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  • Membros de Honra
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Após concluir os 200km do primeiro Brevet do Audax Brasil, comprei uma road (ou speed no Brasil) e me coloquei a treinar para acostumar com posição, giro de pedal, sapatilha, etc.

 

Chegada a hora, recebi um telefonema do Marcelo, que conheci no Audax Brasil 200k me avisando que as inscrições estavam abertas no site do Clube.

 

Fiz a ficha e encaminhei da portaria de um hotel em que estava hospedado. Sem conseguir acesso à internet, em uma pequena cidade, conversei com a recepcionista do hotel, relatando que precisava de acesso à internet para a inscrição em uma prova e ela gentilmente me concedeu a mesa dela para que eu pudesse fazer a inscrição – nesse intervalo de tempo, ela foi se alimentar e eu fiquei na recepção do hotel. Nunca tinha executado esse papel na minha vida. Agora posso dizer que - pelo menos por uns 15 a 20 minutos, já fui recepcionista de hotel.

 

Nas últimas semanas, que antecederam os 300k treinei bastante “escalada” pois como conheço bem o percurso - Boituva-Iaras-Boituva pela Castelo Branco – estava consciente de duas subidas bastante “maliciosas”, que fazem vencer os 400 metros de altitude da Cuesta de Botucatu.

 

Técnica e fisicamente preparado para enfrentar os 300k encontrei mais uma ajuda. Minha filha, de 7 anos praticamente implorou para ir junto. Pometeu-me um abraço em cada PC.

 

No Audax não é permitido carro de apoio, - receber ajuda externa durante o trajeto. Os problemas devem ser resolvidos por você e contando com a ajuda de outros participantes.

 

Mas, ir esperar em cada PC para dar um apoio moral – é comum, muitas famílias e amigos acompanharem os audaciosos.

 

Nesse aspecto reside um diferencial do Audax. Uma prova, cujo concorrente é única e exclusivamente você. E, entre os participantes o clima é de no mínimo o de cordialidade. Mas o mais freqüente é a ajuda e união muito forte entre os participantes.

Posso afirmar que quem a gente conhece lá, se torna muito especial em nossa vida. Jamais esqueceremos as pessoas que por pouco tempo, mas em situações tão intensas uma ajuda o outro, mesmo que seja um “pequeno” apoio moral. Mas nessa hora tudo é muito tão forte.

 

Dentro desse clima a organização já preparou uma previa. Na sexta-feira, um jantar numa pizzaria de Boituva.

 

Para chegar a tempo, assim que minha filha saiu da escola (na sexta) nos dirigimos eu ela e minha sobrinha a Cris para lá.

 

No Jantar, pelo número de pessoas que compareceram acabamos espalhados em duas mesas distantes. Mas foi o suficiente para conhecer algumas pessoas e rever outras, como por exemplo, o “gnomo” Ogum777 companheiro de edição daqui do Mochileiros.

 

Na manhã seguinte acordamos bem cedinho, dessa vez fiz tudo certo, e fiz um desjejum caprichado. Levei alguns saches de “gel” repositor e para hidratar um composto bastante forte próprio para atividades de longa duração.

 

Para vencer os 300km teríamos tempo limite de 20 horas. Portanto com a Largada às 7:15 teríamos até 03:15 da manhã de domingo para completar a prova.

 

Largamos com batedores da Guarda Municipal de Boituva que nos acompanharam até ganharmos a Castelo Branco. Largamos juntos, eu e o Marcelo. O Ogum777 sempre por perto.

Nos primeiros 25 Km procurei fazer o aquecimento. Rodando com média próxima de 20km/h com mais giro do que força. Passados os 25km, aceleramos um pouco. O primeiro PC, com 75km de prova alcançamos com média de 25km/h. Isso logo após vencer a primeira etapa da “subida da Cuesta de Botucatu”. Uma subida longa, de cerca de 3,2km, mas que vence uma altitude de cerca de 150m.

