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Travessia CUSCUZEIRO X FORQUILHA: Ubatuba-SP


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  • Membros de Honra

     

Travessia Cuscuzeiro x Forquilha- De Paratí ao Patrimônio

 

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(Vagner, Thiago, Divanei, Trovo e Tomaz )

 

Todos em fila indiana. Cabeças baixas, passos lentos e olhares laterais. Respiração presa e movimentos friamente calculados a fim de não irritar nenhum índio. Na hora me lembrei do Alemão Hans Staden, que quase foi devorado pelos índios Tupinambás quando foi capturado nessa região, 500 anos atrás. Agora não era o caso, mas mesmo assim, estávamos apreensivos com aquela situação. Atrás de nós, uns 30 índios nos seguiam, enquanto um que parecia ser o líder, nos dizia desaforos impronunciáveis a fim de mostrar poder e, se a intenção dele era fazer com que nos cagássemos de medo, no tocante a minha pessoa, ele estava tendo um grande sucesso. A caminhada nos leva onde me pareceu ser a casa de reza da aldeia e ali se encontravam alguns velhos índios, que também nos queimavam com os olhos, enquanto alguns de nós pediam perdão, esperando que aquele pesadelo acabasse logo.......................

 

Não foram poucas as vezes em que me vi pesquisando sobre a clássica travessia da Trilha do Corisco, uma caminhada que outrora ligava Ubatuba à Parati, cortando as escarpas da Serra do Mar, na divisa entre São Paulo e Rio, partindo na altura da Praia da Fazenda, num dos cenários mais bonitos do país. Acontece que sempre achei uma caminhada muito curta, coisa de um dia, para me deslocar da minha casa no interior paulista até lá. Mas com a chegada dos mapas de satélite e com maior acesso às informações, comecei a notar que no alto da serra poderíamos acessar o PICO DO CUSCUZEIRO, um gigante visto das cercanias de Picinguaba, em formato de um grande vulcão.

 

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(foto Thiago silva)

 

O tempo foi passando e outras montanhas tomaram meu tempo, mas quase todo fim de ano, lá estava eu em Picinguaba ou na praia da Fazenda, olhando para o gigante, assim que o tempo permitia, já que nem era sempre que as nuvens deixavam. Mas eis que um dia o Thiago Silva me manda uma mensagem me convidando para tal empreitada e achei que era essa a deixa para ir lá riscar esse ícone quase desconhecido do montanhismo paulista, da minha lista de montanhas a serem subidas.

 

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(Cuscuzeiro e Forquilha)

 

O Pico do Cuscuzeiro é um gigante, em se tratando de Serra do Mar, mais alto que o Pico do Corcovado, e abre a cadeia de montanhas que separa Ubatuba de Parati, no extremo norte paulista, que ainda vai contar com mais 2 montanhas, o FORQUILHA e o Pico do Papagaio. Nossa intenção, portanto, ia muito mais além do que subir o próprio Cuscuzeiro, pensávamos em cruzar toda a serra da divisa, mas não sabíamos nada sobre a continuação dela depois do Cuscuzeiro, nem se havia trilha, tão pouco se a inclinação do terreno permitia um vara-mato selvagem até o cume do Forquilha, mas resolvemos pagar para ver.

 

Oito horas da noite de uma sexta-feira, Thiago Silva nos apanha no terminal rodoviário do Tietê, na Capital Paulista, onde eu, o Daniel Trovo e o Vagner já o esperávamos ansiosamente. Aquele era um grupo de respeito, mas ainda faltava conhecer o quinto elemento, um amigo do Thiago que só conheceríamos em Ubatuba.

 

A viagem para o litoral foi tranquila, muita conversa sobre expedições passadas e muitas risadas de presepadas presentes, até desembocarmos na charmosa cidade litorânea, vazia por estarmos no inverno. Foi hora de sermos apresentado ao Tomaz Lamosa, um Ubatubense jovem, praticante de artes marciais, mas que nos deixou uma impressão não muito boa, ao aparecer com uma mochilinha do jardim de infância, donde pendia um saco de dormir para fora, parecendo que iria numa excursão de acampamento de igreja, mas logo demos um jeito de ficar mais apresentável, colocando as coisas no seu devido lugar (rsrsrsrsr)

 

A recepção do Tomaz foi de primeira, organizou a logística impecável, com um transporte que nos deixaria na boca da trilha, lá nas cercanias do Bairro do Corisco, em Parati, já que optamos por subir a trilha do Corisco partindo do lado Fluminense, por ser menos íngreme e mais curta até o ombro da serra, no marco que divide os 2 Estados.

 

Já era alta madrugada quando apeamos um pouco acima do Bairro do Corisco, um fim de estrada até onde achamos que dava para ir motorizado. Mas a estrada continuava, é por ela que seguimos a passos largos. Thiaguinho imprimiu um ritmo alucinante e eu e o Tomaz fomos no encalço dele, mas o Trovo e Vagner que não queriam saber de correria desnecessária, ficaram para trás até nos juntarmos num providencial ponto de água, ainda na estradinha meio que abandonada.

