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DOWNHILL

 

Como disse anteriormente, ouvi falar do Downhill lendo um dos relatos para a viagem, como todos dizem ser obrigatório, confirmei com Rodrigo se não era uma furada e ele afirmou que não, não tinha muita noção de como seria, só estava preocupado se não haveria muitas subidas, porque apesar de fazer, algumas vezes, ciclismo urbano na minha cidade, não tinha um dos melhores condicionamentos físicos que conheço.

O bom da No Fear, é que ela é uma agência prestadora de serviço direta, logo o custo é menor por não haver intermediários. Quando fui fechar o passeio, a atendente foi muita simpática e solicita, mesmo se não estivesse na companhia de Rodrigo conseguiria ter fechado o passeio sem maiores problemas, o bom de ter ele por perto foi que pude tirar todas as dúvidas de forma mais simples e rápida, no momento estavam sendo oferecidas quatro tipos de bike (a mais simples tinha um custo de Bs 380,00; as duas intermediárias, uma de menor amortecimento e a outra com amortecimento traseiro estavam custando Bs 400,00 e Bs 420,00 – mas ela faria a melhor no mesmo preço que a de menor qualidade – e por fim a bike mais top tinha um custo de Bs 450,00), escolhi a intermediária de melhor qualidade, no passeio estavam inclusos todos os equipamentos, café da manhã, almoço ao final do passeio, banho de piscina e transporte para o ponto de início do passeio e volta para La Paz com entrega no hostel.

Como disse na dica do hostel, tem que se levar em consideração a localidade, por um lado a localização do meu hostel era muito boa, mas por ser longe do centro a van da agência não passava por ele, assim tive que sair as sete da manhã para estar na sede da agência as oito, quando iniciaria os preparativos para o passeio. Já havia deixado tudo pronto na noite anterior, acordei quinze minutos antes das sete só para trocar de roupa e escovar os dentes, mas ocorreu o que temia desde o início da viagem, acordei com uma senhora diarreia, como só havia comido as saltenhas, uma banana e algumas uvas, não tinha muito mais o que sair do corpinho haha, então tomei um banho e mesmo apreensivo fui para a agência, optei por não tomar nenhum remédio que havia levado e como previ não ocorreu mais nenhuma manifestação do meu intestino pelo resto do dia.

 

DICA: O café da manhã do hostel era das 07h30min até as 09h30min, e se por algum motivo você tiver a necessidade de sair antes do início do café, pode-se deixar avisado na recepção, que na maioria dos hosteis a equipe prepara algo para que possamos levar ou comer na hora, neste primeiro momento não sabia disso, mas neste hostel eles também faziam esse serviço, então fica a dica pra vocês.

 

O caminho até a agência foi relativamente tranquilo, apesar de ir apresado com medo de me atrasar, as dicas do Rodrigo ajudaram bastante, mas precisei do meu telefone pra ter certeza que não me perderia, acabou que cheguei dez minutos antes das oito e o mercado das bruxas nem tinha aberto ainda. Na agência fui o primeiro a chegar, eles deram as roupas para provar e optei por tirar a calça jeans que estava e coloquei meu short, além de não sentir todo o frio que os outros aparentavam sentir, durante o passeio sairíamos do clima frio da altitude e entraríamos no clima tropical da floresta, a descida sai dos 5.000 metros de altitude e termina nos 3.000, por isso essa mudança de clima e temperatura, e para não ter que fazer a troca durante o passeio já fui pronto da agência mesmo, além da bike, compõe os equipamentos, luvas, cotoveleiras, joelheiras, um conjunto calça e jaqueta de couro e capacete. Não preciso nem dizer pra levar óculos de sol e um sapato fechado, esses por sua conta.

O pessoal que foi pego pela van só começou a chegar as 08h30min, depois de todos prontos e vestidos fomos em duas vans até o ponto de partida, aos pés das montanhas que cercam La Paz, uma paisagem mais que bela, tirando o lixo que alguns insistem em jogar no local. Ali são conferidos os itens de cada um, passado as informações mais importantes pelos guias e fazemos um test drive nas bikes para pegarmos o ritmo delas. Nosso grupo ficou dividido entre quem falavam inglês e os que falavam espanhol, ainda bem que não havia um para os que não falavam nem um idioma nem outro, mas deu pra entender tudo e depois das recomendações passadas demos início a descida.

Acho que nenhum dos adjetivos que possa usar vão descrever o que vi e senti nesse passeio, é tudo muito, mas muito, mas muito lindo, rápido e emocionante. Pegamos uma velocidade incrível nesse percurso de asfalto, cheio de curvas, e com o céu relativamente nublado deixando as montanhas com seus picos em neve ainda mais belas, como a rodovia é muito boa, em alguns momentos onde não há transito, podemos simplesmente esquecer a estrada e observar a paisagem, é uma emoção única, de verdade, vale muito tudo aquilo, inclusive o termo de responsabilidade que assinamos onde retiramos qualquer tipo de culpa e ajuda por parte da agência, afinal não leva o nome de estrada da morte por acaso.

Antes de concluir esse percurso por asfalto, há um túnel, e ao seu lado uma passagem das bicicletas, passagem essa de terra e cascalho, como entrei embalado nele, quase atropelo o ciclista a minha frente e ocorre o primeiro acidente, por sorte de centímetros não foi dessa vez, mas serviu para mostra o que estava por vir. Logo em seguida após a passagem do túnel, a van de apoio nos espera para levar até a próxima estrada e continuarmos o percurso. Nesse meio caminho aonde vamos de carro existem algumas subidas, por isso não seguimos de bicicleta e eles aproveitam para servir o café da manhã – pão com ovo, água ou Coca-Cola e uma banana – mesmo estando com medo de ocorrer alguma ação adversa ao ingerir alguma comida, ativei o modo f***-se e comi tudo, além de estar com um pouco de fome, sabia que ia precisar de energia mesmo sendo descida o restante do caminho.

O restante do passeio é em estrada de terra, muito parecida com o percurso de chegada em La Paz quando vim de ônibus, havia chovido e apesar de seca havia trechos ainda molhados. Para iniciar essa parte da descida tirei o conjunto de roupas dado pela agência e guardei junto com minha mochila de ataque dentro da van, esse foi o único momento da viagem que senti falta de um repelente, mas acabou que o protetor solar deu conta de espantar os mosquitos, por isso acabei por não listá-lo nos itens para levar na viagem, mas se tivesse feito à trilha Salkantay em Cusco teria de tê-lo comprado, já que parte dessa trilha envolve floresta também.

A paisagem nesse trecho não tem muitas variações, nem por isso deixa de ser menos magnífica, mas a concentração aumenta muito na estrada, logo de cara presenciei o primeiro acidente, e olha que teve vários, nenhum que justificasse o nome da estrada que fica em uma placa logo no início do trilha. A dica é nunca usar só um freio e deixar o espirito de competitividade em casa, não é uma corrida pra ver quem chega primeiro e sim um passeio pra ver quem chega vivo, no mais, na descida todo santo ajuda, então usar os freios e controlar a velocidade é vital.

 

MOMENTO DESABAFO: Durante o percurso acabou que minha bike perdeu o freio traseiro, mano do céu, quando estava em uma das curvas, no embalo, cadê o freio, ai por instinto acionei o dianteiro com mais força, alta velocidade mais freio dianteiro é igual a capote na certa, por sorte havia as defensas ou guard-rails impedindo que fosse jogado abismo abaixo e consegui bater de lado num primeiro momento só capotando num 360º completo seguindo a proteção metálica, sério pessoal, no momento minha coluna estralou todos os ossos que possui, tipo “Snickers – mata sua fome”, eu só pensei, estou paraplégico, mas a adrenalina é tão grande que a gente só pensa em se levantar rápido pra ninguém ver nossa vergonha, quando vi que estava inteiro, sem um único aranhão e com a bike completa, só agradeci a todos os santos e deuses e universos e simbora de novo, como estava bem pensei, vou controlar melhor a velocidade e moderar no freio dianteiro, ledo engano, a gente pega uma velocidade tão grande que se não tiver os dois freios não damos conta, já na próxima curva quase me esborracho no paredão de pedra e na outra novamente outro capote, dessa vez um 180º, de novo a defensa de proteção me salvou do abismo, mais uma vez sem um aranhão, então resolvi captar o sinal e esperei o apoio pra tentarmos arrumar o freio traseiro, acabou que o guia optou por trocar de bike comigo pra não ter muito atraso até a próxima parada de apoio.

