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Parece que agora a viagem começou pra valer. Pelo simples fato de estar só, as coisas funcionam de uma maneira completamente diferente. Mais aberto às pessoas, mais livre para poder fazer as decisões e viajar simplesmente no meu próprio tempo, além de poder ouvir melhor minha voz interior.

 

Logo que sai de Canoa Quebrada, vi que a estrada que ia até Mossoró era esburacada e praticamente sem acostamento. Além disso, precisava ganhar um tempo no meu cronograma e resolvi logo pegar uma carona. Em não mais que quinze minutos consegui uma no posto da Polícia Rodoviária. Assim que entrei na cabine, o rádio tocava uma canção que falava assim: "Tudo vai dar certo. Tudo vai dar certo." E nada mais.

 

Me enchi de entusiasmo e de certezas. Embora as coisas não estivessem muita certas, sabia que era uma fase e que logo tudo se transformaria. Tudo vai dar certo. Esse pensamento é capaz de milagres. Em Mossoró estendi pela mesma rodovia até Natal. Por todos os percalços que estava passsando, perdi um pouco o entusiamo pra pedalar, me sentia pesado e angustiado. A escolha foi muito boa. Natal representou uma renovação no meu astral, pelas pessoas que conheci, pelo lugar que fiquei e pela vontade que eu sentia de mudar a situação.

 

Natal é uma cidade muito bonita. Me pareceu organizada e o povo receptivo, embora tenha ficado por lá cinco noites. Tempo de reconstruir-me e juntar forças para seguir viagem. Fiquei hospedado no Albergue da Costa, na Ponta Negra, creio que o melhor lugar pra ficar em Natal, bem localizado e tranquilo. A praia é pertinho (mas eu já estava enjoado de praia) e tem um belo visual do Morro do Careca, cartão postal da cidade.

 

Há várias opções nos arredores de Natal: Genipabu, Maracajaú, Cabo de São Roque, entre outras opções ao norte. Pelo fato da viagem ter se prolongado muito, neste instante foi necessário cortar o litoral norte do estado. A região de Touros, São Miguel do Gostoso e Caiçara do Norte ficará para uma próxima, pois tenho certeza que é uma região muito linda. Mas desta vez, sei que não poderei ver tudo.

 

As baterias estavam recarregadas. Mudei muita coisa nos meus planos e, principalmente, minha atitude interior. Percebi que tinha que ser otimista. Comecei a pedalada em direção à Pipa. Logo que sai do albergue, o céu fechou sobre mim. Peguei muito vento contra e uma garoa gelada. A primeira idéia que veio à mente foi: "Humm, acho que escolhi um mal dia pra sair. Vou voltar e ver se melhora esse tempo." Mas logo em seguida, a outra voz (não, não sou esquizofrênico) logo falou mais alto: "Opa, péra ai, depois da tempestade logo vem a calmaria. Vamos ver o que vai dar." Segui em frente. Não estava fácil seguir. Tinha que ir devagar. Cheguei na primeira cidade na saída de Natal e esperei uns minutinhos até a chuva ficar mais fraca. Quinze minutos depois, a chuva diminuiu. Subi na bike e voltei à pedalada.

 

A distância que separa Natal de Pipa é formada por maravilhosas praias, de todos os tipos. Cotovelo, Tabatinga, Búzios, Pirangi, Madeiro, entre outras e não necessariamente nesta mesma ordem. Algumas com falésias lindas, outras com barreiras de pedras que formam piscinas, umas com boas ondas, algumas boas pra pesca. Em Pirangi ocorre um fenômeno peculiar. Lá está o maior cajueiro do mundo, algo realmente fora do comum. Ele tem mais de 8.000 m2. É um absurdo, decorrência de uma mutação genética. Seus frutos alimentam toda a população da cidade por um bom tempo. Fenomenal.

 

ara chegar em Tibaú do Sul tive que percorrer um trecho pela areia. Neste instante o céu já havia abrido e o astro-rei aquecia já meu corpo. Depois de uma balsa já estava a 5km de Pipa. Chegar em Pipa foi incrível. Foi uma provação aquele dia. Um percurso muito gostoso de ser percorrido e com algumas dificuldades, como uma subida pra chegar em Tabatinga e um trecho que tive que empurrar a bike na areia.

