Membros de Honra payakah Postado Outubro 31, 2010 Autor Membros de Honra Postado Outubro 31, 2010 Esse era o dia de mais um grande objetivo da viagem ser comprido. Havia reservado um passeio para fazer rafting no pé da cordilheira e acordei ancioso naquela manhã. Tomei café e aproveitei o tempo para acessar a internet e enviar algumas fotos. Guardei as garrafas de vinho e arrumei a mochila no armário de forma bem cuidadosa, afinal de contas minha curta jornada em Mendoza estava chegando ao fim, aquele seria o último dia em terras Argentinas e na manhã seguinte estaria seguindo viagem para o Chile. Minha condução chegou, da mesma forma com o motorista e um guia, porém o espírito era outro. O motorista de intitulava “El pirata” pois andava com um lenço na cabeça, e o guia era bem descontraído. O grupo não era composto de jovens em sua maioria. Abaixo dos 30 anos apenas tinha eu e dois garotos de aspecto europeu. Todos os outros eram argentinos, mas a idade não era determinante no entusiasmo. Os portenhos compostos por 2 casais eram animados e de espírito jovem. Ao grupo também existia uma americana, de aspecto latino, que durante todo o percurso até o posto de esportes radicais estava lendo um livro de Jorge Amado, em inglês, cujo título não me recordo (creio ser capitães de areia). Durante a viagem uma lembrança péssima: eu havia esquecido o pen drive com o primeiro lote de fotos da viagem descarregada da maquina no computador – E se alguém levar o pen drive eu perderia todas as minhas primeiras fotos – Pensei desesperado. Nossa, como aquilo havia morgado de forma parcial minha ida aos Andes. Pensei o dia todo sobre aquilo mas procurei me tranqüilizar pois nada poderia ser feito até eu voltar e constatar o sumiço ou sua presença. Essa era uma das táticas que eu havia adotado para poder tirar fotos e mais fotos, além de fazer vídeos da viagem. Se por ventura perdesse a maquina, ou deletasse sem querer as fotos dela, teria o primeiro lote a salvo, porém esse primeiro lote agora estava em perigo pois o gerente de risco que mora na minha cabeça não havia mensurado esse risco. Ao longo do caminho, muitas risadas e entrosamento entre os portenhos e os guias, coisa que acabara de excluir parcialmente os demais, claro que de forma não intencional. O brasileiro em questão, os galegos de aspecto europeu e a americana com cara de latina ficavam apenas observando as conversas sem entender a fundo e rindo de forma simpatica e sociabilista. Por algum motivo eu não conseguia me expressar em espanhol, não sei se o sotaque me fazia entender menos ou algum outro fator, e o que havia sido motivo de maior abordagem social em Buenos Aires acabou se tornando motivo de exclusão em Mendoza. Porém voltei as origens dos primeiros dias da viagem fui me esforçando com a linguagem universal da mímica, tentando me fazer entender. Chegando na estação ao pé da cordilheira dos andes, o guia havia me dito que o passeio que eu desejava não haviam mais interessados, apenas eu. Havia optado por um rafting mais longo, de 3 horas de duração o qual um dus criterios que o guia se utilizava para me fazer desistir dessa aventura solitaria era de que exigir muito esforço físico, coisa que minha modéstia ignorava. Porém pelo mesmo preço eu poderia fazer o passeio mais curso, de 1 hora com os demais da turma, e um treeking pela montanha. Apos alguns portunhois e mímicas topei a empreitada, afinal de contas flexibilidade faz parte de um roteiro de viagem. O local era bem agradável e parecia ter saído de algum filme de aventura. O frio era forte na área e fazia algo em torno de 12 graus, sem falar que as águas do rio Mendoza, caudalosas e fruto do degelo das montanhas, estavam a 8 graus. O estúpido aqui foi de bermuda e botas e tremia até o tutano do osso. Aguardamos os preparativos, comi um sanduíche e desisti dos esforços de entender o que tanto os portenhos conversavam. Fui dar uma volta e tirar umas fotos, com a cabeça ainda no pen drive rezando para o santo protedor dos usuários de informática descuidados que protegesse meu pequeno datatraveler de pessoas inescrupulosas que talvez não soubessem o valor sentimental daquele pequeno item. Todos prontos, devidamente vestidos com as roupas especiais, hora de ir para o ponto de saída. Fomos além do acampamento, creio que uns 8 Km acima, um grupo de motoqueiros estilo americano passa por nós, além das montan has e do rio Mendoza para complementar a paisagem. Paramos em um ponto e avistamos ao longe 3 mamíferos da mesma família dos lhamas, mas me asseguraram que não eram lhamas apesar da forte semelhança. Recebemos as instruções e nos dividimos em dois botes. - Listos?? Adelante ??!!! Esse era o comando básico. Seguíamos remando forte para desviar das correntezas, depois parávamos e nos saudávamos com os remos. Uma pequena disputa era criada com o outro bote, para ver quem chegava primeiro, sem falar em que cada ultrapassagem era regada com água gelada do rio Mendoza nos oponentes. A paisagem era deslumbrante, A adrenalina alta o frio intenso, tanto que tive que trocar o remo de cabo de alumínio por um emborrachado, pois meus dedos estavam cadavericamente roxos. O medo de cair dentro do rio também era uma constante, apesar das instruções de segurança dadas, as águas ferozes do rio davam a entender que qualquer instrução de segurança seguida à risca seria inútil. No melhor do rafting o pior aconteceu: Com tanto esforço para as remadas senti um estralo intenso na coluna e uma dor na base dela, fruto da patologia que vinha se arrastando desde o último dia de Buenos Aires. Sentei no fundo do bote e sinalizei que estava com dor. Sensação duplamente horrível, a dor era grande e estava a perder meu rafting que por tanto tempo havia planejado. Esse sentimento de perda iminente e arrependimento posterior profundo me deram forças para ignorar as reclamações constantes do meu organismo e seguir. Sentei novamente na borda do bote e remei bastante, menosprezando as pontadas na coluna. Sempre em frente, ou “adelante”, remamos forte a favor da correnteza, desviando de pedras, redemoinhos e mesmo do outro bote. Por um momento o companheiro de bote logo a minha frente, em um momento muito voraz do rio, caiu nas águas geladas e um desespero instantâneo tomou conta de todos, principalmente dele. Logo apenas sentamos preocupados e buscamos refletir as normas de segurança para resgatá-lo, ele também teve essa consciência abrindo os braços e procurando boiar enquanto remávamos em sua direção – Não olhe para a luz – Gritava o instrutor, fazendo todos rirem e absorver um pouco de tranqüilidade dentro da situação. Resgatamo-lo e comemoramos muito, com o tradicional cumprimento com os remos para o alto. Chegamos exaustos de volta ao posto, felizes e animados, conversando muito sobre os eventos. Sentamos no bar da base para conversar um pouco, trocar de roupa e sair para o trekking. Boa parte da turma, exclusivamente os portenhos, participou da caminhada. Seguimos após alguns instantes a caminhada morro acima, por dentro de um duto de água e depois por entre vales e leitos de riacho seco, a coluna estava dura de tanta dor que ainda me acometia. Subimos um morro onde do alto se avistava a vastidão da cordilheira, o rio Mendoza, os trilhos do trem, a base de esportes radicais e a estrada que cruzava a cordilheira. O Pirata, sempre animado, falava coisas divertidas, por muitas horas não interpretáveis por mim, mas todos riam muito. No alto do morro uma conversa descontraída, sobre o que não sei, mas me esforçava para entender. Todos tomando mate, inclusive eu experimentei um pouco, me pareceu agradável mas estranho para um primeiro gole. Era uma coisa que se via com freqüência entre os portenhos e mesmo os mendocinos, todos adoravam mate, sempre levavam um pote com a erva, outro com açúcar e uma garrafa termina, que muito se vendia nas ruas de Buenos Aires e que em Recife só havia visto em lojas japonesas a preços triplamente maiores. A lógica do mate era simples: em terras frias, a bebida quente ajudava a regular a temperatura do corpo, além do gosto agradável para o paladar dos sul-americanos de terras frias. Existe o nosso Chimarrão, do sul do Brasil, que se não for a mesma bebida com um nome diferenciado, é um irmão americano de grande proximidade. Voltando para a base, o grupo conversava bastante até o momento do retorno. A relação entre a minha pessoa e os portenhos era estranha, pois senti que eles gostavam da minha presença, que parecia gostar das mesmas coisas que eles, mas que por divergências lingüísticas estava com dificuldade de se comunicar, por outro lado também tive a impressão que a queda do companheiro do bote ter sido ocasionada por mim, por uma remada