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TRAVESSIA SACO DAS BANANAS 360

 

Quase 25 anos atrás, quando pisei pela primeira vez na Travessia do Saco das Bananas, eu ainda era um jovem iniciante, pesava quase meio quilo a menos do que peso agora, num tempo em que internet inexistia e as fotografias eram em maquinas yashica de 36 poses. O mundo era outro, a atividade de aventura era renegada a meia dúzia de esforçados, gente que foi ganhando conhecimento aos poucos, meio que na tentativa e erro, transformando frustações em experiências. Essa tal travessia era só conhecida pelos caiçaras e poucos locais, num litoral isolado e desprovido de gente. Na época, tive como companhia, minha esposa, a irmã dela e mais 2 amigos de infância e levamos dois dias para cruzá-la, partindo da pouco conhecida na época, Praia da Ponta Aguda. Depois disso, ganhei o mundo em centenas de trilhas, caminhadas e viagens expedicionárias e nunca mais voltei para refazer essa travessia, mas esse ano estava decidido que era hora de retornar, hora de reviver um passado encantador, quando saíamos sem rumo, sem gps, sem mapas, apenas caminhado ao sabor do vento.

 

No final do ano, me mudei para uma barraca de camping na Praia da Ponta Aguda. Claro que não era mais a mesma praia deserta de outrora, mas ainda continuava com seus encantos. Nos juntamos em família e na companhia de amigos, aqueles acampamentos onde se leva tudo, transformando o lugar num camping das Arábias. Aproveitamos para desfrutar de todas as prainhas paradisíacas que tem em volta da Ponta Aguda, mas estava difícil achar alguém que se dispusesse a me acompanhar numa travessia pelo Saco das Bananas em um só dia. Até entendo que poderia ser uma furada dos infernos para quem não está acostumado a longas caminhadas, mas até minha filha se recusou a me seguir nessa empreitada, alegando que estava de férias e queria apenas sossego.

 

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Uma semana se passou, minha filha e outros amigos retornaram para Sumaré no interior Paulista e com a chegada de novos amigos, me acendeu a esperança de achar um trouxa (opssss, um amigo) que se dispusesse a me acompanhar e entre conversas e churrascos, o Anderson Rosa se apresentou como voluntário, mas o tempo foi passando e nada da gente tomar uma decisão, até que, não tendo mais como fugir, marcamos a então esperada caminhada justamente para o último dia do ano, prometendo voltar cedo a fim de nos programar para a virada.

 

Antes de descrever essa linda caminhada, que partiu da Praia da Ponta Aguda, vou me dar ao trabalho de descreve-la por completo, para que quem leia esse relato, possa aproveitar toda a caminhada, muito porque, eu mesmo 25 anos atrás, nem tinha me dado conta da existência dessas outras prainhas que completam a Travessia do Saco das Bananas e até hoje, a grande totalidade de quem caminha nessa travessia, não inclui essas praias no seu roteiro, o que chega a ser quase um crime.

 

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Partindo da Rio-Santos, bem em baixo do Portal que divide Caraguatatuba com Ubatuba, vamos pegar a rua entre a adega e o supermercado, quando chegarmos ao final, vamos seguir para direita e caminharmos por cerca de 1500 metros até onde ficam estacionadas as caçambas de depósito de lixo e ali interceptar a esquerda, uma estradinha de terra que vai nos levar em direção a Ponta Aguda. Vamos caminhar por mais uns 3 km e entrar a direita no caminho que nos levará para incrível Praia da Figueira, onde levaremos outros 10 minutos para lá chegar e aí então daremos início a nossa TRAVESSIA.

 

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A FIGUEIRA é uma praia deserta e selvagem, com mar calmo e encantador, do seu lado direito, uma toca serviria muito bem para um abrigo de emergência, mas nosso caminho segue para a esquerda, onde interceptaremos uma trilha depois que passamos a foz de um pequeno córrego. A trilha vai subir ao alto, onde teremos uma vista espetacular da própria praia, depois vai entrar na mata e em 15 minutos, estaremos desembocando na própria praia da Ponta Aguda, com um camping gigante.

