Juntos há mais de 40 anos, o casal de consultores mineiros, Marina e Mário Castellano parece ter nascido para viajar e mais que isso, explorar minuciosamente cada pedacinho por onde passa, já que costuma fazer as jornadas à pé.
Antes de se tornarem um dos maiores praticantes das chamadas “trilhas de longa distância” no Brasil, viveram várias fases. Já fizeram viagens curtas e longas de carro pelo Brasil e América do Sul, já se aventuraram com os 3 filhos por praias e parques, já houve época de curtir pescaria, Pantanal, montanha e litoral. “Acho que conhecemos 60% das praias do Brasil”, conta Mário aos 60 anos recém completados (ele fez aniversário em julho). Marina tem 59. Eles viajam juntos desde os tempos de namoro quando tinham de 17 para 18, e 16 para 17 anos, respectivamente.
Nos últimos 10 anos decidiram rodar o Brasil à pé. Só para você ter uma ideia eles já percorreram a ‘Estrada Real’ (1.630 km) 3 vezes, o ‘Caminho da Fé’ (541 km) 5, fizeram 2 vezes a ‘Volta de Florianópolis’ (155 km), a Serra Gaúcha, o Vale Europeu, 1.100Km da Serra da Mantiqueira, Serra da Canastra, o litoral norte do Paraná, o ‘Caminho dos Anjos’ (242 km), ‘Caminho da Luz’ (200 km) e o mais recente, o ‘Caminho de Cora Coralina’ (315 km), em Goiás onde receberam a notícia de que foram os primeiros a fazerem o caminho completo à pé*.
- Saiba mais sobre o assunto:
- Tópicos sobre Trilha de Longa Distância no fórum Mochileiros.com
- Posts sobre Trilhas de Longa Distância no blog do Mochileiros.com
Estes foram somente alguns dos lugares do Brasil que eles conheceram, sem falar nas experiências fora do país. Aliás, a vida caminhante começou na primeira viagem à Torres del Paine, no Chile (eles já foram para lá 5 vezes). “Fomos de carro, estacionamos na Hosteria las torres e decidimos subir as torres. 4 horas a pé, 3 horas descendo. Quase morri. [Por lá] Vi muitos senhores, principalmente japoneses de 70, 80 anos, aquilo mexeu comigo e pensei: pronto, arrumei um esporte”, relembra acrescentando que toda viagem que fazem tem que ter um trekking. “Hoje procuramos grandes travessias. Quando queremos descansar a gente pega uma praia ou vai para São Paulo. Gostamos muito da cidade, são muitas atrações, parques, museus, shows”.
Males que vem para o bem
Voltando um pouquinho para trás do primeiro trekking, este de Torres del Paine, as caminhadas começaram por recomendação médica. Aos 38 anos Mário estava obeso, pré diabético, hipertenso e muito estressado. Seu pai morreu com 43 anos. “O cardiologista me deu 2 anos de vida”.
Experiências únicas
Viajar é algo enriquecedor. É momento não só de conhecer lugares, novas paisagens e pessoas, mas a si mesmo, e o caminhar faz disso algo ainda mais especial. Foram experiências únicas e marcantes, lembranças para vida toda. Uma delas tem relação com gratidão. Em uma das andanças pela Estrada Real, entre as cidades mineiras de Carrancas e Cruzília, Mário conta que só tinha uma hospedagem em uma fazenda chamada Traituba e ela estava fechada; então havia um senhorzinho, o Roberto, com uma pequena chácara começando a hospedagem. Ele é lavrador, morava só, não tinha tempo para cuidar da casa – que era muito simples. “Ele foi tão amável conosco. Das lembranças de hospedagens a gente pode dizer que está entre as cinco melhores nas quais a gente já ficou”.
Eles dormiram lá mais 2 vezes depois. A última caiu num sábado de Carnaval e a casa estava fechada. Seu Roberto estava na casa do irmão na cidadezinha se recuperando de uma cirurgia que lhe amputou o dedo, decorrência do diabetes. “Falei: Ei Roberto e agora como a gente vai se hospedar lá? Imediatamente a resposta foi: leva a chave. Falei: nada! Depois roubam sua casa… ele falou que não tinha nada pra ser roubado, mas sou sistemático com essas coisas. Aí ele falou: amanhã cedo você vem aqui que eu vou resolver, vocês vão pra lá. Aí ele chega lá de carro com o pé todo enfaixado dizendo ‘nãããão, eu vou atender vocês'”.
Das coisas belas aos inevitáveis perrengues, Mário lembrou de duas situações: voltar no 27º dia de uma viagem programada para 60 dias pela Venezuela. “Era muito tenso. Faltava produtos e eu tive labirintite aí falei: vamos embora”. Outra foi em Oruro, na Bolívia. Eles foram durante o Carnaval (que é bastante procurado por lá) e estava tudo lotado. Acabaram ficando numa pousada que lhes rendeu um ataque massivo de percevejos. “Foram quase 2 meses para curar. Tivemos até que dedetizar o flat onde estávamos morando”. Mário e Marina são consultores como citamos no início do texto e vivem viajando, não têm casa fixa “para você ter uma ideia não temos nem móveis”, contou (para minha absoluta inveja boa – risos).
Bem, toda viagem tem um perrenguezinho né? E alguns previsíveis a gente tenta evitar. Como caminham, Mário diz que em alguns lugares começam às 4h30, 5h da manhã. “Nesse horário não tem quase ninguém na rua, então fica mais fácil de você não ser assaltado e sofrer esse tipo de coisa”, lembrando por exemplo de lugares onde se passa perto de periferias de grandes cidades, como em trecho da Estrada Real perto de Belo Horizonte.
Sobre conselhos para quem quer fazer longas caminhadas, Mário indica “para o público mais velho, como nós” (mas que cabe para qualquer idade) que se prepare fisicamente e que utilize produtos adequados à atividade e de boa qualidade, tênis, roupas e mochila. “A mochila e o tênis são talvez os itens mais importantes”, frisa acrescentando que uma preparação mental para aguentar os trancos, hidratar-se bem e carregar comida são coisas fundamentais.
Sobre o uso de tecnologia, eles vão no Google, veem o caminho. Utilizam o Google Maps para caminhos longos. Fazem o caminho de mentes, olhos e corações abertos. Há mais de 10 anos frequentam o Mochileiros.com e dividem com a gente um pouco dessa (bela) vida andarilha.
Mário e Marina são o ‘Casal 100’, membro de honra no fórum. E por que este nome? “Na época em que entramos [a soma das nossas idades] dava uns 105 anos, então pensamos em Casal 100. Agora já podemos mudar para [Casal] 120”, comenta com a simpatia típica mineira e o bom humor de quem ama viajar e viaja!
As experiências de viagem (com histórias, dicas, informações) do Casal 100 no Mochileiros.com podem ser conferidas, aqui.
O programa ‘Caminhos da Reportagem’ da TV Brasil filmou um de seus episódios no Caminho de Cora Coralina (300km). Mário e Marina foram os primeiros a completarem o caminho, estavam lá no dia da gravação e participaram do programa. Assista o programa completo no vídeo abaixo:
História inspiradora