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Postado (editado)

Meu nome é Roberto Sarti, e moro em GUARAPARI-ES. Um passeio que sempre tive vontade de fazer, desde quando na minha infância e adolescência eu morava em Cachoeiro (e me pendurava nos trens que cortavam a cidade), é caminhar pelos trilhos da Leopoldina Railway, e tive a oportunidade de realizar uma parte dessa aventura no último dia 12-02-2010, sexta feira antes do carnaval. Meu projeto era caminhar de Cobiça X Matilde, cerca de 70 km em 3 dias. Era eu disse.

 

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Foram uns 2 meses de preparação física, psicológica, bolando a logística de ida e de volta, e anotando os itens a serem levados na mochila. Essa parte é muito importante, pois não se deve levar coisas a mais, e nem de menos, pois a mais é peso maior que se carrega, e a menos pode fazer falta numa eventual necessidade. Utilizei uma mochila de 75l, que comprei no mercado livre. Muito boa e resistente.

 

Na mochila levei os seguintes itens:

Barraca;

Colchonete;

02 lençóis;

Repelente;

Protetor solar;

Materiais primeiros socorros (agulha, gaze, gelol, sonrisal, tesoura pequena, atadura, esparadrapo, dorflex, merthiolate);

Material higiene (escova, creme, shampoo em vidrinho, sabonete, fio dental, pente);

Água mineral 1,5 lt;

02 blusas/02 shorts;

01 par de meias;

Câmera e pilhas reservas;

Documentos;

Faca e facão;

Boné;

 

Levando-se em conta que estávamos em duas pessoas, levei a maior parte do peso, e a mochila da minha esposa que era pequena, normal, foi com bem menos coisas, praticamente só a roupa dela, chocolate e biscoitos.

 

 

 

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Quase todos os dias dava uma revisada pra ver se eu não havia me esquecido de nada. Ia acrescentando e tirando as coisas da relação. Por fim, cheguei a uma lista que achei ideal. Uma semana antes já comecei a arrumar a mochila e ver se estava faltando algo. Enfim, chegou o dia da grande aventura.

 

Eu e minha esposa Lili, que foi comigo, acordamos às 4 e meia da manhã, pois precisaríamos chegar ao trevo de Guarapari e pegar o ônibus com destino a Cachoeiro de Itapemirim, que leva cerca de 01h30min h de viagem. Já havia tomado um comprimido de Dramim em casa, porque sinto enjôo em viagens de ônibus. Pegamos o buzu às 6 horas da manhã e as 07h35min chegamos a Cachoeiro.

 

 

 

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Também havia combinado com um amigo de nos buscar na rodoviária e nos levar até a localidade de cobiça, onde começaríamos a caminhada. Liguei pra ele e daí uns 20 minutos chegou onde estávamos. Mesmo questionando nossa sanidade mental, foi bem prestativo em nos ajudar. Entramos em uma estradinha de chão com o carro velho dele que talvez eu não tivesse coragem de passar a cavalo, com dó do animal (pronto, me vinguei...rsrs..). Depois de uns 10 a 15 minutos chegamos até os trilhos, na localidade de Cobiça, um pouco depois da estação de mesmo nome. Eram 08h59min da manhã. Nos despedimos dele e iniciamos a caminhada.

 

O cheiro de mato, o silencio apenas entrecortado pelo canto dos pássaros, e a beleza do caminho nos deixava fascinados. Começamos com muita disposição e confiança. Eu estava ansioso para encontrar túneis, paredões e pontilhões pela frente, o que ainda na parte da manhã aconteceu. Talvez as fotos não traduzam como é incrível passar por estes pontilhões, em trechos que foram feitos à mão, há mais de 100 anos. Respira-se a história da colonização dessa região, pois muitos povoados, hoje cidades, surgiram por conta da ferrovia que era a ligação do Rio de Janeiro com a capital, Vitória.

 

 

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Havia frutas pelo caminho, como goiaba, cana, abacate, laranja, jambo, ameixa e banana. Muitos pés de manga, mas não estava na época (imagine se estivesse... eita...). Havia poucas fontes de água, distantes da ferrovia, ainda mais que quando se caminha não se sente fome, apenas sede. Avistamos pessoas que estavam a destruir uma pequena mata, onde se via uma pequena cachoeira no meio, usando uma moto serra. Triste.

