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Caros amigos,

 

Um desejo de muitos anos foi concretizado esse ano: Percorrer o W de Torres Del Paine. Para quem gosta de natureza, talvez não haja outro lugar com a mesma beleza e grandeza aqui na América Latina. Durante vários anos , li tudo o que havia sobre esse percurso, tanto na internet como em guias e revistas. Com base no que li, planejei o meu percurso baseado nas minhas condições físicas e em como gostaria de aproveitar cada local do parque.

Primeiro, vou passar a minha forma de ver o circuito, depois relato como foi feito.

 

Vejo muitos relatos onde os trekkers se preocupam em fazer o circuito na menor quantidade de dias possível (tres dias). Sei que muitas pessoas não têm tempo suficiente para aproveitar bem o parque, por isso se apressam e fazem o circuito em ritmo de competição. Na minha modesta opinião, para quem tem tempo, fazer o circuito em poucos dias é perder a oportunidade de aproveitar o máximo um dos lugares mais lindos do planeta. Chegar nas Torres, bater fotos , sentar um pouco, observar e... Voltar...é não se dar conta do potencial a ser explorado. Eu passei quase cinco horas na base das torres. Desci até o lago, andei bastante até o seu lado esquerdo. Fiquei sozinho durante um bom tempo, com a sensação de ter as torres só para mim ( O local onde fica o fim do trekking fica lotado de turistas).

 

Cheguei a cochilar quase vinte minutos em cima de uma rocha que formava uma ilhota no lago. Consegui observar o condor com tempo de sobra. Tirei fotos de todos os ângulos, conversei com vários outros trekkers, etc... Passar várias horas naquele lugar mágico foi uma experiência inesquecível.

As torres são a primeira grande atração do parque( para quem começa pela Laguna Amarga). Também passei muito tempo no Glaciar do Francês, indo para o Vale do Francês (fui chegar no Paine Grande quase escurecendo) e no Graciar Grey. Na ida para o Vale do Francês, desci até o Glaciar do Francês, abaixo do Cerro Paine Grande. Fiquei pertinho do Glaciar, separado somente por um rio estreito, porém muito caudaloso, que descia forte do Vale do Francês. No Glaciar Grey também fiquei por horas. Lá Tive uma experiência sensacional de ver o condor pousar uns 20 metros atrás de mim. Aproveitei muiiito o Glaciar Gray... fui em todos os lugares... tirei zilhões de fotos... peguei um pedaço de gelo que flutuava pertinho da margem do lago... observei, observei, contemplei, me emocionei e agradeci muito a oportunidade de estar ali.

Bem , fiz esse pequeno relato para mostrar que o Circuito tem inúmeros atrativos que merecem ser vistos e curtidos . Acredito que cinco dias são suficientes para fazer e curtir o W de Torres Del Paine. Se tiver tempo, faça com calma. Aprecie bastante. Pare nas trilhas, deite e se deleite. Converse, conheça as pessoas. Acampando, dormindo em refúgios, fazendo sua própria comida ou comendo nos refúgios, essa é uma experiência que mudará a sua vida.

 

Relato da viagem......

 

Cheguei em Punta Arenas na fria madrugada de 24.12. Seria meu primeiro Natal sozinho. Esse pensamento me incomodou um pouco, mas eu estava indo para lá para realizar o desejo de conhecer Torres Del Paine e o meu trabalho só permite que eu me afaste quinze dias no final do ano. Conheci Punta Arenas e comprei logo meu ticket da Buses Pacheco para o dia 25.12, sábado. A intenção era chegar o mais rápido possível em Puerto Natales e rumar para o parque. Na salinha de espera da empresa havia inúmeros turistas falando as mais variadas linguas... tentei fazer amizade para ver se alguém iria para o parque. Havia muitos casais e como eu estava sozinho preferi conversar com grupos pois facilitaria o entrosamento. Como meu inglês é beeem abaixo da média , também escolhi os que estavam falando espanhol, pois não teria dificuldades com o idioma. Dois argentinos estavam indo para o parque, mas iriam fazer o circuito completo e eu não teria tempo disponível para tanto. Após uma breve espera chegou o ônibus e subi para ocupar a minha poltrona. Para minha sorte dois brasileiros sentaram na minha frente: A Patrícia e o Felipe. Mãe e filho que iam para o parque. A primeira pergunta que me fazem: VAI FAZER O W??? Poxa... era tudo que eu queria ouvir. A partir dali ficamos todo o tempo juntos. Eles foram para o parque logo no outro dia cedo. Eu fui somente na parte da tarde, porque precisava comprar algumas coisas em Puerto Natales antes. Eles estavam com tudo marcado: Com todas as reservas dos refúgios, alimentação... tudo acertado. Eu queria fazer o mesmo trajeto que eles, no mesmo tempo, porém eu preferia ficar acampado. Levei barraca, saco de dormir, mochilão... tudo preparado. Apesar de adorar acampar e estar com tudo preparado, somente acampei dois dias, no Acampamento Chileno e no Los Cuernos. Sucumbi ao conforto de dormir nos refúgios por tres dias: Uma vez no Acampamento Chileno (fiquei dois dias, um no camping outro no refúgio), no Paine Grande e no Refúgio Grey.

