Membros Este é um post popular. Nelson Neto - Historiador Postado Fevereiro 3, 2018 Membros Este é um post popular. Postado Fevereiro 3, 2018 “Larguei tudo, viajei e voltei. O que fazer agora?” São várias questões levantadas antes de realizar uma viagem mais longa. Entre muitas dúvidas, uma quase sempre está presente: trabalho. O medo de abandonar a profissão para se “aventurar” pelo mundo faz inúmeras pessoas pensar duas vezes antes de partir. A atitude é compreensível, principalmente quando uma carreira é colocada em xeque. É válido abandonar um emprego de vários anos? Vale a pena deixar a estabilidade da vida de concursado? Essas perguntas são recorrentes em vários grupos, inclusive aqui. A minha intenção não é responder todas, mas fazer meu depoimento sobre o assunto e mostrar que é possível trabalhar com a sua própria viagem - mesmo após a chegada ao destino final. Sempre gostei muito de viajar, mas foi a partir de 2006 que a minha vida mudou radicalmente. Na ocasião fiz a minha primeira viagem de bicicleta. Amei e não parei mais, pois conhecer o mundo a partir do ângulo de quem pedala era (é) diferente e fascinante. Quando entrei neste universo do cicloturismo não sabia exatamente o que encontraria, mas joguei as minhas fichas para descobrir. No começo, por causa da universidade, eu viajava apenas nas férias e feriados. Apesar das limitações impostas pelo tempo, isso não impediu de realizar as expedições, inclusive internacionais. Mas quando terminei o curso de História, estava na hora de colocar em prática um antigo sonho, conhecer Machu Picchu. Faltava apenas uma coisa básica: dinheiro. A formatura levou os últimos centavos. Sem um tostão no bolso, achei que a vida na praia poderia me ajudar a levantar os recursos necessários para visitar a Cidade Perdida dos Incas. Peguei a bicicleta e mudei do interior do Paraná para a capital catarinense no final de 2010. Em Florianópolis, não entrei na sala de aula para lecionar, mas sim na produção de uma padaria. Eu não tinha experiência na área, mas estava disposto a aprender. Afinal, todo trabalho “legal” é digno. E outra, enxergava aquilo como algo passageiro e que viabilizaria meu sonho. A vida é feita de fases e oportunidades! Eu desejava muito ser professor, mas naquele momento precisava colocar a mão na massa, literalmente. A vida na padaria não foi fácil, principalmente na temporada de verão, período em que a população da Ilha da Magia triplicava em razão dos turistas. Trabalho não faltava. O que faltou ao término do verão foi o dinheiro necessário para Machu Picchu. Mas quem se importava? Eu estava no paraíso! Assim, não foi nenhum sacrifício permanecer em Floripa. Continuei como auxiliar de padeiro durante o restante do ano e deixei a função apenas no final da temporada de 2011/2012. Já estava tudo pronto: roteiro, equipamentos, preparação física, psicológica e, inclusive, a questão financeira. Após 1 ano eu tinha levantado o dinheiro necessário, não só para viajar ao destino desejado, mas para fazer uma volta na América do Sul. Sim, de bicicleta! Calculei que levaria de 10 a 12 meses na estrada. Pelo menos era o período que eu teria dinheiro para me manter diante de uma viagem econômica. Não pensava em trabalhar durante a expedição – já tinha suado muito na padaria. Por falar em trabalho, não estar em sala de aula me ajudou bastante neste processo de renúncia. Não sei como seria caso eu estivesse concursado. Naquele momento não pensei como seria após a volta para casa, mas lecionar continuava como opção. A expedição pela América do Sul iniciou em Foz do Iguaçu/PR e foi surpreendente em todos os sentidos possíveis. A viagem durou 1 ano e 2 meses. Foram 21 mil quilômetros pedalados por vários países e estados brasileiros. Mas os números são apenas números. O mais interessante foi conhecer uma América extremamente incrível. Após algumas tentativas, meu sonho de visitar Machu Picchu finalmente foi realizado. Conhecer aquele lugar com os próprios olhos é indescritível. Também encontrei muitas pessoas marcantes na estrada, mas quando retornei ao Brasil após 8 meses, acabei por conhecer a Fabiane em Manaus. Definitivamente não tinha a pretensão de me relacionar com ninguém, mas foi impossível ficar indiferente a ela e ao sentimento que surgiu. Começamos a namorar e com um aperto no coração precisei deixá-la para voltar à estrada. Eu precisava terminar a viagem. A expedição finalizou (setembro de 2013) onde começou, mas nada era como antes. Eu alimentava o sonho de entrar em sala de aula e ser professor, no entanto, um desejo ainda maior surgiu durante a viagem: poder compartilhar com outras pessoas esse incrível estilo de vida sobre duas rodas. O site que eu mantinha durante a expedição me pareceu insuficiente para alcançar esse objetivo e assim apareceu a ideia de registrar as expedições em um livro. Eu não era escritor, mas isso não foi motivo para desistir da façanha de mergulhar no universo literário, ainda mais que durante a viagem muita gente