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Travessia dos Lençóis Maranhenses


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Época para ir: de Maio à Setembro (lagoas cheias)

 

Período da viagem: 31 de Agosto - 11 de Setembro

 

 

No período de 11 dias foi possível fazer toda a “Rota das Emoções”, trecho turístico do norte do nordeste brasileiro que inclui, basicamente, Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba e Jericoacoara. Inicialmente, a viagem (a casal) previa passar todo este tempo apenas na região do Maranhão. Entretanto, nos quatro primeiros dias da viagem foi possível conhecer e aproveitar as lagoas mais bonitas do deserto maranhense, realizando a travessia a pé de Santo Amaro até a Queimada dos Britos, e de lá até Canto de Atins. Com isso, lá mesmo, decidimos partir para os outros dois destinos cobiçados da região, mas o foco aqui no relato será em como realizar a travessia dos Lençóis Maranhenses da maneira mais proveitosa possível.

 

Agências de turismo, revistas de viagem e reportagens de TV tratam a cidade de Barreirinhas como “a principal porta de entrada dos Lençóis Maranhenses”. ESQUEÇA ISSO! Barreirinhas é uma cidade que fica próxima ao deserto, mas para quem deseja curtir a essência do lugar, não aconselho usá-la como base: carros, escola, caos, abarrotada de turista e absolutamente nada de legal para se fazer por ali (a não ser um pequeno cais com uns bares e restaurantes), além de se localizar no extremo oposto das lagoas mais bonitas da região. Para quem gosta de aventura, Barreirinhas é incogitável como opção para usar de base. Além disso, todo dia que você quiser ir aos Lençóis Maranhenses, ficará na dependência de um transporte de agência de lá (que metem a mão para os passeios mais legais), estando impossibilitado de explorar por conta própria. A cidade-base para iniciar a jornada e usufruir ao máximo do melhor que o lugar tem a oferecer é Santo Amaro, localizada no extremo oeste do parque.

 

Primeiramente, a passagem a ser comprada deve ser para o aeroporto de São Luís (MA), e é bom estar ciente que as vans que saem do aeroporto da capital rumo a Santo Amaro possuem apenas dois horários: 12:00 e 2:00am. Sua reserva deve ser feita com o Saulo, da Malheiros Viagens: (98) 98745-9614 | (98) 98713-6472 | (98) 98734-6020.

 

31 de Agosto - Chegada em Santo Amaro: Chegamos no aeroporto de São Luís na hora do almoço, e após cinco minutos de espera, a van da Malheiros passou para nos buscar. De lá, foi uma viagem de três a quatro horas até um povoado chamado Sangue, e de lá fomos transferidos para jardineiras (veículos utilizados na região, com bancos improvisados na caçamba), e partimos por uma “estrada” de areia rumo a Santo Amaro. São mais três horas balançando na areia fofa, em meio a galhos de árvores resvalando na cara, pequenas lagoas, etc. Chegamos em Santo Amaro já de noite após uma longa jornada que começou às 6 da manhã no Rio de Janeiro. A cidade de Santo Amaro é mínima, e é focada em turistas que querem aproveitar exclusivamente o dia (de noite não há nada badalado, a cidade é bem pacata), estando próximo das principais belezas dos Lençóis Maranhenses. Indico a Pousada Cajueiro, onde nos hospedamos por três noites antes da jornada rumo à Queimada dos Britos (dica: o quarto 14 é o melhor, com vista pro Rio Alegre).

 

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1º de Setembro – Missão Andorinhas: Como pretendíamos fazer a travessia do deserto maranhense sozinhos, com a ajuda apenas de uma bússola e um GPS da Claro (que pegou perfeitamente bem na região, até mesmo nas áreas mais remotas), utilizamos o primeiro dia da viagem para um “desafio”, que seria imergir no parque por conta própria, partindo de Santo Amaro, e encontrar a Lagoa Andorinhas. Não se assuste muito com os relatos e conselhos alheios dos locais de que “é perigoso ir explorar o parque sozinho, pois volta e meia há turistas que ficam horas, e às vezes dias, perdidos andando em círculos”, pois não precisa de muita instrução pra saber que o sol nasce no leste e se põe no oeste, e dando uma leve estudada no Google Maps antes, com auxílio de uma bússola, se situar em prol da sobrevivência por lá não chega a ser um problema. Senso de orientação, informação e utensílios básicos são o suficiente.