 

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A estradinha histórica vai ganhando altura e ficando cada vez mais intransitável, cruza por um rio mais largo, onde passamos pulando pedras para não molhar as botas e uns 3 km desde quando saltamos do veículo, começa a curvar-se para a direita, mas não é para lá que seguimos, vamos abandoná-la em favor de outra estradinha que saí a esquerda, tendo que pular mais um rio e intercepta-la mais à frente. Nesse pedaço, por estar noite, demos uma bobeira e pensamos que a trilha subia paralela ao rio, mas logo sacamos o erro e retornamos e localizamos a estradinha do outro lado do rio e por mais uma meio hora, talvez menos, demos de cara com uma porteira junto a um córrego onde atravessamos e nos estacionamos 100 m mais à frente, junto a uma grande clareira e ali resolvemos dar por encerrada nossa caminhada noturna, porque já se aproximava das três horas da manhã. O local é ótimo para montar barraca, redes, mas eu resolvi apenas bivacar, montar uma loninha e esticar um isolante térmico com meu saco de dormir até que o sol da manhã de sábado viesse para nos dizer que era chegado a hora de recomeçar.

 

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Quando clareou, foi que ficamos sabendo que havíamos adentrado em propriedade particular e acima de onde acampamos, havia uma casa de grande porte e por sorte pareceu estar vazia. Desmontamos tudo, saímos para fora da propriedade, fechamos a porteira e interceptamos a trilha do lado esquerdo de quem chega. Verdade mesmo que é preciso forçar passagem no mato ao lado da cerca para encontrar o rabo da trilha, que logo se estabelece e um minuto depois, surpreendentemente reencontra a estradinha vindo da casa que acampamos. Sem saber, ao interceptarmos a estrada, pegamos para a esquerda, quando o caminho correto é justamente entrar na porteira a direita da trilha, com quem vai adentrar na direção da casa, mas imediatamente subir a esquerda para dentro da mata, agora definitivamente.

 

A trilha vai subindo, ganhando altitude, mas as vezes meio confusa e aí é preciso tomar cuidado e se valer da experiência para não se perder ou estar o tempo todo grudado no gps para se manter na direção correta. E assim vamos, subindo aos poucos, passamos pelo último ponto de água e nos abastecemos com 2 litros por pessoa e mais ou menos hora e meia, depois que deixamos o acampamento, tropeçarmos no marco da divisa de Estado, datado de 1954 (720 m), hora de pararmos, jogarmos as mochilas ao chão para um breve descanso e uma alimentação mais descente.

 

O MARCO DA DIVISA significa que estamos no ponto mais alto da Trilha da Corisco e se continuássemos por ela, poderíamos descer à Ubatuba por mais uns 7 km até a Casa da Farinha, mas nosso caminho parte a esquerda do marco e agora vai subir um caminho de matar mula por mais ou menos 4 km. Logo no início já é preciso subir se apoiando em uma corda que foi providencialmente instalada ali para diminuir o sofrimento, mas quem aqui sobe com uma cargueira carregada, não vai encontrar nenhuma moleza.

 

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( Marco da divisa RJ/SP )

 

A caminhada vai seguindo lentamente, muito lentamente, o tempo fechado faz chover sobre nossa carcaça e só nos faz lamentar a possibilidade de chegar no cume e não conseguir ver nada. Mas montanhista experiente já sabe que esse excesso de neblina molhada, é sinal de que vai fazer um grande dia de sol, mas como se aproxima das 11 da manhã, a gente já começa a desconfiar que vamos chegar ao topo com mal tempo. Hora ou outra, um tímido raio de sol aparece para alegrar nossas almas, mas some com uma rapidez impressionante e nos faz voltarmos a praguejar contra a má sorte. Pouco mais de uma hora depois, atingimos um ombro da montanha e vamos galga-la por mais de uma hora até que um pequeno selado se apresenta a nossa frente onde se poderia acampar, mas ainda é cedo para pensar nisso e apertamos o passo para a subida final em busca da gloria, mas a única coisa que vemos é mato atrás de mato, um cume fechado, sem visão para lugar nenhum, uma decepção coletiva e silenciosa.

 

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Nossa jornada passa por cima do cume, sem nem perceber , já que não existe algo proeminente que nos diga que ali é realmente o ponto mais alto e segue enfrente até que o mundo desaba sob os nossos pés, fim da linha, fim da montanha e por causa da intensa neblina, não conseguimos enxergar um palmo à frente do nariz. Não há grandes árvores no cume , só pequenos arbustos de pouco mais de metro e meio e foi entre esses arbustos que buscamos alguma visão do litoral de Ubatuba ou da parte voltada para Paratí, mas sem nenhum sucesso, até que um pequeno trilho é encontrado e demos a missão de investigar para o Vagner , que em menos de um minuto gritava feito um gata copulando no telhado.