 

Mais uma chance de fortalecer minha fé. Fé em seguir em frente e fé de que acima de tudo eu estava no lugar certo. Pipa é um encanto. Pude desfrutá-la por quase uma semana. Aproveitei para praticar yôga, o que não fazia há um bom tempo, e remanejar meu percurso. Conheci dois biológos que estudam as tartarugas e os golfinhos que existem na região. Eles são heróis que lutam pela preservação de um tesouro e que correm sérios riscos. A especulação imobiliária e as novas construções estão destruindo vários refúgios naturais ao longo da costa brasileira. Há muito investimento, principalmente externo, e muitas vezes as novas obras não respeitam regras e leis que tem como princípio a preservação. Compra-se tudo.

 

Lá de Pipa, senti o burburinho do São João que estava começando e, olhando os mapas, decidi encarar um pouco do sertão e ir mais fundo neste redescobrimento do imaginário nordestino. Segui, subindo a serra, para o Parque Estadual da Pedra da Boca, que fica exatamente na divisa entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba, no Planalto da Borborema. Foi um ótimo dia de pedal. Já me senti leve e disposto.

 

Esplêndidas formações de granito constrõem um cenário deslumbrante. Prato cheio para os escaladores e montanhistas de plantão. Ótima escolha. Há um refúgio logo embaixo da Pedra da Boca. É a casa do seu Tico, o grande guardião do lugar. Conhecedor do ambiente e guia experiente, sem tempo ruim, conversar com ele é uma aula sobre a região. Subi a pedra e, lá em cima, encontrei a paz que preciso para seguir essa jornada.

 

Viajar pelo nordeste é como uma prova de múltipla escolha, só que todas as opções, aqui, são corretas.

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Cheguei em Campina Grande e fui logo procurar uma hospedagem daquelas perfeitas: boa e barata. Consegui achar uma que era só barata. O menor quarto que eu fiquei em toda a viagem. Eu sequer cabia esticado na cama e no quarto quase não cabiam todas as minhas tralhas. Mas tudo bem, afinal eu estava ali para conhecer o famoso São João do nordeste.

 

A cidade é bem organizada e tornou-se minha principal referência do estado da Paraíba, já que para estar ali evitei a capital João Pessoa. O clima de São João toma conta de toda a região e a briga maior é entre as cidades de Campina, como é popularmente chamada, e Caruaru para ver qual é o maior São João do mundo. Fui conferir e tirar minhas próprias conclusões.

 

O local onde acontece a festa é um enorme centro de eventos. Muita gente, muitas barracas de comida e, é claro, muito, muito, muito forró! Eita coisa boa! Existe um palco grande onde acontecem os grandes shows. A pedida da vez foi o fenômeno Aviões do Forró, que para mim, quando comecei a viagem, era totalmente desconhecido, já naquela altura da viagem, depois de quase 5 meses viajando pelos interiores, percebi que conhecia todas as músicas e podia cantá-las tranquilamente. "Você não vale nada mas eu gosto de você" ou "De bar em bar, de mesa em mesa, bebendo cachaça, tomando cerveja." Grandes sucessos aprendidos por osmose. A trilha sonora de uma viagem pelo nordeste.

 

O plano era conhecer o São João de Campina Grande na sexta e no sábado e partir para Caruaru na segunda feira, ficar por ali dois ou três dias e seguir para Recife. Pedalando de Campina Grande em direção à divisa com o estado de Pernambuco percebi que a situação da bike não era nada boa. O desgaste já havia comprometido as peças da relação, ou seja, coroa, câmbio, corrente e catraca. Já não podia colocar as marchas mais pesadas e só podia contar com 10 das 21 marchas. Somou-se a isso o fato do terreno ser montanhoso, isto é, quando o jogo de marchas se faz mais necessário para um bom desempenho.

