A Trilha do Castelinho em Petrópolis e a Mágica dos Anjos

Olá, mochileiros!

Hoje vou dividir um pouco da experiência que vivi subindo a Trilha do Castelinho em Petrópolis. Petrópolis é um munícipio localizado no interior do estado do Rio de Janeiro, no Brasil, também conhecido como Cidade Imperial. O Castelinho é uma trilha muito frequentada por moradores e turistas, devido ao fácil acesso e uma caminhada leve, levando aproximadamente 1 h para ser concluída. Com vista para toda Baía de Guanabara, Serra da Estrela e parte da Serra dos Órgãos, o local também é utilizado para a prática do rapel. Eu e um grupo de amigos, subimos ao entardecer e apreciamos o nascer da lua. Apesar do cansaço, dos mosquitos, do peso das mochilas e de toda limitação pessoal que cada um carrega, momentos como esses, se tornam místicos e diferenciados pelo simples fato de serem vividos em plena comunhão com as pessoas e com a natureza.
Trilha do Castelinho em Petrópolis
Quando eu era criança, sempre ouvia histórias de que a floresta era um lugar mágico e repleto de seres mágicos, um lugar, muita das vezes misterioso e perigoso, levando muitos a se perderem e nunca mais voltarem. Hoje, continuo acreditando em tudo isso, apenas com um olhar diferente. Acho que não existe nada mais mágico do que a natureza, e poder encontrar indivíduos que dividam essa paixão com você, é fantástico!  Minhas maiores e melhores experiências sobre coletividade, empatia, cuidado, responsabilidade, limite e respeito, sempre tiveram a natureza como plano central. A primeira coisa que me chama muita atenção quando estou em alguma trilha é a quantidade de ”bom dia”, ”boa tarde” e ” boa noite” que digo para os que estão chegando ou saindo dela. Eu posso nunca ter visto e nem ter a chance de conhecer aquelas pessoas, mas todos que estão naquele ambiente, estão em busca de algo muito parecido, algo que provavelmente não encontraram no trabalho, em casa, nas boates ou em qualquer outro lugar. E esse algo está muito mais ligado ao espírito do que ao corpo! Já encontrei crianças, idosos, adultos, jovens, pessoas com mais peso ou menos peso, pessoas procurando a natureza para curar alguma dor ou simplesmente buscando se conectar com algo maior do que elas mesmas. Enfim, as motivações são várias, mas a conexão é sempre a mesma.

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Em trilhas e acampamentos, a noção do ”Eu” e do ”Meu” não existem. No lugar disso, entra a noção de ”Nós” e ”Nosso”. E acho que por isso, quero estar sempre perto de situações assim, porque são essas situações que me colocam á prova e me fazem revisar tudo que fui, que sou e que pretendo ser! são elas que me fazem sair da minha zona de conforto física, mental e emocional.

São elas que me fazem enxergar além do ‘’eu’’ e do ‘’meu’’ para o ‘’nós’’ e o ‘’nosso’’. E isso pode ser muito fácil na teoria, mas é na prática que nos deparamos com a complexidade que é tentarmos sermos melhores para nós e para os outros. Talvez seja um exercício para uma vida inteira, ou algumas vidas! Nunca estaremos completos ou com a bagagem cheia demais. Sempre existe uma lição na próxima curva. E uma grande lição que ficou marcada nesta trilha do Castelinho, foi o quanto o inesperado pode fazer tudo mudar em questões de segundos em nossas vidas.

Subimos a trilha no sábado para voltar no domingo na parte da tarde. Eu, como tinha uma viagem marcada, precisei descer a trilha pela manhã. Já estava caminhando para a saída quando fomos surpreendidos com um pedido de uma corda para ajudar uma pessoa a sair de um buraco de 20 metros no qual tinha caído. Eu e Tom voltamos para o acampamento para avisar os outros. No grupo que eu estava, três dos meus amigos, além de instrutores de rapel, eram do grupo de Resgate Petrópolis. Além de terem a corda, tinham todo o equipamento para descerem em segurança e tentarem fazer o salvamento. Foi uma situação bastante inusitada.