 

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A PONTA AGUDA é outra praia de sonhos, mesmo com um número considerável de frequentadores, se mantem muito agradável, com um rio de águas cristalinas fazendo a festa da criançada. Vamos atravessar toda a sua extensão e exatamente como a praia anterior, vamos cruzar a foz do riacho e imediatamente subir uma trilha que se lança mata à dentro. A trilha sobe ao alto em 10 minutos e em mais outros 10 minutos nos leva para a pequena e também selvagem PRAIA MANSA, uma prainha cercada pela floresta, onde alguns barcos costuma ancorar por ser protegida das ondulações do mar, formando piscinas naturais nas suas extremidades.

 

Cruzamos toda praia até seu fim e ganhamos uma trilha aberta que segue na mata, subindo entre palmeiras espinhudas por uns 15 minutos, talvez menos, até que ela se bifurca, mas nosso caminho segue para a esquerda, porque para a direita a trilha vai finalizar bem na ponta que entra mar a dentro e esse não é nosso caminho.

 

Pegando, portanto, para a esquerda, vamos seguir em nível por outros 10 minutos até que chegamos a um mirante onde é possível apreciar mais abaixo a impressionante Praia da Lagoa. Passamos com cuidado, nos apoiando em uma corda e descemos mais outros 10 minutos até a areia da praia, deserta, silenciosa, selvagem.

 

A PRAIA DA LAGOA é outra joia dessa parte do nosso litoral paulista, uns 500 metros de areia grossa e inclinada no seu lado direito, cercada por vegetação mais baixa. Na sua extremidade esquerda, uma grande lagoa de águas quentes nomeia a praia, onde peixes nadam tranquilamente. Com mar calmo, em dias de sol intenso, parte da praia se transforma em uma grande piscina de águas transparentes.

 

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Aqui preciso fazer um parêntese: Poderíamos assim que saltamos no início da praia, pegarmos uma trilha a esquerda que daria continuidade a nossa travessia, mas seria um pecado não ir a sua extremidade conhecer a lagoa. Estando na lagoa, nem precisamos voltar pela areia da praia, apenas pegamos uma trilha larga na vegetação e vamos seguir em paralelo a própria praia até que uns 15 minutos depois, a trilha se curva para a direita, vai adentrando novamente em mata alta, passa por um atoleiro e uma meia hora depois de partirmos da lagoa, desembocamos na estrada de terra, que acaba justamente ali. Se seguirmos para a esquerda, poderíamos voltar novamente para o nosso camping na Ponta Aguada, mas nosso caminho, nossa travessia segue para a direita, cruza imediatamente uma porteira e já intercepta a esquerda, uma placa indicando o caminho para a Praia do Simão, exatamente onde oficialmente se iniciaria a travessia tradicional.

 

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Acima está a descrição de parte da travessia, fiz isso para que todos que acompanhem esse relato, tenha uma caminhada incrível, tendo tudo que esse roteiro nos permite, mas como nós já estávamos acampados na Ponta Aguda e já havíamos feito todas essas praias durante mais de uma semana que ali estávamos, nos restou apenas nos organizarmos para partirmos direto da nossa barraca e tentarmos fazer a travessia em apenas 1 ÚNICO DIA, ao invés de 2 dias, como é o tradicional.

 

Na noite dia 30 de dezembro, arrumamos nossa mochilinha com os equipamentos de segurança e quando o último dia do ano raiou ( 31/12/2020), nos pusemos de pé e fomos ganhar o mundo. Partimos eu e o Anderson Rosa e uns 15 minutos antes das 07 da manhã, deixamos o acampamento da Ponta Aguda e ganhamos a estradinha e logo mais, na bifurcação, pegamos para a direita, mesmo porque, para a esquerda é o caminho que nos levaria de volta para a Rio-Santos, coisa que não nos interessa. Agora vamos seguindo pela estradinha embarreada, passamos por uns ranchos e deixamos a civilização definitivamente para trás. Cruzamos 2 rios que abastecem a vilinha da Ponta Aguda e em mais 10 minutos descemos a estrada até o seu final, juntamente na porteira, onde ela se encontra com a trilha que vem lá da Praia da Lagoa.

 

Passamos pela porteira e interceptamos a trilha a esquerda, onde uma placa indica o caminho para a Praia do Simão, que alguns também chamam de Brava do Frade. Já de cara a trilha larga e consolidada entra na mata onde árvores gigantes desfilam enormemente, atravessamos um riacho de águas claras e viramos para o leste, desprezando mais à frente uma trilha para a direita, que provavelmente deve vir lá da fazenda. Logo a trilha vai virar para o sul, mas sempre dentro da mata fechada, sempre subindo até ganhar o topo da serra e começar a descer definitivamente para a praia. Vários riachos são cruzados, o que evita que carreguemos muita água e então já começamos a ouvir o barulho das ondas do mar e logo a frente viramos a direita numa bifurcação, descemos numa ribanceira enlameada e alguns minutos depois desembocamos na gigante PRAIA DO SIMÃO.

