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Agulhas Negras, Prateleiras e Mirante Pedra do Picu - A experiência de uma iniciante


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Olá pessoal, entre 6 e 10 de Junho de 2021 fui para Itamonte-MG com o objetivo de subir umas montanhas pela primeira vez e quero contar aqui minha experiência de forma breve (não foi breve), sem foto, sem nada, só um relato rápido do que você, que quer iniciar no montanhismo pode esperar do incrivelmente lindo Parque Nacional do Itatiaia. Escolhi essas montanhas porque achei que fosse algo realmente voltado para iniciante. Não é. Bom, talvez seja. Enfim, sei lá. 

Eu sou uma pessoa sedentária, não nego, mas costumo aguentar o tranco de longas distâncias. O que eu não sabia era da dificuldade técnica das montanhas. 

1) Prateleiras

Acabamos escolhendo ela porque na portaria do parque nos falaram que tinha muita gente nas Agulhas e nos permitiram mudar de ideia. A trilha até a base é suave com um leve desnível. A parte difícil é quando começa o 'trepa pedra'. Em vários trechos eu, com meus 1,65 de altura, tive alguma dificuldade de passar de uma pedra para outra por causa da altura. Fora os vários trechos que uma escorregada pode ser fatal. Muitas fendas e buracos, meu joelho tremia. Pouco antes do cume, tem um trecho em que é necessário corda. Foi a primeira vez que fiz 'rapel' na vida mas achei bem tranquilo na verdade. Depois desse rapel chegamos no cume. Assinei o livro, me senti dona do mundo. Meu guia confessou lá em cima que achou que eu não ia conseguir porque eu tive muito medo em vários momentos de maior exposição. Mas lá estava eu no fim das contas. A volta foi o mesmo processo da ida: bastante medo nos trechos expostos ou com valas enormes mas conseguimos. Em 3 horas a gente subiu e desceu. Foi bem cansativo, as coxas pediram socorro mas deu. Estava muito satisfeita com o meu desempenho. 

2) Agulhas Negras

Tinha dado uma LEVE GAROA NO FIM DA MADRUGADA/ MANHÃ daquele dia, isso vai ser importante lá na frente. Só tinha a gente na montanha naquela terça-feira, 8 de Junho de 2021. Inicio de trilha suave como sempre. Para ascensão das Agulhas tem vários trechos que são paredes de pedra bem íngrimes que vc simplesmente sobe andando sem corda sem nada. Precisa duma boa bota, bem aderente. Diferente das Prateleiras, as Agulhas pega mais pelo cansaço da extensão da trilha. Não é tanto 'trepa pedra' (pelo menos até a parte que eu fui - já dando spoiler do final) mas são subidas bem íngrimes. No primeiro trecho de corda, é uma parede quase de 90 graus que o guia vai na frente, subindo pelas fissuras da rocha para amarrar a corda pra gente. Nessa parte, a gente começou a ver de fato uma prova do que já havíamos notando antes: ele tava escorregando demais para fazer algo que já tinha feito muitas vezes na vida. Ou seja, a rocha tava mesmo mais escorregadia que o normal. Aquela garoa da manhã, super leve, ficou acumulada na pedra. Juntando com a areia das pessoas do dia anterior, possivelmente ficou um 'sebinho' ali a tornando a situação mais complicada. 

O problema veio depois dessa primeira corda. Nesse trecho de paredão a minha bota simplesmente não parava na pedra. Consegui subir aos trancos encaixando o joelho na fissura (o que me rendeu váááários hematomas) mas subi. As outras duas pessoas do meu grupo não conseguiram subir nessa parte, mas o guia jogou uma corda (contra a vontade dele pois ali naquele trecho não havia onde amarrar a corda, ficou eu e ele segurando e isso é muito perigoso) e ai eles subiram. Mais pra cima havia um trecho de duas pedras sobrepostas com uma vala entre elas. Ali, infelizmente não tinha espaço para encaixar o joelho pois a fissura era bem mais 'rasa'. Não deu jeito. Escorregar ali eu poderia cair na vala e a minha bota não firmava de jeito nenhum. Olhei para a cara do meu marido e da outra moça que estava no grupo e ambos, que já tinham tido problemas no trecho anterior, não quiseram nem tentar subir ali. Voltamos. Não consigo colocar em palavras o quão frustrada eu fiquei. Orgulho ferido demais. Faltava tão pouco. 

(informação complementar, caso queiram saber, uso a bota Titã da marca Vento) 

Visto que ainda era cedo, algo em torno do 12h30 quando voltamos para a base da montanha, o guia sugeriu levar a gente no Morro do Couto, uma trilha mais simples. Vou falar que nessa altura do campeonato, meu joelho e coxas não existiam mais. Mas vamos lá. A trilha do Morro do Couto é bem tranquila. Na parte final, pouco antes do cume rola um 'trepa pedra' mas nem se compara com a dificuldade e exposição que tivemos nas Prateleiras. A vista do Morro do Couto é muito bonita pois dá pra ver as Agulhas Negras e as Prateleiras em um só panorama. Foi um belíssimo prêmio de consolação. Apesar da minha lerdeza (por causa das muitas dores que eu já tava sentindo) levamos 2h30 para ir e voltar do topo do Morro do Couto (contando do início da trilha). 

