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Laguna Ceniza

Início e final: RN3 no acesso ao Refúgio Bonete
Distância: 22,6km
Duração: 3 dias
Maior altitude: 773m no Passo Beban Leste
Menor altitude: 144m no Valle Carbajal
Dificuldade: Alta. A caminhada no geral tem dificuldade média, porém classifico como alta por causa da descida muito íngreme do Passo Beban Leste. A maior subida tem desnível de 629m, mas a quebrei em dois dias.

No quarto dia do trekking Circuito da Sierra Valdivieso (relato aqui) topei no Valle Carbajal com uma plaquinha discreta apontando para uma tal Laguna Ceniza à esquerda da trilha principal, subindo. Marquei o local, estudei o trajeto na internet e planejei a exploração dela em forma de circuito. Faria de novo uma parte do trajeto do Valle Carbajal (porém ao contrário do que fiz no final do trekking Valdivieso) e subiria até a Laguna Ceniza, continuando até o Passo Beban Leste e descendo para o Refúgio Bonete, com final no mesmo local na RN3. 

Os dias estavam muito chuvosos em Ushuaia neste verão de 2020, mas para esta caminhada a previsão do Yr era de apenas 0,5mm no dia 12 e 0,1mm no dia 13, porém na montanha a coisa foi bem diferente...

1º DIA - 12/02/20 - da rodovia RN3 à Laguna Ceniza

Distância: 8,7km
Maior altitude: 553m na Laguna Ceniza
Menor altitude: 144m no Valle Carbajal
Resumo: nesse primeiro dia de caminhada voltei ao Valle Carbajal e subi à Laguna Ceniza num desnível de 409m. Acampei próximo a ela.

Saí do hostel às 8h25. Há luz do dia até depois das 21h30 nessa época (fevereiro). 

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Montanhas ao norte do Valle Carbajal

Na Rua Gobernador Deloqui, no centro de Ushuaia, peguei o ônibus da linha B (poderia ser o da linha A também, porém na Avenida Maipu) e desci no ponto final junto ao portal da cidade (saída para Rio Grande). Em frente ao ponto final fica o posto policial e ao passar por ele somos sempre "convidados" a entrar e registrar nome, documento e destino. 

Logo depois do portal as pessoas ficam pedindo carona. Já havia gente ali e me posicionei depois delas para respeitar a ordem de chegada. Logo parou um carro para mim e o motorista era trilheiro também. Me perguntou o que eu já tinha feito de trekking nos arredores (bastante coisa!) e me falou de uma tal Laguna Los Perros, que eu desconhecia. Sugestão anotada e depois explorada (relato aqui). 

Saltei na entrada da trilha para o Refúgio Bonete às 9h53. O céu estava azul e as montanhas iluminadas pelo sol, nenhuma sugestão do que viria à tarde. Ali há um painel com mapa e informações sobre as trilhas próximas, inclusive um caminho que vai do Centro Invernal Tierra Mayor até o Rio Olívia, trajeto que fiz em duas etapas (relatos aqui e aqui)

Comecei a caminhar às 10h19. Altitude de 240m. Imediatamente entrei no bosque por um caminho largo, passei pela clareira de piquenique onde acampei no final do trekking Valdivieso, cruzei o Rio Esmeralda por uma ponte em reforma e às 10h55 cheguei à bifurcação com placas apontando "Cruce" à direita e Puente La Reina/Laguna Ceniza à esquerda. Esse cruce (cruzamento) da direita dá acesso tanto ao Refúgio Bonete quanto à Cascada Beban. Segui para a esquerda e com mais 300m saí do bosque. Uns 25m depois a trilha quebra para a esquerda (oeste). 

Na cadeia montanhosa ao norte o Cerro Bonete se destaca e ao sul é o Monte Olívia o protagonista. Passei pela primeira castoreira, que são represas construídas por castores e que matam todo o bosque ao redor. Um cenário desolador de árvores mortas, lama e brejo, mas essa estava à esquerda da trilha, não era preciso cruzá-la. Atravessei o Rio Beban pela dançante Ponte La Reina (a rainha) às 11h23, cruzei um bosque e saí no familiar Valle Carbajal, um enorme turbal por onde corre o Rio Olívia. 

Turbal (ou turbera) é uma área de turba (turfa em português), que é uma vegetação encharcada e esponjosa composta de musgos, juncos e gramíneas. É bem ruim de caminhar pois afunda e molha os pés, além de cansar bastante. A turba é recolhida para diversas finalidades: é usada como fertilizante e substrato no cultivo de plantas, como combustível doméstico mas de baixo poder calórico, para adsorção de metais pesados presentes em ambientes, no combate a derramamentos de petróleo, entre outras.