 

Vimos casas, algumas bem simples, de barro, em que o único caminho para se chegar a elas era andar um trecho pelos trilhos. Muitas casas fechadas, porém via-se que eram habitadas. Imagino que os moradores estivessem trabalhando na roça. A cada curva uma paisagem que nos surpreendia e encantava. A vista me fazia lembrar da minha juventude em Cachoeiro, quando eu passava por aquela região, em Soturno, Gironda, pelas pedreiras de extração de mármore e granito atrás de festas ou simplesmente andando a toa, de moto. Boas recordações me vieram à memória....

 

 

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Nos pontilhões, a adrenalina superava o medo. São altos, encravados na pedra e logo abaixo uma mata fechada. Esses pontilhões eram um desafio pessoal pra mim. Quando adolescente, tive a brilhante idéia de atravessar a antiga ponte de ferro que existia em Cachoeiro. Quando cheguei na metade do trajeto e olhei o rio passando lá embaixo, travei. Nem pra frente nem pra trás. Hauahsahasush. Depois de uns 20 minutos parado, com as pernas duras, consegui voltar. Já se passaram mais de 25 anos que isso aconteceu, mas não consegui esquecer. Me perguntava se eu conseguiria passar por elas agora. Ainda bem que a maturidade me trouxe a calma e também a coragem. Interessante observar que a medida que vamos caminhando não nos damos conta de que estamos subindo. Não se percebe porque a inclinação da ferrovia é de apenas 8 %. Passamos sem problemas pelos dois primeiros. Resolvemos parar antes do 3º terceiro pontilhão para descansar e tomar água. Quando decidimos continuar, tomamos o susto que nos fez num primeiro momento sair correndo desembestados pelos trilhos.... Hehehe.... então a lucidez voltou a mim e saí do caminho, dando passagem ao veículo que faz manutenção na linha, pertencente a FCA. Lili quase caiu das pernas, com o coração na boca... Huahauahaus.... Os dois funcionários passaram vagarosamente por nós, rindo da situação. Nos recompomos e partimos para a travessia do pontilhão, que era o maior dos 3. Foi super tranqüilo atravessa-los. Apesar do calor, seguimos firmes. A ferrovia vai cortando a serra, por meio de matas, plantações de café, eucalipto, pedreiras e ainda assim não havia muitos lugares sombreados.

 

 

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Encontramos um enorme pé de Jaca, carregadinho, que fazia sombra nos trilhos, mas não havia frutos maduros. Fiquei pensando depois que por sorte, não encontramos uma jaca madura... Rsrs... não é bom facilitar com essas coisas no meio do mato.... Caminhamos por algumas horas, fazendo paradas a cada 40, 50 minutos para água e descanso. Estava muito calor, suávamos muito e o cansaço já nos deixava ansiosos para chegar logo a algum lugar. Além disso, o tênis da Lili já dava sinais de que estava mais cansado do que nós, pois começou a descolar a sola na parte da frente, nos dois pés. Após passarmos pelo túnel na localidade de estação de Soturno, um pouco mais a frente por vezes víamos algum curso d’água ao longe, e ficávamos a pensar se o mesmo teria algum momento de proximidade com a linha. Mas quando achávamos que na próxima curva a linha e o riacho se encontrariam, ficávamos decepcionados, pois o rio sumia no meio do mato. Mas logo à frente ouvíamos o barulho da água novamente e a esperança vinha. O cansaço e a dor da sola dos pés já estavam incomodando de forma considerável. O peso da mochila também já estava cobrando seu preço. Encontramos mais uma vez com o veículo da manutenção, só que desta vez subindo pra Vargem Alta. Por volta de umas 02 horas da tarde, foi providencial encontrarmos o riacho a beira da ferrovia, onde pudemos nos refrescar e renovar as nossas forças.

 

 

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Descansamos por quase 1 hora, tomamos banho no rio e apreciamos a natureza, enquanto relaxávamos. Após isso, nos pusemos a caminhar novamente. Como nosso estoque de água já estava no fim, paramos em uma casa a beira da ferrovia e pedimos água. Uma jovem senhora, Maria é seu nome, muito simpática nos trouxe água, a qual tomamos e enchemos nossas garrafas. Caí na besteira de perguntar se faltava muito pra chegar a Boa Esperança.... Pra que fui perguntar???....Ela disse que estava muiiiiiiiiiito longe, que já havia andado por ali uma vez e que nunca mais iria novamente, nos fazendo perder parte do ânimo. Aprendi que num passeio desses nunca se deve perguntar se já estamos chegando a algum lugar (foi assim também, antes de passarmos pelo túnel na estação de Soturno, onde encontramos um senhor a capinar o bananal). Já ia lá pelas 03h00min da tarde quando a deixamos e retomamos a caminhada.