Não preciso nem dizer que a bike deles são as melhores, e acredite, só quando tu anda nelas e senti a diferença, da pra entender como vale a pena investir um pouco mais na melhor, não que não consigamos concluir de boa o percurso mesmo com as bikes mais inferiores, mas a diferença é muito grande. Pra quem puder e quiser, fica a dica.

 

Depois que paramos insisti em voltar pra minha bicicleta, mas ele achou melhor que seguisse na dele – já que insiste – terminamos o percurso por volta das três horas da tarde, à medida que avançamos vamos nos deparando com algumas vilas e povoados, a paisagem sempre linda e de momento em momento paramos para tirar algumas fotos para o álbum que a agência nos envia depois. Já no momento da chegada após passarmos por uma queda d’água no meio da estrada (creio que por causa das chuvas), tem um pequeno trecho plano e com leves subidas, nada que impeça qualquer pessoa de concluir com êxito o passeio.

 

DICA: No nosso grupo haviam pessoas de todos os lugares do mundo, de vários tipos físicos e idades, um australiano com quem consegui trocar algumas palavras em inglês já era um senhor de quase oitenta anos, e deu um banho em mim diga-se de passagem, já que na chegada tem uma subida interessante, eu era o quarto a chegar, mas desci para empurrar a bike enquanto ele tomou minha posição e ainda tirou onda. Então se o seu receio for por conta do condicionamento físico, vá sem medo porque é muito tranquilo.

 

Depois de concluído o trajeto, vem o merecido descanso. O ponto final é uma parada as margens de um rio com piscinas naturais creio – na verdade não fui até elas porque minha coluna deu sinal de vida assim que acabou a descida então preferi ficar deitado em um banco até a partida –, e além das piscinas todos ganhamos uma camisa da agência e podemos almoçar a vontade no restaurante, além de tomar um banho decente nos banheiros. Talvez a essa altura você esteja pensando que não comi nada, erouuu (lembre do meme do Faustão), parti pra cima sem dó, e estava muito bom todo aquele banquete, comida muito gostosa. Barriga cheia e banho tomado, era hora de voltarmos pra La Paz, em um percurso longo e lento, já que agora teríamos que subir de volta aos quase 4.000 de altitude e mesmo a rodovia sendo um tapete, o excesso de curvas não permite imprimir uma grande velocidade.

 

DICA: Muitos passeios podem ser feitos sem o intermédio de agências, com um bom mapa, relatos e condicionamento físico é perfeitamente possível fazer por conta os badalados trajetos. Essa era minha intenção em Cusco diga-se de passagem, fazer a trilha Salkantay até Machu Picchu, seguindo o relato do @victor machado aqui do site, Salkantay Trek Completo, sem guia. Mas no caso do Dawnhill não recomendo, primeiro porque é necessário ter os equipamentos e o mínimo de apoio se algo der errado, além do que a volta para La Paz vai exigir muito condicionamento já que é subir quase 1.500 metros de altitude pedalando, no mais o preço dos alugueis de bike e proteção devem ficar muito próximos do gasto com a agência, então nesse caso vale considerar o custo beneficio.

 

A maioria do pessoal apagou na volta, mas a vista era estupenda e as músicas que tocavam pra todos ouvirem era a mais pura popular boliviana, pense numa sofrência doída, deixa qualquer Pablo no chinelo. Quando chegamos a La Paz já era mais de oito da noite, a van foi deixando parte do pessoal nos seus hosteis e eu fiquei na agência já que o motorista não iria ao meu por ser muito fora de mão. Como precisava mesmo acertar os detalhes de horário e ponto de saída no passeio do dia seguinte, pois quando o comprei ainda não estava certo se fechariam um grupo para a Chacaltaya ou se teria que me encaixar em outra agência, acabou que fui encaixado mesmo, e como a van iria direto, o ponto de encontro mais viável foi a Catedral Maria Auxiliadora, qual já conhecia o caminho.

O retorno para o hostel foi dramático, ao tentar seguir as referencia que o Rodrigo havia passado – indo pelas ruas mais movimentadas, já que o caminho pelo qual vim de manhã era mais seguro só a luz do dia –, terminei por me perder, e feio, quando vi já tinha avançado quase um quilômetro a frente de onde deveria entrar para o meu hostel, e o ar começou a faltar e o frio a chegar. Nesse momento parei perto de um grupo de jovens me sentei e saquei meu telefone, não sei se olhava mais pro mapa ou pros lados com medo de alguém levá-lo, refiz o percurso na minha cabeça, no qual deveria seguir até uma praça de referencia, me perdi mais um pouco, mas consegui chegar, depois foi só alegria quando fui reconhecendo o caminho para o hostel.

Ao chegar encontrei no quarto Juan, um francês que hablava um pouco de espanhol, nos cumprimentamos, mas ele não queria muito papo – francês. O que foi bom, pois além de um bom banho tinha que arrumar meu mochilão ainda, queria muito fazer o Titicaca, mas isso significaria sair de La Paz e depois retornar para ir a Uyuni, e como já tinha decidido que não passaria duas vezes por um mesmo lugar optei a ir direto para o salar, assim já perdi as contas de quantos motivos tenho para regressar a esta cidade.

 

DICA: Todos os hosteis por qual passei, permitem que deixemos nossas coisas mesmo que com a diária encerrada, no geral os check-out’s enceram-se às onze horas ou meio dia, mas se tiver um passeio que só termine pela tarde, podemos fazer o check-out antes de sair para o passeio e deixar o mochilão guardado para pegá-lo na volta. Dessa vez não foi meu caso, uma porque não sabia, e mesmo que soubesse a essa altura, não seria interessante voltar do ponto de parada final do passeio e retornar ao hostel só para pegar o mochilão, já que pretendia ir para a rodoviária de pé dois ao invés de pegar um táxi. Se me arrependo, não perca o próximo capítulo, neste mesmo horário, neste mesmo canal, haha, não contavam com minha astúcia, não é.

 

GASTOS: Dia 18.09 (terça-feira).

 

Nenhum centavo = Bs 0,00

 

No Fear Adventure, eles promovem uma série de passeios, pra conseguir um bom desconto o ideal é fechar um grupo com várias pessoas e um pacote de passeios cada. Corre até uma lágrima dos olhos deles.

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Paisagem no ponto de partida para o passeio.

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Vista durante a primeira parte do trajeto.

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Tudo pronto, e lá vamos nozes.

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Uma das paradas do grupo já na segunda parte do percurso.

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Felicidade define, essa americana estava há dois meses mochilando, sem falar nada de espanhol, mas com um alto-astral contagiante.

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Acabou que formamos um trio, o de capacete é um brasileiro, Lucas, há mais de seis meses mochilando.

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@Wesley Felix Gratidão por ter acompanhado e feliz de ter colaborado para essa trip massa. Obrigado por ter lembrado... Seu roteiro tá completo, continua ai que estou aguardando os próximos capítulos. Forte abraço!!!

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@Diego MoierGrato sou eu irmão, de verdade, teu relato foi a base para montar toda a minha trip, espero sinceramente que o universo lhe retribua toda disponibilidade e humildade em que viveu e depois descreveu tudo, se o roteiro tiver se aproximado do seu e do @rodrigovix, já me dou por satisfeito, muita luz pra vocês rapazes, abraço.

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CHACALTAYA E VALLE DE LA LUNA

 

            Na manhã de meu último dia em La Paz despertei novamente com uma forte dor de barriga, mas dessa vez como havia comido mais no dia anterior as consequências também foram maiores, como havia despertado mais cedo para terminar de aprontar minha mochila de ataque, foi o tempo de ir e voltar no banheiro algumas vezes. Sai do hostel as 07h50min e optei por nem pegar minhas frutas na geladeira e nem tomar café da manhã, apenas um suco rápido, fiz meu check-out já com o mochilão nas costas, me despedi dos funcionários do hostel e desci a ladeira até a Catedral, na descida tudo é ótimo, comprei um garrafão de água de seis litros e consegui estar no ponto de encontro dez minutos antes do horário previsto, as oito e meia. Dessa vez estava bem agasalhado, durante esses dias em que estive em La Paz as manhas começavam com 5º C e sensação um pouco mais baixa, ainda assim não sentia tanto frio, as roupas foram recomendações por conta da montanha que subiríamos logo cedo, amarrei minha jaqueta na cintura e me sentei aos pés das escadas em frente a igreja.