3) Mirante Pedra do Picu

A trilha é fácil pois não tem nenhum trecho técnico e nem é tão longa. No entanto, é muuuuito íngreme, especialmente nos metros finais, o que a torna extremamente cansativa. Talvez se não tivesse acumulado as dores no joelho e na coxa do dia anterior, teria sido mais fácil. A vista lá de cima é muito linda e foi o único lugar que a Claro deu sinal no meu celular (rs). A gente levou 2 horas para subir e 1h20 para descer. Meu único problema aqui foi ter tropeçado COM FORÇA numa raiz de arvore que me rendeu um dedão inchado por vários dias e hoje é apenas uma unha preta (que talvez caia em breve).

4) Considerações finais e indicação de guia

O que eu aprendi: melhorar meu cardio pra ontem. Fazer agachamento e subir escada todos os dias da minha vida daqui pra frente.

É isso pessoal, essa foi minha experiência, espero que tenha sido útil. Caso queiram, vou passar o contato do meu guia Alan (WhatsApp: 35 9129-9245). Ele fez um preço muito bacana pra gente porque (já falei trocentas vezes aqui nesse fórum) aqui em casa não dirigimos e é sempre uma m* resolver alguns deslocamentos. Não existe ônibus direto de São Paulo para Itamonte, a cidade mais próxima que o ônibus para é Itanhadu, cerca de 20km. Fechamos com o Alan um pacotão completo com transfer da rodoviária de Itanhandu para Itamonte, hospedagem numa casa na roça da família dele, em Itamonte (sem wi-fi, sem TV e fogão a lenha, foi uma experiência bem legal), transfer todos os dias de Itamonte até as trilhas (dentro do Parque do Itatiaia e até a Pedra do Picu), as três guiadas e transfer de volta para a rodoviária de Itanhandu no último dia: R$1.600,00 para duas pessoas. Como as estradas dentro do Itatiaia são péssimas... Achei um valor muito bacana. Se forem fechar com ele, fala que a Rafaela indicou aqui no fórum (não vai ter desconto mas é só pra comentar mesmo hahaha). 

Até uma próxima!

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1 hora atrás, FCRO disse:

qual trilha vocÊ achou que valeria mais a pena se fosse escolher uma

pratelerias ou agulhas engras?

Olha, Agulhas é bem mais popular. A trilha é mais variada, engloba mais 'tipos' de desafios, tem subidas íngremes, corda, escalaminhada... Acredito ser uma pacote mais completo (e eu nem cheguei no cume hein). Então se fosse pra fazer uma só... Agulhas. 

A trilha das Prateleiras tem muita exposição e é basicamente trepa-pedra do início ao fim. Talvez a vista das Prateleiras seja mais bonita por que de lá de cima você vê justamente as Agulhas, o vale e a Serra Fina, é bem bonito. Mas vai mais de gosto pessoal.  

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  • 2 meses depois...
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Não conseguir fazer o que tinha planejado, não é motivo para desapontamento. Isso acontece. É, na verdade, um motivo para voltar outra vez e conseguir esse objetivo.

 

Sobre os dois cumes, Prateleiras e Agulhas Negras, os dois valem muito a pena. São subidas diferentes, visuais diferentes, experiências diferentes. Quem puder, faça os dois.

Sobre o seu guia, você escolheu bem. Se não for o melhor, é um dos melhores.

Falo isso, porque hoje somos amigos, mas quando aí estive, em setembro de 2018, 3 anos atrás, eu tinha um propósito que nenhum outro guia aceitou fazer. Ele aceitou. Talvez porque pensasse que eu não conseguiria, faríamos um e eu desistiria do outro.

Subimos os dois cumes em um único dia. Primeiro o Agulhas e depois o Prateleiras. Começamos a jornada por volta de 9 horas da manhã e pouco depois das 15 horas tínhamos terminado os dois cumes e estávamos de volta ao carro dele. Visuais incríveis, adrenalina nas alturas. Não subimos e nem descemos pela via mais tradicional. Quase não usamos corda nem fita. Além de ser um cara muito experiente, apesar de novo em idade, o Alan é uma companhia muito boa também.

É realmente um lugar inesquecível.

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Em 24/09/2021 em 20:57, Ronaldo Paixão disse:

Não conseguir fazer o que tinha planejado, não é motivo para desapontamento. Isso acontece. É, na verdade, um motivo para voltar outra vez e conseguir esse objetivo.

 

Sobre os dois cumes, Prateleiras e Agulhas Negras, os dois valem muito a pena. São subidas diferentes, visuais diferentes, experiências diferentes. Quem puder, faça os dois.

Sobre o seu guia, você escolheu bem. Se não for o melhor, é um dos melhores.