 

E o tênis da Lili a cada momento ia abrindo mais a boca, soltando o solado até o meio. Meu tênis, não descolou, mas me causou algumas pequenas bolhas, apesar do esparadrapo estrategicamente colocado para evitar o atrito. Ele tem uma construção diferente, onde o solado é fino (e apesar disso, não furou) e a palmilha bem grossa. Andando sobre pedras, elas iam empurrando a palmilha pra cima, causando alguns pontos de atrito maiores. Marca Tryon, para referencia. O tênis da Lili também não era qualquer tênis, era um Nike Air, importado, mas já com alguns anos de uso. Andamos cerca de 01h00min hora e paramos novamente. O peso da mochila parece que estava aumentando, afinal, a maior parte do peso ficou comigo, porque minha mochila era maior. Andar nos trilhos não é muito confortável e incomoda, pois é um terreno muito irregular, com as pedras ora acima do dormente, ora abaixo e como o espaço entre os dormentes não é o mesmo espaço de uma passada de uma pessoa, pisa-se em alguns momentos no dormente, em outros nas pedras, e ainda em outros nos dois. Eu já esperava por isso, não me foi surpresa. Um dorflex caiu muito bem lá pelas 04h00min da tarde.

 

 

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Após essa última parada, em que um casal de adolescentes também nos deixou confusos sobre a distancia que ainda faltava, pois o rapaz disse que faltava muito, a moça disse que faltava pouco... Bom, a noção de distancia não é a mesma pra todo mundo né... Continuamos a caminhar, com mais vontade, pressentindo que não faltava muito. Após 40 minutos avistamos a torre do colégio dos padres, que fica em Boa Esperança. Ficamos muito alegres, pois eu sabia que dali a Vargem Alta faltavam apenas 8 km e poderíamos tentar consertar ou comprar outro par. Em boa esperança procuramos onde comprar um tênis novo, pois aquele definitivamente já não dava nem reforma. Olhamos alguns, mas nada apropriado para caminhada, apenas aqueles All Star e outros semelhantes. Liguei para o amigo que havia ido me buscar na rodoviária, e que conhece bem aquela região, pois foi criado e trabalha nela. Aconselhou-nos a pegar um ônibus e ir para Vargem Alta, onde haveria mais opções para comprar outro par. Não havia nada a fazer, além disso, e assim fizemos. Chegamos a Vargem Alta às 17h30min, bem próximo do horário de fechamento do comércio. Entramos em uma lojinha em frente à praça principal, não me lembro o nome, e após vários pares enfiados no pé, achou um que lhe pareceu confortável. Porem, não imaginávamos o que aconteceria no dia seguinte.

 

 

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Enfim, decidido por este, pagamos e fomos procurar um lugar para ficar. Achamos um lugar pra acampar, um pouco afastado do centro, chamado “PISCINAS”. Uma área de lazer, com uma piscina de água natural, uma lagoa e bastante mosquito. Conversamos com a proprietária, que queria nos cobrar R$ 50,00 pelo pacote de 4 dias de carnaval. Explicamos que seria somente por uma noite, pois estávamos de passagem e tal e ela deixou por R$15,00. Achei um preço razoável, pois havia banheiros, segurança e tranqüilidade por ser afastado do centro. Vargem Alta tem um carnaval tradicionalmente animado e a cidade estava toda enfeitada. Armamos à barraca, nos acomodamos e fomos lanchar. Realmente é uma cidade de primeira... Se você passar a segunda, sai da cidade....rsrs....fomos dormir por volta das 10 horas, nem tão cansados fisicamente, somente com alguma desconforto, afinal, havíamos nos preparado para a caminhada puxada. Em minha preparação, apesar de ser no asfalto, houve dias em que caminhei 23 km/dia. E quanto às dores na sola dos pés e nas costas, o dorflex resolveu rapidinho....

 

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Acordamos por volta das 07h30min h e esperamos um pouco secar a barraca. O clima em Vargem Alta é diferente, pois serenou bem à noite, chegou a fazer até um friozinho de madrugada e ficou o orvalho na parte de fora da barraca. Esperamos uns 50 minutos, arrumando vagarosamente a mochila, conversando e só depois de tudo pronto é que saímos do camping e paramos numa padaria pra tomar o café da manhã. Pelos meus cálculos, a parte mais puxada da havia sido feita no dia anterior. Resolvemos continuar a partir de Vargem Alta, pulando esse trecho de Boa esperança a Vargem Alta, cerca de 8 km. Saímos após o café, por volta de 09h30min da manhã da estação ferroviária de Vargem Alta. O clima era bem diferente do que tínhamos no dia anterior. Clima ameno, fresco, menos calor, mas não menos sol. Por ser uma região de montanha, a mais de 600 metros acima do nível do mar, não é tão quente.