            A van atrasou um bom tempo, até o momento que chegou um casal de mochileiros em um táxi, apesar do inglês inexistente de minha parte, consegui arrancar a nacionalidade israelense deles e indicar um café a frente, ao contrário de um casal de franceses que também chegaram depois, os israelenses eram simpáticos e pareciam mais perdidos que eu, quando isso ocorre a gente se dá conta que não somos os únicos nessa situação e isso é até encorajador, não olhando pelos desafios dos outros, mas simplesmente por saber que todo mundo tá no mesmo barco e quem têm mais experiência é por que já passou pelo que estamos vivendo agora.

 

MOMENTO DESABAFO: Esse casal de Israel foi bem interessante, quando o taxista retirou as mochilas deles do porta malas, deu pra entender ele dizendo “essa é a igreja que vocês têm que esperar” o homem franzino claramente não entendia espanhol como constatei depois, foi ai que o taxista olhou pra mim e disse: - Olha, eles devem ir no mesmo passeio que você, fica perto deles e ajuda no embarque. Eu só sorri afirmativamente. A princípio eles ficaram bem receosos, na deles mesmo, depois o homem tirou uma moeda do bolso e deu para um dos mendigos que estavam no alto da escadaria junto à porta de entrada da igreja, nesse momento a fila de idosos ao lado ainda era pequena, notei que ele comentou algo com sua mulher e era no sentido de surpresa diante daquela pobreza toda, foi então que puxei assunto com ela, o básico de inglês a gente sabe – apesar de demorar em entender a nacionalidade deles – depois disso tudo, fluiu, indiquei o café do outro lado da rua e vi que iriamos no mesmo passeio. Quando falamos que somos brasileiros eles abrem um sorriso muito bacana de se ver, é bem legal mesmo. Depois fiquei pensando, a gente se acha louco, mas imagina um casal de israelenses, sem falar nada do idioma local, e sem ter noção da realidade local, porque o modo como ele se impressionou com aquele pedinte, foi no mínimo interessante de se observar, no mais, se aquele taxista fosse um mal caráter, ele poderia sacanear ou dar um golpe tranquilamente em ambos, acho que o universo é muito bom para nós mochileiros, porque se fossemos pensar mesmo, não sairíamos do nosso bairro e a vida nem valeria a pena.

 

            Quando nossa van chegou foi uma luta pra entrar com mochilão, mochila e garrafa d’água, parecia uma sardinha dentro, éramos um grupo bem grande de pessoas, em torno de quinze creio, e a maior parte brasileiros, foi uma festa só, ao longo do caminho passamos pela cidade de El Alto, quando subi com Rodrigo pelo teleférico ele passou algumas informações sobre a cidade, mas disse que não havia muitos pontos de interesse para se conhecer, as impressões que tive é que o transito é ainda mais intenso que o de La Paz e as feiras de rua ainda maiores.

            À medida que as duas cidades vão ficando para traz é possível notar a imensidão urbana que ambas formam, e a medida que nos aproximamos da montanha, a vista do caminho, uma estradinha íngreme – onde não passam dois veículos lado a lado, com muitas pedras e neve – e que vai serpenteando a montanha em curvas e mais curvas é sensacional, logo acima podemos avistar os cumes das várias montanhas que rodeiam La Paz, todos ainda com neve, é uma imagem indescritível, mesmo.

 

DICA: Deixe para fazer a subida à montanha no seu último na cidade, para assim auxiliar a aclimatização devido a grande altitude em que está se encontra, a base de onde partimos para o cume está a 5.300 metros de altitude, sendo que a subida para o topo é bem íngreme, de 300 metros, com seu ponto final nos 5.421metros de altitude.

O modo mais fácil e seguro para chegar a Chacautaya é por intermédio das agências, elas oferecem o transporte, guia e incluem o Valle de La Luna no passeio, pelo menos na No Fear não havia diferença de preços com ou sem o Valle, então fechei o pacote dos dois passeios pelos mesmos cem bolivianos, mais as entradas que possuem ingresso pago a parte. Pra quem quer fazer de modo independente também é possível, basta contratar um táxi e pagar a entrada, esse trajeto de descida da base pela estrada de acesso é feito também por ciclistas em busca de muita emoção, pois não há defensas para salvar pessoas tipo eu, que saem capotando por ai, por fim o preço acaba sendo maior, no entanto não haverá limite de tempo para ficar na montanha nem a convivência com outras pessoas, caso prefira. Por fim, agora sim, também há como personalizar o passeio na própria agência, mas isso depende de um grande numero de pessoas no grupo ou desembolsar um valor maior, assim além de ficar mais tempo, ainda existe a opção de caminhar até o outro lado da montanha, onde o carro da agência recolhe os aventureiros.

E independente do modo como vai, leve roupas de frio, venta muito no topo e dependendo de como for sua caminhada e do grupo, você poderá passar mais tempo lá, óculos de sol é indispensável assim como protetor solar, água e algo que de energia rápido como chocolate, alguma fruta ou barras de cereais.

 

            A sede da estação está completamente abandonada, assim sendo não havia muito que ver nesse espaço, logo iniciamos a subida e foi ai que eu senti a altitude de vez, o coração dispara, tropeça quase para, só pode que o Tiago Iorc foi compor lá essa música, porque é assim mesmo, simplesmente a gente puxa e não vem oxigênio, o coração palpita muito forte e falta força pra continuar a subida, o frio também vem forte com o vento, acabou que fui ficando para traz, e precisava parar a cada dez passos no começo. Além de mim outro brasileiro também estava bem cansado, mas nem de longe ofegante como eu, e ainda aproveitava para parar e tirar um monte de fotos, a israelense não conseguiu dar continuidade, em compensação o marido dela acompanhou ela até o terço da montanha, me ultrapassou correndo, foi até a metade, voltou para vê-la e depois voltou a me ultrapassar já na metade do caminho, Nossa Senhora que fôlego e eu que não dava um boliviano por ele, acabou que eu e o outro brasileiro fomos um incentivando o outro, quando cheguei na metade parava a cada vinte passos e quando já dava pra ver o topo a cada trinta, acaba que a gente vai pegando o ritmo com passadas mais curtas e ritmadas, mas o incentivo ajuda muito além de um pouco de chocolate que tinha levado (ainda do downhill), só depois de comê-lo que consegui ter mais um pouco de forças, quando chegamos ao topo, valeu de mais tudo, é uma sensação de superação sem igual, ventava muito, mas a vista era magnífica, ao horizonte, bem longe é possível ter um vislumbre do Titicaca, além das várias outras montanhas que cercam La Paz e que são muito mais desafiadoras como a Huayana Potosí, que o Rodrigo era guia e me convidou para escalar em uma próxima oportunidade.

            Tão logo chegamos, já iniciamos a descida, nosso grupo estava só nos esperando mesmo e torcendo por nós – isso é muito bacana –, estava usando meu coturno e tirando a parte que machucava os dedos, ele deu conta do recado, fui o primeiro a chegar à base, para surpresa de todos, o segredo é saber onde pisar, pois há muitas pedras soltas e tínhamos que manter uma distância de quem ia a nossa frente para evitar acidentes, já disse que na descida todo santo ajuda e graças a Deus não ocorreu nada de errado com ninguém do grupo. Quando voltamos à base é que a maioria do pessoal começou a sentir os efeitos da altitude, algo que agora não ocorria comigo, as principais reclamações eram de dor de cabeça e tontura, momento de dividirmos água, algumas folhas de coca que sobraram e irmos para a van, onde o pessoal mais afetado poderia descansar. A descida da base pela estrada de acesso foi bem mais emocionante que a subida, mas o motorista era fera e deu conta tranquilo, mesmo tendo um momento onde todos congelaram, pois a neve havia derretido um pouco e invadido ainda mais a estreita pista, mas fora isso foi tranquilo, muito mais de que ter que voltar a La Paz e cruzar toda a cidade em horário de pico para irmos ao Valle de la Luna.

