Membros Bia_mojotrotters Postado Janeiro 11, 2011 Membros Postado Janeiro 11, 2011 Atração: Visita dos domínios do Hezbolla, no sul do Líbano: Bint Jbeil, Maroun el-Rass, e Aytaroun Preço: Variável, mas cerca de US$50 para duas pessoas (veja explicação no fim do texto) Dificuldade: Negociar transporte barato e responder a eventuais interrogações Atenção: O sul do Líbano é a região com maior instabilidade política em todo e país, além de ser palco principal do conflito com Israel. Turistas teoricamente precisam de autorização para entrar, mas ninguém nos pediu nada. Talvez porque a gente tem meio que cara de libanês. Ou talvez tivemos sorte. Mas quem estiver interessado em visitar a região deve consultar as autoridades locais: policiais, soldados ou agentes de turismo. Os proprietários de uma confeitaria em Tyre negociaram em nosso nome um bom preço pra uma corrida de táxi. O destino: Bint Jbeil, sul do Líbano. Isso é pura hospitalidade libanesa: compre uns doces e bata um papo com um comerciante regado a chá que você ganha um amigo e ajudante pra vida toda. A viagem foi tranquila, com mais checkpoints militares do que de costume. Estávamos esperando que um dos soldados nos perguntasse sobre o objetivo da nossa visita. Nós então deveríamos solicitar uma autorização. Mas a cada parada, simplesmente eles gesticulavam para que o nosso carro seguisse em frente. Bandeiras e pôsteres de partidos políticos são comuns nas ruas do Líbano, marcando territórios feito grafite de gangues. Mas quanto mais ao sul se vai, mais bélicas as faixas: rapazes com keffiyeh ao redor do pescoço e rifles nas mãos, a barba e porte inconfundíveis de Hassan Nasrallah. Depois de um certo ponto, já não se viam mais as cores branco e vermelha do exército libanês. Apenas verde e amarelo. Estávamos em território Hezbollah. Ao nosso redor, montanhas verdejantes salpicadas de pedras brancas. Em alguns desses morros ainda resistiam tradicionais casas de pedra. A paisagem era bem bíblica. Num certo ponto, nosso táxi teve problemas mecânicos e o motorista foi estudar o problema dentro do capô. Eu desci pra tirar algumas fotos e o chofer me disse discretamente para guardar a câmera. Essa foi a última imagem que eu pude capturar nas duas horas seguintes: Bint Jbeil O único sinal que denuncia o estrago feito pelas bombas de Israel em 2006 é o ritmo frenético de contrução. A rua comercial principal – apenas uma dúzia de lojas de cada lado, não mais que isso – exibe arcos arabescos novinhos em folha. Para onde quer que você olhe, há casas e mansões em diferentes estágios de edificação. Ao invés de estátuas e monumentos, parques e rotatórias exibiam peças de artilharia pesada, como pedaços de mísseis anti-aéreos e aglomerados de foguetes Katyusha. Nós caminhávamos pra além da área comercial, em direção à uma mesquita de pedra. Um Ford antigo com dois rapazes dentro parou na nossa frente. O motorista, que falava um francês bem razoável, perguntou o que é que a gente veio fazer ali. "Só estamos dando uma volta", eu disse, nos apresentando. "Tudo bem"? "Você tem autorização pra estar aqui"? "Não, ninguém nos pediu ou ofereceu nada. Mas nós temos nossos documentos". A seu pedido, eu mostrei pra ele meu passaporte canadense. "Certo. Vocês podem continuar. Mas não sou eu quem decido nada, há outras pessoas responsáveis por esse tipo de controle. Você tem uma câmera?" "Tenho, mas não estou tirando fotos." Ele fez uma pausa pra refletir. "Ok, mas não continue nessa rua. Por favor, dê meia-volta." Fizemos o que ele pediu e paramos pra tomar um café na rua principal. Foi aí que o passeio começou a ficar interessante. "Sejam bem-vindos ao Líbano", um senhor de cinquenta e poucos anos nos disse com um grande sorriso no rosto. Durante sua estadia de alguns meses por ano na cidade, ele cuida de uma loja vizinha que vende sapatos e bolsas. No resto do tempo ele mora e trabalha perto de Detroit, onde é proprietário de um posto de gasolina, e onde moram sua mulher e seis filhos. "Eu amo os norte-americanos," ele disse, sem que tivéssemos perguntado nada."Eles são maravilhosos. Eu não me importo com o que os outros pensam." Nós sentamos do lado de fora da loja com ele, o proprietário do café e a sua cunhada. Ocasionalmente um ou outro amigo ou membro da família passava, tomava um café e dava um alô. "O que você acha das mulheres libanesas"?, ele me perguntou. "Porque eu as amo. Elas são tão limpas. Isso é muito importante pra gente. Primeiro, a limpeza. Depois, vem a beleza". E assim como os senhores em Tyre, ele nos ajudou a negociar um preço justo para uma corrida de táxi, ida e volta, à Maroun el-Rass e Aytaroun. Nós fechamos em 20,000 LBP, cerca de US$13. Maroun el-Ras Apenas cinco km de uma estrada íngreme separam Bint Jbeil de Maroun el-Rass, povoado com vista para a fronteira israelense. Bandeiras iranianas ondulam na entrada da cidade. Um tanque israelense destruído, com uma bandeira do Hezbolla em trapos, observa de cima a cidade Bint Jbeil. A poucos metros dali, uma estátua de pedra tem um pé sobre um capacete verde decorado com a Estrela de Davi. Fomos conduzidos ao recém-construído parque familiar