 

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Até mesmo a vegetação é diferente. Muitas flores no caminho, mais frutas, mais fontes de água. A caminhada ia bem, eu estava bem disposto e havia me acostumado com o peso da mochila. Eis que aconteceu o que não prevíamos: O tênis da Lili, por ser novo, estava apertando os pés e causando dores e bolhas. Começamos a parar com mais freqüência, tipo a cada 25, 30 minutos pra ver se ele ia cedendo, ou parando de machucar. Infelizmente não houve jeito. Houve um momento em que olhei pra trás e a vi chorando, por causa das dores nos pés. Após cerca de 2 horas, calculo uns 08 km depois, decidi, pelo bem dela, abandonar a caminhada. Procurei a próxima saída dos trilhos, uma estradinha que cortava a ferrovia e saímos à direita, onde encontramos o asfalto após uns 5 km. Saímos justamente na estrada que passa na entrada da Cachoeira do Caiado, para aqueles que conhecem. Ainda pegamos uma carona numa pick-up que passava. Chegamos ao asfalto e esperamos um ônibus que nos levasse de volta a Vargem Alta. Foram 4 ônibus até chegar em casa, em Guarapari, as 17:30 do sábado, dia 13-02-2010. Cansados, mas em casa, fiquei a pensar quando voltaria a Vargem Alta pra terminar meu passeio, só que agora, sozinho.... rsrs...se tudo correr bem, na semana santa sigo pra lá e completo a caminhada até Matilde. Por enquanto, vou revendo as fotos e relembrando os bons momentos que passei, desse passeio que é realmente incrível e indescritível, e que todo o esforço valeu a pena..... Recomendo...

 

Quem quiser trocar idéias sobre esse passeio, pode me mandar um e-mail, ok?

 

Pode encontrar o album completo nesse site:

 

http://www.amantesdaferrovia.com.br/profile/RobertoSarti

 

Ou procurar no orkut por "roberto sarti guarapari" ou acessar o link: http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?rl=ls&uid=1530388151345398978

 

Ou ainda no youtube. Procure "roberto sarti trilhos ferrovia". Tem 3 montagens que fiz com fotos e vídeos desse passeio.

 

 

Robertosarti_02@hotmail.com

 

Abraços......

Editado por Visitante
  • 2 semanas depois...
  • Colaboradores
Postado

Pois é Catarina, o ES tem lugares lindíssimos que ficam escondidos em trilhas, trilhos, montanhas e vales, que só são descobertos através de passeios como esse, longe do lugar comum, do trivial. Esse espírito aventureiro é que deveria nortear a vida do ser humano, num âmbito maior, envolvendo todos os aspectos de nossa existencia, nos levando a experimentar coisas novas, diferentes, ousadas. Quando falei com meus amigos sobre esse tipo de passeio, de caminhada, logo questionaram minha sanidade mental. Não sabem o que estão perdendo.....rsrs..... ::lol4::

  • 3 meses depois...
  • Membros de Honra
Postado

Roberto,

 

Adorei o relato!! E que susto vcs tomaram hein?? rsrsrs Só pra dar mais adrenalina.

 

Acho muito interessante como as pessoas questionam nossa sanidade mental qdo falamos sobre essas trilhas e travessias, como mesmo disse você: "não sabem o que estão perdendo!"

 

Abraços e Boas trilhas!

 

Fernanda (frida_ssa)

  • Colaboradores
Postado

Pois é Fernanda, não sabem mesmo!!! Penso que talvez alguns de nós em algum tempo de nossa vida tenhamos achado loucura algumas coisas que as pessoas fazem. Quando se fala em caminhar 30, 40 km acham um absurdo. Na verdade, para as pessoas que não gostam, qualquer caminhada, trilha, aventura que façamos desperta nelas algumas dúvidas, por exemplo, se nosso juízo está em perfeito estado, se fugimos de algum hospício, se fumamos um.....hehehe. Em fevereiro completou 01 ano que fiz minha primeira caminhada sobre trilhos. Saí de um estado extremamente sedentário para um de ótimo preparo físico para suportar esse tipo de caminhada. Estou me programando para fazer outra pelos trilhos, essa com 40 km. Já nem dou ouvidos para os verdadeiros "loucos"...