            Se ver o caótico trânsito de La Paz era engraçado, estar nele era horrível, acho que demoramos quase quatro horas para atravessar toda a cidade, por mais que o motorista escolhesse ruas alternativas, sempre tinha que voltar para alguma via principal, e ai era espera e mais espera, todos já estavam impacientes dentro da van, até os paulistanos acostumados aos engarrafamentos da metrópole brasileira, aproveitei pra conhecer melhor o pessoal, só não me pergunte o nome deles, mas de resto eram tudo gente boa. Já haviam feito Cusco e então fui pegando umas dicas, principalmente para a Montanha Colorida, acabou que fiquei completamente desanimado, o mesmo parceiro que subiu em ritmo mais lento para fazer a Chacaltaya comigo mais cedo, havia feito a Rainbow Mountain e me relatou da dificuldade que teve, idêntico a mim mais cedo – apesar de ir lentamente, ele não sentiu a falta de ar – a diferença entre as montanhas, segundo ele, é que a Chacaltaya é mais íngreme, no entanto nós já a iniciamos praticamente no topo, já a Rainbow tem um percurso de oito quilômetros para serem vencidos em mais ou menos oito horas, se for por agência, sendo que seu início se da nos 4.000 metros de altitude e termina nos 5.200 de altitude, ou seja, é muito mais desgastante, mas isso era coisa para se preocupar depois, em Cusco.

            Pois bem, vencido o trânsito, chegamos ao famoso Valle de la Luna, o lugar possui uma estrutura massa, pagamos a entrada e logo tivemos acesso aos banheiros, e depois começamos o passeio, a geologia do lugar é realmente muito diferente, possível de ser notada em alguns paredões que circundam a cidade, mas ali podemos ver de perto, tocar e caminhar pelas passarelas entre os diferentes terrenos, segundo o guia, o americano Neil Armstrong foi quem comparou o lugar ao terreno lunar ao conhecer La Paz ainda na década de sessenta do século passado. E realmente é muito diferente de tudo que já havia visto, mas confesso que imaginava a lua diferente, mas enfim, quem sou eu.

 

DICA: Se quiser fazer o passeio ao Valle por conta, é mais que possível, ele fica a menos de trinta minutos do centro e é possível chegar de ônibus ou táxi – pagar a entrada que é em separado mesmo até pelas agências –, a diferença é que a agência disponibiliza um guia que vai explicando algumas curiosidades no caminho, acredito muito que compense fazer o passeio casado por agência, Chacaltaya e Valle, é só ir preparado para enfrentar uma temperatura negativa no topo da montanha e depois alternar para mais de 30º C durante o passeio a tarde em um ambiente desértico, que tudo dará certo. Durante nosso passeio encontrei o Lucas e americana, diga-se de passagem, eles estavam por conta, como a maioria dos passeios que estavam fazendo nos seus mochilões, mesmo trocando contato, acabou que não conseguimos nos falar mais, mas foram grandes amigos durante o período em que estivemos juntos, tipo aquele lance de atrair quem está na mesma sintonia que a gente, gratidão.

 

            Acabado o passeio, a van me deixou em frente à No Fear, me despedi do grupo que seguiria para o Brasil – como pessoas normais que eram, La Paz é geralmente o ponto final dos mochileiros –, já eu estava apenas no início de meu mochilão e agora iria caminhando em direção a rodoviária, as dicas do Rodrigo já tinham se ido da minha cabeça a tempo, estava confiando nos aplicativos do celular, mas como queria um caminho menos movimentado que a avenida principal, tentei seguir pelas ruas paralelas, tentei me organizar sentado em um movimentado ponto de ônibus na praça da Igreja São Francisco, o objetivo era mentalizar os mapas para evitar ficar sacando o telefone a todo momento, um mochilão, uma mochila, um garrafão de água, aqueles coturnos e a rodoviária que parecia tão perto no mapa, só parecia mesmo.

            Atravessei a avenida para ir em direção a rodoviária, mas era uma passagem subterrânea um tanto estranha, pensamos, “se não formos roubados agora, depois que não seremos mais”. Acabou que nem foi tão perigoso assim, é só fazer cara de mal e sair gritando, eu sou Zé Pequeno porra, as pessoas respeitam a gente.

            Mas voltando a falar sério, sai em uma rua muito estranha, então fui subindo para uma mais movimentada logo acima, aquele dia eu não estava nada bem, a cada meia quadra eu tinha que fazer uma parada pra descansar, tipo sentar e descansar mesmo, não tinha fôlego para encarar nem as descidas mais longas, quando pensei em pegar um táxi o preço cobrado era o mesmo que no dia em que fui da rodoviária para o hostel, pensei com meu eu, “deve ser essa cara de doença sua”, porque não era possível, pra variar meu mapa no telefone não estava abrindo agora, os créditos haviam acabado e eu não sabia que tinha que salvar os mapas com antecedência para ter acesso off, Windows Phone, perfeito. Fui tentando me comunicar com as pessoas, pra pegar a direção correta, não tenho certeza quantos pares de vezes ouvi falarem, desce mais quatro quadras que é logo ali, depois mandavam voltar ou ir direção completamente oposta, continuei seguindo por onde achava certo, desci para ruas paralelas sempre que achei que podia estar ficando perigoso, e ia olhando o teleférico, ele era uma referência mais confiável, mas nessa altura sabia que estava bem longe da rodoviária, foi quando estava sentado nas escadarias em frente a saída de uma igreja que uma senhora muito distinta me olhou como se eu não fosse um mendigo e sorriu – certeza que foi um anjo que Deus mandou –, antes de responder por onde deveria ir, ela quis saber se estava bem ou precisava de ajuda, apesar de sentir uma fraqueza e falta de ar, estava bem inteiro, acho que o ódio pelo coturno me manteve vivo, depois que ela indicou certinho o trajeto, tive que andar mais um quilômetro, mas agora já reconhecia os pontos que o Rodrigo me indicou, quando cheguei na esquina que da de frente ao terminal foi um grande alívio, depois dessa estava pronto pra outra como viesse, ah tá.

            Cheguei ao terminal pouco depois das quatro da tarde, fui à procura das agências que vendem a passagem para Uyuni, o pessoal na entrada fica gritando o tempo todo anunciando os destinos e tentando captar os passageiros que chegam, dei uma volta por todo o lado direito e depois fui voltando pelo esquerdo, já perto do meio da estação encontrei duas agências que faziam o trajeto para Uyuni, escolhi a Titicaca (Trans Titicaca Bolívia), não estava esperando muito do ônibus apesar da fotografia estampada na parede – só perguntei se teria banheiro e ela prontamente afirmou que sim –, marquei meu assento, preenchi a burocracia toda a mão, na hora de pagar a moça não tinha troco, então aproveitei para ir comprar umas frutas e trocar o dinheiro pra ela, paguei a passagem, depois o ticket de uso do terminal e fui aguardar o embarque que só ocorreria as 22h00min, mas tinha que estar na plataforma de embarque trinta minutos antes, a outra agência tinha previsão de saída as oito da noite, mas chegaria as cinco da manhã em Uyuni, nos relatos era isso mesmo, mas optei por chegar mais tarde, ainda bem por isso.

            Quando deu o 21h30min fui em direção ao embarque, o ônibus já estava na plataforma, pelo menos no terminal da capital os horários são cumpridos a risca com muita organização, e surpresa, foi o melhor ônibus que andei na vida, três poltronas leito por fileira, jantar, que comi tudo, diga-se de passagem, no entanto no banheiro só se pode urinar, só fui descobrir depois de me encher de banana e do leve jantar oferecido, bom que não precisei usá-lo para outros fins, depois de conferirem que todos haviam pagado a taxa de uso do terminal, fomos liberados para seguir viagem pela noite que passaria mais frio em minha vida, pelo menos até o presente momento dessa escrita.

 

GASTOS: Dia 19.09 (quarta-feira).

