Membros de Honra Jorge Soto Postado Abril 13, 2007 Membros de Honra Postado Abril 13, 2007 (editado) DA JURÉIA ATÉ IGUAPE... a pé (e à nado) Tardou 2 anos p/ q se juntassem as condições - e vontade - p/ dar continuidade a uma caminhada q só não finalizei por falta de tempo, a Trilha do Imperador (ou do Telégrafo). Esta, por sua vez, já fora bem tradicional outrora por coincidir c/ uma romaria local, mas atualmente esta proibida por atravessar boa parte da Reserva Ecológica da Juréia. O trecho Guaraú (Peruíbe, litoral sul de SP) ate Barra do Una foi perfeitamente viável num final de semana. Restava apenas o trecho q vai da Barra do Una, segue ate a Pta da Jureia e termina na Barra do Ribeira, em Iguape, 30km depois. Assim, atento ao tempo e à tábua das marés, resolvi de ultima hora "terminar o serviço", numa pernada q exige o mínimo e legitimo espírito "aventureiro" pelas condições acima expostas. De quebra, a beleza singular de um dos rincões de nosso pais q são poucos os privilegiados de pisar. Legalmente, claro. A lotação q tomei no Term. Jabaquara, as 10hrs, c/ destino a Peruíbe foi ate q bem rápida, e o ceu azul desta vez permitiu apreciar atentamente os detalhes da descida de serra pela Imigrantes, q não ficam atrás da Tamoios. E, num piscar de olhos e passando por Mongaguá e Itanhaem,cheguei em Peruíbe quase meio-dia. Assim, fui p/ rua atrás da rodoviária q é de onde partem os ônibus p/ td qto é canto, incluindo Guaraú e Barra do Una, p/ qual partimos as 13hrs, depois de tempo suficiente p/ um lanche. Viagem q fica emocionante somente depois da Praia do Guaraú, pois a precária estrada de terra serpenteia, em altos e baixos, a verdejante serra q compõe este trecho inicial da Juréia. Após passar pela farofada Cachu do Perequê, pelo Núcleo Itinguçu e da Cachu do Paraíso, é q definitivamente seguimos p/ vila da Barra do Una, onde chegamos as 14:30. Minha ideia era aguardar o anoitecer p/ cruzar à nado a barra do rio até outra margem (longe da vista do pessoal da Reserva), mas como era cedo fui bisbilhotar as condições do mesmo. Pela praia plana e larga, logo alcancei a ampla foz do belo Rio Una do Prelado, onde apenas alguns pescadores tentavam fisgar alguma coisa nas águas calmas e escuras. O rio, por sua vez, é obstáculo natural p/ inicio da caminhada (na outra margem), já propriedade da Reserva Ecológica. Mas bastou notar a guarita do outro lado fechada q resolvi cruzar-lo naquele mesmo instante afim de andar c/ luz e não à noite, conforme inicialmente previsto! Assim, munido de sacolas de plástico, ensaquei meus poucos pertences, tanto q minha cargueira tava mais p/ mochila de ataque de tao leve: isolante, lanche, 2,5L de água, sobreteto da barraca, rede, lona de plástico, chinelo e a roupa do corpo. Depois de cair na água p/ testar profundidade e correnteza, joguei a mochila nas costas e mergulhei, resoluto a transpor os quase 70m de largura do rio. Inicialmente tive dificuldade em nadar de peito, pois a barrigueira da mochila tornava a mesma "dura" demais nas minhas costas, impedindo de levantar a cabeça p/ respirar satisfatoriamente. Mas bastou solta-la q tive mais tranqüilidade e liberdade em continuar minhas lentas e vigorosas braçadas, sob o olhar perplexo dos pescadores, q deviam estar apostando entre si se chegava lá ou não. Devo ter demorado a "eternidade" de 7min. p/ atravessar o rio, tempo suficiente ora p/ descansar e tomar fôlego qdo preciso, ora p/ compensar as suaves e frias correntezas q tendiam a me levar p/ mangue, bem mais abaixo da margem arenosa q visava. Qdo pisei em terra firme quase desabei de cansaço, mas a sensação de vencer o rio bastou p/ continuar a pernada, as 15:30. Dei um rapido trato na mochila (apenas p/ constatar q as sacolas vedaram td perfeitamente) e, descalço, tomei a longa, deserta e ampla Praia do Una, q seguia 12km intermináveis p/ sudoeste. Neste longo trajeto, agraciado por um ceu limpo e sol na cara, passei por restos de um barco naufragado, urubus comendo a carcaça de um golfinho e muitos carangueijos, gaivotas, quero-queros