 

Nessa fase da prova contamos com uma companhia inusitada. Uns “amarelinhos de Boituva”. Quatro garotos de pouco mais de vinte anos que partiam em disparada, ultrapassando todo mundo feito bala. Mas.....poucos km à frente lá estavam eles de língua e fora.

Esse é o diferencial do Audax. Uma prova interna e muito técnica. Ninguém está lá para passar na frente dos outros e sim para seguir o planejamento que fez para concluir dentro do prazo que cada um estabeleceu, respeitando o limite de 20hs.

Por esses motivos e por ser uma prova de resistência, a média de idade dos participantes é de mais de 40 anos.

 

Logo após sairmos do PC1 – no Road Star, o Posto mais moderno da América Latina e local que serviu como PC 3, tínhamos a pior subida da prova. 8,16km vencendo 250m de altitude, mas extremamente capciosa. Os primeiros km são de uma inclinação muito suave, mas que já mina a força dos atletas e lentamente ela vai inclinando, inclinando, inclinando e ficando mais pesada. Passa-se a primeira ponte, no meio da segunda a perna pede marcha mais leve, e não tem. A técnica é vence-la no giro.

 

 

Passei bem por essa fase. Ah. No final da segunda ponte quem vi pela última vez? Os “Amarelinhos” com a língua próxima do chão. Depois desse ponto....não foram mais vistos por ninguém.

 

Em seguida, passamos pelo Pedágio de Itatinga e pela entrada de Botucatu. De lá pra frente a coisa ficou complicada.

Desde a largada e mesmo na parada do PC1 eu alertei quem passou por perto de mim, que o acostamento estaria horrível.

A concessionária SP Vias que arrecada pedágio na região não dá a manutenção necessária nesse ponto da estrada. Mais precisamente, da entrada de Itatinga até o PC2 em Iaras fomos sacolejando, complicando com a vida dos pneus, chacoalhando o cérebro, detonando os ombros pelos trancos que o impraticável acostamento da Castelo Branco, administrado pela SP Vias oferece aos usuários que pagam para por ali transitarem.

Em alguns trechos rodamos na Rodovia - o que é perfeitamente previsto pelo Código e Transito Brasileiro. Mas em diversas situações alguns ciclistas correram riscos por atitude imatura de condutores de veículos. Fomos “atentados” por um Corolla de cor prata, que veio há quilômetros com a buzina acionada e sem tirar o carro da pista da direita, mesmo com a estrada vazia, não respeitando a legislação que prevê a distância de 1,5m.

Mais do que não respeitar a legislação, um cidadão desse não respeita a vida. Com certeza é alguém muito infeliz que transfere sua infelicidade em agressividade contra outras pessoas.

Apesar do sacolejo, chegamos no PC2, posto Borsatto de Iaras com a média de 25km/h e ganhei o segundo abraço de minha filha. Mas dessa vez ela me olhou bem no rosto e falou “Pai, agora você está cansado”.

Antes da largada, o Ogum tinha perguntado pra ela se ela já tinha visto o pai desfalecendo. E afirmou. Hoje você vai ver.

Já tínhamos pedalado 150km. Um certo cansaço, mas nada comprometedor. Nenhuma dor no corpo, a perna inteira, sem acido lacto nada. Tomamos um lanche, hidratamos e saímos de volta pela Castelo Branco.

Como sempre, o vento que normalmente bate na Castelo no sentido Interior Capital, nesse dia estava Capital-Interior. Isso é alguma praga contra ciclistas.

 

Logo que iniciamos, furou o pneu traseiro do Marcelo. Arrumamos e seguimos. Poucos kms rodados senti minha roda dianteira quadrada. Pulando.

Parei e vi o pneu deformado. Deu um “S” em sua forma e formou um “calombo”, parecia ter uma pedra dentro.

Vindo atrás de nós estava o Carlos e um colega que conhecemos ali (cujo nome não me lembro). O Carlos tinha tido esse problema antes do PC2 e conseguiu trocar o Pneu lá. O pessoal da organização tinha 3 reservas, que foram consumidos rapidinho em função do asfalto da SP Vias.