Falo isso, porque hoje somos amigos, mas quando aí estive, em setembro de 2018, 3 anos atrás, eu tinha um propósito que nenhum outro guia aceitou fazer. Ele aceitou. Talvez porque pensasse que eu não conseguiria, faríamos um e eu desistiria do outro.

Subimos os dois cumes em um único dia. Primeiro o Agulhas e depois o Prateleiras. Começamos a jornada por volta de 9 horas da manhã e pouco depois das 15 horas tínhamos terminado os dois cumes e estávamos de volta ao carro dele. Visuais incríveis, adrenalina nas alturas. Não subimos e nem descemos pela via mais tradicional. Quase não usamos corda nem fita. Além de ser um cara muito esperiente, apesar de novo em idade, o Alan é uma companhia muito boa também.

É realmente um lugar inesquecível.

Vou te falar que eu nem 'escolhi' o guia, fui pelo valor apenas, não tinha nenhuma referência dele o que foi meio imprudente da minha parte.

Ele é uma boa pessoa. Eu tive uma discussão com ele porque aconteceram algumas coisas... Por exemplo, ele me afirmou que ele cobra por diária e não por número de pessoas no grupo. O valor que paguei era pela diária. No primeiro dia nas Prateleiras, encontramos um casal na base da montanha e ele ofereceu a essa casal se juntar a nós de forma 'gratuita'. Eu não interpretei dessa forma, o casal foi as minhas custas né? Eu que tava pagando. Só que ao invés de falar isso na hora que ele convidou, eu fiquei quieta... O que foi um vacilo meu e nem me dá o direito de relatar isso aqui agora, depois que já passou. Até porque o casal era gente fina... Foi legal ter a companhia deles... Mas lá no fundo... Quando mexe no meu bolso, meu dinheiro suado, é complicado.

Daí, no segundo dia, ele apareceu com uma terceira pessoa, uma moça, falando que ela ia se juntar a gente. Dessa vez a explicação foi que ele ficou sem carro e pediu emprestado o carro dela para ir até o Parque, daí ele ofereceu a trilha junto. Fora que depois ele ainda foi no Couto com a gente né... Então esse dia das Agulhas Negras julguei justo.

Teve um momento na escalada das Agulhas que eu perdi a cabeça foi depois da primeira corda, eu subi primeiro e ele disse pra eu continuar enquanto subia meu marido e a outra moça atrás na corda. Nessa hora, foi quando dei uma boa esfolada no meu joelho tentando subir mesmo falando que não dava, ele insistiu que esse era o caminho. Cheguei lá em cima bem nervosa. Daí quando veio meu marido e a amiga dele atrás, que estavam com dificuldades maiores que as minhas (eles sozinhos não teriam subido aquilo) ele optou por jogar a corda que ficou eu e ele segurando, que foi perigoso mas ai os dois vieram sem mais problemas. Eu tive o sentimento que ele levou mais a sério a amiga dele e o meu marido do que eu nessa parte. Tive a impressão que ele achou que eu tava 'com frescura'. Eu sei que podia ter esperado o resto do grupo, se tava dificil eu poderia ter deixado ele ir primeiro, enfim, muitas coisas. 

Ele é o tipo de guia que 'não te leva pela mão' por assim dizer. Ele faz você se esforçar mesmo, o que não acho ruim não, um guia é um guia, não uma babá. Mas nessa parte, se fosse uma outra pessoa iria exigir mais cuidados e nesse caso, o Alan não é a pessoa ideal. 

Apesar desses atritos da minha parte, no fim a gente fez até churrasco junto. E, se eu voltar um dia pra região, provavelmente vou atrás dele de novo. 

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É... devemos estar falando do mesmo Alan (Alan Moraes). Ele não é de ficar com excesso de precauções, ainda mais se ele perceber, ou achar, que a pessoa tá bem preparada e vai aguentar tudo de boa. Talvez tenha te visto dessa maneira, como uma pessoa que era capar de subir sozinha, que tinha muito bom preparo.

Como eu disse, no Agulhas, a gente só usou a corda duas vezes. Na subida, quando fomos fazer uma desescalada e escalada, do falso cume até o cume, que é onde está o livro. E depois para um rapel de mais de 40 metros, quando descemos por uma outra via.
No Prateleiras, nem corda levamos, só uma fita de uns 5 metros.

Eu já vinha um pouco cansado, digamos assim, pois eram meus últimos dias de uma viagem, passeio, sei lá, que incluiu 320 Km a pé pelo caminho da fé, em 11 dias, subida à Pedra do Baú, sem guia, corda, nada, e a travessia Serra Fina solo, em 4 dias. Acho que sabendo disso, ele achou que eu não precisaria de muita ajuda. Mas foi me dando muitas dicas de como escalar, me ensinando e me ajudando em alguns pontos.
Posso dizer que além de guiar, ele me ensinou bastante coisa sobre como subir uma montanha.

Mas volta um dia lá, se conseguir. Sobe o Agulhas Negras. Certeza que você vai ficar extasiada com a subida e com o visual lá de cima.

Abraços.

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