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Monte Olívia

Esse turbal tem um caminho já consolidado em forma de canaleta de alguns centímetros de profundidade, mas é muito chato e cansativo caminhar por essa canaleta estreita. Nesse percurso até a bifurcação para a Laguna Ceniza o caminho se alterna entre a canaleta no turbal e os bosques à direita. Felizmente alguém colocou fitas crepe na entrada e saída de cada bosque e dentro dele também, facilitando muito a caminhada. Porém a cada entrada e saída há um lamaçal preto como obstáculo. 

Às 13h20 cheguei à bifurcação com plaquinha "Laguna Ceniza arriba" e parei 28min para descansar e comer um lanche. A trilha já começa subindo (arriba!) e está bem marcada e sinalizada com fitas de várias cores. Às 13h55 cheguei ao limite do bosque, depois só árvores mais baixas. Para trás a visão do Valle Carbajal começa a se abrir com diversas lagoas. Cruzei um riacho e uma matinha. 

Às 14h38 cruzei por pedras e troncos o riacho que vem da laguna. O calor estava forte e muito incomum para essa região. Parei para tirar a camiseta de manga longa e passar protetor solar... para depois o tempo fechar. Continuei às 15h33 e em 30min cruzei outra mata com riacho. Às 16h17 passei ao lado de outra castoreira. Cruzei o riacho da laguna mais duas vezes. 

Às 16h36 cheguei a um lago com um morro rochoso atrás e a trilha sumiu, mas o caminho mais óbvio parecia ser à esquerda do rochoso, ao lado de um deslizamento de pedras. Esse lago era bem bonito, água verde e transparente, mas era outra represa de castores. Vencida a subida pela esquerda do deslizamento cheguei às 16h50 à Laguna Ceniza. Caminhada bastante fácil até aqui. Altitude de 553m.

Porém aparentemente a previsão do Yr não valia para este local pois o tempo mudou rapidamente e quando eu montava a barraca começou a chover granizo. Por sorte eram bolinhas pequenas e não danificaram a barraca. Depois parou de chover e pude caminhar ao longo da laguna, apesar do vento frio, e tirar muitas fotos. Ameaçava voltar a chover a qualquer momento. Lá pelas 19h30 apareceu um castor nadando nela. Tinha lido que é mais fácil vê-los de manhã bem cedo ou no final do dia e isso se confirmou nos trekkings que fiz. 

Não apareceu mais ninguém, a laguna foi só minha e dos castores nessa noite. 

Altitude de 553m.

Temperatura mínima durante a noite fora da barraca: 1,5ºC

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Valle Carbajal

2º DIA - 13/02/20 - da Laguna Ceniza ao Refúgio Bonete

Distância: 9,5km
Maior altitude: 773m no Passo Beban Leste
Menor altitude: 308m próximo ao Refúgio Bonete 
Resumo: nesse dia subi da Laguna Ceniza ao Passo Beban Leste (desnível de 220m) e desci dele por uma trilha extremamente íngreme ao vale do Rio Beban. Continuei por esse vale até o Refúgio Bonete (desnível negativo de 465m desde o passo), onde acampei

10h da manhã: 7ºC

O dia amanheceu cinzento e ficou assim o tempo todo. Comecei a caminhar às 11h14. Da laguna é possível ver o Passo Beban Oeste, mas meu objetivo era o Leste. Caminhei pela direita (leste) da laguna até alcançar o rio que a alimenta e subi pela pedraria sempre próximo a ele. Não há trilha marcada mas a navegação é visual: subir o rio e quando estiver mais fácil galgar a encosta de pedras na direção do passo à direita. Às 11h58 cruzei o rio para a direita seguindo um totem. 

Foi muito mais fácil do que eu imaginava e cheguei ao Passo Beban Leste às 12h15. Altitude de 773m, a maior do circuito. Do outro lado o vale do Rio Beban. Ao contrário do dia em que passei aqui no trekking Valdivieso (relato aqui), nesse dia estava tudo cinzento e mal se viam as montanhas. Mas o pior dessa caminhada viria agora: a descida extremamente inclinada do passo. 

Há duas "línguas" de pedras soltas do topo do passo até a sua base no vale. Na outra ocasião eu subi pela da direita olhando de baixo para cima e foi bem difícil. Dessa vez tentei a outra, a da direita agora olhando de cima para baixo. Não sei dizer qual foi pior. A descida é pior que a subida num local assim pois há que tomar muito cuidado a cada passo para não escorregar nas pedras soltas e rolar ladeira abaixo. 