 

No segundo dia de pedalada, há alguns kms de Caruaru, o câmbio estorou de vez. Preocupou-me muito o fato de ter que trocar as peças, pelo custo que isso acarretaria como também pela qualidade das peças que seriam colocadas no lugar. Peguei uma carona e cheguei na cidade, indo procurar diretamente uma loja de peças. Caruaru é uma eterna concentração comercial. Existe uma feira que acontece às terças e quintas e que é uma loucura. Há uma feira ótima de artesanato e de frutas e legumes. A loja recomendada fica à beira do rio Ipojuca, de frente pra grande feira. Procurei o dono da loja e expliquei a situação. Ele, muito prestativo, me garantiu a reposição das peças. 0800. Pediu que eu levasse a bike no mecânico para ele avaliar o estado da bike.

 

O mecânico deu uma olhadinha de 3 segundos e falou: "Tem que trocar tudo." Nada mais. Pensei: "Putz, o cara não vai me dar todas as peças novas... tô ferrado." Voltei na loja e falei para ele que precisava trocar toda a relação. Como era dia de feira, ele não pode me atender durante todo o dia. Já pensava a grana que teria que gastar. No fim da tarde, quando as coisas se acalmaram, ele me presentou com todas as peças novas! Não pude acreditar. Levei no mecânico e ele deixou minha bike nova, ainda aproveitei e troquei mais umas peças importantes, como o movimento central e o cubo traseiro, colocando peças de rolamento, o que proporcionou um desempenho bem melhor nas pedaladas.

 

Só me restava aproveitar o lindo São João de Caruaru, mais charmoso e melhor organizado que o de Campina Grande. A estadia de dois dias na cidade transformou-se em cinco, sendo cada noite muito bem desfrutada ao som do melhor forró pé-de-serra. De quebra, um lindo show de Alceu Valença me fez olhar para o céu e agradecer por estar ali no inesquecível sertão nordestino.

 

"Caruaru, nunca me esqueço de Caruaru. Se tô no norte, se tô no sul, nunca me esqueço de Caruaru." Já cantava o grande Gonzagão.... e como ele tinha razão!!!

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Caruaru fica numa região bem montanhosa do sertão pernambucano. A pedalada até Recife seria de dois dias e 134 km. Sair pedalando com a bike reformada foi ótimo! Agora podia render melhor e aproveitar os embalos das descidas com as marchas mais pesadas funcionando. Sai num sábado e cheguei no fim do dia na cidade de Gravatá, charmosa cidade famosa pelo friozinho de inverno.

 

Dormi em Gravatá ao som do São João que era festejado em frente à pousada onde fiquei. Barulheira. Levantei cedo, comi um açai e voltei pro pedal. Logo recebi de presente a descida da Serra das Russas. Nove quilômetros de puro prazer. O vento batendo forte e uma garoa gelada batendo na cara.

 

Pra chegar em Recife naquele dia tive que pedalar bastante pra estar lá no fim da tarde. Fui recebido por um amigo que fiz no Hospitality Club, site de hospedagens pelo mundo, e fui muito bem recebido em sua casa. Quando uma família, como a de Tony, abre as portas de suas casas para me hospedar me enche de satisfação e realmente fico sem saber como retribuir tal gesto. A solidariedade que venho encontrando no caminho te me enchido de esperança de que ainda existe forte o sentimento de que afinal somos todos irmãos.

 

Recife é uma cidade encantadora. Há algo de único em suas formas e no astral que preenche suas ruas e pontes. Possui também uma cena artística bem marcante, preenchida da forte cultura pernambucana que se destaca com sua riqueza e exuberância. Pernambuco é um estado bem distinto. Passei 10 dias na cidade conhecendo e conhecendo.