 

Água 6 litros = Bs 16,00

Entrada Chacaltaya = Bs 15,00

Gorjeta para o guia (ele foi muito atencioso na subida da montanha) = Bs 20,00

Entrada Valle de la Luna = Bs 15,00

Passagem para Uyuni (Titicaca) = Bs 130,00

Uma caixa de suco de maçã e 05 bananas = Bs 9,00

Taxa de uso do terminal = Bs 1,50

Balas, caneta e moedas para cholas = Bs 5,00

 

TOTAL DOS GASTOS – Bs 211,50 / R$ 133,00 na saída de La Paz.

Observando o movimento da cidade enquanto aguardava a van para irmos a Chacaltaya.

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Caminho para Chacaltaya.

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Estação de sky desativada e ponto de partida para o cume.

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Enfim no topo.

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É neve mesmo.

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Entrada de Valle de la Luna.

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E olha quem encontrei no passeio, minha dupla preferida.

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Valle de la Luna, segundo o guia, Armstrong revelou ser essa geologia similar a da lua, com exceção da vegetação e vida.

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Agência Titicaca, já no terminal rodoviário.

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UYUNI

 

Ainda no terminal de La Paz estava sentindo um frio absurdo que só foi aumentando dentro do ônibus, então logo após terminar minha pequena refeição e no apagar das luzes dei um jeito de vestir meu conjunto segunda pele, calça moletom, minha camisa, a blusa fleece, gorro e luvas, era tudo o que tinha na mochila de ataque, pois havia deixado minha jaqueta no mochilão acreditando que não faria tanto frio dentro do ônibus, mas pelo amor de todos os santos, eu estava simplesmente tremendo, e fui alternando entre dormir e tremer de frio, quando acordava tremendo conseguia ainda olhar a excelente estrada e sua vista – escolhi a poltrona três com visão panorâmica, mas logo dava um jeito de cair no sono de novo, assim tinha menos percepção do frio, que insistia em me acordar – e foi essa luta o caminho todo até chegarmos à pequena Uyuni antes das sete da manhã, quando o ônibus parou já estávamos sob a luz do sol há um tempo, minha esperança era que ele começasse a aquecer o ar logo, mas a sensação de frio só aumentava e quando desci do ônibus só fazia tremer e soltar fumaça pela boca, nariz e acho que até orelhas. Chegou um momento que estava na fila para pegar o mochilão e não conseguia mais controlar de tanto que tremia, me afastei até a calçada – não há terminal de ônibus na cidade – e soltei o meu inseparável garrafão de água, nesse momento um senhor me abordou para fechar o passeio para o salar – super normal, o pessoal fica há espera dos ônibus que vem lotados de mochileiros e turistas e ficam em cima da gente que nem agentes de turismo mesmo –, acho que meu cérebro congelou por um minuto e só disse que iria pegar meu mochilão e esperar uns amigos brasileiros para irmos juntos – apesar de congelando, lembrei das dicas de não aceitar o primeiro que aparecesse, mas a dica quase correta é, perguntar o preço e depois ver se há alguém mais barato – no momento essa foi a única desculpa que consegui pensar, e não era totalmente mentira, ainda no ônibus havia ouvido um sotaque português muito nítido, minha esperança era encontrá-los enquanto pegava meu mochilão, mas após fazê-lo e não ouvir nada, fui indo em direção ao meu garrafão, que sempre permaneceu no meu campo de visão, e depois de pegá-lo, já me afastando um pouco da multidão, nesse momento um outro senhor aparece diante de mim e pergunta se eu já tinha agência, só falei que não e dessa vez perguntei seu preço, quando ouvi que estava abaixo das minhas referências de relato abri um sorriso, mas ainda havia outra questão a perguntar e antes de abrir a boca ele já emendou, vamos até a agência que lá tem um aquecedor e depois vou te levar em uma cafeteria pra que possa comer algo quente, se ele tivesse dito isso antes de falar o preço eu já teria ido com ele de cara, mas mesmo tremendo igual uma vara verde (nunca vi, mas minha avó sempre usa essa comparação) ainda estava raciocinando bem, e morrer de frio parecia a coisa mais urgente a se evitar no momento, a questão do passeio poderíamos ver depois.

 

DICA: A travessia do salar é feita por várias agências, procure sempre as diretas ao invés das intermediárias, a mais conhecida é a Esmeralda Tours, mas a operadora em que fechei o pacote foi a Ever Green Travel, acabei dando muita sorte, pois o meu pacote incluía o passeio pelo salar de três dias e duas noites, as refeições, acomodações de pernoite e o transfer da fronteira até San Pedro do Atacama já no Chile, tudo por Bs 750,00 – enquanto que outras pessoas no meu grupo que fecharam diretamente tiveram que pagar cinquenta bolivianos a mais pelo mesmo pacote. Segundo o dono da agência faltava apenas uma pessoa para fechar a “cota” dele, e essa cara era eu.

Existem várias modalidades de passeio, desde apenas um dia, dois e uma noite, e mais que três dias e duas noites, apesar deste ser o mais popular por fazer a ligação entre a Bolívia e Chile, a faixa de preços vai variar conforme o nível de experiência e personalização que estiver disposto a vivênciar, os passeios são fechados em grupos de seis pessoas mais o motorista, que será o responsável pelo grupo durante todo o tempo, desde a questão das refeições, rotas, lugares de parada, ajuda com as fotos em perspectiva, e horários.

Quando disse mais acima que a dica quase correta era ver o preço de várias agências antes de fechar com a mais barata, o “quase” fica por conta da qualidade do serviço que também deve ser levado em consideração, preços muito abaixo dos encontrados em relatos, por exemplo, podem envolver veículos em péssimas condições, problemas com os motoristas, entre outros, por isso procure agências referenciadas, já que ter problemas nesse tipo de passeio pode ser algo bem complicado.

Outra dica é fazer o passeio a partir da Bolívia para o Chile, ele acaba sendo em média, vinte por cento mais barato do que o caminho inverso, tudo no Chile é mais caro – tudo.

 

Quando li os relatos da chegada em Uyuni, não me lembro de ler sobre essa abordagem das agências, acho que justamente por que o pessoal chegava no primeiro horário a cidade, entre quatro e cinco da manhã, nesse caso o pessoal descia dos ônibus e iam direto para as cafeterias em busca de fugir da morte congelante – isso é unanimidade, mas só me apercebi quando estava lá – e uma vez lá dentro são abordados ou conseguem formas grupos e se organizar para ir em busca das agências e fechar os passeios. Já o meu caso foi diferente, após seguir com o senhor para seu veículo e depois para a agência, ele ligou o aquecedor e foi me mostrando como seria o passeio, todos os pontos de passagem, o transfer incluso, o modelo de veículo, os valores que deveria ter disponível para fazer a travessia, entre outras coisas – mas só de estar em um lugar quente eu já estava bem mais feliz, como o preço estava abaixo do que esperava, fiquei um pouco preocupado com a qualidade do serviço, mas só poderia confirmar depois que começasse o passeio – a única coisa que pedi com um pouco de ênfase foi a possibilidade de me encaixar em um grupo que tivesse algum brasileiro ou falante de português, e ele disse que conseguiria fazer esse encaixe, mas precisaria sair pra confirmar antes, e me deixaria aguardando um pouco na agência para depois me levar a cafeteria.

 

MOMENTO DESABAFO: Essa viagem foi muito abençoada, quando me levantei com meu garrafão de água, o agente da Ever Green parecia que estava me observando, só aguardando para me abordar, apesar do frio fiquei receoso de que pudesse ser algum golpe, cara a gente tá sozinho, entrando em um carro com um completo desconhecido, acho que o Brasil cria uma paranoia tão grande na gente que tudo pensamos ser algum tipo de golpe, ou coisa de serial killer, quando não é, ou oremos pra não ser né. No mais se ele não tivesse aparecido, sinceramente não tinha muita noção do que fazer, nos relatos base para o meu, o pessoal ia em direção as cafeterias, mas no momento ficamos muito perdidos, é muito frio mesmo, por isso procure, se possível, alguma companhia, vá muito bem aquecido, e se conseguir falar, pergunte onde ficam os lugares para comer algo, a cidade é bem pequena, uma vez nesses ambientes tem wi-fi e aquecimento, dai pra resolver qualquer problema é um pulo.

