Membros Elinaldo Gomes Postado Junho 27, 2009 Membros Postado Junho 27, 2009 Vaca Estrela e Boi Fubá Patativa do Assaré Seu doutor me dê licença pra minha história contar. Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar. Eu tinha cavalo bom e gostava de campear. E todo dia aboiava na porteira do curral. Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar, Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá Quando era de tardezinha eu começava a aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar, Não nasceu capim no campo para o gado sustentar O sertão esturricou, fez os açude secar Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar, As água corre dos olho, começo logo a chorá Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá.
Membros Elinaldo Gomes Postado Junho 27, 2009 Membros Postado Junho 27, 2009 Triste Partida Patativa do Assaré Meu Deus, meu Deus. . . Setembro passou Outubro e Novembro Já tamo em Dezembro Meu Deus, que é de nós, Meu Deus, meu Deus Assim fala o pobre Do seco Nordeste Com medo da peste Da fome feroz Ai, ai, ai, ai A treze do mês Ele fez experiência Perdeu sua crença Nas pedras de sal, Meu Deus, meu Deus Mas noutra esperança Com gosto se agarra Pensando na barra Do alegre Natal Ai, ai, ai, ai Rompeu-se o Natal Porém barra não veio O sol bem vermeio Nasceu muito além Meu Deus, meu Deus Na copa da mata Buzina a cigarra Ninguém vê a barra Pois a barra não tem Ai, ai, ai, ai Sem chuva na terra Descamba Janeiro, Depois fevereiro E o mesmo verão Meu Deus, meu Deus Entonce o nortista Pensando consigo Diz: "isso é castigo não chove mais não" Ai, ai, ai, ai Apela pra Março Que é o mês preferido Do santo querido Senhor São José Meu Deus, meu Deus Mas nada de chuva Tá tudo sem jeito Lhe foge do peito O resto da fé Ai, ai, ai, ai Agora pensando Ele segue outra tria Chamando a famia Começa a dizer Meu Deus, meu Deus Eu vendo meu burro Meu jegue e o cavalo Nós vamos a São Paulo Viver ou morrer Ai, ai, ai, ai Nós vamos a São Paulo Que a coisa tá feia Por terras alheia Nós vamos vagar Meu Deus, meu Deus Se o nosso destino Não for tão mesquinho Cá e pro mesmo cantinho Nós torna a voltar Ai, ai, ai, ai E vende seu burro Jumento e o cavalo Inté mesmo o galo Venderam também Meu Deus, meu Deus Pois logo aparece Feliz fazendeiro Por pouco dinheiro Lhe compra o que tem Ai, ai, ai, ai Em um caminhão Ele joga a famia Chegou o triste dia Já vai viajar Meu Deus, meu Deus A seca terrível Que tudo devora Lhe bota pra fora Da terra natá Ai, ai, ai, ai O carro já corre No topo da serra Oiando pra terra Seu berço, seu lar Meu Deus, meu Deus Aquele nortista Partido de pena De longe acena Adeus meu lugar Ai, ai, ai, ai No dia seguinte Já tudo enfadado E o carro embalado Veloz a correr Meu Deus, meu Deus Tão triste, coitado Falando saudoso Seu filho choroso Exclama a dizer Ai, ai, ai, ai De pena e saudade Papai sei que morro Meu pobre cachorro Quem dá de comer? Meu Deus, meu Deus Já outro pergunta Mãezinha, e meu gato? Com fome, sem trato Mimi vai morrer Ai, ai, ai, ai E a linda pequena Tremendo de medo "Mamãe, meus brinquedo Meu pé de fulô?" Meu Deus, meu Deus Meu pé de roseira Coitado, ele seca E minha boneca Também lá ficou Ai, ai, ai, ai E assim vão deixando Com choro e gemido Do berço querido Céu lindo azul Meu Deus, meu Deus O pai, pesaroso Nos filho pensando E o carro rodando Na estrada do Sul Ai, ai, ai, ai Chegaram em São Paulo Sem cobre quebrado E o pobre acanhado Procura um patrão Meu Deus, meu Deus Só vê cara estranha De estranha gente Tudo é diferente Do caro torrão Ai, ai, ai, ai Trabaia dois ano, Três ano e mais ano E sempre nos prano De um dia vortar Meu Deus, meu Deus Mas nunca ele pode Só vive devendo E assim vai sofrendo É sofrer sem parar Ai, ai, ai, ai Se arguma notícia Das banda do norte Tem ele por sorte O gosto de ouvir Meu Deus, meu Deus Lhe bate no peito Saudade lhe molho E as água nos óio Começa a cair Ai, ai, ai, ai Do mundo afastado Ali vive preso Sofrendo desprezo Devendo ao patrão Meu Deus, meu Deus O tempo rolando Vai dia e vem dia E aquela famia Não vorta mais não Ai, ai, ai, ai Distante da terra Tão seca mas boa Exposto à garoa À lama e o paú Meu Deus, meu Deus Faz pena o nortista Tão forte, tão bravo Viver como escravo No Norte e no Sul Ai, ai, ai, ai