 

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Todo mundo correu como deu e quando lá chegamos, um vento forte soprava e aos poucos o litoral foi descortinando à nossa frente, como a nos dizer : " Venham meus amigos , aqui está o vosso presente, aqui está a recompensa pela vossa ousadia e determinação , apreciaí-vos essa maravilha, bem vindos ao CUSCUZEIRO ( 1278 M) , o cume mais alto do extremo norte de Ubatuba.

 

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O vento que soprava das montanhas em direção ao litoral, fazia as nuvens dançarem. Por baixo da branquidão algodoada, era como se um novo mundo surgisse do nada, um mundo fascinante e encantador, que ia devastando a nossa mente com uma beleza hipnotizante. Um sonho de litoral, um mundo vazio de gente e entupido de sonhos, resumido em praias selvagens num dos mais belos cartões postais do Brasil. Ninguém arreda pé, olhos vidrados, olhares fixos para não perder cada minuto do espetáculo. Lá está a Praia da FAZENDA com o rio Picinguaba lhe inundando de água doce. Lá está o complexo da Ilhas das Couves, pontilhando o litoral de pequenas outras ilhotas. Do lado direito, a Baia de Ubatumirim complementa o cenário que se estende até onde a vista alcança, num mar de montanhas verdejantes como em nenhum outro lugar. Mais abaixo, aos nossos pés, um vale gigante nos encanta com seus abismos até a planície litorânea, por onde repousa a outra metade da Trilha do Corisco até seu fim junto a Casa da Farinha.

 

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As caras, até então meio carrancudas pela pouca expectativa, agora sorriam por qualquer coisa, afinal de contas, havíamos sido agraciados com aquele espetáculo indescritível, quando já não esperávamos mais nada. Sem querer ir embora, decidimos ficar por mais uma hora no cume, tempo suficiente para cozinharmos um almoço e nos aquecermos ao sol do meio dia. Mas a gente sabia que não poderíamos viver de ilusão, tínhamos uma meta a cumprir, chegamos num pico, que mesmo com trilha consolidada, ainda pode-se contar nos dedos os que já tiveram a honra de lá chegarem, mas dali para frente saltaríamos rumo ao desconhecido, um mundo de incertezas seria o nosso futuro naquela travessia, hora de respirar fundo e deixar que a aventura nos guie .

 

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Eu havia traçado um caminho usando as curvas de nível para tentar descer com segurança de cima do Cuscuzeiro em direção ao Pico da Forquilha, mas esperávamos encontrar uma trilha que nos conduzisse direto para ele. Na nossa inocência, achávamos que outros montanhistas pudessem vislumbrar o mesmo que nós, mas outra vez quebramos a cara. Ali, onde o Cuscuzeiro simplesmente deixa de existir, só abismos profundos foi o que encontramos e sem muito tempo a perder, nos jogamos para o vazio, já descendo para os degraus mais abaixo da montanha, como a dar adeus para o cume de um cuscuz, como a deslizar de cima de um bico de funil e começar a nos perder na descida de um vulcão.

 

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Eu e o Thiaguinho vamos à frente, colados um ao outro e alguns metros abaixo do cume, já foi o suficiente para nos darmos conta da encrenca em que havíamos nos metido: Nos penduramos numa árvore e nos jogamos de cima dela para o fundo do vale, bem a tempo de parar antes que fossemos tragados pelo nada. Atrás de nós, Tomaz, Daniel Trovo e Vagner já começaram a caçar outra rota porque se ligaram que aquela era suicida. Trovo tomou a dianteira e encontrou uma passagem junto a uma grande rocha e abriu caminho lateralmente, mas logo se viu acuado pelo abismo que lhe chamava, mas recusando o convite, deu passagem para que o Vagner tentasse. Vagner, macaco velho, já deitou no chão e gritou para o abismo que o dia dele estava contado. Alguém gritou para que sacassem a corda que o bicho ia pegar, mas o Vagner se atirou numa canaleta rochosa e deslizou nela usando a força da gravidade, até repousar em segurança no fundo do buraco. Sem perder tempo, usamos a canaleta como tobogã e um a um fomos baixando, um festival de rolagem e eu me enrosquei num cipó e fiquei pendurado feito Siri no pau até que alguém conseguiu me libertar para que eu despencasse e fosse também repousar num patamar mais abaixo.

 

As encrencas iam sendo resolvidas conforme iam surgindo e por sorte, não demorou muito para encontrarmos um filete de água, o suficiente para molharmos a goela e nos alegramos com a possibilidade de não passar mais sede naquela travessia. A vegetação se alterna entre palmeiras, cipós espinhudos e bambus entrelaçados, aquela vegetação típica de altitude da Serra do Mar, seca e que vai enervando a gente, mas logo o filete de água vai ganhando corpo e vai nos proporcionando um corredor que vai sendo cavado, agora por um riacho e é por ele que vamos, desescalando pequenas cachoeirinhas e de olho na direção. Mas chega uma hora que a inclinação do riacho nos obriga a cair fora e tentar seguir pela crista rumo ao nosso primeiro objetivo, que era um selado antes da subida final do cume que buscávamos.