Cheguei a uma clareira de acampamento na base do passo às 13h e parei para descansar. Apareceu de outra direção - sem trilha! - um casal meio perdido. Ele italiano e ela lituana. Ele falava espanhol e disse que fizeram um circuito enorme por um trajeto difícil sem trilha e queriam chegar logo à rodovia, que ainda estava um pouco distante. Saí logo depois deles, às 13h52, e vi que em vez de subir um pouco a encosta da direita e caminhar pela trilha sinalizada eles seguiram junto ao rio, acredito que sem trilha nenhuma, como vinham fazendo há dias. Não os vi mais depois disso. 

Eu refiz ao contrário o caminho do segundo dia do trekking Valdivieso. Ao sair do local de acampamento deixei o Rio Beban abaixo à esquerda e caminhei pela encosta mais ou menos em nível. Ali cruzei com mais quatro trilheiros, esses argentinos, e conversamos rapidamente. Após uma crista rochosa que abre visão para um nível mais baixo do vale inicia a descida (15h02). Nela a trilha se perde às vezes e há lama e charcos. Algumas pircas (totens de pedra) ajudam a se orientar.

Ao final da descida (15h45) se chega ao nível mais baixo que tinha avistado lá da crista rochosa. Bem à direita há um riacho que despenca da encosta, uma água boa para encher o cantil. Depois a trilha segue mais nivelada e se aproxima do Rio Beban, mas desaparece em alguns momentos. Passei por uma clareira de acampamento, atravessei um bosque e cruzei às 16h38 o Beban no mesmo local da outra vez pois não encontrei outro lugar tão raso. Não tirei as botas de novo mas mesmo sendo impermeáveis as meias ficaram úmidas. 

Segui pelo turbal quase sem trilha me mantendo mais à esquerda e alcancei às 16h58 a trilha bem marcada da Cascada Beban, que fica 120m à direita. Mas como já a conhecia e não valia a pena visitá-la de novo segui para a esquerda na trilha (sul). Numa bifurcação 630m depois fui para a esquerda, atravessei um turbal bem encharcado e cheguei ao Refúgio Bonete às 17h29 (fechado). Há água corrente cerca de 120m antes. Mais uma noite de acampamento sozinho.

Altitude de 319m.

Temperatura mínima durante a noite fora da barraca: 7,4ºC

 

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Laguna Ceniza

3º DIA - 14/02/20 - do Refúgio Bonete à RN3

Distância: 4,4km
Maior altitude: 319m no Refúgio Bonete 
Menor altitude: 179m na ponte do Rio Esmeralda
Resumo: caminhada fácil do Refúgio Bonete à rodovia RN3, onde pedi carona para voltar a Ushuaia

9h15 da manhã: 10,4ºC

Deixei o refúgio às 10h48 pela trilha bem batida na direção sul. Atravessei um bosque à direita que serve como desvio da trilha ruim. Às 10h58 fui para a esquerda numa bifurcação seguindo a sinalização e passei à esquerda de um lago entrando em outro bosque. Às 11h11 cheguei a um cruzamento de trilhas: para a direita a Cascada Beban a 1,8km, para a esquerda o Centro Invernal Tierra Mayor a 6,1km e para a frente a Senda Hacheros a 3,3km (a RN3 está a 3,6km nessa direção). Segui em frente.

Às 11h28 saí novamente a céu aberto e no turbal havia uma passarela de tábuas. Entrei na mata novamente e às 11h53 alcancei a bifurcação do primeiro dia com placas apontando "Cruce" (de onde vim) e Puente La Reina/Laguna Ceniza (à direita). Estava fechado o circuito. Continuando à esquerda, parei no Rio Esmeralda para tirar a lama das botas para pedir carona limpo. Cruzei a ponte e passei pela clareira de piquenique. Às 13h08 estava na RN3 pedindo carona para voltar a Ushuaia. Parou um carro e era uma mulher sozinha. Moradora da cidade, ela nunca tinha ouvido falar da Laguna Ceniza...

Informações adicionais:

. para chegar ao início da trilha deve-se tomar o ônibus das linhas A ou B no centro de Ushuaia e saltar no ponto final no portal da cidade, em seguida pedir carona (hacer dedo, em espanhol)

. o valor da passagem em fev/20 era ARS24 (R$1,50) que deve ser pago obrigatoriamente com o cartão de transporte SUBE (o mesmo de Buenos Aires e Bariloche)

. uma opção mais confortável é o transporte privado (van) chamado Linea Regular que sai diariamente da esquina das ruas Maipu e Juana Fadul de hora em hora das 9h às 14h.

Rafael Santiago
fevereiro/2020
https://trekkingnamontanha.blogspot.com.br

 

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