Membros Elinaldo Gomes Postado Julho 4, 2009 Membros Postado Julho 4, 2009 PAISAGEM DE INTERIOR (Jessier Quirino) Matuto no mêi da pista menino chorando nu rolo de fumo e beiju colchão de palha listrado um par de bêbo agarrado preto véio rezador jumento jipe e trator lençol voando estendido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Três moleque fedorento morcegando um caminhão chapéu de couro e gibão bodega com surtimento poeira no pé de vento tabulêro de cocada banguela dando risada das prosa do cantador buchuda sentindo dor com o filho quase parido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Bêbo lascando a canela escorregando na fruta num batente, uma matuta areando uma panela cachorro numa cadela se livrando das pedrada ciscador corda e enxada na mão do agricultor no jardim, um beija-flor num pé de planta florido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Mastruz e erva-cidreira debaixo dum jatobá menino querendo olhar as calça da lavadeira um chiado de porteira um fole de oito baixo pitomba boa no cacho um canário cantador caminhão de eleitor com os voto tudo vendido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Um motorista cangueiro um jipe chêi de batata um balai de alpercata porca gorda no chiqueiro um camelô trambiqueiro avelós e lagartixa bode véio de barbicha bisaco de caçador um vaqueiro aboiador bodegueiro adormecido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Meninas na cirandinha um pula corda e um toca varredeira na fofoca uma saca de farinha cacarejo de galinha novena no mês de maio vira-lata e papagaio carroça de amolador fachada de toda cor um bruguelim desnutrido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Uma jumenta viçando jumento correndo atrás um candeeiro de gás véi na cadeira bufando radio de pilha tocando um choriço, um manguzá um galho de trapiá carregado de fulô fogareiro abanador um matador destemido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Um soldador de panela debaixo da gameleira sovaqueira, balinheira uma maleta amarela rapariga na janela casa de taipa e latada nuvilha dando mijada na calçada do doutor toalha no aquarador um terreiro bem varrido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Um forró de pé de serra fogueira milho e balão um tum-tum-tum de pilão um cabritinho que berra uma manteiga da terra zoada no mêi da feira facada na gafieira matuto respeitador padre, prefeito e doutor os home mais entendido isso é cagado e cuspido paisagem de interior. Jessier Quirino é paraibano de Campina Grande, arquiteto por profissão, poeta por vocação, vive atualmente em Itabaiana. É o autor dos livros "Paisagem de Interior", "A Miudinha", "O Chapéu Mau", "O Lobinho Vermelho" e "Agruras da Lata D'Água", além de cordéis, causos, musicas e outros escritos. O crítico do Jornal do Commércio - Recife fez o seguinte comentário, quando do lançamento de seu último livro: "A poesia matuta já é um estilo consagrado da literatura brasileira. Nomes como Patativa do Assaré, Catulo da Paixão Cearense e Zé da Luz são conhecidos em todo o país como os principais representantes do gênero. Um pouco menos famoso que os três, mas podendo ser considerado tão importante quanto, é Jessier Quirino, poeta paraibano que vem se destacando por seu estilo humorístico."