 

Tinha que mover-me e voltar ao pedal. Próxima parada: Porto de Galinhas. Sai da cidade com o tempo bem fechado. Passei pela orla de Boa Viagem e segui na direção sul. Passando pela Ponte dos Carvalhos ouvi um estalo e a roda da minha bicicleta travou. Nunca tinha visto nada igual. O câmbio traseiro simplesmente deu um nó. O mesmo câmbio que o cara de Caruaru tinha acabado de me dar. A primeira coisa que pensei foi em voltar pra Recife pra fazer o reparo. Já tinha andado mais de 20 kms. Liguei para o Tony e ouvi o que precisava. "Vá em frente, não volte." Por acaso passaram uns caras por mim e indicaram uma oficina logo ali perto. Substitui meu câmbio traseiro por um de R$5,00!!! Nem sabia que existiam câmbios de R$5,00.

 

Segui em frente por rodovias muito lindas com muitas plantações, principalmente de cana. Cheguei em Porto de Galinhas ainda antes das 4 da tarde. Porto é um grande centro turístico. Famosa pelas piscinas naturais que se formam na maré baixa a alguns metros da praia. Eu previa ficar uns 3 ou 4 dias pra explorar bem a região. Mas eu não podia imaginar o que me esperava...

 

No segundo dia acordei me sentindo muito mal. O corpo doendo, mal-estar, dor de cabeça e princípio de febre. Fiquei o dia inteiro de repouso. No dia seguinte acordei um pouco melhor mas no fim do dia já estava mal de novo. Não me sentia com gripe porque não tossia nem espirrava, minha garganta também estava normal. No terceiro dia procurei o posto de saúde e comecei a tomar medicamentos. Eu já sabia o que era: dengue.

 

Dor pelo corpo, febre alta, irritação na pele, falta de apetite... O dia inteiro na cama vendo TV, por quase duas semanas, esse é o relato de Porto de Galinhas. Assistindo um episódio das novelas saquei toda a trama e virei um noveleiro. Ah, também tinha a Copa pra me distrair. Tive muita sorte de conhecer pessoas que me ajudaram e diminuiram bastante o sofrimento da situação.

 

O cronograma atrasou bastante e eu perdi o condicionamento que tinha adquirido nas pedaladas. Perdi quilos importantes e estava fraco. Tem horas que estou bem e a bike ruim, outros a bike ruim e eu bom... agora que a bike estava boa eu tinha que superar o declínio e voltar à boa forma. Ainda não estava pronto para pedalar então optei por sair dali de ônibus mesmo e ir até Maceió.

 

Viva Zapata! Viva Sandino! Viva Zumbi! Antonio Conselheiro! Todos os Panteras Negras! Lampião, sua imagem e semelhança. Eu tenho certeza, eles também pedalaram um dia!

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Em Maceió conheci o Renato, ciclista veterano que já pedalou até São Paulo e Fortaleza e, com 70 anos, foi de bicicleta até o Rio de Janeiro. Uma salva de palmas para o Renato! Um jovem, um exemplo, um campeão. Ele me arrumou um alojamento no estádio Rei Pelé, onde dormi três noites e aproveitei para conhecer um pouco da tranquila cidade.

 

Preparei-me pra voltar à ativa depois de duas semanas sem pedalar e enfraquecido devido à dengue. Sai de Maceió rumo à Aracaju e tive o pneu furado logo na saída da cidade. Aproveitei e troquei já que estava mesmo precisando há muito tempo. De quebra, a mãe do dono da oficina me ofereceu um delicioso almoço. Nada mal. Continuei pela estrada passando pelas praias do Francês, Barra de São Miguel e dai encarei uma estrada toda cheia de subidas e descidas que seguia paralela à praia da Lagoa Azeda. Que sufoco aquela estrada. Vinte e dois quilômetros com chuva e um sobe e desce sem fim.

 

A estrada terminou em Jequiá da Praia e já era hora de procurar um lugar pra dormir. Achei uma simpática e arrumada pousada chamada Thiêta do Agreste. Quanta chiqueza! R$10 por uma noite tranquila. Na manhã seguinte comi um cuscuz na esquina e montei na bicicleta. Passei por Coruripe e Feliz Deserto até chegar em Piaçabuçu numa pedalada muito prazerosa, apesar das dores que estava sentindo devido à falta de ritmo. A cidade já era na beira do Rio São Franscisco, divisa entre os estados de Alagoas e Sergipe. Dormi por ali para no dia seguinte logo cedo sair em direção à Penedo, pitoresca cidade que preserva muitas construções coloniais e simpáticas igrejas. Lá utilizei uma balsa pra cruzar o rio da integração brasileira, um lindo símbolo, ícone histórico de um povo trabalhador.