 

Assim que paguei o passeio ele me levou até a cafeteria para que pudesse comer alguma coisa enquanto ele agilizaria os preparativos para o passeio, agora já não estava mais tão frio e na sua ausência me livrei do conjunto segunda pele, à medida que o sol vai aquecendo o ar, tudo fica mais suportável, mas aquela madrugada havia feito dois graus negativos, por isso de todo aquele frio que senti. Já na cafeteria tomei um café americano e antes de sair usei a casa de banho do estabelecimento, já que durante o passeio acesso a banheiro só nas paradas ou na hospedagem ao fim do dia. De volta à agência, agora aberta, ainda demoraríamos mais uma hora para partir, então pedi algumas dicas para chegar a uma casa de câmbio, já que tinha o dinheiro contado para finalizar o passeio, mas precisava compra mais algumas coisas, além do que queria conhecer um pouco da pequena cidade, agora muito simpática aos meus olhos, com o sol no céu e sem aquele frio tremulante.

Tirei fotos da praça e outros monumentos, depois aproveitei para comprar uma meia de lã grossa, nem tanto pelo frio, mas por conta do coturno que engolia minhas meias à medida que ia andando e como ele seria meu parceiro de caminhada pelos próximos três dias – tínhamos que nos acertar de um modo ou de outro, triste ilusão –, como já estava lá aproveitei pra comprar um cachecol também, achei muito colorido como tudo na Bolívia, mas era bacaninha. Depois continuei minha jornada em busca das casas de câmbio, só achei uma aberta e o preço era o pior de toda a viagem, troquei o básico apenas para garantir que teria dinheiro boliviano até minha chegada ao Chile.

 

DICA: Apesar de não ter levado dólares e do real estar no pior momento do ano devido às incertezas da eleição, deveria ter me atentado mais para a questão cambial, cidades muito turísticas são péssimas pra troca de moeda, Uyuni e posteriormente San Pedro foram prova disto, enquanto em La Paz paguei R$ 1,00 por cada Bs 1,60 – em Uyuni por cada real só consegui Bs 1,40. A diferença no Chile foi mais ou menos parecida, a cada R$ 1,00 consegui apenas S 140,00 - 145,00 – enquanto a cotação do dia marcava para cada real S 160,00 (pesos chilenos). Se tivesse sido um pouco mais esperto, teria comprado a moeda chilena em La Paz mesmo. Para ter certeza basta interagir nos fóruns e comunidades de viajantes e perguntar como está a cotação nessas cidades mais turísticas e procurar a cotação do dia na internet, nas grandes cidades e capitais fora do país de origem, a variação negativa ocorre, mas é bem menor do que em cidades turísticas dentro do próprio país, uma mochileira que encontrei em San Pedro havia cambiado dinheiro em La Paz com uma cotação em pesos chilenos muito melhor do que eu estava pagando em San Pedro, dentro do próprio Chile. E por ultimo, nem todas as casas de câmbio aceitam a moeda brasileira, logo quanto menos concorrência, menor a oferta e maior o custo.

 

Na volta aproveitei pra comprar mais água e um refrigerante, o motivo da água era para ter uma garrafa menor durante a viagem já que ficar com o garrafão o tempo todo era de mais também, quando retornei na agência estava tudo pronto, terminei de pegar o que usaria no dia e coloquei na mochila de ataque – o mochilão vai em cima do carro muito bem amarado e coberto, então pegue o que vai necessitar porque depois só na parada pela noite – o principal a não se esquecer são os lenços umedecidos, protetor solar, papel higiênico pra ficar tranquilo e uma blusa de frio, estou contando que nesse momento você já estará apenas de camiseta e com óculos de sol no rosto. Como ainda faltavam alguns minutos coloquei o telefone pra carregar e esperamos mais um pouco enquanto a caminhonete havia ido buscar o pessoal do meu grupo em uma das cafeterias, depois de voltar para a agência iriamos seguir direto para o primeiro ponto do passeio – o cemitério de trens.

 

GASTOS: Dia 20.09 (quinta-feira).

 

Passeio Salar de Uyuni (três dias e duas noites + refeições + pernoites + transfer até San Pedro do Atacama) = Bs 750,00

Café Americano (dois pães, geléia, café com leite e um copo de suco) = Bs 23,00

Uma meia de lã e cachecol = Bs 45,00

Bebidas (agua 2l + Sprite 500 ml) = Bs 12,00

Troca de moeda (R$ 1,00 = Bs 1,40) – R$ 50,00 = Bs 70,00

 

TOTAL DOS GASTOS – Bs 830,00 / R$ 518,75 em Uyuni

 

Prédio público em Uyuni.

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Prédio do relógio na praça principal.

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Monumento Dakar.

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Antes de viver do turismo a cidade era essencialmente mineira, e seu surgimento teve forte ligamento com uma linha ferroviária, na rua onde se encontram boa parte das agência, inclusive a Ever Green, há vários monumentos recontando essa história.

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O SALAR

 

Quando entrei no carro dei de cara com o grupo que seriam meus companheiros pelos próximos dias de viagem pelo salar, o motorista Carlos, boliviano que ganha à vida trabalhando como guia já a um bom tempo, no princípio um tanto calado e na dele, mas foi fundamental para todo o passeio ter transcorrido perfeitamente, além de mandar bem na cozinha foi o responsável por nossas fotos panorâmicas em perspectiva, além da melhor playlist possível. Ao seu lado o navegador Renato, brazuca, que não era bem um navegador como num rally, ele era turista igual nós, mas um cara com uma energia lá em cima, muito viajado e comunicativo, e com uma força de palavra muito grande. Como fui ao meio atrás, ao meu lado tive a companhia de duas mulheres incríveis, a Sinara – moradora da capital paulista super conectada e pró ativa – e a Neuza, uma portuguesa que estava em um mochilão de oito meses até então, começou pela Ásia e terminaria no Brasil, quando então voltaria para casa, todos falantes da língua portuguesa, quando nos demos conta da mais que feliz coincidência foi uma alegria geral, não só porque éramos todos lusófonos, mas nosso grupo estava em uma energia muito bacana, na mesma sintonia mesmo, tanto que não tivemos nenhum tipo de problema de interação nem convivência, pelo contrário, viramos amigos de infância e viagem, pelo menos enquanto durou, ainda haviam dois integrantes que iriam se juntar a nós nesse dia ao longo do salar, um casal francês de amigos, e que foram uma grata surpresa, mais a frente revelo o por quê do grata.

O primeiro ponto de parada foi o cemitério de trens, um lugar aos arredores da cidade onde ficaram depositados vários vagões e locomotivas já em avançado estado de deterioração devido estarem expostos às intempéries, apesar de não ter nada de especial na atração e não haver por parte dos guias nenhuma explicação voluntária do porque daquilo tudo, é um bom lugar para tirar algumas fotos, mesmo estando repleto de turistas, tipo, muitos mesmo, vale o registro e é uma primeira forma de interação do grupo. Nesse momento me dei conta que havia deixado meu celular carregando na agência, por sorte ainda estávamos perto da cidade e o dono da agência prontamente atendeu ao pedido de Carlos para trazer o celular até ali, mas isso era só um prenuncio do que aguardava meu parceiro de viagem. Acabou que ainda deu tempo de tirar umas fotos do lugar e não deixar passar em branco.

De volta ao carro agora era hora de começarmos a adentrar o salar, num primeiro momento de transição é uma mistura das cores de terra e o branco do sal, mas quanto mais avançamos mais o branco vai dominando a paisagem até que a sensação é como se estivéssemos em meio a mais pura neve até onde a vista alcança. Primeiro fizemos uma rápida parada obrigatória em um vilarejo onde se vendem de tudo para turistas com um pouco mais de grana, coisa obrigatória mesmo e tão logo olhamos por olhar uns suvenires e tiramos algumas fotos, já demos seguimento à viagem. Ainda em meio a essa área de transição paramos rapidamente para observarmos uma espécie de mina d’água em meio ao deserto de sal, com propriedades curativas, mas não recomendáveis, claro que como bons turistas que somos aproveitamos mais do que a explicação de Carlos e provamos para ver se a água que brotava era salgada mesmo, e é era, tipo de parar os rins e cair à língua, mas estamos todos vivos para contar a história.