 

A tarde já era nossa companheira e o avanço pela vegetação era lento e modorrento, corcovavas vão sendo subidas e descidas, sempre tentando acompanhar a linha previamente traçada até que desembocamos no SELADO, um marco importante, mas que surpreendentemente não encontramos nenhuma trilha de conexão que pudesse nos dar um caminho fácil até o cume do Forquilha. Até encontramos uma marca de facão, mas estava claro que poderia ser alguma passagem entre as 2 montanhas, mas nada que denunciasse que alguém tenha subido ao cume por ali. O selado em questão era uma área muito promissor para se acampar, mas a expectativa de podermos pegar um possível pôr do sol no cume, fez com que tirássemos força sei lá de onde para continuar.

 

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E é mesmo uma subida dos diabos, uma parede em pé onde é preciso ir se agarrando onde dá para não voltar a descer novamente, ir desviando de algumas grandes rochas, procurando um caminho mais desimpedido, subindo cada ombro , cada curva topográfica até que uma hora depois, estávamos encima do platô , faltava apenas localizar onde seria o ponto que marcava o cume daquela montanha isolada do mundo, no meio da linha que divide os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a meio caminho de lugar nenhum, numa quiçaça de dar dó. Bambuzinhos vão sendo arrastados no peito, pequenos arbustos são cruzados, as vezes nos rastejando para um melhor deslocamento. Em algum lugar ali haveríamos de localizar o cume exato, um lugar que nos desse uma vista do horizonte, mas a noite foi caindo e a gente não avançava e para piorar, não havia um só lugar para montarmos nossas barracas.

 

Por causa da densa neblina, a vegetação encharcou toda nossa roupa e alguns de nós já estava com muito frio e não via a hora de acampar, mas cada vez mais, nos enfiávamos em algum buraco, tentando localizar algo descende para passar a noite. Até achamos uma pedra que poderia nos dar um abrigo, mas uma urubu fêmea chocava um ovo embaixo dela e a todo momento nos dizia que não seria um bom negócio usar ali de casa. O desespero aumentou, já estávamos no nosso último bastão de energia e quando alguém gritou que iria ficar por ali mesmo, foi a deixa para os outros jogarem suas mochilas ao chão e dar por encerrado aquele dia de caminhada.

 

Aquela área para acampar era o que tinha de pior, não havia um palmo de terra plana e para piorar, beirava um barranco de uma dezena de metros. Não havia o que fazer, não havia como limpar coisa alguma, era jogar as barracas encima das raízes e assimilar o duro golpe. O Daniel Trovo estava de rede e conseguiu monta-la, usando 2 arremedos de árvore, bem ou mal resolveu seu problema. Tomaz e Thiaguinho iriam dividir uma barraca em conjunto e o Vagner acamparia numa barraca individual e esses 3 últimos se foderam bonito, tendo que aguentar pau no lombo a noite inteira. Eu estava sem rede e sem barraca, havia levado apenas um isolante térmico e um plástico mequetrefe, mas encontrei um lugar incrível embaixo de uma grande rocha e ali montei meu bivac, um grande achado que me proporcionaria uma noite de sono perfeita e assim que a janta ficou pronto, me joguei para debaixo dela e dormi por 12 horas quase seguidas, até que o sol viesse nos dizer que era hora de voltar para a aventura.

 

 

 

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O dia nasceu radiante, mas os meninos das barracas amaldiçoaram a noite mal dormida. Uma choradeira dos infernos! Nosso plano de continuar galgando a crista da serra foi por água abaixo, sabíamos que era impossível realizar tal façanha de descer o Forquilha e emendar com a Crista do Papagaio num dia só, então havia chegado a hora de pormos em pratica o plano B, traçado justamente para ser usado caso isso acontecesse, mas os caras das barracas (Thiago e Tomaz) tramaram um motim durante a noite e quando o dia nasceu, haviam decidido que mandaria também o plano B a merda e traçariam um plano C. O plano B consistia em descer o Forquilha pela sua continuação em direção ao Papagaio e quando chegássemos no selado, viraríamos a esquerda e interceptaríamos uma possível trilha que nos levaria direto para a estrada e para o Bairro do Patrimônio, junto à Rio-Santos. Mas diante da possibilidade de ter que voltar a arrastar bambu no peito por mais um pedaço da crista e depois enfrentar um desnível de abismos gigantes, eles resolveram que tentaríamos começar a descer imediatamente, mas antes, para marcar nossa presença ilustre naquela montanha isolada do mundo, deixamos um livro de cume, uma CAPSULA DO TEMPO, improvisada com uma garrafa, onde um manuscrito exibe a data, o nome dos exploradores e o caminho que fizeram para até ali chegarem.