mau sucedida, e que alguns olhares que interpretei como sendo de reprovação me foram direcionados mas no geral gostei da alegria daquele grupo. Eram casais de idade média de 40 anos, mas com espírito jovem, que gostavam de viajar com suas esposas e maridos para fazer atividades diferenciadas da rotina de suas vidas as margens do rio da prata. Todos devidamente alojados na van, regresso para o hostel. Ainda a coluna doía e a preocupação com o pen drive também. Os casais estavam marcando de fazer um luau na base à noite, comprariam cervejas e combinaram com o Pirata para ir. Não me manifestei. Aqueles dias em Mendoza estavam sendo muito metódicos e estava com medo de perder o horário da viagem para o Chile no dia seguinte. Creio ter perdido uma boa festa, uma boa oportunidade de ter mais contato com aquele pessoal. Mas infelizmente nunca saberei. Chegando no Hostel, hora de arrumar as malas. Algumas roupas que não secaram foram ensacadas para não molhar as demais e o banho que ainda não tomara iria esperar para o Chile. Haviam algumas pessoas no hostel e sentei com elas para conversar, ainda não tivera contato com elas e pelo visto eram exatamente como eu imaginada: peregrinos que apenas estavam de passagem e não curtia atividades capitalistas como sair para bares e boates. A Mariana e o German desceram e ofereci um dos vinhos para eles como forma de despedida. Tomamos eu e a Mariana, o German nos acompanhou na conversa. Foi meio triste, mas o vinho afogava as mágoas. Me despedi dos amigos Neuquenses e já mentalizando futuras viagem ao sul da argentina no futuro para rever os colegas. A Mariana era dançarina e tinha se interessado pelo Forró, que eu falara e mostrei em alguns vídeos do youtube. E o pen drive??? Ahhh, ele estava lá no computador quando tinha chegado do Rafting. Felicidade plena e agora teria que dormir para chegar cedo a estação de ônibus e ir para mais uma cidade, ou melhor, para um novo pais: o Chile. Citar
Membros de Honra payakah Postado Outubro 31, 2010 Autor Membros de Honra Postado Outubro 31, 2010 Acordei ainda de madrugada, o sol nem havia nascido e eu com todo o cuidado do mundo tirava minhas coisas devidamente arrumadas do quarto para a sala, em silêncio e sob a luz do display do celular para não acordar os demais companheiros de quarto. Tomei café e pedi um taxi, paguei as contas e ainda cumprimentei o German que acordara cedo para ir ao banheiro. Mendoza iria deixar saudades, mas também frustrações, grande parte delas de minha inteira responsabilidade. Um sentimento de comodismo não me fez buscar mais diversão, talvez motivado pelo peso da grana que gastara em Buenos Aires, a falta de pessoas que gostavam realmente de se divertir e a calmaria da cidade refletida nas siestas diárias justamente nos horários em que eu preferia caminhar pela cidade... Bem, creio que esse sentimento não terminaria com Mendoza mas novos horizontes estavam por vir e eram neles que minha mente estava focado agora. Comprei a passagem e entrei no ônibus sob o céu laranja do amanhecer. Poderia ter viajado pela madrugada, 7 horas de ônibus saindo na calada da noite poderiam me economizar uma diária e a experiência bem sucedida entre Buenos Aires e Mendoza serviriam de motivação. Porém, outras aspirações me fizeram optar por perder metade de um dia dentro de um ônibus. Das muitas dicas de viagem que havia coletado, uma delas falava sobre a vista fantástica de cruzar os Andes dentro de um ônibus, ou carro, e essa vista seria difícil durante da madrugada valendo assim uma travessia diurna pela estrada. Seu início me era familiar, fora o caminho até a base do Rios Andinos, empresa de rafting no dia anterior e inclusive passei por ela. Houve um acidente na estrada, logo no começo, que fez a viagem aumentar em 1 hora. Dois policiais mortos em uma perda de rumo na estrada que terminara com a viatura destruída no acostamento – Triste - Estava eu de pé vendo o movimento de viaturas e carros passando e o ônibus parado na estrada. O frio dos Andes naquela hora da manhã era grande e a neblina intensa. Seguida a viagem, terreno montanhoso e muitas curvas, descidas e subidas, por muitas vezes em zigue zague, não tirava os olhos da paisagem, montanhas gigantescas que pareciam não ter fim. Como minha fiel companheira de colo estava o vinho de 90 pesos como bagagem de mão para evitar surpresas de maleiros descuidados. O tempo passava rápido, a paisagem me entretia, era deslumbrante a vista dos Andes de dentro dos Andes. Estações de esqui desativadas no verão, estações de eletricidade, linha de trem, influências antrópicas eram inevitáveis naquela natureza gigantesca. E quem imagina que natureza eram só arvores e cachoeiras concluía que também existe beleza natural em meio a pedras e gelo. Parando na Alfândega chilena, o clima super frio do lado de fora do ônibus enquanto aguardávamos autorização para entrar informava que eu havia escolhido roupas inadequadas para a viagem. A alfândega era uma estrutura com um grande portão que criava um ambiente agradável internamente, deixando do lado de fora o frio que ainda estava longe de ser um verdadeiro frio de inverno, a neve era vista apenas distante, no topo das montanhas, algumas caindo lá de cima derretendo com o crescente calor do dia que surgia. Mas a frieza não só vinha das gélidas montanhas, como também do interior dos guardas. Demora, troca de cartão de imigração, instruções sobre alimentos que não poderiam entrar no Chile, contrabando, coisas do tipo. As malas foram retiradas para passar pelo raio X e cães farejadores vasculhavam nossas mochilas em busca de artefatos ilegais, tudo isso sob olhares cerrados, autoritários e julgosos. Depois de tanto tempo seguimos viagem, já em solo chileno, percorrendo o restante dos Andes que ainda estavam à frente, aos poucos surgiam vilarejos e casas de veraneio. As montanhas iam ficando para trás e a expectativa da chegada a Santiago era grande, mas muito chão ainda vinha pela frente. A graça de toda viagem já passara e agora circular entre conjuntos habitacionais e áreas industriais estava enfadonho. Não pude distinguir o momento exato, mas um determinado momento percebi que já estava em Santiago do Chile, chegando à estação de ônibus e na expectativa de pisar em solo chileno pela primeira vez. Na estação peguei a mochila e dei algumas voltas, as vezes passava pelo mesmo lugar, como se estivesse fazendo um reconhecimento de campo, ou mesmo vendo como a dinâmica daquela nova cidade funcionava. Estava com medo de pegar um taxi, pois todas as coisas que ouvira sobre os taxistas chilenos falavam de sua malandragem. Às vezes as pessoas perguntavam se eu precisava de ajuda, eu negava não dando muita atenção. Logo identifiquei como chegar ao hostel pelo metro, que tinha uma estação bem perto. A propósito o metrô de Santiago é algo que merece destaque e essa opinião não é apenas minha. O metrô de Santiago é limpo, organizado, pontual, abrange toda a cidade e, assim como toda a rede de transporte da cidade, é impecável. Grandes avenidas bem sinalizadas, com faixas de ônibus exclusivas que também eram organizados e limpos, e o metrô era agradabilíssimo de andar. Ao descer na estação Los Heroes, cheguei ao meu mais novo endereço: o Che Lagarto Santiago. Se hospedar em um Che lagarto dava desconto de 10% para se hospedar em outro e os preços do Che que já eram convidativos tornavam a estadia mais econômica ainda. O novo Che lagarto em que estava era mais limpo e confortável do que o de Buenos Aires, sua área era mais ampla e possuíam serviços que não tinham no anterior como lavanderia e aluguel de toalha. Esse última de suma importância pois minha toalha estava molhada desde Mendoza por ter estendido a mesma e uma maldita chuva ter deixado ela mais encharcada do que antes. E por falar em toalha eu realmente precisava de um bom banho e era isso que eu faria. A recepcionista super simpática e atenciosa mostrou-me todo o hostel, suas acomodações e salas, o quarto onde dormiria e os beliches de metal pesado que não rangiam quando alguém subia nele. A única desvantagem do hostel era a falta do Pub que tinha no de Buenos Aires, onde a possibilidade de interação com demais mochileiros era maior. De toalha alugada e mochila acomodada sobre a cama, vinhos devidamente arrumados principalmente o de 90 pesos que viajou em meus braços como uma criança de colo durante a travessia da cordilheira, agora era hora de um super banho. Banheiro grande, água morna e 1 hora de sabonete, xampu, tudo o que tinha direito inclusive abusar do tempo, coisas que os cartazes na parede pediam que não acontecesse. Meu pequeno sabonete já estava terminando e eu precisaria comprar mais. Abrindo um parênteses sobre esse