 

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Gastamos cerca de pouco mais uma hora desde o acampamento, uma velocidade absurda nessa manhã de quinta-feira. Na Praia do Simão encontramos meia dúzia de barracas espalhadas e é surpreendente como essa praia ainda se mantém selvagem, talvez a praia mais selvagem de Ubatuba. Aqui o mar é sempre bravo, o que dificulta até para a entrada de barcos, mas hoje, surpreendentemente o mar está quase uma piscina. Na chegada a areia, ao invés de seguirmos para a esquerda, pegamos para a direita e fomos tomar uma ducha numa pequena cachoeirinha no extremo. Não era nada de mais, só que como o calor estava grande já logo pela manhã, aproveitamos a água com temperatura agradável para nos refrescar.

 

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Retomamos nossa caminhada para o outro extremo da praia (esquerda), mas ao chegarmos a metade, caímos para o meio do bosque sombreado até chegarmos na grande bica e lá nos matamos de tanto beber água e abastecemos nossos cantis. No fim da praia, quando a areia acaba, entramos em outra trilha em direção à praia do Saco das Bananas. A trilha vai subindo e logo saímos no aberto com um espetacular mirante da Praia do Simão. Começamos a nos enfiar numa floresta de jaqueiras, aliás, carregadas de jacas e vamos subindo até começarmos a descer em meio aos bananais que dão nome a essa travessia. Descartamos uma estradinha a direita e quando chegamos nas ruinas da antiga escolinha, nos detemos por um instante para uma foto e um descanso.

 

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A ruína da Escolinha traduz bem o que deveria ser isso há muito tempo atrás. Aquela vilinha de caiçaras hoje está também em ruínas e somente uma ou outra casa se mantém com algum morador, mas o silêncio ali é tão grande que mais parece um lugar fantasma.

 

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Vamos descendo por uma escadaria que vai se enfiando em direção à praia, numa pequena baia até que alguns minutos nos leva ao mar. Na praia, apenas um casal e um barquinho boiando nas agás calma e verdes. E é mesmo um cenário de sonhos que encontramos. QUE COISA LINDA! É um grande prazer poder pegar a praia daquele jeito, já que quase 25 anos atrás, pegamos um mar revolto e escuro. Agora sim, agora aquele mar fazia jus à fama daquele lugar surpreendente. Subimos nas pedras e ganhamos o canto direito, onde piscinas naturais me tirou da terra e me jogou ao mar.

 

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A água está numa temperatura excelente e eu nadei até não aguentar mais, enquanto o Rosa aproveitou para se refrescar numa sombra e comer alguma coisa. E eu estava certo quando ficava inquieto querendo fazer essa travessia e não poderia ter escolhido um dia melhor, porque será difícil existir outro dia com tanta beleza na PRAIA DO SACO DAS BANANAS.

 

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É com uma imensa dor no coração que abandonamos aquela praia, mas a travessia tinha que continuar. Subimos de volta à escolinha e mesmo antes de alcançá-la, cortamos caminho por um roçado e interceptamos a trilha principal, que vai nos levar em direção a prainha da Raposa. Ela adentra na mata pontilhada por jaqueiras gigantes, nos leva ao alto, onde uma casa abandonada nos tira do nosso caminho. Nós havíamos recebido uma informação de um lugar encantador e o caminho muito provavelmente partiria dos fundos dessa casa, mas me pareceu que teríamos que varar um mato descendo a encosta até o mar, e como notei que o Rosa estava um pouco cansado devido ao colar intenso, resolvi abortar essa descida e voltar para trilha, mas logo à frente, quando o caminho sai novamente no aberto, me arrependi amargamente de não ter descido ao Saco do Morcego, uma piscina natural de tamanho grandioso.