Além da preocupação da família, nós, que estávamos apenas acampando por lá, também sentimos, mesmo que de forma diferente, a angústia da espera. Mesmo não conhecendo o Eduardo antes ( o senhor que caiu), todos que ali se encontravam, vibravam uma mesma frequência. E isso me faz pensar em duas coisas: A primeira é o que citei no começo do texto sobre a floresta ter seus perigos. E realmente têm! Percebi o quanto um simples passeio ou um simples encontro com os amigos em meio a natureza, podem ter seus imprevistos, e do quanto é importante estar preparado mesmo que minimamente para caso aconteça. Por sorte, os meninos sabiam o que fazer e tudo correu bem. A segunda coisa (também citada no começo), é sobre essa mágica, essa sacralidade que rodeia ambientes naturais, e do quanto isso influencia nas atitudes das pessoas.

Parece que voltamos aos instintos primitivos e não medimos esforços para colocar os nossos como prioridade. Como não medimos esforços para proteger a barraca das intempéries, racionar a comida e a água para durar e suprir a todos, não medimos esforços para ver o outro tão bem ou melhor que nós mesmos, nunca pior. E parece que nos dias de hoje, atitudes assim não são mais instintivas, elas simplesmente são escolhidas por aqueles que ainda conseguem ver o próximo como a si mesmos. Sobre o próprio resgate: estávamos em um momento de lazer entre amigos, e mesmo os meninos sendo treinados para situações como essa, a maioria tinha idade para serem netos do seu Eduardo. Não que a idade seja um medidor de caráter, mas é sempre uma grande responsabilidade assumir a vida do outro! É sempre uma grande responsabilidade confiar e acreditar no outro, principalmente (como nesse caso) quando o outro é um desconhecido. E esse acontecido, me ensinou muito sobre agir mais por instinto e menos por convenção.

Poderíamos ter chamado os bombeiros ou não termos nos envolvido. Isso aliviaria a nossa responsabilidade e aumentaria o sofrimento da família e do próprio Eduardo. Então, foi simplesmente uma questão de escolha. E esse tipo de escolha, em situações perigosas e difíceis, dizem muito sobre nós e como nos portamos diante da própria vida! Diz muito sobre o tipo de caminho que decidimos trilhar nesta eterna jornada, sobre o tipo de conexão que fazemos com o mundo e com todos os seres vivos. Diz sobre o tipo de mágica que resolvemos acreditar mesmo não sendo mais crianças.

Enfim, esse tipo de escolha, me faz lembrar do quanto somos seres de luz, e do quanto podemos SER luz para todos. Não precisamos esperar uma situação extrema para nos darmos conta do quanto a vida é frágil e do quanto os pequenos momentos são importantes. Foi realmente uma grande lição que aprendi sobre esse incrível dom que todos possuímos: O dom de sermos anjos na vida do próximo, de salvarmos o próximo de muitas formas. Só me restam agradecimentos á vida por me proporcionar experiências como essa. Agradeço aos amigos, que sempre fecham em todas as aventuras sem medo do desconhecido, e agradeço, de maneira muito especial, aos amigos Matheus, Tom e Jefferson que fizeram o resgate do Eduardo, que se encontra bem e apenas ralou o corpo. Agradeço a essa equipe maravilhosa, que ‘’coincidentemente’’ se chama Anjos Radicas. Agradeço, por em tão pouco tempo, me ensinarem tanto. Por terem me proporcionado assistir a mágica da vida e das boas ações afetarem tantas outras vidas! Obrigada a todos, e até a próxima estrada!
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Agradecimentos e muita gratidão!
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Equipe  Anjos  Radicais e amigos.

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