sabonete, algumas táticas de viagem que tentei aplicar nessa não estavam dando certo em sua totalidade, uma delas era a meu kit de higiene pessoal altamente compacto. Tudo o que eu precisava para a viagem procurei reduzir ao máximo: escova de dentes pequena, sabonete de motel (2 unidades), shampu 2 em 1, também de motel, uma escova de cabelo daquelas que literalmente cabiam na palma da mão e um frasco de perfume de amostra grátis. Todo o kit estava atendendo aos requisitos de compatibilidade e usabilidade, exceto o mau dimensionamento da quantidade de sabonetes e o fato de ter ignorado um alicate de unha. Iniciar a viagem com as unhas devidamente cortadas, em meus planos, daria para viajar durante 16 dias e não me incomodar com elas, porém as mesmas já estavam medianamente grandes e a pele das pontas dos dedos grossa e incomodava muito, talvez o clima tenha contribuído para tal, mas aquilo me incomodava. Os sabonetes estavam no fim e pelo visto seria necessário comprar um novo. Dados estes serviriam para melhor dimensionar as próximas viagens. Após o grande banho desci para dar uma volta. Já era meio de tarde e não tinha muito que ver. Peguei um mapa que na verdade era uma fotocópia de um original no balcão do hostel e sai rua acima. A máquina necessitava urgente ser carregada mas a entrada da tomada do Chile é diferente da Argentina, logo teria que comprar um novo adaptador pois o de Buenos Aires agora não me servia de nada. Já havia marcado de encontrar com algumas pessoas de encontrar previamente durante minha estadia em Santiago e isso minimizava a sensação da dificuldade que teria em construir um novo ciclo de amizades. Uma delas era a Hilda, grande amiga minha de Natal que estava em Santiago a trabalho naquela semana. Outra era a Elaine que eu havia conhecido no Orkut na época das pesquisas da viagem e que estaria em Santiago na exata semana em que eu, vinda da Nova Zelândia e na seqüência iria para fortaleza, sua terra Natal. Por último o Cristian, o chileno de Buenos Aires, que disse a poucos dias do meu retorno que estaria em sua cidade no período em que eu estava por lá, e que poderíamos prolongar as farras da capital portenha em terras chilenas. Sai para usar uma lan house e fazer alguns contatos e encontrei a Elaine na internet, me dizendo que tinha chegado no hostel no horário marcado, mas que eu não estava lá. Pedi para ela voltar e, após alguns e-mails, voltei e me encontrei com ela. Aproveitamos a luz do sol, apesar de ser aproximadamente 18:00, fizemos um city tour relâmpago ainda perdido pela nova cidade, perdemos um certo tempo caminhando em direção oposta até acertar onde ficava a Plaza de las Armas. Na área central de Santiago ficavam a grande maioria das atrações urbanas da cidade. Museus, praças, área de convício social, enfim, uma boa caminhada já traduzia para os olhos e demais sentidos dos turistas toda a realidade social, cultural e profissional da cidade, bem como a dinâmica destes. Uma dezena de monumentos de importância histórica para a cidade de Santiago ficavam nessas redondezas, inclusive a sede do governo chileno, o Palácio de la Moneda que tem esse nome porque já foi a casa da moeda chilena mas agora é a sede do governo Chileno. Muitos militares nas ruas refletiam a recente ditadura chilena, que terminara em 1990 após 17 anos sobre a mão de ferro de Pinochet. Logo na seqüencia estava a Plaza de Las Armas, local de descarregamento de frutas e enforcamento de criminosos no passado, hoje abrigava diversas manifestações culturais, pintores, artistas de rua e simpáticos velhinhos jogando xadrez em uma espécie de associação onde qualquer um poderia disputar uma partida a um custo que não me recordo no momento. Uma apresentação de luta oriental, grupo musical indígena eram algumas das manifestações do cotidiano Santiaguense. O entorno da praça abrigava diversos prédios importantes da cidade, como a prefeitura, a catedral metropolitana, correio central e museu histórico nacional. A mais interessante, e porque não perigosa, característica das ruas nessas redondezas é a falta de meio fio, fazendo com que passagem de pedestres e calçadas fiquem no mesmo plano, fazendo com que desorientados corram o risco de serem atropelados. Entramos em uma igreja mais afastada e tiramos algumas fotos. Seguimos na esperança de conhecer o mercado municipal de Santiago, muito citado nas minhas pesquisas, mas que infelizmente já estava fechado porém comemos um tradicional empanada, típico pastel chileno cujo recheio era bem mais generoso do que o famoso pastel de vento brasileiro. Haviam de vários sabores, queijo, carne, frango e até mesmo marisco. A venda onde comemos a empanada lembrava em muito das bodegas do Recife, vendia todo tipo de gêneros alimentícios, bebidas e comidas de botequins. O dono, bem como os freqüentadores, muito simpáticos e curiosos sobre nossas origens brasileiras, logo nos orientavam sobre assaltos e demais cuidados em terras chilenas. Fomos mais atrás do mercado e vimos algo que parecia ser uma estação de trem abandonada e, ao longe, o Morro Santa Lucia. Seguimos de volta ao Hostel por outra rua e paramos em um supermercado para comprar coisas. Um novo sabonete era fundamental para corrigir meu mau dimensionamento dos sabonetinhos trazidos do Brasil. Garrafão de água para me sustentar nos próximos 5 dias, macarrão... algumas coisas básicas e a Elaine comprou coisas que também lhe interessavam. Como o Che lagarto ficava no caminho do Hostel da Elaine, nos despedimos na porta deste e combinamos o roteiro do dia seguinte, bem como dois demais dias. Cheguei ao hostel, cansado e pronto para cair na cama. Havia um atendente no hostel chamado Luah que era brasileiro e DJ, super gente fina e de boa conversa, fiquei trocando uma idéia com ele e mais duas pessoas antes de me deitar, uma delas uma argentina cujo nome não lembro mas que estava na cidade para ir a um casamento da família, cujos pais iriam chegar no dia seguinte e estava na capital chilena por antecipação para aproveitar mais. Cansado, fui a cama, era o melhor a se fazer. Citar
Membros de Honra payakah Postado Outubro 31, 2010 Autor Membros de Honra Postado Outubro 31, 2010 Acordei cedo para aguardar Elaine e seguirmos nosso roteiro naquele dia. Havia também combinado para ir com a Hilda, mas por algum motivo que não lembro, ela não pode ir. Marcamos no próprio Che lagarto e seguimos de metrô para o bairro Bellavista, ponto pouco mais distante onde se encontrava um punhado de atrações que iríamos visitar naquele dia. O primeiro ponto de parada foi o Morro (ou “Cerro”, em espanhol) San Cristóbal, segundo ponto mais alto da cidade e também o parque municipal. Nesse “complexo” esta localizado o zoológico de Santiago, um anfiteatro e um santuário. O caminho da subida poderia ser feito a pé, mas o meio de transporte mais usual (e mais racional, a não ser que você seja um triatleta) é o funicular, espécie de trenzinho em forma de escada. Mas antes providenciei e comprar um suvenier de meu particular interesse: um gorro de frio do tipo que se usa nos Andes. Não me pergunte porque mas sempre quis ter um desses. Logo de cara se vê porque uma subida a pé seria insana. O simpático funicular sobe muito até chegar a ultima estação. No caminho para quem quiser descer tem o zoológico em um nível mais intermediário, porém somente o cume interessa (fiz esse trocadilho intensional). Eu e Elaine ainda caminhamos um bocado para subir, tiramos algumas fotos e tivemos uma ótima idéia: cada um ficaria de posse da máquina do outro, tirando fotos do parceiro evitando o famoso: “eita, toma a minha máquina e tira uma foto minha aqui”, isso nos rendeu muito tempo e muitas fotos um do outro. Creio que foi a fase da viagem que mais tirei fotos minhas, ou melhor, tiraram, no caso a Elaine. A vista da cidade era fantástica, seria melhor se não fosse a intensa nuvem de poluição que cobre a cidade de Santiago. A vista dos Andes se resume a uma silueta longínqua e que por muitas vezes depende da imaginação do observador. No ponto mais alto havia uma estátua da virgem Maria, grande e saudosa, enchia os olhos que quem chegava. Tiramos milhares de fotos, sentamos um pouco para conversar e apreciar a paisagem. Pelo menos nesse trecho da viagem eu tinha uma espécie de dupla para conversar, diferente de outras vezes onde eu pertencia a um grupo, companhias esporádicas ou mesmo sozinho planejando meus trajetos. E a vantagem fotográfica que a Elaine trazia eram grandes, eu detestava tirar fotos apenas do ambiente, gostava de protagonizar as fotos de preferência bem naturalmente como em várias que foram tiradas e a Elaine era boa nisso. A Elaine era uma pessoa bem tranqüila, havia trabalhado na Nova