Bem, no começo do trekking o transfer nos deixa perto do acampamento Torres, ao lado de um hotel de luxo. Comecei a subida para o Acampamento Chileno por volta das cinco da tarde. Naquela tarde fui apresentado ao forte vento patagônico, que literalmente lhe tira o equilíbrio. Apesar do vento e da chuva, cheguei tranquilo, montei a barraca e fui bater algumas fotos. Depois encontrei os meus amigos e fomos jantar dentro do refúgio. Eles foram para a base das torres naquele mesmo dia, então eu teria que ir sozinho no outro dia pela manhã. dormi bem tarde (o sol se põe perto das onze da noite). Fiquei analisando o mapa do parque . Depois coloquei meu ipod e fiquei olhando as torres escurecendo (montei a barraca de frente para as torres). A noite foi tumultuada. O vento parecia que iria desmontar a minha barraca. Lembrei que não tinha colocado as pedras nas bordas da barraca e me lamentei por isso. Apesar do sufoco, a barraca aguentou muito bem e agora eu sei que passei no teste da montagem da barraca (sim... mas esse teste só pode ser feito com o vento Patagônico.. he he) Acordei às oito da manhã. Tomei o café bem tranquilo. Como estava programado dormir novamente no Acampamento Chileno, me programei para passar a tarde inteira na base das torres. Passei a manhã conversando e explorando alguns lugares perto do acampamento. Perto do meio dia comecei o trekking para a base das torres. A última etapa para a chegada na base das torres é uma subida sem fim. Caramba, cansei bastante e nem estava com a cargueira. Numa de várias paradas nessa subida, encontrei um senhor que estava descendo, americano, que estimo ter quase setenta anos. Perguntei se faltava muito para a base e se tinha valido a pena todo o esforço. Ele, muito cansado, parou e com um olhar de avô me falou uma frase que não vou esquecer: " i've seen many things in my life, but , this is the best... (Tinha visto muitas coisas na vida mas aquilo era o melhor). Foi o que faltava para eu me encher de ânimo e subir sem parar. realmente aquele senhor tem toda a razão. Se bem que Torres Del Paine tem o poder de nos fazer mudar de idéia sobre isso a cada momento. Passei momentos maravilhosos lá, como relatei acima. Na volta fui presenteado com um rasante de um condor poucos metros acima de mim (foto abaixo). Comecei a descida com uma certa tristeza. Fiquei horas ali e estava difícil me despedir. Na descida conheci uma chilena muito simpática... descemos o tempo todo conversando. Como eu sou muito fã do Chile, aproveitei para perguntar muitas coisas sobre o país. Cada dia me convenço que o Chile é o primeiro mundo na América Latina. Bem, chegando de volta ao acampamento, fui encontrar meus amigos.. Jantamos e conversamos bastante. Fui conhecer onde eles estavam dormindo. Poxa... deu uma vontade de dormir em uma cama quentinha.... e tinha vaga...desmontei a barraca e fui para o refúgio... hehe... Teria outras oportunidades de acampar.