 

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( capsula do tempo)

 

Pois bem, falamos de tudo, mas faltou falar do principal, daquilo que nos leva a empreender tal jornada árdua para subir esse tipo de montanha: As largas vistas que presenteiam nossas almas. Tomando, portanto, o rumo leste, que é a direção na reta de Parati, escalamos a rocha que eu havia bivacado embaixo e ascendemos ao cume, simplesmente para descobrimos que era ali que estava o nosso presente. Diante de nossos olhos a imponência gigantesca da encosta do Cuscuzeiro, que havíamos descido no dia anterior. Não tivemos duvidas, ali marcava o topo daquela montanha, o PICO DA FORQUILHA ( 957 m ) estava ao nossos pés e de cima dele as largas vistas da Baia de Parati, de toda a Reserva da Joatinga , Ilha Grande e por incrível que parece, até o imponente Pico do Frade desfilava na paisagem. A visão lá de cima é realmente grandiosa e a gente estava feliz de ter podido no último minuto, encontrar essa visão lá de cima e aproveitando que ali estávamos, era hora de aproveitar para desenvolver melhor a nossa fuga lá de cima.

 

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( Ao fundo Baia de Parati-RJ)

 

Tomamos em mãos o mapa eletrônico, nos baseando no satélite e na carta topográfica. De cima do Forquilha, localizamos ao longe em meio a floresta, uma habitação solitária, de onde saia fumaça pela sua chaminé. Se há uma casa, com certeza teríamos uma rota de fuga, que nos levaria ao litoral. Azimutamos a direção e calculamos que poderíamos lá chegar em cerca de umas 4 horas de caminhada, um cálculo cretino, só para animar o grupo, porque na real mesmo, não tínhamos a menor ideia de como seria a nossa descida e o que a jornada até lá nos reservaria. Traçado o plano e estratégia, abandonamos o cume do Forquilha e já despencamos da pedra em direção ao vale, tentando achar um caminho que nos fizesse ir perdendo altitude, mas outra vez nos vimos acuados numa encosta de abismos perigosos, desescalando barrancos escorregadios, onde lajes pedregosas, pontilhada por vegetação rasteira e arbustos soltos, iam nos dizendo que a gente havia entrado em outra encrenca. Trovo e Vagner tomam à frente e vão nos metendo em uma roubada atrás da outra e a gente vai vendo que aquele caminho começa a nos levar para uma rota suicida, onde apenas samambaias soltas são o fio que nos segura antes da desgraça final. É hora de parar, analisar e ter a consciência que a rota tem que ser mudada e é justamente isso que os caras da frente fazem, tomam a rota lateral, numa diagonal reta para a esquerda a fim de ganharem uma linha de árvores e retomarmos novamente a direção combinada.

 

A estratégia deu resultado e não demora muito cruzamos por uma nascente de onde brota um filete de água, que vai se encaminhando por cima de uma pedra lisa dentro da floresta de árvores gigantes. Uma descida rápida em meio à vegetação mais fechada, nos leva a um degrau e ali um grito dado por um membro da equipe faz com que paremos imediatamente: “ Uma ponte gente, corre aqui, tem uma ponte atravessando para o outro lado”. Eu estava atrás e logo levei um susto. Aquilo era inacreditável, estávamos numa encosta de montanha onde era possível que jamais teria recebido pés humanos e como poderia uma ponte naquela altitude, que aparentemente não ligaria nada a lugar nenhum. Corremos para ver a tal ponte e lá só encontramos um tronco velho, caído encima de uma laje de pedra, nada mais que isso, pura obra da natureza. Tomaz Lamosa, o menino da mochilinha dourada, já começava a ter alucinações naquela descida e a gente achando que Lamosa era sobrenome muito pomposo para compor aquela expedição de gente rude e sem grife, resolvemos batizar nosso novo amigo como Tomaz Pontes e assim será chamado nas expedições em que esse valoroso expedicionário participar em nossa companhia.

 

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Estávamos agora enfiados dentro de um vale profundo, justamente por onde a nascente que encontramos corria e ia cada vez mais se transformando num rio. Pulando pedra por dentro do riacho ou até mesmo tendo que subir o barranco para nos livrarmos dos degraus de mais de uma dezena de metros, vamos prosseguindo a trancos e barrancos, mas nos preocupa a direção que aquele rio vai tomando, abrindo muito para a esquerda, nos tirando da direção traçada. A tarefa é árdua, o rio vai aumentando de volume e pequenas cachoeiras começam a despencar em vales cada vez mais profundo. A hora vai passando e a gente perdendo altitude vagarosamente até que ao avistarmos um grande poço, resolvemos nos deter por um instante para comer alguma coisa, enquanto alguns corajosos resolvem se jogar na água fria daquele final de manhã, gente sem noção, porque para mim, quem faz isso no inverno, é capaz de qualquer coisa. ( rsrsrsrs)

 

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Havíamos decidido que qual fosse o rumo que aquele rio tomasse, seria por ele que seguiríamos, na esperança de quando chegasse ao fundo do vale, poderíamos encontrar alguma trilha junto a talvez, algum rio maior, mas um golpe de sorte, ou talvez nem tanto, viria para mudar o rumo daquela expedição, algo que jamais esperaríamos, algo que transformaria uma travessia de montanha em mais uma experiência para contar para os nossos netos.