Zelândia por algum tempo e tinha inclusive deixado um namorado lá a sua espera. De fala mansa, estava indo de volta para fortaleza onde residia sua família, para aguardar novos trabalhos no exterior, possivelmente na nova Zelândia ou em outros lugares. Cogitou inclusive de ir trabalhar em algum cruzeiro, mas ainda estava por decidir. Não falava espanhol mas eu sempre a auxiliava nesse ponto. Sua tranqüilidade por vezes parecia incoveniente com minhas constantes brincadeiras e jeito falastrão de falar da minha vida, mas logo vi que não se tratava disso por vezes rindo e ouvindo atentamente o que eu falava e fazia. Descemos a uma loja de artigos religiosos e pensei em comprar alguma lembrança para a minha mãe, tanto pela religiosidade dela quanto da minha falecida avó, cujo suvenier poderia trazer conforto espiritual naquele momento difícil que a família atravessava. A Elaine também era bastante religiosa e comprou diversas imagens, inclusive perguntou ao vendedor se um padre poderia benzê-las. Achei que ouviria uma negativa ou desculpa seguida de olhar de desdém, mas o vendedor foi bastante solicito e chamou via rádio o diácono do santuário para vir atender a solicitação da minha amiga. Conversamos um pouco sobre nossos países e descobri que o Chile tinha 2 santos reconhecidos pela igreja, fato que trouxe certo ar de brincadeira e alegria para o clima da conversa pois o vendedor disse que a maioria dos brasileiros o frustram dizendo sempre que o Brasil é o maior, melhor ou que tem mais em todos os aspectos que o Chile, e agora ele sabia que o Chile tinha mais santos que o Brasil e poderia brincar com essa informação para com os demais turistas brasileiros vindouros. O diácono chegou, também muito simpático, e abençoou as imagens. Agradecemos e seguimos nosso rumo em direção a mais uma atração das redondezas. Descemos do funicular e buscamos logo nos informar de como chegar na “La Chascona”, uma das três casas do poeta maior chileno, Pablo Neruda, que agora se tornara um museu em memória ao poeta, bem como as demais que ficam em Valparaiso e Isla Negra, todas sob a administração da Fundação Neruda. Pablo Neruda é considerado um dos poetas mais influentes do mundo. Premio Nobel de literatura de 1974, participou do partido comunista e foi duramente perseguido pela direita, motivo pelo qual foi exilado e, com a ascenção de Augusto Pinochet após o golpe militar, teve essa casa saqueada e diversos livros queimados. A “La Chascona” foi construída para abrigar os encontros amorosos de Pablo Neruda e Matilde, inicialmente amante e posterior esposa fruto de um casamento não reconhecido tendo em vista que o poeta ainda era casado aos olhos da lei. A casa é grande, bem diferente das tradicionais que conhecemos. Com várias divisórias, área verde e uma parte interna com teto baixo, estadas, janelinhas e piso inclinado, tudo isso para imitar a parte interna de um barco cujo mar era uma das grandes paixões de Pablo. Fizemos uma visita guiada em espanhol pela casa, onde conhecemos todos esse detalhes, bem como alguns outros: a medalha do premio Nobel, manuscritos do poeta, sua coleção de copos coloridos, um armário que esconde uma passagem secreta... ver todos os detalhes e sutilezas da casa traduziam a vida e obra do poeta chileno, seus pensamentos e sua história. Saímos com as mentes cheia de novidades e pensativos de quanta coisa legal existe aqui do lado, no nosso continente, e não enxergamos. Bem perto da "La Chascona", fomos para uma parte do roteiro de sugestão da Elaine, um restaurante chamado “Como água para chocolate”. O nome não fazia sentido para mim, mas o restaurante era muito belo. O local era bastante exótico, lembrava um estabelecimento oriental, videiras pelos corrimões das escadas, cores avermelhadas, local de aspecto rústico mas proposital e de muito bom gosto, um restaurante ideal para levar a namorada, esposa ou companheira, o que não era meu caso com a Elaine. Conversamos bastante e comemos nossos pratos individuais, muito deliciosos por sinal. Terminamos a refeição e concluímos nosso passeio, voltando para as redondezas dos nossos hostels na esperança de pegar o mercado de Santiago aberto. Tomamos um metrô e seguimos caminhando, aproveitamos para visitar algumas igrejas próximas que estavam abertas. Visitamos a Igreja de São Francisco, a mais antiga igreja de Santiago, abriga a imagem da Virgem Maria, trazida do Perú para o Chile no início do século XVI pelo explorador Pedro de Valdivia, integrante da primeira expedição espanhola à região. Também exploramos melhor a catedral metropolitana e apreciamos seus adornos e suas imagens. A oportunidade serviu para finalmente saber quem eram os dois santos chilenos citados pelo vendedor da loja de artigos religiosos: a Santa Tereza de los Andes e Alberto Furtado, cujas imagens estavam em uma das igrejas. Também vi um confesionário, coisa que a tempos não via, e algum fiel delatando seus pecados para o padre em busca de perdão. Nas proximidades do hostel existam algumas igrejas, todas majestosas cujo porte refletindo a religiosidade dos chilenos. Seguimos em direção do mercado e como sempre participar do cotidiano da cidade de Santiago era uma atração à parte. Fora os tradicionais artistas de rua que já eram praxe, haviam grupos de estudantes recém-ingressos na faculdade pedindo dinheiro para algum fim, creio que a festa de calouros. Detalhe: todos estavam sujos de farinha, ovos e qualquer porqueira, além de estar com as roupas rasgadas e maltrapilhas, fruto de trote. Havia visto alguns logo que desembarquei em Santiago, mas dia após dia sempre os encontrava. Outra atração que vale a pena ser citada era uma banda chamada “Fuga” que estava tocando na rua. Justamente na hora em que estávamos passando eles estavam tocando, em espanhol claro, “Amigo” de Roberto Carlos. Parei para escutar e comprei um CD. Finalmente chegamos ao mercado e ele estava aberto, ou melhor, fechando. Conseguimos entrar e observar seu interior. Interessante como qualquer mercado público do mundo parece igual, o mercado de São José em Recife é muito semelhante ao de Santiago, por exemplo. Estrutura de ferro, feirantes disputando no grito os clientes e sujeira básica. Haviam alguns restaurantes em seu interior e escolhemos um deles que ainda estava aberto para experimentar os frutos do mar tão falados do Chile. A vasta costa marinha chilena dava a este país uma forte tradição pesqueira. Seus frutos do mar são muito famosos e os pescados do Pacífico são bem diferentes dos nossos do Atlântico. Pedimos um ensopado que mais lembrava uma sinfonia marítima, com peixe, mariscos e outros seres que visualmente eram difíceis de distinguir, e talvez fosse realmente interessante não saber a procedência para não criar um bloqueio mental. O ensopado estava uma delícia, mas essa escolha não teve nosso mérito. O garçom muito simpático e conversador, nos fez essa sugestão unanimemente aprovada e seu bom papo complementava uma refeição super agradável. Saímos do mercado e me despedi de Elaine, porém ainda estava disposto a caminhar mais, pois o sol estava reluzente no céu. A propósito caminhar viria a se tornar uma atividade muito prazerosa em Santiago e toda a dinâmica social da cidade era um ótimo atrativo. Voltando pela Plaza de Las Armas, havia muita gente reunida na frente da Catedral Metropolitana onde dois caras contavam piadas e, pela risada, deveriam ser engraçadas, porém a velocidade com que eles contavam tornava a interpretação difícil. Algumas pessoas convocando as pessoas para um protesto em frente à embaixada americana, os pintores e jogadores de xadrez de sempre, gente e mais gente caminhando para todos os cantos, e em frente a Casa de La Moneda os guardas de sempre tomando conta da sede presidencial. Voltei para o hostel e, para usufruir da infraestrutura de cozinha que o local oferecia, procurei saber onde tinha um supermercado. Logo conheci o Santa Isabel, pequeno mas que tinha tudo o que precisava, inclusive bebidas de todos os tipos. Comprei material necessário para fazer uma bela macarronada e uma garrafa de vinho para acompanhar, além de um enorme saco de batatas fritas que me enchera os olhos. No hostel, fiz meu jantar e tomei a garrafa de vinho. Agradabilíssimo, acho que foi o melhor jantar individual que eu já fizera. Havia um casal de aspecto europeu que cozinhara antes de mim e ambos tinham uma mão cheia, fizeram uma macarronada que serviu de inspiração para a minha. Havia conhecido um sujeito muito rapidamente no dia anterior, o Marc Puszicha, um alemão estudante de cinema que estava de viagem pela América para conhecer o cinema de nosso continente. Gostava muito de falar de tudo, principalmente de cinema cujo gosto compartilhava. Ficamos na cozinha conversando e ele logo ofereceu para tomarmos Pisco, um destilado de uva que está para os chilenos assim como a cachaça para os brasileiros, a tequila para os mexicanos ou mesmo o saquê para os japoneses cujo interesse havia me sido despertado no período do projeto da viagem, fruto das muitas sugestões da internet e que havia incluído nas minhas metas de viagem levar pelo menos uma garrafa para o Brasil. Conversamos muito nessa noite e, a nossa conversa, um brasileiro de cabelo rastafári também participara algum tempo depois. Temas “cabeças” eram o forte da noite, incluindo religião, sociedade e todo tipo de tema polêmico. Apesar da interessante conversa, fui para a cama logo pois no dia seguinte teria que acordar cedo. Pedi para que a recepcionista incomodasse meu sono às 5 da manhã e fui dormir ajudado pelo vinho de forma satisfatória. Citar