 

Entretanto, apesar de ser fácil imergir e voltar para Santo Amaro, encontrar a Andorinhas, que fica a aproximadamente 5km para dentro do deserto, não é fácil, pois uma coisa é orientação para não se perder e conseguir voltar de onde veio, outra coisa é encontrar uma lagoa alheia, sem referência alguma de onde ela fica. Passamos pela entrada do parque às 10:30 e, com um pouco de sorte, encontramos a Andorinhas lá pras 15:30, regressando para Santo Amaro às 19:00. O passeio foi maravilhoso, parando de lagoa em lagoa, se banhando, descansando, nadando pelados, sem pressa, e tudo completamente deserto, como se tivéssemos privatizado as lagoas apenas para a gente (bem diferente da região de Barreirinhas, por exemplo). O paraíso inteiro era nosso, sem uma alma viva, com exceção de aves, peixes e alguns bois. No caminho, passamos pela Lagoa Gaivota, que infelizmente já estava seca nesta época do ano. Após a longa caminhada, pizza em Santo Amaro e repouso pra visitar a Betânia no dia seguinte (desta vez, pela distância, com uma jardineira contratada, da Malheiros).

 

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2 de Setembro – Lagoa Betânia: A Betânia é a maior lagoa dos Lençóis Maranhenses, localizada no extremo sul do deserto, longe suficiente para ser necessária a contratação de guia (com veículo). O Sansão (irmão do Saulo, da Malheiros) nos cobrou R$ 200,00 pelo passeio (R$ 100,00 para cada um) de forma exclusiva, apenas nós dois. Importante ressaltar que este passeio pode ser dividido por até 10 pessoas e que o valor normal é R$ 300,00 (ou seja, pode chegar a apenas R$ 30,00 por pessoa, se tiver um grupo grande). A região da Betânia é um grande complexo de lagoas, dunas e vegetação, com infraestrutura de restaurante e tudo, em que, após uma caminhada até chegar num ponto onde a vista é excepcional, pode-se almoçar uma galinha caipira “executada” na hora pelos locais. Após a refeição, descansamos na sombra das árvores com os pés na lagoa, voltamos para curtir o pôr do sol no topo de uma duna e retornamos para Santo Amaro.

 

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3 Setembro – A TRAVESSIA (Santo Amaro - Queimada dos Britos): Uma das conclusões a que chegamos nesta viagem é que não vale a pena ir para os Lençóis Maranhenses se não for realizar a caminhada até a Queimada dos Britos (passando pelas Lagoas Emendadas e das Cabras), que é o ápice do roteiro, permitindo contemplar os Lençóis Maranhenses em sua essência. A Queimada dos Britos é uma região remota localizada exatamente no meio do Parque Nacional, isolada de tudo, cercada por vegetação e lagoas, onde residem cerca de 30 famílias. O esquema para ir lá é o seguinte: contrata-se um guia local, morador da Queimada (no caso, indico MUITO o Cleiton, contato que consegui através da Malheiros Viagens, com o Saulo e o Sansão) que dará todo o suporte: passará na pousada de Santo Amaro às 03:30 da manhã e levará as bagagens mais pesadas em seu quadriciclo até a Queimada. Se quiser, pode ir junto com ele (optamos por deixar ele ir na frente para irmos depois, sozinhos mesmo) parando quando quiser para descansar, se banhar nas lagoas, etc, enquanto ele fica consideravelmente à frente, no limite de onde a vista alcança, permitindo uma maior privacidade (principalmente se for à casal...). Veículos motorizados como o do Cleiton são permitidos apenas para moradores da Queimada dos Britos ou da Baixa grande, que são as duas áreas remotas dos Lençóis Maranhenses. Para se chegar mais rápido ao destino, não é muito difícil para quem estudou o mapa da região antes: basta, saindo de Santo Amaro, seguir para o leste (cerca de 6 horas andando). Com bússola, GPS e saindo de madrugada bem antes do sol nascer (para ter o nascer do sol como referência e também não correr o risco de pegar o sol de 12:00) não tem erro. Porém, a necessidade de um guia são outras: primeiro, o peso das bagagens, pois você dificilmente fará uma viagem para lá apenas com uma mochila pequena de mão (o quadriciclo dele é essencial, a não ser que haja uma vontade de realizar um treinamento físico, cruzando o deserto com um mochilão mais pesado nas costas), segundo pelo fato de pernoitar no terreno do Cleiton, na Queimada dos Britos, podendo tanto acampar com sua própria barraca quanto dormir nas redes de descanso, com fartas refeições sendo servidas. E terceiro porque, indo com ele, será possível desviar um pouquinho da rota e passar pelas Lagoas Emendadas (onde vimos o nascer do sol em dunas que chegam a mais de 40 metros de altura) e Lagoa das Cabras, que são as duas consideradas, pelos próprios nativos, como as mais bonitas de toda a região do lençóis. Neste passeio, saímos às 3:30 da manhã e chegamos na Queimada perto de 12:00, tempo para montar a barraca, descansar e aguardar o almoço (macarrão, molho à campanha, salada e peixe a vontade, pescado pelo pai do Cleiton). A caminhada é tranquila para qualquer tipo de pessoa, pois o ritmo é você quem dita, a areia de lá, em quase todo o percurso, é dura, facilitando a caminhada. O problema maior são as bolhas nos pés. E caso esteja cansado e queira adiantar uma parte do caminho, basta alcançar o Cleiton e montar na garupa do quadriciclo (comporta, com folga: ele e mais duas pessoas, dois mochilões, uma barraca de camping e 9 litros de água). Pude dirigir o quadriciclo para “brincar” entre as dunas e lagoas no entorno da Queimada dos Britos. Cleiton é figurassa, super tranquilo, deixa você dirigir numa boa! Após o almoço, descanso pelo terreno com vista pra lagoa, esticada de pernas na barraca e, final de tarde, passeiozinho básico até uma lagoa próxima para ver o pôr do sol do topo de uma duna da região. Retorno à Queimada para janta caseira e cochilada para acordar às 5 da manhã e seguir rumo ao Canto de Atins.