 

Saímos do rio e fomos margeando, sempre andando a não mais que uns 50 metros da margem, quando se supetão alguém gritou que haviam encontrado um rabo de trilha, um arremedo de caminho, mas estava claro que não era trilha de bicho e quando um corte de facão na diagonal de um galho foi encontrado, tivemos certeza de que poderíamos contar com uma saída mais rápida daquela expedição. Mas nem precisou ir muito longe, 15 minutos de caminhada nos levou ao que nos pareceu ser uma ponte no meio da floresta, agora algo feito pelas mãos humanas, mas logo percebemos que era apenas um tablado grande, onde era usado como apoio para cortar madeira. Logo imaginei que poderia ser um daqueles lugares usados para se construir canoas parcialmente, quando se derruba uma árvore gigante e lapida-se até ficar no formato da embarcação, aliviando o peso da mesma até que se aguente puxa-la para fora do mato.

 

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A minha tese não foi confirmada, mas isso pouco importava, o certo era que a partir dali, uma trilha consolidada nos serviria de caminho. Num primeiro momento ficamos apreensivos porque poderia haver algum rancho de caçadores por perto e não seria muito bom para nós, irmos chegando de supetão, vindos de lugar nenhum. Caminhando devagar e em silêncio, poucos minutos foram o suficiente para eu avistar um telhado reluzente entre as folhagens e já cantar a bola para que os cuidados fossem redobrados e 5 minutos depois a trilha deixou de existir e deu lugar para um roçado em um descampado, num morro na descendência, donde do outro lado, também encima de outro morrote, sem que estivéssemos preparados, um amontoado de casas foi nos apresentados pelo destino.

 

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Sem óculos e sem acreditar naquilo que meus olhos pareciam ver, esperei que o meu cérebro processasse a informação: Puta que o pariu, aquilo era uma tribo indígena ou eu estava vendo coisas? À frente seguia o Thiaguinho e o Pontes, ninguém os escolheu para serem os caras que iriam fazer o contato antropológico, mas nessa vida tem que ter uns trouxas para liderarem, mas esses aí entraram mesmo de gaito no navio e coube a eles botarem o peito para levarem a primeira flechada e, ela veio, mas veio sem dó e nem piedade, aquela intimada que ecoou desde o Cuscuzeiro até Forquilha:

 

- PAREM IMEDIATAMENTE, SE APRESENTEM ANTES DE CHEGAR.

 

Nessa hora nem sei para onde foi parar o Daniel Trovo, eu já fiz menção de sair correndo de volta para a mata, mas logo vi que seria inútil, principalmente porque tudo que era índio daquela tribo, resolveu abandonar sua maloca e ir ver que quiproquó era aquele que estava acontecendo. À minha frente, e atrás dos nossos “antropólogos”, Vagner parecia o documentarista de uma expedição sertanistas, filmando e fotografando os novos povos da floresta, parecia alheio a gravidade do problema, cagando e andando para a situação, mas logo foi atingido por uma flecha certeira:

 

- PODE PARAR DE TIRAR FOTO DE ALDEIA, NÃO É PARA TIRAR FOTO DE ÍNDIO NÃO !

 

O instrumento do nosso documentarista de araque, que na verdade era seu celular, quase rodopiou no ar e em um segundo já foi parar no fundo da mochila e esse coitado foi outro que teria fugido comigo para o mato se pudesse.

 

Enquanto isso, Thiaguinho e Tomaz Pontes gaguejavam mais que carro velho à álcool no inverno, tentando explicar o inexplicável, muito porque os índios não estavam a fim de ouvir explicações cretinas.

 

- QUEM É O GUIA DE VOCES? ESTÃO INVADINDO TERRA DE ÍNDIO. VOCES ESTÃO VINDO DE ONDE? ESTÃO PERDIDOS?

 


Aquelas eram perguntas que não podíamos responder, eram flechadas que não conseguíamos nos desviar. A comunicação era aos berros, mas nós berrávamos mansos, enquanto eles nos derrubavam com as palavras. Aos poucos, vendo que a vaca já havia ido para o brejo, nos juntamos em um só grupo. Ali, naquela maloca de índios, éramos reféns do destino, estávamos a mercê das circunstâncias, não dependíamos mais de nós, já não controlávamos mais a situação e eu já estava extremamente nervoso pelo rumo que aquilo estava tomando.