comprou a obra na pré-venda. Aliás, parte desse dinheiro ajudou a me manter no difícil processo de escrita – iniciado em 2014. Enquanto buscava colocar em palavras os sentimentos, histórias e aprendizados adquiridos na estrada ao longo dos últimos anos, uma nova decisão: o noivado com a Fabiane. E quase um ano após o término da volta pela América do Sul, retornei ao norte do país para me casar em plena Floresta Amazônica. Casados, precisávamos escolher um local para viver. Como eu conhecia o caminho para o paraíso, decidimos iniciar a nossa vida em Florianópolis. Deixar a Ilha da Magia em 2012 foi a decisão mais difícil naquele momento, afinal, quem está disposto a renunciar ao paraíso? Mas é neste tipo de situação que você percebe o tamanho de um sonho. Novamente na Ilha da Magia, ambos precisavam encontrar, imediatamente, um trabalho para pagar as despesas do casamento. Não conseguimos nos encaixar na nossa área profissional e enquanto a Fabiane (assistente social) foi trabalhar numa lanchonete, eu fui chamado para uma loja que vendia de tudo um pouco. No entanto, na primeira oportunidade fiz um processo seletivo para professor. Fui classificado, mas a convocação aconteceu por telefone que não foi atendido porque eu estava trabalhando na loja. Uma tristeza foi sentida naquele instante, mas procurei não desanimar e continuei a trabalhar. Enquanto não estava na loja, eu procurava escrever o livro em casa, mas conciliar as duas coisas ficou inviável, principalmente porque sempre era preciso interromper a escrita para trabalhar e isso prejudicava muito o raciocino e a retomada nunca era a mesma. Assim, em comum acordo com a esposa, deixei a loja em março de 2016. A Fabiane já estava em um emprego com condições melhores e iria segurar as pontas enquanto eu terminava o livro. Grande companheira. Com a conclusão do livro o nosso objetivo era deixar Florianópolis para realizar a divulgação pelo Brasil. Dessa maneira, após um trabalho árduo e paciente, o livro “A vida por outros caminhos” foi lançado em fevereiro de 2017 e, mais uma vez, precisei deixar Floripa para buscar realizar outro grande sonho: compartilhar esse estilo de vida que mudou a minha história. Decidimos que o lançamento do livro seria acompanhado de palestras. Assim, quem não tinha condição de comprar a obra ao menos conheceria um pouco mais sobre o cicloturismo e o que ele poderia apresentar. Precisei deixar a minha timidez de lado para realizar as apresentações, mas foi uma experiência extremamente gratificante e um verdadeiro aprendizado. Em 2017 a estrada foi literalmente a nossa casa. Realizamos dezenas de viagens pelo Brasil. Com inúmeros livros na bagagem ficava um pouco complicado pedalar, então viajamos de ônibus, carro, avião, carona, trem, metrô e tudo mais para levar essas experiências para todos os cantos. Aliás, estivemos em todas as regiões do país, oportunidade para conhecer melhor as suas belezas naturais, culturais e históricas. Este ano (2018) foi reservado para eu terminar o segundo volume, afinal, em dez anos no cicloturismo foram dez expedições e muitas histórias para contar. Não foi possível abordar todas em apenas um livro. Assim, neste mês de fevereiro, vamos parar um pouco. A nossa mudança acontece na semana que vem. Será mais um período de muita concentração e dedicação para fazer um trabalho a altura deste surpreendente estilo de vida. A pretensão é finalizar a obra até o final do ano e em 2019 voltar à estrada para começar a nova divulgação e continuar as palestras. Como é possível notar, as expedições nos levaram a caminhos inesperados. Hoje sou escritor e palestrante. Não estou na sala de aula, mas procuro ensinar/aprender de outra forma. E assim vamos vivendo, pois a vida é surpreendente, permita-se conhecer novos horizontes. Atualmente a venda do livro é como consigo me manter financeiramente. Pode ser que o livro da sua história (que é única) se torne um best-seller e você ganhe muito dinheiro, não é o meu caso (ainda, rs), mas é uma alternativa interessante para quem acha que a viagem não termina quando acaba, mas precisa trabalhar. Aqui no grupo temos alguns exemplos que isso é sim possível. Portanto, lembre-se: conhecimento precisa ser compartilhado e certamente tem muita gente interessado na sua experiência de vida. Fica a dica. Para quem deseja adquirir o livro, inclusive para ajudar o nosso projeto, basta acessar o site: www.cicloturismoselvagem.com.br Qualquer dúvida estou à disposição. Abração, pessoal Machu Picchu - Peru Porto de Galinhas - Pernambuco Região de Abancay - Cordilheira dos Andes - Peru Lagoinha do Leste - Florianópolis/SC Sessão de autógrafos no lançamento do livro "A vida por outros caminhos" em Itanhaém, litoral paulista. Livro: A vida por outros caminhos Campos do Jordão/SP. Palestra durante o Encontro Nacional de Cicloturismo. .Manaus/AM. Casamento em plena floresta amazônica. A entrada no altar foi pedalando, claro. 7 Citar
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