e carcarás. A larga faixa de areia, plana e dura, era limitada à direita por uma extensa planície de restinga arbustiva (com cactos!) q se estendia kms, à noroeste, e terminava aos pés da grandiosa Serra do Itatins. A pernada transcorreu tranqüilamente e so teve uma breve pausa num raso riacho q foi motivo p/ um refrescante banho, e numa simpatica capelinha do Bom Jesus, q devia ser o objeto de culto das peregrinações ali efetuadas. Enqto isso, à minha frente o maciço da Serra da Jureia ia lentamente se materializando, onde um curioso pico parecendo o "Garrafão" (do parnaso) chamava minha atenção em sua curta crista, à oeste. As horas se passam e o sol vai se pondo lentamente atrás da silhueta recortada das montanhas, no mesmo instante em q a maré sobe, deixando a praia cada vez mais estreita e inclinada, agora com areia grossa e fofa. Faltando pouco p/ Ponta da Grajauna, resolvo encostar o isolante na praia, um pouco acima da faixa das marés e antes da restinga. Após comer, me cobri com o sobreteto da barraca e fiz da mochila travesseiro, disposto a dormir. No entanto, o vento continuou soprando do mar - pipocado de luzinhas de embarcações ao longe - assim q a noite caiu, deixando o firmamento coalhado de estrelas, e onde uma "quase" meia-lua iluminava parcialmente a praia ao meu redor. Um espetáculo p/ os olhos, q so fechariam mais tarde vencidos pelo cansaço! A noite de sono bom correu tranqüilamente, fora um sereno frio de madrugada e investidas de carangueijos curiosos da minha presença. O domingo acordei com o cafuné de um enorme siri, as 5:30. A escuridão lentamente se dissolvia qdo retomei a pernada, logo após comer algo e guardar meus pertences. Minutos depois, outra pequena barra de rio (raso) é facilmente transposta e logo estava no final da praia, onde uma placa ao pé do enorme rochoso indica q estou no "Jureia: Núcleo Grajauna". Uma picada entra na mata de encosta (já maior q a restinga), à direita, onde há mais duas casas fechadas e a trilha se torna uma precária estrada de terra q vai lentamente contornando a ponta. Ignoro uma bifurcacao sai da mesma pela direita, atravessando uma ponte e aparentemente indo planície adentro. Logo depois, deixo a estrada e tomo uma discreta picada, à esquerda, q acompanhando a base do morro se enfia na mata fresca e, em pouco tempo, sobe suavemente ao alto de uma encosta, do outro lado da ponta. A vista privilegiada (a 40m acima do nível do mar) da imponente Ponta da Juréia, iluminada pelos primeiros raios raios do sol é realmente fantástica! Uma picada desce por degraus erodidos ate a areia e, num piscar de olhos, atravesso a curta praia, indo parar num costao rochoso, onde o mar impede passagem. Mas, saltando de pedra em pedra, vou ganhando altura outra vez em diagonal, ate alcançar uma trilha q o contorna por cima. Tenho minhas duvidas deste trecho ser feito na maré alta, pq ao galgar as pedras as furiosas arrebentações das ondas so não me atingiam pq escolhia o momento apropriado p/ andar, ou seja, qdo o mar se recolhia!! A trilha desce e - outra vez de pedra em pedra - alcanço a areia, onde logo me vejo cruzando os 3km desertos e largos da Praia do Rio Verde, onde apenas algumas gaivotas e maçaricos pareciam se incomodar com minha intromissão. A verdejante ponta da Jureia parece desabar junto ao mar e faz jus ao seu nome q, em tupi-guarani significa "ponto saliente". Chegando no final da praia, retorno algo de 200m onde acho um trilho arenoso, à direita, q se enfia na restinga arbustiva, passa por uma caixa dagua (e restos de uma construção), e adentra um belo túnel de vegetação p/ depois me ver no interior de uma baixa floresta, típica de mangue, ate alcançar uma pequena casa caiçara, onde parecia haver alguém em seu interior. Logo adiante está o manso Rio Verde e a trilha continua nas pedras da outra margem, contornando a Jureia por cima. Felizmente, os 30m de largura do rio, q ganha este nome por refletir a verdejante serra em torno, foram facilmente vencidos carregando a mochila na