Membros de Honra payakah Postado Outubro 31, 2010 Autor Membros de Honra Postado Outubro 31, 2010 De uma coisa ninguém pode reclamar sobre minha pessoa, eu penso muito em não incomodar quem está a minha volta, especificamente com coisas que eu sei que me incomodaria ou até mesmo que não me incomodam mas faz parte de um “consenso incomodativo coletivo”. Por ter escolhido em todos os hostels que freqüentavam quartos coletivos como forma de economizar nas hospedagens, acordar de forma silenciosa para não incomodar o sono dos demais era a minha filosofia. Pena que a recepcionista do horário que eu necessitava acordar e que, por conseqüência, ficara incumbida em me acordar no horário que solicitara no dia anterior, não tinha essa mesma noção. Foi quando, no horário marcado, ela entra no quarto falando alto para todos: “Jayme, Jayme, Jayme!!!” me levantei assustando e dizendo com uma voz cerrada: - soy yo, acá – esfregando o olho de cima do beliche. - Son las 05:30 y... - Gracias, gracias – Tentando minimizar a conversa. Fui me preparar para a atividade do dia no ritual de sempre. Desde o primeiro dia até agora estava seguindo uma rotina de banho na qual não modificava por nada e esse hábito não surgiu fruto de um costume, mas sim de um planejamento minucioso baseado em alguns princípios da viagem, ainda na fase de projeto. A primeira base para a metodologia criada tinha seus alicerces no meu suporte financeiro da trip. O dinheiro da viagem foi separado em três grupos: parte em pesos trocados ainda no Brasil, outra parte em reais e o restante no limite do cartão de crédito. A quantidade de dinheiro estava na exata medida para me sustentar ao longo dos 16 dias, o dinheiro em moeda local para os casos onde não eram aceitos o cartão de crédito, o complemento em reais, para o caso de acontecer uma urgência, seriam trocados durante a viagem e o restante com uma boa margem de folga no cartão de crédito para caso eu quisesse fazer da jaca pantufa e estrapolar. Levei uma grana em moeda local a mais pois o risco do cartão de crédito falhar era real e o ideal seria ter levado dois cartões de bandeiras diferentes, estratégia essa que será levada em consideração na próxima viagem. Todo esse dinheiro não deveria correr riscos de nenhuma natureza pois o próprio rastafari do papo gastronomico da noite anterior contara que um brasileiro que o fez companhia durante certo trecho de sua viagem roubara alguns pertencer de outros hóspedes e sumiu do mapa. Pior de tudo: brasileiro, fica difícil fugir desse estereótipo quando os fatos degridem a imagem de nosso povo. Pois com esse medo de que “brasileiros” ou alguém com a mesma inspiração viesse a mexer nas minhas coisas em busca do dinheiro, eu fizera uma pochete discreta que andava dentro da bermuda com toda a grana dentro dela em uma espécie de “personal cofre youself tabajara”. Logo eu apenas me separava do meu cofre durante o banho, e mesmo assim sobre minhas fortes vistas. Logo após o banho, um item estrategicamente escolhido para evitar possíveis irritações entre as pernas, fruto da rotina diária de caminhadas inerentes a atividade mochileira, era o hipoglós cujo uso era sempre usado preventivamente, não aguardando a irritação aparecer. E até agora o mesmo funcionava de forma plena. Para completar o ritual, andava sempre com um tubo de gelol na mochila para aliviar dores nas costas que vez por outra usava também de forma preventiva, mas que nos últimos dias estava usando bastante depois do estralo no rafting. Mas hoje a coluna já estava mais simpática e a dor vinha dia após dia amenizando, apesar de sentir ao longe uma leve pontada em sua base. Para esse dia marquei com a Elaine de seguirmos para o litoral e conhecer duas cidades famosas do Chile: Valparaiso e Viña Del Mar. Finalmente iria ver uma praia, coisa que eu adorava, e como Vinã Del Mar era um balneário a curiosidade apenas aumentava. Marquei com a Elaine em uma estação de metrô que ficava no meio do caminho para a estação de ônibus e seguimos até ela. Naquele horário pude acompanhar à hora do rush da manhã e ver o quanto os estudantes primários e secundários se vestem como emos. É incrível mas mais da metade, creio que 80% deles, tem um aspecto que mescla o emotion hardcore com os personagens da novela Rebelde. Chegando a estação, pegamos um ônibus e seguimos viagem por quase 1 hora até o litoral, por meio de montanhas, vales e escarpas, nada de mais. Principal porto de Chile, localizado a 115 km ao oeste de Santiago, construído sobre 40 morros na costa de uma agitada baía, a verdadeira atração de Valparaíso são seus morros que dividem a cidade em dois níveis: na parte baixa, a área bancaria e comercial concentradas nas ruas Prat, Esmeralda e Avenida Pedro Montt, com seus cafés e teatros, e na parte superior, as características e pitorescas construções suspensas dos morros numa impressionante desenho de ruas serpenteadas, ruelas e passagens. Tradicional é o uso de elevadores para unir os dois níveis da cidade. Já Viña del Mar nasceu da fusão de duas fazendas, las Siete Hermanas e Viña del Mar propriamente dita. O limite entre ambas era o estuário de Marga Marga, que atualmente cruza a cidade ao meio. A norte, nas Siete Hermanas, se plantaram vinhedos que, com o passar do tempo, se tornaram conhecidos como la viña de la mar, que derivaria no atual nome "Viña del Mar". Viña del Mar é considerada a capital turística do Chile, graças aos grandes dividendos gerados por este setor econômico. A cidade conta com ampla rede hoteleira e se fortaleceram durante os últimos anos todos os espaços que possam significar uma receita econômico advinda do turismo. Ao descer na estação estávamos entusiasmados porem apreensivos em saber se daria tempo de ver tudo o que queríamos no espaço de tempo de um dia: aprender a ver, ver e ver com velocidade, não seria uma tarefa fácil. Fomos abordados por alguns taxistas que ofereciam serviços de passeio turístico, de certa forma ficamos relutantes de inicio principalmente da minha parte por gostar de me aventurar e sentir a cidade e sua descoberta, não olhá-la da janela de um carro como um objeto em exposição na vitrine. Sempre fui adepto do turismo praticante, sentir as coisas, cheirar, ver a vida e a dinâmica natural e antropológica acontecer e já me era frustrante demais ver as coisas na tela dos computadores e das televisões, isso para mim não tinha muita diferença da janela de um carro, porém tivemos que ceder. As cidades eram grandes, a espera dos ônibus e metrôs ou mesmo o tempo para descobrir onde pega-los, como chegar nos cantos, isso tudo era um risco que preferimos não correr. Optamos por um taxista simpático (claro, estava sendo remunerado para isso) e que prometeu nos levar para os lugares mais visitados. Fomos em primeiro lugar para a casa presidencial, local que não merecia muito tempo, mas que a principio era estranho: “porque existe uma casa presidencial aqui em Valparaiso?” pensei. Descobriria tempos mais tarde. Ficava em uma parte mais alta da cidade e era bem protegida, por muros e guardas. Seguimos no taxi e pedi para que o motorista pusesse o CD que comprada no dia anterior: - Música 5 – Solicitei. - Ok... – Respondeu o motorista, pulando as faixas iniciais do CD - Ahhh Roberto Carlos?? A mi me gusta mucho – Falou com um ar de entusiasmo, para meu espanto. O motorista conhecia, e muito bem, Roberto Carlos. Não só ele, como eu viria a descobrir mais tarde, mas muitos latino-americanos eram fãs do rei. Interessante informação, apesar de óbvia tendo em vista os discos em espanhol gravados por ele. Seguimos para o relógio de flores, situado diante da praia de Caleta Abarca, na avenida que a une a Valparaíso. O relógio foi construído especialmente para dar as boas vindas à Copa do Mundo de Futebol de 1962, disputada na cidade. Tiramos algumas