Membros de Honra chinaf Postado Agosto 22, 2010 Membros de Honra Compartilhar Postado Agosto 22, 2010 "Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo Um dia a massa há de provar do biscoito fino que fabrico. (Oswald de Andrade) Que pena. Cada vez que me decido a escrever uma crônica mais leve nesta coluna (não ouso dizer literária. Bem, já disse), o sentimento do mundo me pega não como a doce melancolia do poeta, mas como um paralelepípedo na testa. Não sou capaz de recusar o debate público. Deve ser um sintoma grave, desses que não têm cura depois de certa idade. Desta vez, a acalorada discussão em torno do projeto de desmanche da TV Cultura me pegou pela cabeça e pelo coração. O economista João Sayad é um homem público respeitável. Conseguiu botar em ordem as finanças da Prefeitura de São Paulo depois da calamitosa gestão Celso Pitta. O ministro Fernando Haddad contou que foi em conversa com ele que surgiu o projeto dos CEUs, oásis de cultura e sociabilidade a quebrar a aridez da vida nos bairros mais pobres da cidade. João Sayad não precisa de prestígio. Já tem. Por isso não entendo o que o levou a assumir a presidência de um empreendimento que ele não conhece, não parece interessado em conhecer e, acima de tudo, evidentemente não gosta. Até o momento não li nem ouvi falar de nenhuma proposta criativa de Sayad para a TV Cultura. Nenhum novo projeto de programa, de modificação na grade, nenhum novo conceito sobre o papel da única tevê pública de canal aberto do Estado mais rico do Brasil. Tudo o que se sabe é que o economista veio para cortar gastos. Demitir ¾ dos funcionários! Impossível imaginar que a Fundação abrigasse 1.400 empregados inúteis. Tal enxugamento da folha de pagamentos visa a exterminar o quê? A própria programação. Tudo leva a crer que Sayad não tinha ideia do que a TV Cultura já fez e ainda faz; em reunião interna demonstrou desconhecer até mesmo um diretor da importância do Fernando Faro, embora não haja sinais de que vá interromper o melhor programa musical do País, que além do mais se tornou um arquivo vivo da memória da música brasileira. Fora isso, terá vindo apenas para encolher os gastos da emissora, com a fúria de um exterminador do futuro? Não haverá argumento que o convença da importância de usar dinheiro público para a experimentação, a invenção e a aposta em programas de qualidade, diferenciados da mesmice das emissoras comerciais? As primeiras notícias falam em venda dos estúdios e dos equipamentos, demissões em massa e redução da TV Cultura a um pequeno e mesquinho balcão de compra de enlatados. Faz tempo que uma decisão política não me causava tristeza tão grande. Sendo a economia de verba sua única proposta, gostaria de saber qual o destino de todo o dinheiro que ele haverá, sem dúvida, de poupar com o encolhimento da Cultura. Que se revejam as contas da emissora para eliminar possíveis desperdícios e inoperâncias, vá lá. Mas por que um Estado rico como o nosso precisa ser tão mesquinho nos gastos com sua TV pública? Uma Secretaria (infelizmente entregue a outro homem que não gosta disso) que pode manter a Osesp para usufruto da elite paulista, que pode construir um luxuoso Teatro da Dança, outro da Ópera, para a mesma elite - não pode manter uma TV experimental para um público, não necessariamente elitista, mas pequeno? O argumento é que ela é irrelevante em termos de Ibope. Então, tá. Quantos milhões de telespectadores são necessários na planilha do atual gestor para justificar a existência de uma emissora que funciona como laboratório de programas ligados à cultura brasileira e internacional, e que conta com um público muitas vezes mais numeroso do que o que cabe na Sala São Paulo? Não escrevo isto para criticar a Osesp. Que floresçam mil Osesps pelo Estado, pelo País. Uma só Osesp é mais progressista do que todas as pontes e viadutos que um governo possa construir. Faço a comparação para mostrar o absurdo de se desmontar, com argumentos de planilha, uma televisão pública que utiliza sua verba para oferecer biscoito