 

Já estava em Sergipe, penúltimo estado da Expedição Redescobrir. Depois de encarar a segunda maior subida do Brasil ganhei uma linda pedalada pelo platô de Neópolis. Linda paisagem numa estrada cercada dos dois lados por cana-de-açúcar. A produção de álcool na região é muito importante e as usinas são grande fonte de emprego. Segui passando por Japoatã até chegar na BR-101, pela primeira vez na viagem pedalava pela estrada que liga o nordeste e o sul do Brasil percorrendo quase todo o litoral. Péssimo. Isso representou um fluxo intenso de caminhões que aumentava o risco de pedalar, já que muitas vezes o acostamento não possibilitava um pedal tranquilo.

 

No dia seguinte de tarde já estava em Aracaju, a nona capital que conheci na jornada. A recepção não deixou nada a dever às outras que tive na viagem e mais uma vez fui surpreendido pela solidariedade humana.

 

Agora já tenho a sensação de que a viagem vai se encerrando, deixando dois sentimentos distintos. Primeiro a satisfação do dever cumprido, de que meus sonhos se concretizaram de uma forma poética e consistente. Por outro lado, percebo que vou sentir falta destes dias em que estive desfrutando da verdadeira, e viciante, liberdade.

 

Salvador me aguarda.

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Suor e lágrimas, sorrisos e dor. Chuva e sol, felicidade e melancolia. Planejamento e acaso, sossego e agonia. Confiança e dúvida, novos amigos e solidão. Dia após dia, quilômetro por quilômetro, o caminho trilhado até chegar em Salvador, mais que tudo, valeu a pena.

 

Foram exatamente 6 meses, do dia 24 de janeiro ao dia 24 de julho, cruzando 12 estados e redescobrindo as nuâncias deste Brasil que é, fundamentalmente, múltiplo. Interiores de pessoas muito sábias em suas simplicidades e capitais que fundem o caos urbano e formidáveis heranças culturais.

 

Para completar a viagem, pedalei de Aracaju até Salvador em 5 dias, cruzando toda a extensão da belíssima Linha Verde, rodovia que serve de opção à BR-101 e corre mais rente ao litoral. Pra quem esperava moleza, se deu mal. A Linha Verde vendeu caro a conquista de suas subidas e descidas, sequer haviam trechos planos, a não ser no último dia, depois que passei pela Praia do Forte.

 

Para minha surpresa, na primeira noite, ainda no estado de Sergipe, quando cheguei à simpática cidade de Estância, fui reconhecido por uma garota que havia visto a entrevista que fizeram comigo na TV. Um acontecimento inesperado, ela só disse: "- Te vi na TV, queria muito te conhecer!" Não tive reação, algo simplesmente inusitado e inédito para mim. De alguma forma aquilo me encheu de entusiasmo pelo trabalho que vim realizando.

 

Cruzei a última divisa e cheguei no último estado desta expediçao. Agora as placas marcavam a derradeira quilometragem. Salvador ficava cada vez mais próximo, 315 km, 275 km, 231 km, 174 km... 55km, 10 km, 1 km...

 

Quando escureceu na terceira noite, estava no meio da estrada e tinha que chegar em Sauípe. Não enxergava nada e ainda meu pneu furou. Segui pelo faro até encontrar a pequena vila. Perguntei por hospedagem e logo disseram que ali não havia nada do gênero. Mas informaram: "- Pode acampar ai na praça mesmo, ali ninguém lhe bole." Me ofereceram um bom banho e um espaço para guardar a bicicleta de noite. Comi um belo PF e fiquei conversando com as crianças que estavam por ali e que logo viraram bons amigos, muito prestativos e cheios de histórias engraçadas, sem falar nos apelidos: Esmeralda, Pé-duro, Pato Roco, Carro Véio, Sariguê, Limão e Pum. O pai de um deles me ofereceu o espaço que havia em sua garagem e passei a noite por ali.