 

Ótimas trilhas pra ti.....

  • 7 meses depois...
  • Membros de Honra
Postado

Olá Roberto!

 

Parabéns pelo relato. Vi os outros relatos teus de caminhadas sobre trilhos. Muito bacanas também.

 

Temos uma ferrovia aqui muito famosa e bonita, talvez conheça, a Curitiba-Paranaguá (total de 110 Km), cujo nome original é Estrada de Ferro Dona Isabel. Ela é uma das maravilhas da nossa engenharia devido ao seu traçado, cortando e cortornando as montanhas de nossa Serra do Mar, e às dificuldades técnicas presentes na época de sua construção (1880-1885), que venceram inúmeros obstáculos naturais, perfuraram 14 túneis em rocha, além de inúmeros viadutos. Já trilhei por ela a pé algumas vezes, no trecho Piraquara-Morretes e também de trem. Este é o trecho mais selvagem e que guarda a maior parte das belezas naturais.

 

Vendo o relato e a descrição dos problemas com os pés e com os calçados, aproveito para compartilhar algumas pequenas experiências com os leitores. Estas caminhadas sobre trilhos, como você falou, apresentam um grau de dificuldade bem maior do que aparentam. Minhas andanças sobre trilhos me ensinaram que, primeiro, se deve escolher um calçado resistente e de solado ou entressola mais grossa e rígida, se possível uma bota de caminhada, de cano médio e com biqueira reforçada (a de cano curto serve, mas há o risco maior de torcer o tornozelo numa pisada em falso entre os dormentes ou sobre as pedras irregulares). A maior espessura do solado se justifica pelas pedras britas, de tamanho grande e formas bastante afiadas e irregulares presentes na maioria das ferrorias, formando um piso terrível de se caminhar após umas duas ou três horas a fio. Tênis comuns, de solado mais macio e flexível irão fatalmente ocasionar machucaduras e bolhas na sola dos pés dada a frequência das pisadas e o atrito com o piso muito irregular, duro e pontiagudo, que, não tenha dúvidas será sentido pela sola de seu pé, além de sofrerem desgaste excessivo, em especial na porção frontal (sua esposa que o diga!) por não contarem com a proteção de uma biqueira reforçada. Outra coisa que recomendo, mesmo com calçados apropriados, é não caminhar somente por sobre as pedras na caminhada, preferindo pisar sobre os dormentes, ainda que eles apresentem vãos irregulares entre eles, dificultando a cadência da caminhada, andar sobre eles poupa bastante a sola dos pés (você só irá sentir isso no fim de um dia de caminhada).

 

Enfim, são pequenos detalhes que não são tão óbvios e que ajudam bastante a nos preservar nestas pernadas.

 

Abraço,

  • Colaboradores
Postado
Olá Roberto!

 

Parabéns pelo relato. Vi os outros relatos teus de caminhadas sobre trilhos. Muito bacanas também.

 

Temos uma ferrovia aqui muito famosa e bonita, talvez conheça, a Curitiba-Paranaguá (total de 110 Km), cujo nome original é Estrada de Ferro Dona Isabel. Ela é uma das maravilhas da nossa engenharia devido ao seu traçado, cortando e cortornando as montanhas de nossa Serra do Mar, e às dificuldades técnicas presentes na época de sua construção (1880-1885), que venceram inúmeros obstáculos naturais, perfuraram 14 túneis em rocha, além de inúmeros viadutos. Já trilhei por ela a pé algumas vezes, no trecho Piraquara-Morretes e também de trem. Este é o trecho mais selvagem e que guarda a maior parte das belezas naturais.