fino à massa. Escolho, para terminar, o triste exemplo de um programa que já foi extinto pela atual direção: Manos e Minas. Um corajoso programa de auditório dedicado ao hip hop, levado ao ar ao vivo nos sábados à tarde sob o comando de Rap in Hood, que estreou em CD lá por 2000, cantando: "eu tenho o microfone/ é tudo no meu nome". Ter acesso ao microfone e falar em nome próprio: na plateia, meninos e meninas de pele escura, "bombeta e moleton", não se distinguem dos mesmos meninos e meninas que sobem para dar seu recado no palco. Enfim, alguém teve a ousadia de dar visibilidade à atividade musical dos jovens da periferia de São Paulo, acostumados a só existir na mídia quando algum dentre eles comete um crime. Manos e Minas não precisa de argumentos de segurança pública para se justificar. Dar espaço ao rap na televisão é importante por si só. Mas a decisão de acabar com o programa nos faz refletir sobre o modo como a elite paulista concebe a inclusão simbólica da periferia na produção cultural da cidade: não concebe. Daí que a pobreza, aqui, seja um problema exclusivo de segurança pública. A extinção de Manos e Minas lembra, não pelo conteúdo, mas pelo princípio operante, as desastradas políticas de "limpeza" da cracolândia. Quem mais, senão uma TV pública, poderia investir na visibilidade dos artistas da periferia? Link: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100821/not_imp598113,0.php P.s.: Desculpem se criei um tópico na área errada (tentei acertar em gente....heheheheheheheh), mas como é o primeiro tópico desse tipo que crio aqui, fiquei na dúvida, peço a gentileza e de antemão desculpas caso seja necessário trocar de área ou ser eventualmente apagado...... Link para o comentário
Membros de Honra chinaf Postado Agosto 22, 2010 Autor Membros de Honra Compartilhar Postado Agosto 22, 2010 Minha opinião Fazia tempo que o PSDB estava de olho na Tv Cultura.... lembro da frase do ex-Gov. Mário Covas: " A TV Cultura eu pago, mas não mando....." Naquela época era uma defesa da liberdade à TV Cultura..... Hoje, a TV Cultura, que já foi premiada pela sua programação infantil (prêmios internacionais) está em vias de ser "otimizada", "sofrer um choque de gestão"...... uma pena.... a sociedade perde, pois perde espaço representativo, a TV Cultura não deveria, vou grifar e sublinhar para enfatizar mesmo, a TV Cultura não deveria ser "otimizada" em função do IBOPE..... Acho que todos sabemos quais são tais programas campeões do IBOPE e sinceramente não refletem a diversidade cultural e social do nosso BRASIL..... mas sim, são os mais assistidos segundo o IBOPE, mas será que a Cultura deveria viver em função disso ??? Ou melhor, será que nós da sociedade deveríamos ter um tipo só de "Cultura" ? Grande abraço, P.s.: Alguém se lembra da Jornalista Salete Lemos.... o Paulo Markun está hoje na TV Gazeta.... a Lillian Witte Fibe saiu também.... Link para o comentário
Membros de Honra chinaf Postado Agosto 22, 2010 Autor Membros de Honra Compartilhar Postado Agosto 22, 2010 Complementando a mensagem acima com o pensamento do José Serra.....: "Ele criticou ainda a criação da TV Brasil, segundo ele, "feita para não ter audiência", para "criar empregos" e servir como instrumento de propaganda do governo." Isso aí está no discurso dado pelo candidato José Serra para a ANJ, link: http://ultimosegundo.ig.com.br/eleicoes/serra+diz+que+governo+lula+patrulha+e+tenta+cercear+a+imprensa/n1237753687256.html Eu confesso, eu tenho esse defeito, eu assisto os programas da MTV principalmente os que mostram os problemas da sociedade americana e eu também assisto a TV Brasil e adoro o Sr. Brasil na TV Cultura, o Roda Viva, lembro de ter assisto o programa Ver Ciência (sim, eu conheci um dos coordenadores do programa, que disse que na TV Cultura programa que começa a dar audiência some.... heheheheheheh), o Eureka, o Bambalalão (vixi, esse faz muuuuito tempo....), o Cartão Verde, etc. etc. etc. Grande abraço, Link para o comentário
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