 

A última parada, escolhida ao acaso no mapa, foi Arembepe. Conhecida pela linda praia e pela Aldeia Hippie que sobrevive aos anos com algumas casas e sem luz elétrica. Conheci pessoas muito legais e uma garota especial: Vitoria, o mesmo nome que usei para batizar minha bike. Dali restava muito pouco para Salvador e, devido à chuva que caiu, passei duas noites numa cabana.

 

Bem-vindo à Salvador! Finalmente, aquele lugar que por tanto tempo ficou tão distante estava lá, sob meus pés. Difícil explicar a sensação por este objetivo cumprido. Relembrava cada momento que passei nestes meses e sentia uma enorme vontade de continuar rodando, tive a certeza de que a viagem não pararia ali. Mesmo que tenha minhas obrigações a fazer, coisas para realizar onde moro, logo voltarei à estrada, onde descobri uma sala de aula dura, porém recompensadora.

 

Mais que tudo, ali em Salvador, sentado assistindo o pôr-do-sol no Farol da Barra, tive uma certeza. Não importava estar ali. O que importou mesmo foi cada ação ao longo do caminho.

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A EXPEDIÇÃO REDESCOBRIR teve o patrocínio da VZAN (www.vzan.com.br) e apoio de MOCHILABRASIL e AZTEQ.

 

Agradeço a todos que de alguma forma ajudaram.

 

OBRIGADO!

 

VZAN

Silnei e Claúdia (MochilaBrasil)

Augusto (Mundo Terra)

Point 700

Minha mãe e meu irmão

Os Editores do Mochileiros.com

Andressa

Dete

Vitor e Rafa

Tia Inéia

Todos os irmãos e irmãs

Rosana Aranha Figueiredo

Nick e Negão

Claúdia - Trilha e Cia

Aventura.com

Adilson Koyzumi

Edson Ferracini e Rodrigo

Rafael (Lan house/Porto Velho)

Liliane (Diário da Amazônia/Porto Velho)

Seu Wilson (Barco Dois Irmãos)

Walter Furikuri e família (Manaus)

Marcos Tupi (Trajetoria/Manaus)

Lane (Manaus)

Rodrigo-Amigo do Walter (Manaus)

Tainá (Porto Alegre)

André-Amigo da Tainá (Manaus)

Mestre Moacir (Manaus)

James - Terra Preta (Manaus)

Manuela (Correio Amazonense/Manaus)

Maigua e Luis (Abra144)

César - irmão do Walter (pelo tripé/Manaus)

Márcia (Projeto Peixe-Boi-INPA/Manaus)

Filipe (Insetos-INPA/Manaus)

Leonor (IPA/Manaus)

Marcelo Paes e família (Belém)

Sérgio Batista: Rita, Cidália, Cidalinha, Cirlândia, Jonathan e Gabriel (Belém)

Eart/Iguana (Belém): Silvio, Durval, Daniel, Lôro, Dani, Junior, Cristine, Susane, Diego, Pacoval...

Fábio - Mecânico (Belém)

Henrique Beckmann e família (São Luis)

Comandante Coronel Pinheiro Filho-PMMA (São Luis)

Luis Senzala e Maiane (Acapus/São Luis)

Franklin (Hippie/São Luis)

Moisaniel (PM/São Luis)

Paulão (Jornal Pequeno/São Luis)

Dona Antonia (Reviver/São Luis)

Dona Maria de Jesus, Ribamar e família (Travosa)

Viviane Medeiros (TV Mirante/São Luis)

Luis da biologia (São Luis)

Léo e Mão (Barreirinhas)

Karen Cristina e Elenilton (Barreirinhas)

Thiago (Restaurante do Carlão/Barreirinhas)

Marcos (Pousada Jagatá/Tutóia)

Clayce e Clayton (Parnaíba)

Franklin (FC Peças/Chaval)

Valdo e Beto (Pousada Tirol/Jeri)

Papagaio e Tatu-Bola

Aneeka, Katarin, Cristin, Zeta, Nick, Sara, Nigel, Sharon, Noam, Adenda...