 

Vendo o relato e a descrição dos problemas com os pés e com os calçados, aproveito para compartilhar algumas pequenas experiências com os leitores. Estas caminhadas sobre trilhos, como você falou, apresentam um grau de dificuldade bem maior do que aparentam. Minhas andanças sobre trilhos me ensinaram que, primeiro, se deve escolher um calçado resistente e de solado ou entressola mais grossa e rígida, se possível uma bota de caminhada, de cano médio e com biqueira reforçada (a de cano curto serve, mas há o risco maior de torcer o tornozelo numa pisada em falso entre os dormentes ou sobre as pedras irregulares). A maior espessura do solado se justifica pelas pedras britas, de tamanho grande e formas bastante afiadas e irregulares presentes na maioria das ferrorias, formando um piso terrível de se caminhar após umas duas ou três horas a fio. Tênis comuns, de solado mais macio e flexível irão fatalmente ocasionar machucaduras e bolhas na sola dos pés dada a frequência das pisadas e o atrito com o piso muito irregular, duro e pontiagudo, que, não tenha dúvidas será sentido pela sola de seu pé, além de sofrerem desgaste excessivo, em especial na porção frontal (sua esposa que o diga!) por não contarem com a proteção de uma biqueira reforçada. Outra coisa que recomendo, mesmo com calçados apropriados, é não caminhar somente por sobre as pedras na caminhada, preferindo pisar sobre os dormentes, ainda que eles apresentem vãos irregulares entre eles, dificultando a cadência da caminhada, andar sobre eles poupa bastante a sola dos pés (você só irá sentir isso no fim de um dia de caminhada).

 

Enfim, são pequenos detalhes que não são tão óbvios e que ajudam bastante a nos preservar nestas pernadas.

 

Abraço,

 

 

Olá, tudo bem?

 

Já ouvi falar bastante dessa ferrovia aí na sua região, é onde tem o viaduto mais alto não é? Deve ter paisagens fascinantes por aí.......quem sabe um dia né?

 

Quanto ao calçado, vc expressou muito bem o que é caminhar por sobre trilhos e a real necessidade de um trilheiro para desbravar esse tipo de trilha. Como essa foi minha primeira caminhada por ferrovia, precisei aprender a duras penas. A dor na sola dos pés, as torções no tornozelo e as bolhas foram alguns dos percalços pelos quais passei nesse ferrotrekking. Acabei por comprar um calçado mais resistente, apesar de ter lido opiniões controversas sobre ele, mas que tem me servido muito bem. Comprei um tenis da Macboot. O solado realmente faz uma diferença enorme. Nas outras caminhadas não tenho tive mais problemas que tive na primeira. Uso ele pra trabalhar, pra sair, pra trilhas no mato, na ferrovia, enfim, pra tudo. Não tive problema nenhum de descosturar, rasgar, soltar solado, nada disso. O único porém, é que como piso torto, o solado gastou mais de um lado do que do outro. Não sei se é exigencia demais da minha parte, mas acho q o solado poderia ser um um materia mais resistente ainda...rsrsr....

 

Abração...

 

ps.: Minha próxima caminhada sobre trilhos será de Mathilde x Vargem Alta-ES, cerca de 40 km em dois dias com acampamento selvagem. Muito provavelmente no final de novembro desse ano....

  • Membros de Honra
Postado

Olá Roberto!

 

É isso mesmo... Eu também aprendi sofrendo no ferrotrekking, só que já foi a bastante tempo, por isso sempre repasso essas dicas.

 

Quanto ao Macboot, é bom sim, já usei algum tempo e pela relação custo x benefício acho ele imbatível para estas aplicações. A questão do solado é uma equação aderência x resistência, inversamente proporcional. Se eles fabricam um solado mais resistente ele será menos aderente e aí pode até ficar perigoso.

 

Falando da nossa ferrovia, Curitiba-Paranaguá, realmente temos algumas paisagens impressionantes. Os nossos viadutos não estão entre os mais altos não, creio que esse título fique com alguns que conheço do Rio Grande do Sul, bem mais altos e extensos do que os nossos, mas aqui, na época em que foram construídos, entre 1880-1885, estavam presentes algumas das maiores dificuldades técnicas já enfrentadas pela engenharia ferroviária nacional. Deixo aqui duas referências neste sentido, se vc quiser pesquisar mais: A ponte São João e o Viaduto do Carvalho.

 

Gosto muito dessa região serrana do ES e, quando possível, pretendo fazer algum desses ferrotrekkings que você já relatou. No mais desejo sucesso nas suas empreitadas, em especial nesta próxima, já quase no verão. ::mmm:

 

Abraço!

  • Colaboradores
Postado

Vlw.....

 

Quanto a próxima caminhada ser quase no verão, o que me preocupa é a chuva. Prefiro adiar se houver previsão de chuva. Calor, nem tanto pois existem várias nascentes por esse trecho.

 

Também estou com o problema de achar uma vareta pra substituir uma quebrada da minha barraca vagaba que uso. Dificil héin......

 

Se puder vir mesmo pra essas bandas, marcaremos algo por aqui.....

 

Abração.....

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