Depois dessa rápida experiência que pode nem ser vivida a depender do motorista, a próxima parada era um ponto de apoio onde faríamos nossa refeição de almoço, o local é muito bacana, conta com banheiros e mesas onde cada grupo é servido, o preparo da comida fica por conta do guia que nos liberou para conhecer os arredores enquanto ele preparava tudo. Nesse ponto há um monumento do Rally Dakar, além da praça das bandeiras de todos os países que por ali, alguém passou, e claro que a brasileira estava mais que presente, e apesar da concorrência e disputa, deu pra todo mundo fazer seu registro, nem que para isso tenha que ser no grito e correria, ainda bem que estava muito bem acompanhado porque não sou muito disso, ou melhor, não era. A comida era simples e gostosa, acho que pela primeira vez comi carne de lhama, mesmo o guia tendo dito que não, com um riso sínico na cara, mas a menos que os bois da região – que nem existem, diga-se de passagem – mudem de gosto devido a altitude, aquilo era lhama, e como comi lhama sabendo que era lhama depois, aquilo era lhama, ou melhor, alpaca.

A tarde foi para conhecer o salar, agora já éramos um ponto naquele infinito branco, em dado momento começamos a puxar assunto com nosso motorista calado, ai nosso navegador de bordo indagou o que ocorreria se ocorresse algum imprevisto como um pneu furado – já que estávamos em meio a um deserto de verdade, mas ao invés de areia como logo pensaríamos, era sal que tínhamos em nosso arredor – acho que deu tempo para o Carlos responder e bingo, um pneu furou, não foi por acaso que disse que Renato tem um grande poder de palavra, apesar de um constrangimento inicial e muito riso, rapidamente nosso motorista resolveu o problema com a ajuda de outro carro que estava por perto, tática que eles usam para evitar problemas como de se perderem na imensidão do salar.

Problema resolvido, demos seguimento ao passeio pelo deserto branco, até que paramos para fazer a tomada de fotos obrigatória desse momento, por ser muito plano e só ter o azul do céu e o branco do sal como tela de fundo, basta um pouco de imaginação e um bom fotografo para criarmos vários cenários diferentes e brincar com as perspectivas e objetos a mão, no nosso caso, o Carlos desempenhou as funções de fotografo já que estávamos apanhando um bocado para pegar as manhas, e ainda usamos um dinossauro de brinquedo e um rolo de papel higiênico, não sei quanto tempo durou toda aquela brincadeira, mas acredito ter sido para todos do grupo, o ponto alto do passeio naquele dia, claro que vimos muita coisa linda, paisagens de tirar o folego, mas essa interação em grupo foi algo simplesmente sensacional.

 

DICA: Capriche no protetor solar, protetor labial e não esqueça os óculos de sol, apesar de ventar muito e dar uma sensação de frio constante, o sol também não da trégua e queima, muito.

 

Fotos tiradas, agora seguimos para o próximo ponto de parada, a Isla Incahuasi, também conhecida como ilha dos cactos gigantes, é um lugar muito intrigante, onde algumas plantas conseguem se desenvolver há algumas centenas de anos, o local é o topo de um vulcão que ficou submerso no processo de formação do salar. Depois de pagarmos a entrada para a trilha e que também da acesso aos banheiros, podemos percorrer um caminho demarcado que leva no seu ponto mais alto ao mirante da Plaza 1º de Agosto, de lá podemos ver todo o salar e a cordilheira ao fundo, além da Ilha do Pescado, os carros e pessoas na entrada, outros carros ao longe cruzando a imensidão do salar, enfim, o caminho é muito tranquilo e o guia nos dá o tempo necessário para percorrermos o percurso no nosso ritmo até voltar a base, junto a trilha também há estruturas que lembram ou são corais petrificados, muito interessantes e que provam as transformações que nosso planeta sofreu e continua sofrendo no seu processo de formação.

Nesse ponto recebemos a companhia do casal de franceses que completariam nosso grupo, no começo eles estavam meio na deles, mas tem que ser muito chato pra não se contagiar com um bando de brasileiros juntos, e bingo, eles estavam vibrando na mesma sintonia que nós, apesar do idioma ser uma barreira, com exceção de mim, todos arranhavam um inglês então deu pra fazer uma comunicação bacana e interagirmos mutuamente. Quando disse lá atrás sobre eles serem uma grata surpresa, é pela fama que os franceses carregam de serem um tanto metidos para nossos padrões tupiniquins, o que não era o caso, pelo menos não com eles.

Da Ilha dos cactos seguimos para outro ponto no salar para apreciar o pôr do sol, momento de mais fotos, tentar brincar com o sol em perspectiva, mas sem o Carlos para nos guiar, acabou que a tentativa de segurar o sol ou relembrar o Dragon Ball Z não ficou das melhores, mas rendeu muitas risadas. Depois que o sol se pôs, fomos conhecer nossa hospedagem onde passaríamos a noite, um hotel de sal em meio ao salar, agora não me recordo se tudo era de sal, mas o quarto era desde o chão até á cama. Uma vez instalados, além de uma deliciosa refeição que incluiu vinho, salsichas com batata e sopa, pode-se pagar por um banho quente, o que é aconselhável, tendo em vista que na noite seguinte essa opção se quer existe.

O dia começou cedo, café da manhã tomado, mochilões em cima da caminhonete e começamos o segundo dia pelo salar, na verdade a partir desse ponto já começamos deixar o branco do salar para avançarmos em direção a Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, o primeiro ponto de parada foram os trilhos de trem que um dia já cortaram toda a região, rápido momento para fotos e para apreciarmos os picos que circundam toda a paisagem, depois fomos convidados a explorar algumas formações rochosas esculpidas pela erosão do vento, a visão dos vários picos de montanhas e vulcões com o céu e sol logo acima dão uma perspectiva de dimensões únicas, nesse dia também começou a visita nas lagoas da região, são várias, no entanto estavam já bem secas devido a época do ano, o período de chuvas só teria início na próxima estação e os picos das montanhas quase já não tinham mais neve que após o período de chuvas são responsáveis por manterem os lagos cheios de água e vida devido ao degelo.

Nosso almoço foi junto à Laguna Hedionda, nela havia um bom grupo de flamingos, além do cheiro forte por conta dos elementos minerais que compõe toda sua formação, na verdade são a misturas de diferentes elementos que dão as diferentes colorações as lagoas da região, além da lagoa, o local conta com uma estrutura receptiva aos turistas, o que inclui restaurantes, banheiros e locais para pernoite, tudo muito colorido, nesse dia nada de lhama, o almoço foi frango e acho que tivemos arroz também, comida boa e deliciosa e o melhor, sem dores de barriga. Depois do almoço descansamos um pouco em algum ponto longe do sol que castigava, ou simplesmente fomos apreciar a vista da enorme lagoa. À tarde o ponto alto do passeio foi a Arbol de Piedra no deserto de Siloli, já próximo a entrada da Reserva, ali além do monumento principal, podemos escalar as formações ao redor e tirar algumas fotos, antes, no trajeto ao longo do deserto, nosso motorista nos incentivou a descer e caminhar por um “labirinto de pedras” onde além das enormes rochas de ambos os lados, encontramos gelo, tipo do nada e derretendo ao sol da tarde, e também roedores conhecidos como Vizcachas, que nos rendeu boas fotos e risadas.