 

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4 de Setembro – Canto de Atins: Seguimos a jornada bem cedo, em direção à praia, onde pude dirigir o quadriciclo do Cleiton novamente em alta velocidade, beirando o mar, em um trecho que não é tão legal quanto o primeiro (por isso, optamos por não perder tempo caminhando esta parte), mas onde brincar com o quadriciclo é legal, devido a areia rígida e lisinha. Cleiton nos contou que, neste trecho, é comum encontrar turistas despreparados que tentam atravessar os lençóis e acabam passando mal por desidratação (gringos principalmente), que tentam fazer a caminhada no sentido contrário (Atins em direção à Queimada). O sol do meio do dia por lá é assassino. Chegamos em menos de duas horas no Canto de Atins, base que fica no extremo oposto de Santo Amaro, à leste do Parque Nacional. Cleiton nos deixou na pousada do Sr. Antônio, que também conta com um restaurante famoso, onde vende o melhor camarão do nordeste. Acertamos com o Cleiton: R$ 400,00 (dividido por dois: R$ 200,00 cada), que incluiu todo o suporte como guia, o quadriciclo, o pernoite, almoço, jantar e café da manhã. Costumo achar tudo muito caro, mas sinceramente, este esquema valeu cada centavo! Canto de Atins é um ponto bem sossegado, ainda na área do deserto maranhense, que conta apenas com umas barracas de palha e algumas lagoas que, em Setembro, já não estavam tão cheias, mas que deu pra se divertir bastante, servindo como despedida dos quatro dias maravilhosos que foram esta jornada pela região.

 

Contato do Cleiton: (98) 9983-3442. Como é raro conseguir sinal lá, caso não consiga o contato, esquematizar o passeio através do Sansão ou alguém da Malheiros, que consegue na hora estabelecer o contato com ele.

 

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BÔNUS: Jericoacoara e Delta do Parnaíba:

Como havíamos planejado uma viagem de 11 dias por lá, e em quatro conseguimos “varrer” os lençóis, conhecendo as melhores lagoas e usufruindo do melhor passeio, decidimos que iríamos aproveitar o resto da viagem completando a “Rota das Emoções”, e iniciamos a missão de chegar em Jericoacoara. Saímos de Canto de Atins às 5 da manhã e tivemos que ir andando com mochilão nas costas por duas horas até Atins. De lá, jardineira para Barreirinhas (1h e meia). De Barreirinhas, outra jardineira para Paulino Neves (2h). E seguiríamos pingando de transporte em transporte até Jeri. Porém, em Paulino Neves, descobrimos que havia uma Hilux de uma agência de Jericoacoara que estava procurando exatamente mais duas pessoas para encher o carro que havia sido fretado de Caburé (praia próxima de Atins) até Jericoacoara por três europeus, e que ia passar por ali onde estávamos para saber se haviam surgido duas pessoas interessadas em ir para Jericoacoara. Esperamos por cerca de 1 hora, e apareceu o Mariano, dono da Bora Turismo, e cobrava R$ 250,00 por pessoa para levar de Caburé até Jeri (cerca de 6 horas de viagem, indo direto). Como já estávamos em Paulino Neves e ele já ia pra lá de qualquer jeito com dois lugares vagos no carro, consegui desenrolar por R$ 300,00 eu e minha namorada, ao invés de R$ 500,00, que seria o preço normalmente cobrado para duas pessoas. O investimento valeu muito a pena, pois chegaríamos em Jeri na noite daquele mesmo dia, ao invés de continuar a missão fazendo de transporte público: Paulino Neves-MA  Tutóia-MA  Parnaíba-PI  Camocim-CE  Jijoca-CE  Jericoacoara. Para quem deseja economizar ou não tiver esta sorte, saiba que este é o trecho a ser feito dos Lençóis Maranhenses até Jericoacoara, tendo que pernoitar em alguma das cidades (Parnaíba provavelmente, para fazer o passeio do Delta, algo que acabamos deixando para o final).

 

Chegamos dia 5 de Setembro à noite em Jeri e ficamos até o dia 8. No primeiro dia deu para curtir a praia, fazer a trilha até a Pedra Furada (indo pelo lado da orla e retornando por cima) e assistir o pôr do sol na duna. No dia 7, fizemos Lagoa do Paraíso e Lagoa Azul; onde é possível estabelecer naquele clima clássico de lá, tomando cervejinha deitado nas redes que ficam dentro das lagoas, com mesas e sombreiros a poucos metros de distância. Em Jeri tudo costuma ser bem caro, mas como ficamos em camping e conseguimos pagar um preço especial (R$ 45,00 cada um por três noites) não foi a facada que esperávamos, ainda mais levando em conta que chegamos bem no final de semana do feriado de 7 de Setembro, com a vila lotada. Ficamos no Camping Flaco, mas o mais famoso de lá é o Camping Natureza que, devido ao feriado, parecia um campo de refugiados, não havendo espaço nem para entrar no terreno de tantas barracas grudadas umas nas outras. Gostaríamos de ter ficado pelo menos mais um dia em Jeri para ter feito o passeio à Tatajuba, mas como queríamos fazer o Delta do Parnaíba, saímos de Jeri dia 8 na hora do almoço e fizemos o percurso de transporte público de volta: Jeri  Jijoca  Camocim  Parnaíba. É fácil se informar por lá como pegar estes ônibus para estes destinos, basta pedir informação em qualquer agência ou em sua hospedagem.

Chegando em Parnaíba, conseguimos duas diárias na Pousada Porto das Barcas, que é a melhor para quem está passando na cidade apenas para o passeio do Delta das Américas, pois ela fica ao lado das agências turísticas que fecham pacotes para o passeio do Delta, e na ruazinha do centro histórico, local bem pequeno e aconchegante, perfeito para estabelecer por lá. Chegamos dia 8, à noite, e conseguimos fechar o passeio de dia inteiro para o dia seguinte, com um grupo que já estava formado. Saímos da pousada de manhã bem cedo com a van da agência turística rumo ao Porto dos Tatus, de onde saem os barcos, e fizemos todo o trajeto do Delta, parando em mangues, dunas, praias e na Pousada Casa de Cabocla para almoçar, a única hospedagem localizada dentro do Delta. Na parte da tarde, o guia nos levou a um ponto específico para assistir a revoada dos guarás, que é um show à parte. Ao anoitecer, outro ponto do rio para procurar jacarés... Conseguimos visualizar um, que chegou ao lado do nosso barco, além de umas duas cobras penduradas em árvores. Regressamos à pousada em Parnaíba, dormimos, e dia 10 estávamos retornando para Barreirinhas (ônibus de Parnaíba para Paulino Neves, e de lá jardineira para Barreirinhas) descansar às margens do Rio Preguiça e regressar de ônibus para o aeroporto de São Luís no dia 11 (companhia Cisne Branco, que faz o trajeto Barreirinhas – São Luís e passa quase em frente ao aeroporto).

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