 

De cima do morrote, esse índio que parecia querer mostrar poder, nos dizia palavras duras e impronunciáveis. Uma velha índia pede que esse líder nos pergunte se temos armas, mas ele não nos repassa a pergunta, apenas continua a nos esculhambar.

 

- VOCES NÃO PODERIAM INVADIAR TERRA INDÍGENA, VÃO EMBORA SE NÃO VAMOS CHAMAR O REPRESENTANTE.

 

Não ficou claro se ele iria chamar o representante máximo da tribo, talvez o verdadeiro CACIC ou se ele estaria se referindo ao pessoal da Funai, ou órgão Federal que lhes dá apoio, mas para a gente pouco importava, queríamos era sair voados dali imediatamente, picar a mula para o mato, cortar volta, desaparecer da frente deles, sumir no tempo e no espaço.

 

Atendendo à solicitação do índio, começamos nosso processo de cair fora de lá e fomos nos dirigindo pela esquerda do morrote, como a dar a volta na aldeia para cair na capoeira. Fomos cruzando o pequeno roçado, agora no máximo uns 20 metros de onde a tribo nos observava e finalmente começamos a achar que o pesadelo estava próximo do fim, íamos passar e ir embora definitivamente, mas outra flecha foi nos atirada, uma flechada agora à queima roupa.

 

- NÃO, NÃO, NÃO ! PODEM SUBIR, VENHAM PARA O MEIO DA TRIBO, VÃO PASSAR POR AQUI AGORA.

 

Viche , agora fudeu ! Estava claro que não iam nos deixar ir embora assim, primeiro era preciso nos impor uma humilhação que talvez até merecêssemos, mas eu particularmente já estava no meu limite de apreensão, sabíamos que nada poderíamos fazer, nem nos defender poderíamos, éramos seres indefesos diante daquela situação. Em fila indiana, um atrás do outro, subimos do roçado para o meio da tribo. Alguns de nós só fazia era pedir desculpas, perdão por ter ido parar ali, mas eu se pudesse, já estaria era implorando clemencia.

 

Agora atrás de nós, uma multidão de índios nos empurrava, nos encurralava para o meio da aldeia, um lugar onde me pareceu ser a casa de reza, o barracão das festas tradicionais. Sob uma saraivada de impropérios, seguíamos a passos lentos, respiração presa, sem movimentos bruscos que viesse a irritar qualquer um índio daqueles. Eram velhos, mulheres, homens, crianças, índio magro, índio gordo, sei lá, tinha de tudo atrás de nós.

 

A situação era desfavorável, mas segundos de pensamentos tem o poder de nos remeter ao passado, um passado muito distante, mas o cérebro não quer nem saber, quer sabotar nossa capacidade de acreditar que tudo vai dar certo e logo me traz à tona a história, faz nos lembrar de que no passado, aqui mesmo nessa região, os índios Tupinambás teriam nos devorado em rituais antropofágicos, que começava , numa narração simples e simplória, por dar uma paulada na cabeça e depois outro pau era enfiado no rabo para que nada de lá saísse. Por sorte os tempos são outros, a tribo é outra, mas por azar, nós somos nós mesmos.

 

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Enfrente a casa de reza, alguns velhos índios conversavam em línguas estranhas, talvez em tupi, certamente não era português e se nada compreendemos, pelo menos esses xingamentos também não absorvemos, mas dos olhares nos queimando não tivemos como escapar. Ali era o ponto crucial, o centro da aldeia, era ali que a questão teria que ser resolvida.

 

A gente continuava implorando para ir embora, mas sem deixar de caminhar, apenas olhando de rabo de olho, mostrando humildade e sem querer afrontar nenhum daqueles índios. A multidão nos seguia, não sei qual o propósito daquele cortejo, mas o alivio só veio quando o índio mais bravo gritou:

 

- PEGUEM ESSA ESTRADA E SUMAM DAQUI!

 

Mais que depressa quebramos a direita e ganhamos o caminho de terra batida, descendo do morrote em direção à um córrego de aguas cristalinas, uns 100 metros mais abaixo, mas na minha cabeça só havia uma frase que não escapuliu por muito pouco: COOOOOOORRE NEGADA! ( rsrsrsr)

 

Mais que depressa e sem perder tempo, nos pusemos a caminhar aceleradamente, na tentativa de sairmos o mais rápido possível das vistas dos índios, mas eles não arredaram pé do alto do morro, muitos com o peito estufado, felizes de terem nos enxotados de lá feito cães sarnentos. Menos de 5 minutos nos leva até o riacho, onde uma placa intimidatória nos avisa que ali é a Reserva Indígena , com entrada proibida, mas no caso nem nos preocupamos, já estávamos saindo mesmo e ali nos vimos mais aliviados, pensando já estarmos a salvo da “panela”, mas nem tudo é tão ruim que não possa piorar.

