como por exemplo a proibição – e recente permissão com ressalvas – à chegada de pessoas via cruzeiros). Isto significa que há regras no Brasil regidas não pelo dinheiro, mas pela preservação à natureza, e isso é raro e necessário. Temos que respeitar, e temos que entender que a magia do destino é exatamente o milagre de ainda estar preservado! Sem dúvida a ilha vale cada centavo investido!
*Pelas regras atuais (agosto-2018) do ICMBio você agenda sua trilha pessoalmente e apenas com o ingresso do PARNAMAR em mãos, mas a vaga disponível para trilha vai ser para quatro dias depois, por isso aconselho ir logo no dia da chegada (exceto aos domingos quando não há agendamento).