No outro dia, começamos o trekking em direção ao Acampamento Los Cuernos. Foi legal fazer o trajeto com a Patrícia e o Felipe. Como sempre, Torres Del Paine nos surpreende a cada momento. Paramos várias vezes para tirar fotos, contemplar, conversar. Montanhas, lagos, neve, avalanche, uma sucessão de surpresas a cada instante. Chegamos muito bem. A Patrícia e o Felipe foram para o refúgio e eu fui procurar um local para montar a barraca. Barraca montada fui tomar um banho quente. Passei pelo Felipe que estava indo para a praia do lago Nordenskjold. Não quis acreditar quando ele me falou que tomou banho no lago. Somente um louco ou um pinguim para realizar essa façanha.. he he. Jantamos muito bem e aí fui para a beira do lago, esperar a noite chegar. Eram quase dez e meia da noite quando saí e ainda estava um pouco claro. Estava ficando muito frio e eu estava somente de camiseta e o agasalho impermeável. Infelizmente tive que voltar para a barraca. Vi algumas pessoas deitadas dentro do sado de dormir, na beira do lago. Acredito que estavam esperando escurecer para observar as estrelas, coisas que eu também queria fazer mas estava muito cansado. Acordei bem e fui tomar o café da manhã. Desmontei a barraca e seguimos em direção ao Vale do Francês. No nosso planejamento , esse seria o dia mais cansativo. Iríamos andar 23 quilômetros. 5,5 km até o Acampamento Italiano, mais 11 quilômetros ida e volta até o Vale do Francês e depois mais 7,6 até o Paine Grande. Infelizmente o Felipe teve um problema grave no joelho o que impossibilitou a ida dele e da Patrícia até o Vale do Francês. Acompanhei o Felipe até o Acampamento Italiano e de lá eles seguiram direto para o Paine Grande. Deixei minha mochila cargueira no Acampamento Italiano e rumei para o Vale do Francês. Poucos metros depois avistei o Glaciar do Francês. Não resisti e desviei meu caminho para observar de perto. Desci uma longa encosta e consegui chegar a poucos metros dele. O Rio do Francês impede a chegada até o glaciar. Apesar de ser bem estreito, é muito caudaloso e achei bem perigoso tentar atravessar. fiquei quase uma hora ali, vendo a imponente paisagem do Cerro Paine Grande (3050 m de altitude) com o Glaciar do Francês logo abaixo e a poucos metros de mim. Impressionante observar as avalanches que descem a todo momento do cerro. É um espetáculo imponente e imperdível. Após isso voltei para trilha e resolvi aumentar o ritmo da caminhada, já que estava sem a cargueira e ainda teria que andar mais quase 18 quilômetros para ir até o Vale e depois voltar para pegar a trilha para o Acampamento Paine Grande. Essa parte da trilha é somente subida. Foi bem cansativo, mas também imperdível. O Vale do Francês é maravilhoso. Cercado de montanhas maravilhosas. Imagino que se tiver um anfiteatro gigante no paraíso deve ser como o Vale do Francês. Cheguei , bati algumas fotos e voltei. Infelizmente ali não tinha muito tempo para curtir aquele local sensacional. Voltei ao Acampamento Italiano, peguei minha cargueira e peguei a trilha para o Paine Grande. Esse trecho é bem tranquilo. Passa também por umas florestas fechadas pelas copas das árvores, o que escurecia um pouco o caminho. Nessas horas, caminhando sozinho , lembrava que ali é o habitat de muitos pumas. Mas também lembrava do guarda-parque que havia me dito que nunca havia acontecido nenhum ataque em Torres Del Paine. Era fácil imaginar o motivo. O parque é repleto de animais. Guanacos, Lebres e todo o cardápio que os pumas mais gostam. Eles não perdem tempo conosco... ainda bem.. he he. Se bem que há várias placas informando: "PARA SUA SEGURANÇA, NÃO CAMINHE SOZINHO". Lembrando dessas placas a imaginação vai longe. Cheguei no Acampamento Paine Grande quase dez da noite. Para minha felicidade a Patricia tinha reservado um lugar no refúgio para mim. Ainda bem, porque estava frio, eu estava muiiito cansado e louco por uma cama. Jantei, tomei um banho, peguei meu saco de dormir fui para o quarto. O Felipe, a Patricia e vários gringos estavam dormindo. Infelizmente nesse dia tinha um gringo roncando bastante e eu demorei a pegar no sono. No outro dia acordei quase nove da manhã. Tomei o café e me preparei para pegar a trilha até o Glaciar Grey (11 quilômetros). Fiquei triste porque o Felipe estava com a aparência bem abatida por não poder continuar a trilha. A Patrícia, lógico, estava bastante sentida com a situação. Bem, infelizmente tivemos que deixar o Felipe "concentrado" no Refúgio e pegar a última perna do W, em direção ao Glaciar Grey. O caminho de ida para o glaciar é bem mais difícil do que a volta. A razão é que na ida, estamos indo todo o tempo contra o vento, AQUELE vento que em alguns momentos nos faz parar, fixar bem os bastões no solo, para não sermos derrubados. Foram quase quatro horas para chegar até o Glaciar. MARAVILHOSO, IMPERDÍVEL, EMOCIONANTE... acredito que esgotaria todos os adjetivos para relatar esse local. Fiquei quase toda a tarde no Glaciar Grey. Foi lá que um condor pousou a poucos metros de mim (comecei a pensar que meu desodorante estava vencido... he he... nãoooooo!!!!! tinha tomado um belo banho antes de sair. Só se foi a roupa que estava repetindo sempre.. he he). Consegui filmar ele pousado uns vinte metros de onde eu estava. Explorei todos os lugares possíveis do Glaciar Grey. Fiquei horas por lá. Pensei muito na vida e mais uma vez agradeci muito a oportunidade de estar ali. Peguei o caminho para o Refúgio Grey literalmente com lágrimas nos olhos. O Refúgio Grey tem um astral espetacular. Tem um quê de cabana de montanha, mais descolado. Foi o melhor jantar de todos que tive em Torres Del Paine: Uma carne com verdura... deliciosa!!! Incrível comer na sua sala observando os icebergs passeando pelo lago poucos metros a frente. Nesse refúgio tinham poucas pessoas: Umas brasileiras que estavam no caminho inverso fazendo o circuito completo, os alemães que estavam fazendo o mesmo caminho desde o Acampamento Chileno , alguns americanos e australianos. Achei muito aconchegante. Estava muito feliz por estar ali. Peguei um beliche com uma grande janela ao lado. Enquanto o sono não chegava, fiquei na cama olhando para as lindas montanhas acima do refúgio. Combinei com a Patricia que sairíamos bem cedo, porque queríamos chegar novamente no Paine Grande antes do meio dia, para pegar o barco que sai às 12:30. Ali era o fim do W. Acordamos cedo, tomamos um ótimo café, pegamos nosso box lanche, e pegamos a trilha. A volta foi bem mais rápida, pois vamos todo o tempo a favor do vento. As subidas ficavam bem mais fáceis com a força extra da natureza ao nosso favor. Chegamos de volta ao refúgio Paine Grande em apenas tres horas de caminhada. Só paramos para pegar água em algumas das diversas cachoeiras do caminho. Comemoramos o final do W , encontramos o Felipe e pegamos o barco que nos levou até o Pehoe. De lá pegamos o ônibus para Puerto Natales. Era dia 31.12. Fomos para o hostel, depois jantar e passamos o reveillon em um restaurante/ pub muito legal na costanera de Puerto Natales.