Tiveram outras lagoas das quais não vou me lembrar do nome, tanto neste dia quanto na manhã seguinte, mas são várias mesmo, no entanto o destaque fica para as principais, já as fotos não, qualquer poça – e se tinha um flamingo então – já era motivo de uma paradinha pra esticarmos as pernas e dar utilidade aos nossos celulares, já que sinal não existe. Por fim chegamos ao posto de controle de entrada das pessoas para acesso a Reserva, ali todos descem, pagam a entrada e podem carimbam o passaporte, já que é de graça, por que não. Depois seguimos até chegarmos ao ponto onde dormiríamos, junto a esse ponto fica a Laguna Colorada, de um vermelho lindo e nessa altura misturada ao branco de algum elemento mineral que estava aparente devido a seca, ao longe haviam alguns flamingos e o que o grupo foi fazer – descansar como os demais é que não foi – seguindo a liderança dos franceses, fomos um a um atrás do outro, a princípio a ideia era contornar a lagoa, mas chegamos em um terço dela e logo o sol iria se pôr, como ainda tínhamos que voltar, fomos um a um retornando – na verdade subestimamos seu tamanho e tivemos que admitir a derrota, além do que o vento forte e cada vez mais frio era bem convincente – de volta aos alojamentos, podemos enfim descansar um pouco até a hora do jantar, óbvio que como bons brasileiros que somos, pensamos em fazer uma fogueira ou pelo menos uma festa – coisa da Sinara, eu só dei o apoio imoral necessário –, mas essa possibilidade logo foi frustrada por nosso guia, dormir cedo era a única opção possível já que antes das cinco deveríamos estar em pé para iniciarmos o último dia de passeio.

Foi a noite mais fria de toda a viagem, menos dez Celsius, apesar de não ter sentido o frio, passamos uma noite bem agasalhados e saímos preparados para o primeiro ponto do passeio – os Gêiseres Sol de Mañana, o motivo de sairmos tão cedo é que a atividade dos gêiseres é mais intensa pela manhã, antes do sol nascer –, ainda no local de pernoite tomamos um quente café da manhã e nos preparamos para dividir o grupo, como Renato e nosso casal francês não seguiria para o Chile eles iriam em outro carro, neste primeiro momento apenas seus mochilões, nossa separação só ocorreria depois.

Nosso caminho até os gêiseres foi ao som de musica brasileira dos anos 90 e 2000, axé, sertanejo e Gabi Amarantos, acho que aqueles europeus nunca viram um bando de gente mais sem futuro que nós brasileiros, até prometer de fazer a coreografia da Joelma se tocasse Calipso foi prometido – não preciso nem dizer de quem partiu as ideias e animação, meu apoio era apenas imoral mesmo. O caminho até os gêiseres é feito mais ou menos em comboio pelos motoristas, e mesmo assim a chance de errar era grande, mas logo chegamos ao ponto de apreciação desse interessante fenômeno, apesar de estar bem escuro e não podermos avançar muito por entre as rochas esfumaçantes, foi muito valida essa experiência. Depois seguimos em direção aos banhos termais, que é opcional para cada um, dessa vez não entrei, apenas as meninas, e foi nesse ponto onde nosso grupo se dividiu, nos despedimos de nossos amigos de Salar que retornariam para Uyuni enquanto nós continuaríamos em direção ao Chile, eles ainda percorreriam os mesmos pontos que nós antes de encerrar o passeio, mas devido a logística, em outro carro que não iria até a fronteira.

De volta ao carro, seguimos agora na companhia de duas belgas para o Desierto de Dalí, o pintor espanhol – algumas de suas obras lembram muito as magnificas paisagens locais, mesmo ele nunca tendo estado ali. Um dos últimos pontos de parada antes da fronteira foi a Laguna Verde, aos pés do Vulcão Licancabur que divide Bolívia e Chile, a vista é indescritível de verdade, passados o momento de contemplação já era hora de começarmos a preparar os espíritos para a despedida dessa jornada, agora era encarar os tramites fronteiriços entre os dois países e seguir para uma nova etapa da viagem, San Pedro do Atacama.

 

DICA: O processo de saída da Bolívia é relativamente simples, antes de irmos em direção as vans que nos levam da fronteira para a cidade chilena, temos que dar baixa da nossa entrada no país, o escritório boliviano é bem simples, e o processo é apenas de carimbar o documento emitido na entrada, no entanto o agente de imigração boliviano cobra uma taxa para tal baixa, essa pratica é irregular, uma vez que tal cobrança não existe nem para a entrada, nem para a saída, em nenhum país por qual passei, diga-se de passagem. Como havia lido a respeito dessa ação já bem conhecida, combinei com a Sinara que não pagaríamos e que até falaríamos que éramos jornalistas se fosse necessário, algo que não foi preciso, no entanto fica a dica, apesar de ser um valor muito baixo, quinze bolivianos a época, o ato é ilegal e um exemplo claro de corrupção contra estrangeiros.

 

MOMENTO DESABAFO: A Sinara estava na minha frente no momento de passar pela imigração, dentro do escritório forma-se uma fila de quatro ou cinco pessoas, a desculpa dela para não pagar foi exigir um comprovante do pagamento da taxa, algo que se quer se cogita existir, pois é irregular, segundo ela o agente coçou a cabeça e a mandou embora sem pagar a taxa. Como fui logo em seguida, entreguei o passaporte e o papel de entrada emitido pela imigração em Guayaramerín, o agente sequer olha pra conferir se a gente é a gente mesmo, apenas pede o dinheiro enquanto prepara os papéis, como resposta ao seu pedido eu disse que era brasileiro e que minha embaixada não havia instruído em nada sobre pagamentos para saída da Bolívia – em um espanhol relativamente entendível e preparado com muita calma, mano – nesse momento o agente me fuzilou com os olhos e se levantou da cadeira, eu só pensei, tô fu****, vou ficar preso nos confins da Bolívia por conta de míseros quinze bolivianos. O agente foi até a fila e mandou todos esperarem do lado de fora e só entrarem um por vez após a saída de quem estava lá dentro – foram os segundos mais tensos de toda a viagem, naquele momento tinha certeza que seria preso ou no mínimo levaria umas cacetadas –, mas ele apenas se sentou com ódio, carimbou meu passaporte e mandou-me sumir dali, assim que voltei a respirar consegui sacar um sorriso de alívio na minha cara. Na verdade o que ele queria era que ninguém mais ouvisse para evitar novas recusas em pagar a propina. Mas além desse relato, acabei por ler outro onde um brasileiro quase fora preso por policiais bolivianos em meio ao trajeto por uma das estradas do país, mesmo estando com toda a documentação correta, o que os policiais queriam eram dinheiro para não criar problemas, enfim, ter sorte também é necessário para evitar esses tipos de situação na viagem por países com problemas institucionalizados de corrupção, depois desse momento, só torço para que nossos agentes de polícia e fronteira não ajam como alguns de nossos vizinhos, nem contra nós brasileiros – algo que nunca vi – e ainda menos contra estrangeiros, porque é o momento de maior fragilidade e impotência de um turista, estar no meio do nada, sem acesso aos meios de comunicação ou imprensa e ter que lidar com pessoas de baixo valor moral e humano.

 

GASTOS: Dia 20.09 (quinta-feira).

 

Entrada Isla Incahuasi = Bs 30,00

Banho Quente = Bs 10,00

 

GASTOS: Dia 21.09 (sexta-feira).

 

Entrada Reserva Eduardo Avaroa = Bs 150,00

 

GASTOS: Dia 22.09 (sábado pela manhã).

 

Bs 0,00

 

TOTAL DOS GASTOS – Bs 190,00 / R$ 122,85 no Salar.

 

Cemitério de Trens.

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Nascente d'água em meio ao salar.

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Praça das bandeiras.

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Interior do ponto de parada para o primeiro dia de almoço.

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Bastidores das fotografias em meio ao salar.

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Ilha dos cactos.

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Vista do salar a partir do mirante no topo da Ilha.

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Pôr do sol na companhia do melhor grupo possível (a esquerda o casal de amigos franceses, ao fundo a portuguesa Nelza, e os brasileiros Renato e Sinara.

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Vista da Laguna Hedionda.

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Vizcacha do deserto.

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Arbol de Piedra.

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Laguna Colorada.

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Gêiseres Sol de Mañana

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Nascer do sol junto as termas.

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Laguna Verde e o Vulcão Licancabur ao fundo.

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Em 06/05/2019 em 03:53, joao alexandre disse:

Belo relato e fotos!  Parabens!!

 

Tem mais??

Tem sim @joao alexandre , mas tô meio enrolado, bem na verdade, mas acho que já percebeu né pelo tempo que não posto, tenho que pedir desculpas até, mas essa semana vou dar prosseguimento aos relatos e muito obrigado pelo comentário, incentivou bastante a continuar, forte abraço.

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