cabeça, com água ate o peito, as 8hrs. Do outro lado, a picada se enfia na mata subindo p/ direita, mas logo beira a encosta em definitivo p/ esquerda, ganhando altura rapidamente. Aqui ha muita água potável na forma de vários pequenos córregos descendo a montanha, e o percurso é feito em gde parte dentro de densa mata, com alguns trechos abertos, permeados de matacoes de samambaias e vistosas bromélias. Num deles, somos brindados com uma vista espetacular da Grajauna e da praia do Rio Verde, 100m acima do rio homônimo. A trilha contorna a ponta e passa a bordeja-la agora p/ sudoeste, subindo e descendo suavemente, tendo um enorme costao e pequenas prainhas logo abaixo, à nossa esquerda. Na seqüência, se embrenha novamente na mata, descendo em ziguezagues q exigem cautela nos trechos escorregadios, principalmente qdo se esta calçando um simplorio chinelo de dedo. Numa curva, a trilha parece descer p/ esquerda e ignorar uma bela e pequena queda dagua, mas o certo é seguir p/ cachoeira, visível no meio da mata. Esta, por sua vez, despeja suas águas num pocinho de água cristalina, onde faço questão de um breve banho. Na seqüência, a trilha continua da base da cachu, bordejando a encosta de mata fechada, onde vamos perdendo altura sutilmente. Numa curva de trilha, temos uma janela na vegetação q permite um visu do outro lado da ponta: os intermináveis 15km da Praia da Jureia em meio a uma vasta planície de restinga! Praia q alcanço as 9hrs, após passar pela Portaria da Reserva, na qual não vi sinal nenhum de vida! Com o sol começando a bater forte e sem ninguém à vista, não me restou alternativa senão a caminhar por horas aquela enorme e larga praia de chão duro e repleta de bolachas-do-mar em sua areia escura, trecho q seria tedioso não fosse a presença constante de urubus, gaivotas mas principalmente de umas inconvenientes mutucas, q me obrigavam a estar sempre em movimento. O tempo foi passando e a sola calejada do meu pé começando a doer, mas felizmente faltando uns 3km consegui carona c/ um motoqueiro q me deixou na muvucada praia da Barra do Ribeira (sinalizada por uma enorme antena de radio), sob o sol e calor escaldante do meio dia. Dali bastou cruzar a pequena vila - cujas ruas de terra, areia e grama lembram uma Marujá c/ mais infra - e embarcar na balsa q cruza o grandioso rio Ribeira do Iguape. No outro lado, enqto aguardava o bus das 13:30 p/ Iguape comemorei num boteco o sucesso da empreitada. O cansaço e alguns cochilos quase me fizeram perder o bus, cujo trajeto de pouco mais de uma hr fiz no mundo dos sonhos. Em Iguape, tomei o busao das 15:30 p/ Sampa, onde cheguei 4hrs depois. Exausto e cansado, claro, porem satisfeito de ter tido o privilegio de percorrer um trilho histórico num dos redutos mais preservados de Mata Atlântica, q por conta de suas tantas dificuldades e restricoes de acesso, ironicamente ainda mantem a paz e beleza preservadas. Editado Abril 13, 2007 por Visitante Citar
Membros de Honra ogum777 Postado Abril 13, 2007 Membros de Honra Postado Abril 13, 2007 belo relato! cafuné de siri gigante! essa é boa! uma dúvida: q barraca vc usa? Citar
Membros de Honra carlanog Postado Janeiro 8, 2009 Membros de Honra Postado Janeiro 8, 2009 Hehehehehe Belo relato... Tanto a escrita, com o senso de humor... Moro em Iguape e morro de vontade de fazer o trajeto com meu marido... Mas não com os romeiros da festa de agosto, daí não tem graça... Mas me falta coragem e fôlego... Parabéns por sua coragem... Valeu!!! Carla Nogueira Citar
Membros rafael7eodoro Postado Outubro 23, 2014 Membros Postado Outubro 23, 2014 Muito legal o relato (cafune do siri foi fod....)kkkk Em breve quero fazer esse percurso. Praia do Rio Verde. Citar
Membros msantaguida Postado Dezembro 9, 2014 Membros Postado Dezembro 9, 2014 É uma pena que está proibido o acesso até hoje, pois já faz anos que quero fazer esta travessia Citar
Posts Recomendados
Participe da conversa
Você pode postar agora e se cadastrar mais tarde. Se você tem uma conta, faça o login para postar com sua conta.