Nadia e Liroy

Cassiano (Cyber Cachaça/Jeri)

Terremoto (Chile)

Luis Torres e Vera (Jijoca)

Galera da Barra das Moitas

Adonias (Companhia dos Pescadores/Caetanos)

Eduardo (Cia Aventura/Fortaleza)

AABB (Fortaleza)

Leandro e família (Canoa Quebrada)

Nonato (PRF-Aracati)

Henrique (Albergue da Costa/Natal)

Rapa Nui (Natal)

Elias-Londrina (Pipa)

Marilia (Aconchego/Pipa)

Armando-Tartarugas (Pipa)

Anderson (Ibama/Brasilia)

Seu Tico, Maciel e Nazaré (Pedra da Boca)

Cláudio Siddhananda-Recife (Campina Grande)

Sandro (Santa Cruz do Capibaribe)

Álvaro (LTG Peças/Caruaru)

Manoel (Pousada Caruaru)

Fábio-Self Service do Ferreira (Caruaru)

Hare (São João de Caruaru)

Tony e família (Recife)

Jayme (Recife)

Rui Marçal (Recife)

Jurema e Luciene (Canto do Mar/Porto de Galinhas)

Alberto, Ana e Ivonete (Albergue do Alberto)

Dra. Monalisa (Pref. de Ipojuca)

Renato (Maceió)

SEEL-Estádio Rei Pelé (Maceió)

Márcia Cruz-Conexão Nordeste (Aracaju)

Adriana (Aracaju)

Samuel e Júnior (Sauípe)

Pé Duro, Carro Velho, Esmeralda e Geu (Sauipe)

Mário e Cava (Aldeia Hippie de Arembepe)

Luis-triatleta (Itapuã)

Mariana, Beatriz e família (Salvador)

Cadu (Jardim Brasil/Salvador)

Vanessa-NasAlturas (Lençóis)

Egberto

Adilson (Vale do Capão)

Júlio e Dayse (Salvador)

Robério (Lendas do Capão)

Folha de Londrina

Gravidade Zero

Marina Casagrande

 

e toda pessoa que eu tenha encontrado, conversado e esquecido.

  • 3 anos depois...
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Por gentileza...

 

passagem de barco

Porto Velho >>>>> Manuas = R$80,00 e quanto tempo de viagem por gentileza???

Atenciosamente...

é tão difícil conseguir informações dessas regiões

pra mim é muito importante para planejar a próxima viagem...

  • 1 mês depois...
  • 1 mês depois...
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QUERO CHEGAR A BOCA DO ACRE ,PARTINDO DE VISCONDE DE MAUA .E A PRIMEIRA EXPEDIÇAO MINHA DE BIKE .COMO FAÇO PARA TRAÇAR AS ROTAS .TERA UM SIMULADOR DE ROTAS ,QUE DESCONHEÇO...JA MANDEI MAIL PARA AS SECRETARIAS DE TURISMOS DOS ESTADOS QUE VOU ATRAVESSAR E ATE AGORA NADA DE RESPOSTA.QUANTOS KM DA PÁRA FAZER EM UM DIA . ESTOU NA FAZE DO SONHAR ,MAIS HEI DE REALIZAR .QUERO CHEGAR PARA UM ENCONTRO EM JUNHO A 9HORAS DE VOADEIRA DE BOCA SAO 3850KM MAIS OU MENOS ,SERA EM QUANTOS DIAS QUE GASTO ,ESSAS PREGUNTAS .QUE VC QUE LER, PODENDO AJUDAR ? AGRADEÇO ,NO AGUARDO E ABRAÇO.....

  • 11 meses depois...
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Sou novo no fórum me cadastrei hoje, mas essa viagem foi sensacional parabéns aos dois que fizeram esse longo trajeto, a coragem, força de vontade... Realmente são vencedores, n sei se teria coragem de fazer uma viagem destas, mas da muita vontade... Você soube detalhar cada trajeto... Novamente parabéns...

Abraços

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