 

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Enquanto os índios ainda nos fitavam com cara de poucos amigos de cima do morro, tratamos logo de subir a ladeira que nos levaria em definitivo para longe das vistas deles, mas 100 metros acima, quando o terreno se nivela, uma paulada nas nossas esperanças foi dada pelo destino: Eu mal conseguia acreditar no que estava vendo, mais uma vez estávamos encurralados. À nossa frente, estacionado bem na nossa passagem, um carro do Órgão Federal nos "convidava" para arrancar as nossas penas. Mas que inferno! Não tínhamos nem acabado de nos recuperar da experiência traumáticas com os índios e já teríamos que enfrentarmos mais um pesadelo. E agora era muito sério, se aqueles caras que protegem os índios nos pegassem, iriam arrancar o nosso couro, seríamos multados, esculachados, estuprados, espancados e talvez conduzidos para uma delegacia, onde mais uma vez iram arrancar a nossa pele ou o que sobrasse dela. Pelo menos era isso que passava na minha cabeça, enquanto andávamos à passos lentos e modorrentos em direção aos nossos novos algozes.

 

Nessa hora, por azar, estou à frente. Nem respiro, arrasto meus pés como quem monta uma defesa para não ir à lugar nenhum. Se pudesse teria parado os batimentos cardíacos para não fazer qualquer barulho, mas é aí que o coração desanda a bater rapidamente, com uma substancia que inunda o estomago e faz as pernas dar uma amolecida. Dou uma olhada de rabo de olho para ver se alcanço a profundidade do problema, ao mesmo tempo que rezo para que meus olhos não consigam mirar outros olhos humanos. A estratégia não dá certo, abaixo a cabeça e passo ao lado do veículo branco e noto estar vazio. Na sede do Órgão Federal, do lado direito, simplesmente não consigo enxergar, não posso nem relatar do que se trata, apenas deixo que o meu cérebro me conduza para longe e só paro quando uma curva mais à frente nos tira das vistas de quem quer que seja. Já passava do meio dia e muito provavelmente a fiscalização deveria estar almoçando e antes mesmo que a gente virasse a sobremesa, desembestamos ladeira abaixo e só paramos quando a estradinha nos desovou em uma estrada maior, já fora da reserva indígena – mais uma vez à salvos, mas passou perto. UFA!

 

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Somos agora um grupo em êxtase! Cinco aventureiros maravilhados com a Aventura vivida, com o desdobramento que aquela expedição acabou nos levando. Parecemos não acreditar no que acabávamos de presenciar. Atrás de nós, todo o esplendor da Serra que divide Rio e São Paulo, desde o Cuscuzeiro, passando pelo Forquilha até a sensacional Serra do Papagaio.

 

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A euforia acaba por tomar conta do grupo e virando à esquerda, depois que deixamos a estradinha da aldeia, nos pomos a caminhar numa leveza estonteante, quase a levitar pela alegria da conquista e quando nos deparamos com a ponte que cruza por cima do RIO PARATÍ-MIRIM, justamente o mesmo rio que descemos desde o Forquilha, jogamos as mochilas ao chão e comemoramos o nosso sucesso, não só da empreitada, mas de sabermos que escrevemos mais um capítulo de uma vida bem vivida.

 

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Aproveitamos o rio, não só para lavar a alma, mas também para nos livrarmos do barro impregnado nas nossas roupas, já que saímos dessa travessia só o farrapo humano. O caminho à frente nos reserva uma caminhada tranquila e como o sol estava bem quente, 40 minutos depois nos detemos em mais um rio para fazermos um lanche e em outros 40 minutos já adentrávamos no Povoado do Patrimônio, onde o pai do Tomaz nos esperava para nos dar uma carona salvadora de volta para Ubatuba.

 

Era para ser uma travessia entre montanhas, uma caminhada selvagem até o topo desconhecido( Forquilha) ou quase nunca frequentado de uma montanha perdida no extremo norte de Ubatuba, mas o destino fez com que pudéssemos viver uma grande aventura, um encontro inusitado com esses maravilhosos povos da floresta, um choque cultural inusitado, não programado, até um pouco conturbado, mas encantadoramente surpreendente. Saímos dessa travessia inebriados pelo momento vivido, pela experiência adquirida, pelo novo amigo que ganhamos, o mesmo que nos fez torcer o nariz com uma mochilinha de escola, mas que surpreendeu com bom humor e competência. E essa aventura entra para o nosso vasto currículo de roubadas e perrengues memoráveis, numa busca incansável por fazer a vida valer a pena.

 

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IMPORTANTE: Esse relato reflete o sentimento de quem o escreveu, sua visão de ver a aventura e talvez não seja a mesma visão dos outros participante. Por vezes , mesmo sendo uma escrita rude e de quem conhece pouco da língua portuguesa, há de se considerar as licenças poéticas e literárias, mas mesmo assim, o texto se mantendo fiel aos acontecimentos.

 

Divanei - junho - 2015

Editado por divanei
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