 

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Mais alguns minutos de caminhada e a trilha nos leva para o fundo do vale, onde um riacho de águas cristalinas já serve para matar nossa sede. Depois vamos subir novamente sem dó, até atingirmos um descampado em meio a um sapezal. O sol queima tudo, é um calor insuportável que beira fácil os 40 graus ali naquele pedaço de litoral e só nos animamos novamente quando o caminho entra novamente na floresta fechada e vai seguindo em nível e começamos a descer de vez, passamos por umas entradas de uns sítios e interceptamos a trilhinha que nos levaria em definitivo até a praia. E é uma trilha bem minúscula, protegida por algumas cordas que ajuda a não escorregar no barranco, mas não leva mais de 5 minutos para a gente desembocar na PRAIA DA RAPOSA, praia selvagem e encantadora, 4 km depois de partirmos do Saco das Bananas.

 

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A prainha me surpreende positivamente, parece ainda mais selvagem que 25 anos atrás, é uma solidão imensa, com o mar batendo um pouco mais forte que a praia anterior, com areias mais grossas e com a água mais mexida, mas apesar de tudo, não estava deserta de gente. Ao pisar na areia já me dirijo imediatamente para conversar com um único casal que estava deitado no centro da praia. Ando tranquilamente, olhando o mar e as belezas em volta, sem focar muito de quem estaria deitado na areia, chego perto, cumprimento os dois e só então, depois que os meus olhos se acostumam com a luminosidade é que me dou conta que OS DOIS ESTÃO COMPLETAMENTE NUS. ( kkkkkkkkkk) Fiquei desconcertado , não por encontrar um casal pelado, mas por eu não ter percebido e ter recuado, sem me dirigir para falar com eles. Mas por sorte, o Rosa veio para me salvar, já que eu não conseguia nem falar: - Boa tarde meu irmão, curtindo aí um naturalismo né? Nem sei o que o casal respondeu, saí de fininho, sem nem olhar para trás e fui me refugiar na sombra do lado direito da prainha.

 

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Cinco minutos depois, os peladões se mandaram, ganharam o costão e sumiram da nossa frente, voltaram pelo mesmo lugar que vieram, acho que nem sabiam que existia uma trilha mais curta de volta à civilização. O Rosa se contentou em ficar na sombra descansando, mas eu é que não ia sair dali sem dar um mergulho e mesmo com o mar um pouco mais agitado, pulei na água e por lá fiquei, me refrescando, até que num mergulho, localizei uma TARTARUGA quase que encalhada na areia. Duas braçadas me levaram ao animal e consegui captura-lo e não levou mais de um minuto, tempo suficiente para que o Rosa sacasse uma foto e eu já a devolvi para o mar, evitando qualquer tipo de estresse desnecessários e esse foi mais um encontro inusitado nessa prainha tão legal.

 

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Subimos novamente a trilha e interceptamos o caminho principal, quase uma estradinha, que vai subir por 10 minutos e descer por outros 10 até nos levar direto para a PRAIA DA CAÇANDOQUINHA, uma prainha mais reservada, mas agora sem o charme das praias desertas que passamos. Por ser véspera do ano novo, estava bem cheia, mas ainda suportável.

 

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No final, do lado esquerdo, uma outra trilha larga nos conduz em pouco mais de 5 minutos até a outra praia, onde primeiro temos que descer nos valendo de uma corda para ganhar sua areia. A PRAIA DA CAÇANDOCA é um antigo quilombo e é também uma bela praia, mas nessa época do ano parece a sucursal do inferno e hoje para ir ao mar, será necessário entrar na fila de tanta gente que tem. Eu e o Rosa passamos batidos e rapidamente ganhamos o extremo da praia, e já tratamos logo de sairmos vazados daquele antro em tempos de pandemia. No fim da praia, interceptamos outra trilha larga que sobe ao alto e uns 10 minutos depois, desemboca numa estrada, bem em frente a uma guarita que dá acesso a próxima e derradeira praia dessa travessia.

 

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Essa próxima praia é uma que ainda faltava no meu currículo, porque mesmo de outras vezes que por aqui estive, nunca a visitei. Quando chegamos à estrada, já localizamos a entrada para a praia, mas para lá chegar, é preciso passar por dentro de um condomínio de luxo, onde os ricos cagam dinheiro, com casas avaliadas em milhões de reais. Quando os guardas da guarita nos viram, já foram nos pedindo os documentos. Não sei se isso é de praxe ou se vendo as nossas caras de pobres, tentaram se resguardar, mas no fim, desistiram de anotar os RG, quando dissemos que passaríamos rapidamente pela praia, porque estávamos apenas fazendo a travessia. Aqui abro um parêntese: Ter que ficar dando satisfação para poder frequentar uma praia pública é o fim da picada e é claro que deveria ter uma passagem livre ali para qualquer pessoa sem ter que dar satisfação a seu ninguém, mas enfim, entramos e seguimos por uns 10 minutos até a areia.