fotos mas também não muito atraiu nossos olhos. Bonito, interessante, legal... nada mais. Fato interessante que acontece na cidade, e que o motorista estava explicando ao logo do percurso, era uma névoa úmida que cobria toda a cidade e que se dissipava por completo ao meio dia. Deixava a cidade visualmente limitada e de certa forma era estranho tanta névoa, ainda mais sabendo que ela fazia parte da rotina. Seguimos em um roteiro não totalmente definido e o motorista perguntou se queríamos conhecer a associação de pescadores de Valparaiso. Achei interessante e fomos lá, principalmente porque poderíamos comprar camarões para o jantar de mais tarde. Todos os dias os pescadores saiam mar a dentro e voltavam no inicio da manhã. Separavam peixes e crustáceos na associação e, ali mesmo, faziam as primeiras vendas. As iguarias, apesar da semelhança, eram bem diferentes das que estamos acostumadas. Mariscos enormes, mexilhões, peixes que não existem em nossa costa ou mesmo uma espécie de coral que nasce nas pedras e é comestível. Olhamos em volta, tiramos algumas fotos no píer dentre gaivotas e pelicanos voantes e grasnantes. Os camarões já tinham se esgotado então seguimos adiante. Parada rápida no congresso nacional para tirar uma foto. Pois é, o congresso nacional fica em Valparaíso e não em Santiago. Fato curioso: é o único pais do mundo onde o congresso não fica na capital e isso era a justificativa da casa presidencial. Mais adiante na nossa visita apressada, paramos em uma praça onde fica a “armada de Chile”, uma edificação que sedia a parte administrativa do porto militar e logo a frente uma praça com um monumento aos heróis chilenos. Praça estranha que se confunde com a rua e se você não tiver cuidado corre o risco de ser atropelado. Seguimos para conhecer uma parte alta da cidade e utilizar o meio de transporte que mais representa a cidade: os ascensores ou funicular. Subimos ate o museu naval e marítimo, cercado por uma vista ampla do porto e por uma feirinha de souviners. 0 museu, instalado nessa mansão adaptada acaba sendo, então, um prato cheio para praticar um exacerbado sentimento ufanista. De qualquer forma a visita é válida, nem que seja para conhecer o belo jardim onde o casarão está situado. 0 museu enfatiza a Guerra do Pacífico e destaca o ícone nacional desta batalha, Arturo Prat, além do fundador da Marinha chilena, Lord Cochrane. 0 local serviu de academia militar entre 1893 e 1967. O taxista subiu para nos esperar e logo após uma olhada no jardim do museu e algumas decepções com os preços das lembranças ao redor do local seguimos nosso rumo. Nessa altura do campeonato já estava arrependido de ter deixado para comprar as lembranças de viagem no Chile, visando não carregar muito peso, e ver que os vendedores, ao saber que você é estrangeiro, parece que o preço das coisas aumenta. Sem falar no esforço que os vendedores faziam para tentar falar português, que atrapalhava o meu aprendizado diário da língua espanhola. Fizemos uma rápida passagem na La Sebastiana, casa de Pablo Neruda de Valparaiso. Como já tínhamos visto a de Santiago, passamos apenas na frente para ver o jardim e tirar algumas fotos, em poucos minutos já estávamos segundo o rumo de Viña Del Mar para a etapa final de nossa viagem. Queria muito conhecer o cassino Vinã Del Mar, pelo simples fato de nunca ter visto um ao vivo, besteira mas era um desejo particular. Paramos em uma praça e seguimos a pé para conhecer a região circunvizinha. Carruagens para passeios, belos prédios, o lugar era muito atraente e interessante. Entramos no cassino que estava abrindo e vazio. Tiramos algumas fotos de forma sorrateira, pois era proibido no local, e saímos logo. Próxima e última parada: almoço. Caminho fantástico pela via costeira de Viña. A névoa já havia dissipado em quase sua totalidade e o mar se mostrava grandioso. Mas esse não era o mar que estava acostumado, e sim o oceano pacífico. Molhado, grande, salgado... mas era o oceano pacífico. Estava eu pela primeira vez de costas para o mar no qual tinha crescido e aprendido a gosta para ver um novo mar. Paramos em um restaurante para almoçar, indicação do motorista claro, o mesmo devia ganhar uma comissão para tal. Comemos algumas iguarias marítimas como já viria a se tornar rotineiro e conversamos bastante. A vista dava para o mar e acrescentava a refeição todo aquele entusiasmo. Terminamos a refeição e fui colocar meus pés na areia e na água, sentir o mar do pacífico. Vi logo porque não tinha ninguém tomando banho: a água era gelada, exceção apenas a um garoto que não se incomodava com tal temperatura. Voltamos para o taxi e fomos deixados no centro da cidade, perto da estação de ônibus, pagamos e agradecemos a ele. Fiz algumas ligações referente as atividades do dia seguinte e seguimos para pegar o ônibus. A volta foi mais silenciosa, estávamos bem alimentados e isso influenciava no cansaço. Segui para o hostel da Elaine, para passar algumas fotos e nos despedir afinal de contas ela iria embora no dia seguinte. Conversamos um pouco, ela me mostrou algumas fotos dela de quando morava na Nova Zelândia e nos despedimos. Voltara a seguir minha viagem solitária a partir de então, apesar da mesma estar mais perto do fim. Fui para o hostel e la estava o Marc Puszicha, sempre companheiro de conversas noturnas sobre cinema e temas correlatos, tomamos um vinho e conversamos sobre nossos dias. A noite foi tranqüila, poucas pessoas. A conversa não se alongou muito e segui para a cama. Agora a viagem já estava na reta final. Citar
Membros de Honra payakah Postado Outubro 31, 2010 Autor Membros de Honra Postado Outubro 31, 2010 Acordei ainda cansado da viagem e do vinho do dia anterior, mas ainda sim me levantei cedo. Sai do quarto sorrateiramente e deu de cara com um som muito comum a mim, mas não onde eu estava: programa do mução. Para quem não conhece, o programa do mução é um programa de rádio, humorístico, muito famoso no nordeste brasileiro onde o personagem prega várias peças por telefone nos ouvintes. Mas como estaria ouvindo isso em Santiago?? O Luan estava na recepção e ouvindo o programa de forma atenta pela radio UOL. Mundo pequeno esse. O dia de hoje talvez nem merecesse ser relatado, na verdade pode ser contado de forma mais sumária possível. Ao planejar as férias, como forma de aprendizado e, porque não, barganhar uma melhor flexibilidade para me cederem as férias, prometi visitar a filial do Chile da empresa. Programação profissional, não-turística e que não viria ao caso no relato da viagem, não irei me alongar. Havia combinado antes da viagem e mesmo quando chegara em Santiago com um brasileiro que trabalha na Dânica Chile, e que ficou de me buscar no hostel pela manhã, e assim o fez. Fomos a empresa que fica em uma área industrial de Santiago, mais afastado da cidade, e lá conheci a planta fabril e todos os processos e particularidades da empresa. Falei com o pessoal do departamento de projetos, o qual eu era integrante na planta onde trabalhava, para aprender mais. Almoçamos fora e conversamos bastante sobre diversos assuntos. O legal disso era saber sobre várias particularidades do Chile da boca de alguém que era brasileiro e morava lá. Apesar de uma malha viária impecável, o Chile não possui fábrica de carros, todos são importados em sua maioria do Brasil e da Coréia. O mais interessante é que, devido aos baixos impostos, os carros importados do Brasil eram mais baratos do que os comprados no Brasil. É onde você vê que o governo brasileiro ganha muito em cima desses tributos. Os terremotos faziam parte da rotina da capital chilena, como de toda área próxima a cordilheira. Em um intervalo aproximado de 8 meses se sentia pequenos tremores. O funcionário em questão havia comprado uma casa em um condomínio de luxo ao pé da cordilheira, fugindo do apartamento anterior por medo dos abalos sísmicos e me levou para conhecê-la. Condomínio muito grandioso e muito luxuoso, casinhas singelas e simpáticas, lugar no qual eu nunca moraria, mas gosto é o tipo de coisa inerente a cada ser humano. Após algumas conversas e fotos, ele me levou para a estação de metrô mais próxima e nos despedimos. Dia interessante para o meu eu profissional, mas pouco interessante do ponto de vista turístico. Não que não tenha valido a pena, valeu sim e muito. A volta para o hostel foi um pouco triste. A viagem estava chegando ao fim e no dia seguinte eu estaria em processo de retorno ao Brasil. Pegaria um vôo para Buenos Aires e, no dia seguinte, para Recife. Procurei dar mais uma volta no centro da cidade e ver o cotidiano, como de costume. Artistas de rua, pessoas voltando do trabalho, o palacio de la Moneda iluminado.... horário não muito seguro como havia ouvido mas não liguei. Passei no supermercado de sempre para comprar algumas coisas e voltei para o hostel. O Marc estava na sala de estar vendo “o senhor dos aneis – O retorno do rei” na TV a cabo junto com outros turistas e sentei-me para ver e conversar um pouco. Decidi tomar mais uma das garrafas de vinho que havia trazido de Mendoza e terminar o baita saco de batatas que comprei a dias atrás. Chegou nesse dia um brasileiro no hostel chamado Ricardo Aranha, que havia tirado férias e decidiu, de sopetão, pegar um avião, ir a Santiago e decidir o que fazer depois de pisar em solo chileno. Conversamos os três na sala de estar, vendo “prision Break” e um filme chileno chamado “la frontera” que o Marc havia comprado. Interessante como todos falam bem dessa série Prision Break, e como o Marc também falava bem da série, sendo ele um estudante de cinema e teoricamente vacinado de modismos cinematográficos norte americanos, fiquei imensamente curioso em ver a série toda, em outra oportunidade claro. Chegando o cansaço, era chegada à última noite minha no hostel, e conseqüentemente em Santiago. No dia seguinte começaria a peregrinação de volta para casa e todo o dia seria dedicado ao retorno, com exceção de algumas atividades simples. Citar