Membros de Honra Mike Weiss Postado Novembro 6, 2009 Membros de Honra Postado Novembro 6, 2009 Quando o dia acorda atravessado, escalo uma montanha. É meu próprio caminho em direção ao sol. Mochila nas costas, carrego o principal não levo nem perguntas, nem respostas. Ponho um ramo de sonhos que vou plantando pelo caminho, a flauta encantada pra seduzir passarinho, a estrela companheira que brilha o tempo inteiro e mantém a trilha iluminada; um frasco de água benta, uma reza certeira; um arco-íris à prova de vento, um peito aberto à prova de nada. Devagarzinho, sem pressionar o tempo, chego ao meu destino. Respiro fundo, abro os braços, canto um hino de sagração ao mundo - e agradeço - por ter descoberto de repente por onde se começa um recomeço. (Flora Figueiredo)
Membros de Honra Karenldc Postado Março 12, 2010 Membros de Honra Postado Março 12, 2010 Dizem que o talento nasce conosco. É com grande satisfação que outro dia vasculhei o blog de um colega daqui do mochileiros.com e me deparei com jóias de tremendo valor. Não se tratam de jóias caras, duras, cruas, são pedras polidas com brilho intenso e de forte conteúdo. Não, ele não vive de poesias, apenas as escreve e compartilha com quem quiser. Postarei uma aqui pra vcs verem: O PESO Acontece que por vezes Eu me canso... E a vida toda parece um fardo Quando sinto cada quilo Destes sessenta e cinco que me pesam. E cada manhã eu tenho que vencer este número: Por-me de pé, e sustentar sobre mim mesmo Um peso de medida imprópria a cada um. De olhos vendados segue-se a vida, E os dias vão pesando, E a luz da manhã, e a escuridão do depois, A proximidade de um, a distância do outro O eu, o tu, e todos estes nós E pontos, e palavras, e silêncio... O peso de todo o início É ainda o peso do fim. Viver nos pesa E a Morte parece pesar mais... Ainda assim, queria ver meu coração Ser mais leve que uma pena. Enquanto meu corpo, Com todo peso que há nele, Poderia rolar na garganta De uma grave montanha, Uma vez mais... Bem, quem escreveu esta e outras tantas foi nosso amigo Rã, o Ram_Alen. Vocabulah, clique aqui
Membros Vivaldi Postado Maio 31, 2010 Membros Postado Maio 31, 2010 Poesia sobre a motivação que impulsiona os mochileiros não conheço não, mas estou familiarizado com este sentimento. O que me ocorre nesse momento e que explicita bem isso é uma cena de um filme, a saber: "Alexandre o Grande" Mais ou menos na metade dele ou um pouco depois, Alexandre esta numa montanha gelada conversando com alguém, inconformado pelo seu povo não compartilhar seu desejo de conquistar e desbravar o mundo todo. A cena tem um viés triste, solitário, mas não por ser isso em sua essencia, mas pela solidão do desejo não compartilhado. Isso resume bem meu impeto pelas viagens. Olho o mundo a minha volta e não consigo me conformar com a prisão que somos submetidos, existem tantas pessoas pra se conhecer, tantos lugares pra se visitar. Enfim é isso!
Membros andre.barboza Postado Abril 25, 2012 Membros Postado Abril 25, 2012 Está faltando uma que representa o espirito mochileiro: Amanheceu, Peguei a Viola Almir Sater Amanheceu, peguei a viola botei na sacola e fui viajar Sou cantador e tudo nesse mundo, vale pra que eu cante e possa praticar. A minha arte sapateia as cordas E esse povo gosta de me ouvir cantar. Amanheceu, peguei a viola botei na sacola e fui viajar Ao meio-dia eu tava em Mato Grosso, do sul ou do norte, não sei explicar. Só sei dizer que foi de tardezinha, Eu já tava cantando em Belém do Pará. Amanheceu, peguei a viola botei na sacola e fui viajar Em Porto Alegre um tal de coronel, pediu que eu musicasse um verso que ele fez. Para uma china, que pela poesia, Nem lá em Pequim se vê tanta altivez. Amanheceu, peguei a viola botei na sacola e fui viajar Parei em minas pra trocar as cordas, e segui direto para o Ceará. E no caminho fui pensando, é lindo, Essa grande aventura de poder cantar. Amanheceu, peguei a viola botei na sacola e fui viajar Chegou a noite e me pegou cantando, num bailão, no norte lá do Paraná. Daí pra frente ninguém mais se espanta, E o resto da noitada eu não posso contar. Anoiteceu, e eu voltei pra casa, Que o dia foi longo e o sol quer descansar.
Membros Frank Florida Postado Abril 28, 2012 Membros Postado Abril 28, 2012 Certa tarde, ao visitar a família, havia tomado coragem e dito para seu pai que não queria ser padre. Queria viajar. – Homens de todo o mundo já passaram por esta aldeia, filho – disse o pai. – Vêm em busca de coisas novas, mas continuam as mesmas pessoas. Vão até o morro conhecer o castelo e acham que o passado era melhor que o presente. Têm cabelos louros ou pele escura, mas são iguais aos homens de nossa aldeia. – Mas não conheço os castelos das terras de onde eles vêm – retrucou o rapaz. – Estes homens, quando conhecem nossos campos e nossas mulheres, dizem que gostariam de viver para sempre aqui – continuou o pai. – Quero conhecer as mulheres e as terras de onde eles vieram – disse o rapaz. – Os homens trazem a bolsa cheia de dinheiro – disse mais uma vez o pai. – Entre nós, só os pastores viajam. – Então serei pastor. O pai não disse mais nada. No dia seguinte deu-lhe uma bolsa com três antigas moedas de ouro espanholas. – Achei certo dia no campo. Iam ser da Igreja, como seu dote. Compre seu rebanho e corra o mundo até aprender que nosso castelo é o mais importante, e nossas mulheres são as mais belas. E o abençoou. Nos olhos do pai ele leu também a vontade de correr o mundo. Uma vontade que ainda vivia, apesar das dezenas de anos que ele a tentou sepultar com água, comida, e o mesmo lugar para dormir toda noite. O Alquimista
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