 

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E é realmente como eu disse, uma praia voltada para a elite da elite, a tal ponto de a gente ver uma sala de uma das casas e pensar que era um grande restaurante. Aquilo era um absurdo tão grande, uma ostentação tamanha, que o Rosa ficou até revoltado e pediu para irmos logo embora de lá. Em frente as mansões, há jardins que devem necessitar de uns 10 funcionários só para cuidarem deles, verdadeiros palácios de sultões. As pessoas que ali estavam, pareciam recém-saídos da antiga revista “ CARAS”, num gramado impecável, sem quiosques ou qualquer outra coisa que lembrasse pobreza. A Praia era bem bonita, águas calmas com embarcações luxuosas. Atendendo aos pedidos do Anderson Rosa, nos dirigimos para a outra extremidade da praia, na tentativa de acharmos a trilha que nos levaria até um castelo no alto do morro e nos devolveria novamente à estrada, mas antes de lá chegarmos, fomos descobertos pelos 3 seguranças da PRAIA DO PULSO, que vendo que éramos os únicos pobres ali, vieram nos interpelar.

 

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Os seguranças foram educados, mas a intenção era clara de nos constranger, nos dizer que ali não era o nosso lugar, era preciso que a gente soubesse que ali tinha dono, e que não éramos bem-vindos, então nos indicaram a saída, como a nos dizer: vão embora e não voltem nunca mais.

 

Fizemos cara de paisagem, cagamos e andamos, mas não dissemos coisa alguma, recebemos a informação e assimilamos o golpe, muito porque, estávamos mais do que atrasados no nosso roteiro, então ao chegarmos no final da areia da praia, mandamos tudo aquilo a merda, ganhamos a trilha, passamos raspando no castelo, até alcançarmos novamente a estrada, onde passamos por mais uma guarita, sem dar nenhuma satisfação a quem quer que seja.

 

Ganhando a estrada, vamos descendo sob um sol para cada um. A caminhada vai desenrolando vagarosamente, enquanto a gente vai suando em bicas e por quase uma hora, nos arrastamos até a RIO-SANTOS, desembocando bem em frente a um ponto de ônibus. Nossa intenção era ganhar a rodovia e caminhar por mais uma meia hora até o PORTAL que divide Ubatuba de Caraguá, mas fomos surpreendidos com um temporal avassalador e tentamos nos esconder dele no abrigo do ponto. A tempestade varreu o litoral, de tal maneira que tivemos que nos segurar para não sermos arrastados pelo vento e quando o ônibus apareceu, pulamos para dentro e demos graças por escaparmos vivos daquele aguaceiro todo.

 

Descemos no portal e antes de ganharmos o caminho de volta para Ponta Aguda, passamos no mercado para garantirmos o churrasco da virada de ano. Seguimos enfrente, debaixo de uma chuva fina, caminhando por uma estrada que não dava passagem nem para tatu de chuteira e quando chegamos ao mirante da Praia da figueira, ao invés de continuarmos pela estrada, resolvemos cortar caminho e interceptar a trilha que liga uma praia a outra e em mais 15 minutos, o caminho nos devolveu a Ponta Aguda, pouco depois das 4 horas da tarde, fim da travessia, estava cumprida a jornada que havíamos programado.

 

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Cansados, extenuados, mas extremamente satisfeitos com aquele fim de ano glorioso, num ano difícil, marcado por uma pandemia mundial e que dificultou muito a vida de todo mundo. Mas reviver essa caminhada incrível, quase 25 anos depois, foi algo gratificante, melhor ainda foi encontrar essa parte do litoral quase do mesmo jeito que a encontramos nessas mais de 2 décadas atrás, num pedaço de litoral de acesso difícil, mas encantador, com praias selvagens e natureza exuberante, um lugar destinado somente para os que tem coragem de se levantar da cadeira e meter os pés na trilha, para cruzar por um dos lugares mais bonitos do litoral do Brasil.

 Divanei Goes de Paula

Editado por divanei
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