Membros de Honra payakah Postado Outubro 31, 2010 Autor Membros de Honra Postado Outubro 31, 2010 Acordei e fui logo terminar de arrumas as coisas. O Luan insistentemente pedia que eu não fosse pois aquele dia seria a festa de 4 anos do hostel, e viriam mochileiros de todos os hostels para a festa. Não queria arriscar, até então a viagem estava dando certo sendo bem amarrada como estava. Dessa vez não levei a mochila para perambular pela cidade, experiência essa que havia ocasionado o baita estralo nas de dias atrás, mas deixei-a no hostel enquanto caminharia pela cidade antes da hora de ir ao aeroporto. Sai pela cidade para me despedir de seu cotidiano e de sua rotina. Parada para visitar o Palacio de la moneda e a Plaza de las armas com mais detalhes, segui para o mercado de Santiago para dar uma volta como não havia dando antes. Caminhei entre as tendas de crustáceos e demais iguarias, olhar atento a vida do mercado e suas nuâncias. No meio da caminhada o que vejo: um freezer com o refrigerante Crush, clássico oitencetista brasileiro, aqui em Santiago vendia com o mesmo nome e logomarca. Comprei para ver se o sabor era o mesmo, porém não era. Coincidências a parte eu estava com uma camisa com a logomarca desse refrigerante, que comprava em Recife, talvez isso justificasse alguns olhares estranhos direcionados a camisa por parte de algumas pessoas que cruzavam comigo. Segui minha caminhada e guardei a lata para levar ao Brasil de recordação. Segui para o museu de arte pré-colombiana de Santiago, fiz uma visita rápida para conhecer artigos das culturas maias, incas e astecas do continente latino-americano - interessante visita. Desci mais um pouco para um dos poucos lugares que havia separado com muito carinho para visitar. Única sugestão que levei mais a cargo do livro “viajar é o maior barato” que tenho a tempos em minha biblioteca particular e nunca havia utilizado, o Ricón de los canallas, é um restaurante que existe desde os tempos da ditadura e era ponto de encontro de um grupo de amigos para discussões políticas que poderiam não agradar a Pinochet no período em que o mesmo governava o país a mão de ferro. Ao bater na porta se ouvia-se do outro lado alguém perguntando: “Canalla??” e a resposta era das mas diversas. Hoje, um restaurante que respira nostalgia e espontaneidade, com suas paredes recheadas de recados de turistas do mundo todo, seja escritos em cartões de visita, guardanapos, ate mesmo em cuecas, todos grampeados nas paredes e nos tetos. Mas não só pela nostalgia do lugar que eu cheguei lá, o livro também falava de uma deliciosa costela. Cheguei antes do horário de abertura, mas a simpática dona fez uma exceção para mim e logo adentrei ao recinto. Sentei meio tímido e pedi a costela. Olhava as paredes cheia de recados imaginando o quanto de pessoas já tinham ido lá e mergulhado naquele ambiente nascido da espontaneidade de seus donos. Idealizadores seria uma palavra equivocada para aplicar aos donos de um recinto nascido fruto da naturalidade de suas brincadeiras e aspirações. Comi a costela acompanhada, pela primeira vez em 15 dias, de arroz. Estava sentindo falta dessa iguaria, porém o feijão teria que aguardar mais um pouco. Escrevi um recado que deixara na parede do hostel, no ticket de embarque do meu vôo para Buenos Aires, e fixei na parede. Me despedi dos donos e segui meu rumo. Voltei para o hostel para pegar a minha mochila, era chegada a hora de ir ao aeroporto. Quem estava no hostel era a Daniela que havia me recebido no hostel e agora se despedia de mim com a mesma simpatia. Segui de ônibus e cheguei no aeroporto cedo para não correr riscos, mas ainda estava super preocupado com o envio dos vinhos cujos mesmo foram embalados com muito cuidado e diversas recomendações foram dadas a mulher do check-in que etiquetou com a mensagem “frágil” a mala separada para eles. Apenas o vinho branco e os piscos ficaram na mochila principal pois se viessem a quebrar, não manchariam as roupas. Rodei o aeroporto todo, fiz hora e entrei na sala de embarque. Liguei para saber da minha mãe e, para terminar o cartão telefônico, liguei para minha amiga clara, para contar da viagem. Os últimos pesos chilenos gastei em uma lan house e alguns doces. Por coincidência tinha um rapaz que estava no hostel que pegou o mesmo vôo que eu para Buenos Aires. Conversamos um pouco e, dada a hora, entramos na aeronave. Fantástica a vista da cordilheira dos Andes do alto. 7 horas de ônibus agora cabiam em uma pequena janela do Airbus, com direito a vista para o Aconcágua, ponto mais alto das Américas. Os primeiros minutos de vôo eram fantásticos, seguido do por do sol e de escuridão nos minutos finais. Apenas uma hora e meia de vôo e algumas turbulências separavam as duas capitais sulamericanas. Chegando a Buenos Aires, logo troquei idéias com o colega de hostel que estava no mesmo vôo, combinamos de rachar um taxi e ele, que não tinha hostel certo ainda, iria ao Che lagarto comigo para ver se tinha vaga. Legal o comentário dele assim que pisamos em solo portenho: - Basta pisar sair de Santiago que você começa a ver bunda! Realmente as chilenas eram desprovidas de beleza facial e corporal, em geral eram feias de tudo. As argentinas e colombianas eram as mais bonitas. As brasileiras, sou suspeito para falar. A espera pelas malas, para mim, é sempre uma tortura. Medo de ter as malas desviadas e, nesse caso, ter as garrafas de vinhos quebradas atormentavam a minha cabeça. Depois de muitas malas girando na esteira o pior aconteceu: a mala dos vinhos estava rodeada de uma grande mancha de vinho, minha expressão facial não era das melhores. Peguei a mala e abri-a com cuidado, cacos e mais cacos de vidro misturados com o vinho espalhado e pingando no piso do aeroporto, nossa fiquei furioso. Perguntava aos funcionários como isso poderia ter acontecido se eu havia colocado “frágil” na mala mas as expressões eram sempre de “infelizmente aconteceu”. Joguei todo o vidro no lixo do banheiro, lavei a maleta e a toalha que estava enrolada nos vinhos e guardei tudo na mochila. Apenas 2 garrafas haviam sobrevivido ao massacre e guardei elas na mochila também, depois de devidamente lavadas. Seguimos para pegar um taxi e fomos ao Che lagarto. Expressava minha frustração em forma de reclamações constantes ao longo do trajeto, não havia outra forma de ficar mais decepcionado com uma coisa que eu pensei desde o começo da viagem, mas que na prática não havia feito muito. Vi que por mais que eu tivesse envolvido as garrafas nada escaparia de um arremesso preciso e descuidado dos maleiros do aeroporto. A chegada ao hostel foi muito legal. Por um momento havia esquecido o problema dos vinhos e estava a reencontrar varias pessoas de algumas semanas atrás. O Martin estava lá com sua “boludeza” trabalhando no bar, o pessoal da recepção, os noruegueses que foram para o 69 Club, muitas caras conhecidas que me recebiam com festa e cuja retribuição era a altura. Muito legal rever a turma, ou melhor, parte dela, como sempre bebendo nos inícios de noite do hostel. Fiz meu check-in, mas infelizmente não tinha mais vagas para o meu amigo que veio de Santiago, que teve que pegar um taxi para outro hostel e procurar uma vaga. Acomodei as coisas e liguei para marcela, havia marcado de sair naquela noite com ela, coisa que não tinha acontecido a 1 semana atrás devida a sua viagem. Tomei um banho de gato já que a toalha estava ensopada de vinho e fiquei