da cidade. O portão foi decorado com símbolos iranianos. Pôsteres enormes do Ayatollah Khamenei e Mohammad Ahmedinejan são claramente visíveis do lado de fora. A entrada nos fazia lembrar um parque temático: canteiros manicurados alinhados à ruazinhas de paralelepípedos. Diversas tendas com telhado de palha abrigavam mesas de piquenique e churrasqueiras. Uma pequena mesquita, com o exterior já finalizado, ainda estava em construção do lado de dentro. O dia estava frio e os ventos, fortes. O parque estava vazio, se não fosse pela presença de dois jovens libaneses que vivem e trabalham na África Ocidental, atualmente passando férias em seu país de origem. Eles nos cumprimentaram calorosamente. "Então quer dizer que o Irã ajudou a construir esse lugar," eu perguntei a um deles. . "Não," ele sorriu. "Foi o Irã que construi tudo." Segundo o rapaz, famílias de todo o sul do Líbano vão para lá em finais-de-semana durante o verão. O parque ainda está finalizando a construção de um hotel, uma piscina e um terreno de paintball. Ele nos levou a uma extremidade do terreno, onde as montanhas descem vertiginosamente. "Olha aí os nossos vizinhos", ele disse, apontando para o horizonte. De lá dava pra ver claramente a fronteira cercada e a cidade israelita Avivim, com bem mais árvores do que no lado libanês. "E as pessoas aqui não tem medo de estarem tão próximas de Isarel?", eu o perguntei. Ele sorriu: "Nós aqui do sul não temos medo de nada." Aytarun e Aynata Nosso motorista nos levou de carro à Aytaroun, outra cidade fronteiriça sem nada que a distinguisse. "Aytaroun, nothing", ele disse, com seu inglês quase inexistente. Sem que a gente pedisse, ele nos levou à vizinha Aynata, onde um memorial aos combatentes do Hezbollah mortos foi construído. Do lado de dentro, várias pedras de mármore foram esculpidas com escrituras árabes e o logo do Hezbollah. Em muitas delas, repousavam coroas de flores, fotos de soldados e cópias do Alcorão com capas de couro. Eu fui do lado de fora pra poder tirar uma foto do monumento e fui interceptado por um Ford SUV, guiado por um homem fortão de jaqueta de couro, óculos de sol e um Bluetooth na orelha. "Salaam aleykum," ele me disse, sem muita convicção. "Aleykum salaam," eu respondi. "Ana min Brazil. Turisti. Afwan, ma behki arabi." Eu sou brasileiro. Turista. Desculpe, eu não falo árabe". Ele sorriu: "Você sabe o que é isso," ele perguntou em inglês. "É um monumento aos nossos mártires." Ele desceu do carro, que ficou parado no meio da rua. "Venha, eu te mostro." A passageira, uma mulher bem-vestida de véu, nos seguiu, sorrindo educadamente. Ele nos levou de volta pra dentro. "Esses aqui são para o populi," ele disse, apontado para os mármores do lado esquerdo. "Mães, irmãos e esposas." Eu deduzi que ele se referia aos civis."E esses aqui são para os mártires. Cada pedra homenagiea 14 soldados." Quinze combatentes da sua cidade natal morreram em 2006, ele nos disse. "Você é bem-vindo aqui," ele disse. "Fotos aqui, ok. Mas do lado de fora, nada de fotos." Eu concordei. O cemitério O taxista fez uma última parada antes de nos trazer de volta à Bint Jbeil: um cemitério. Pelas bandeiras e fotos era evidente que ele foi construído para os soldados do Hezbollah. O taxista nos conduziu pela fileira de túmulos, cada um decorado com um pequeno relicário de vidro. Paramos na penúltima tumba, e o motorista nos apontou para a foto de um homem já maduro, segurando um AK-47. "Esse é o meu pai," ele disse. Quanto custa visitar o sul do Líbano a partir de Beirute: (para duas pessoas. $1 = 1,500 libras libanesas ) Shared taxi de Beirute a Tyre: 15,000 LBP Taxi de Tyre a Bint Jbeil: 12,000 LBP Taxi ida e volta para Maroun el Ras, Aytarun : 20,000 LBP Taxi de Bint Jbeil a Tyre: 25,000 LBP Micro-onibus de Tyre a Beirut: 10,000 LBP (*texto escrito pelo Beto, meu parceiro*) Citar
Membros silvio.mendes Postado Janeiro 11, 2011 Membros Postado Janeiro 11, 2011 Olá Bia, interessante sua passada pelo Libano. Vc ainda está no Libano ? Foi só conhecer está região ? Fiquei sabendo que no passado o Libano era visitado por muitos turistas de todo mundo, mas não sei com o é hoje ! Citar
Membros Bia_mojotrotters Postado Janeiro 11, 2011 Autor Membros Postado Janeiro 11, 2011 Oi Silvio. Passei um mês maravilhoso no Líbano, agora estou na Síria. Há muitos poucos visitantes nesses dois países, principalmente agora, que é temporada baixa. No caso do Líbano, você tem razão: por conta das guerras e instabilidade política, muita gente tem medo de vir pra cá. Mas eu recomendo a visita sim, desde que você cheque a situação antes de comprar a passagem. Citar
Colaboradores makiley Postado Janeiro 28, 2011 Colaboradores Postado Janeiro 28, 2011 Bia, Show de bola o seu relato.. que coragem... pena que não deu para mostrar muitas fotos. parabens, Abs, Citar
Membros davidr Postado Fevereiro 2, 2011 Membros Postado Fevereiro 2, 2011 Viajei p/ Tel Aviv com voo direto de Sao Paulo demorou 14 horas mas pelo menos e um voo sem fazer escalas, incrivel que comprei a passagem via o Portal www.skymun.com.br e pagei so U$849,00 Citar
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