Torres Del Paine. Esse lugar ficará marcado para sempre na minha memória. Se você acredita em Deus, esse lugar lhe levará mais perto dele, pois é impossível estar ali e não sentir uma energia renovadora, positiva, que a cada momento te enche de boas vibrações e bons pensamentos. Se não acredita em Deus, te mostrará como a natureza é capaz de trazer tanta energia, paz, tranquilidade, condições essenciais para viver bem.

 

Abraço a todos....

 

Jeff

[picturethis=http://www.mochileiros.com/upload/galeria/fotos/20110116220508.JPG 500 375 Legenda da Foto]Nesse momento, as Torres eram somente minhas.

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Jeff

Tenho um ridículo problema com pés hiper sensíveis - uma droga para quem adora caminhar como eu... Bom, o fato é que não me adapto de forma alguma com botas. Já fiz o caminho de santiago diversas vezes e sempre de tênis - tentei botas Salomon - deixei por lá... tentei La Fuma... deixei por lá...(nem me lembre quanto $$$ perdido ::putz::

Pois bem, pensei em comprar botas impermeáveis para ir a Patagônia, mas não para os dias que fosse caminhar, apenas para ir aos glaciares, etc...

Dá para encarar o W de tênis????

Bjs

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Olá Kátia.

 

Eu fiz todo o circuito de tenis. Realmente uma bota lhe trará mais proteção, mas acredito que se vc fizer a trilha usando dois bastões, a possibilidade de uma torção diminuirá consideravelmente. O importante é que vc escolha um bom tenis, impermeável (fundamental) e que vc já use a algum tempo. De forma alguma deve comprar o tenis e ir direto para a trilha com ele. Use ele até sentir que está bem amaciado. O tenis que eu usei foi um North Face, com goretex. Eu achei excelente. Peguei chuva, atravessei rios, cheguei até a pôr o pé na água, mas não entrou nada de água, a meia ficou sequinha. Já que não gosta da bota, pode ficar tranquila e usar o tenis , mas não esqueça dos bastões.

 

Bjs e good trip...

  • 1 ano depois...
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Olá Jeff,

 

Excelente relato!!! gostaria de saber se passou muito frio mesmo por la? Aconselha levar algum coisa para amenizar o frio?E outra coisa, é tranquilo encontrar grupo por la? Pelo que li no seu relato e alguns outros, acho que é, mas não custa pergunta.

 

Abraços

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