no pub do hostel bebendo com a turma e conversando até marcela chegar. Depois de um tempo, chegaram marcela e seus amigos, seguimos rua abaixo para o Museum, mas antes parei no armazém que sempre tomava uma quando voltava das bebedeiras de uma semana antes, para falar com o dono. Ele também se lembrava de mim e disse que aquela era a minha última noite em Buenos Aires, contei rapidamente da minha viagem e nos despedimos. Gente muito boa. Chegamos no museus porém o show que estava rolando já havia terminado. Fomos para um bar perto da Praça de San Telmo, bem boêmio e aconchegante, do jeito que gosto. Bebemos bastante e conversamos muito. Interessante como meu espanhol estava fluente, creio que o álcool ajudava, mas eu conversava bem com os amigos de marcela. Um deles chegou até a questionar o fato de Marcela ter dito que eu não falava espanhol, e realmente eu não falava, mas era legal essa surpresa não só dele como minha também, em ver que meu espanhol estava bastante afinado. Ficamos um bom tempo lá e depois fomos para um bar mais dançante um pouco mais afastado. Alguns amigos de Marcela voltaram pra casa e ficamos em menor grupo nesse bar. O mesmo se chamava [nome do bar] e era super legal. Bem movimentado, as pessoas bebiam na sua maioria de pé e tocavam bandas em um palco no térreo, porém no horário que chegamos apenas estava tocando musica de playback. Conversamos muito nessa noite e bebemos muito também. Tomei mais da tekila sunrice a qual havia aprendido a gostar no Museum. Saímos tarde da noite, cada um para o seu destino Marcela em um taxi para Olivos e eu para San Telmo, de volta ao Che Lagarto. Mais uma despedida, só que essa era mais difícil. Marcela era uma super amiga e saberia que não a viria em breve. Fui para o hostel muito “boracho”. Não me lembro bem como cheguei, mas cheguei bem. Dormi o último sono da minha viagem e agora definitivamente ela tinha chegado à sua reta final. Citar
Membros de Honra payakah Postado Outubro 31, 2010 Autor Membros de Honra Postado Outubro 31, 2010 Acordei com uma ressaca inconveniente. Esfreguei os olhos algumas vezes e pensava naquele último dia. Além da ressaca da bebida também vinha a ressaca do término da viagem, tudo aquilo terminaria naquele dia e estaria eu de volta a minha rotina de trabalho. Virei o rosto e vi uma menina trocando de roupa bem despreocupada, apenas de roupas de baixo escolhendo o que vestir. Me levantei calmamente mas olhando para o lado contrário para que ela não entendesse que eu a estava olhando, porém a vergonha que eu imaginei que ela sentiria não existia. Ela veio em minha direção e me cumprimentou tranquilamente, voltando para perto de sua mochila e terminando de escolher as roupas. Ela era espanhola e se chamava Gema Iriarte. Trabalhava como garçonete na Espanha e, com o dinheiro que juntava, batia perna pelo mundo sempre que possível. Parecia ser muito espontânea e divertida. Tomei um banho, arrumei algumas coisas da mochila e desci do quarto. Perguntei ao Nico, rapaz da recepção, alguma programação legal para se fazer naquele dia. Logo me lembrou que era dia da feira de San Telmo, domingo: “Poxa, como poderia ter esquecido” pensei. Tomei o destino da rua e sai para ver a feira de forma mais plena. Ver a feira pela segunda vez me fez vê-la melhor. Andei calmamente pela rua principal parando no numero cada vez maior de barracas para admirar as diferentes bugigangas e quinquilharias. Foi mais interessante do que da primeira vez e de certa forma me deixava mais aliviado da minha ressaca de fim de viagem. Aproveitei para comprar as lembranças que queria: camisas, alguns quadros engraçados... nas andanças, dentro de um galpão, havia um grupo de tango eletrônico chamada Tanghetto o qual troquei algumas idéias e comprei seus CDs, utilizando os reais que sobrara já que essa altura do campeonato os pesos já estavam no fim. Andei bastante, me diverti com as estátuas vivas, cantores de rua e demais artistas. Voltei para o hostel mais tranqüilo e aliviado. Naquele passei vi o quanto eu já estava íntimo de Buenos Aires. A cidade realmente havia me cativado e poderia morar tranquilamente nela. De volta o Nico me disse que um italiano iria para o aeroporto no mesmo horário que o meu. Arrumei minha bagagem e fiquei a esperar por ele no saguão. Havia algumas pessoas conversando inclusive a Gema, de sorriso largo, humor sempre elevado e agora com trajes menos sumários, além de dois rapazes de origem hispânica e uma inglesa. Logo chegou o Giapo Harlock, um italiano com mais de 30 anos, calvo e de fala tranqüila. Troquei uma idéia com ele sobre os horários da ida e combinamos de pegar um taxi em comum. Somando o Giapo ao grupo que estava no saguão, conversamos um pouco e combinamos todos de almoçar em um restaurante do lado do hostel. Nunca imaginei que logo no último dia faria novas amizades. Fomos almoçar e o diálogo era um pouco complicado. A inglesa só falava inglês, os hispânicos e a Gema só falavam espanhol, porém esta última arranhava no inglês. Apenas eu e o Giapo que falávamos as duas línguas. Vez por outra falávamos a mesma coisa nas duas línguas para universalizar as piadas e os diálogos. Foi um almoço muito divertido, principalmente por parte da Gema que era muitíssima engraçada e morríamos de rir com suas historias e jeito espontâneo de falar as coisas. Apressei o Giapo pois a hora do vôo já estava próximo. Voltamos para o hostel e fui pegar as malas, fiz o check-out, e fiquei conversando com o pessoal no hall esperando o Giapo descer com suas malas. Eu já estava preocupado com o horário e procurei apressá-lo, pois ele estava mais calmo já que seu horário do vôo era depois do meu. Despedi-me dos novos amigos como se fossem antigos conhecidos, principalmente da Gema que havia cativado a todos. Também me despedi do Nico e do hostel de maneira mais nostálgica. Peguei seus contatos e segui para o taxi. Eu e o Giapo conversamos muito no caminho para o aeroporto, principalmente sobre música. Eu falei do Tanghetto e ele contou que havia comprado discos de outra banda: o Bajo Tango, que ouvi em seu Ipod. À medida que o tempo passava eu ficava mais nervoso, pois ia chegar no aeroporto a quase 1 hora do vôo, não tive nem tempo de me despedir da paisagem da janela. Perto de chegar vi que não teria dinheiro para pagar a minha parte do taxi (nem pensem que eu queria dar um calote no pobre do italiano) e combinei de sacar alguns pesos no aeroporto. Nossa, eu estava muito tenso por causa do horário e desci as pressas para fazer o check-in da bagagem. Ao chegar ao balcão, fui informado que o mesmo já havia se encerrado. Putz... como isso só aumentava minha tensão, e a viagem que até ali estava dando certa (com exceção dos vinhos), teria um final trágico. Pedi para abrirem uma exceção, fiz cara do gato de botas do filme Shrek e deu certo: uma outra moça do balcão, que falava português, pegou a minha bagagem e despachou-a. Corri para o caixa para sacar dinheiro e o mesmo estava com uma fila imensa. Fui tentar trocar os reais por pesos e também não adiantou, pois a casa de cambio estava fechada. Paguei a taxa de uso do aeroporto e fui falar com o Giapo que estava na fila para fazer o check-in da sua mala. Eu, muito nervoso, perguntei se ele aceitaria a parte dele em reais, e expliquei os percalços que tive. Ele, muito simpaticamente, disse que não precisava e que estava tudo bem. Perguntei mais uma vez mas o mesmo disse que não era necessário e que não tinha problema. Agradeci muito e sai em direção ao embarque, entrei no avião e segui de volta para a minha terra. Ainda era dia e a decolagem foi tranqüila, a vista aérea era fantástica e o por do sol da janela do avião completava a nostalgia do retorno para casa, apenas as turbulências que sempre insistiam em guinar meu medo de vôo. A volta foi mais tranqüila que a ida, apenas uma conexão em São Paulo e uma ligada para meus pais para dizer que estava a caminho, muito mais rápido que a vinda. Naquela altura do campeonato era estranho ouvir várias vozes em português ao meu redor. A chegada foi legal, rever a família e no dia seguinte voltar à rotina de trabalho. Tudo como eu havia deixado antes? Talvez não. Algumas coisas mudaram principalmente eu. O homem que volta de uma viagem não é o mesmo que foi para ela, como já dizia o saudoso Che Guevara, e naquele momento eu não tinha dúvidas disso. Citar
Membros nataska Postado Agosto 13, 2012 Membros Postado Agosto 13, 2012 Jayme, adorei o seu relato. Cheio de detalhes! Vou fazer um roteiro bem parecido em dezembro, porém vou estender até o sul do Chile. Seu roteiro ajudou bastante. Espero curtir a viagem tanto quanto você. Nataska. Citar
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