Abaixei a calibragem para algo entre 35-40 libras/cm3 (de 110) e foi possível seguir. Só que o pedal ficou pesado com essa calibragem no pneu dianteiro. E nossa média caiu bem.

A previsão era chegar no PC 3 umas 18:00-18:30 e terminar a prova antas das 22:00hs.

 

Mas com a média baixa, caiu a noite, tivemos um espetáculo inesquecível. A lua despontando bem nomeio da rodovia com um tamanho raro de se ver. Típica de inverno. Enorme e com a cor avermelhada.

 

Mas, a roupa de frio estava no PC3. Uns 20Km antes de alcança-lo comecei a sentir muito frio. Estava suando demais por conta do pedal pesado (pelo pneu murcho) e a temperatura caiu repentinamente. A água que estava quente na caraminhola gelou. E, infelizmente, meu corpo. Comecei a sentir dores de cabeça, algo como uma pressão nos olhos e em seguida um formigamento nos lábios.

Comecei a sentir esses sinais há uns 4 ou 5 km do Serviço de Atendimento da Rodovia. Mas ao faltar cerca de 1km-800m do apoio, senti um calor no corpo. Aqueceu as pernas, os braços. Nessa hora me preocupei. Pois a temperatura ambiente estava caindo e não subindo, e ainda mais, o trecho era de subida, estávamos chegando ao ponto mais alto do percurso, nas proximidades da entrada de Botucatu. Ou seja – não estava aquecendo, mas sim meu corpo esfriando - a temperatura do corpo indo mais próxima da temperatura do ambiente.

Forcei o pedal e me protegi dentro do Apoio da rodovia. O Marcelo Rapidamente correu até os fundos onte tinha uma enfermeira. Pedi a ela para medir minha temperatura. Na primeira tentativa: nada. Ela me falou, “você está gelado”. Brinquei..”então estou morto. Mede de novo”. Deu algo dentro da casa dos 31. Em seguida ela fez uma medição mais criteriosa e deu 32,8 graus. Nesse momento percebi que tinha que parar.

Sem dores no corpo, sem fadiga, o batimento cardíaco em 120 e a pressão arterial em 12x9. Tudo isso depois de pedalar por mais de 12 horas. Mas, a falta do corta vento – que ficou no PC 3 me tirou da prova.

Até poderia aquecer e tentar continuar. Mas ao nível que minha temperatura corporal chegou poderia ter tido algum comprometimento. Não seria prudente continuar a prova.

Assim como, se não tivesse chegado a tempo no Apoio da Rodovia não sei se estaria escrevendo esse relato hoje.

 

É horrível a sensação de abandonar a prova, sem dores e sem fadiga. Levaria a bike até a chegada mesmo com pneu murcho, Porém não chegaria antes das 22:00hs, mas teria concluído. Mas, o destino me preparou essa “experiência”.

Pedalei 210km, e a parte de subida da prova. Na hora que ia ficar mais fácil com descida, tive que abandonar. Ah isso dói. Mas tenho uma baixinha de 7 anos que precisa muito de mim. E foi pensando nela que tomei a decisão. Afinal, depois de todo apoio que ela me deu, merece esse respeito.

 

Uma percepção que tive depois que parei. As pessoas que acompanham. Sofrem muito mais que nós. Ficam no desespero e em muitos casos, torcendo pela desistência. Querendo minimizar o sofrimento. A expressão no rosto quando vê o marido, irmão, saindo...é desoladora.

 

 

Ano que vem tem mais.

 

 

Fotos em:

http://picasaweb.google.com/willys60/AudaxBrasil300k

  • Membros de Honra
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Já vi cara.

Crisciúma

 

Mas vamos ver....minha agenda de trabalho....

 

 

Ah

Pneu...acho que no proximo coloco um maior...um 26 sei lá

 

abração

  • Membros de Honra
Postado

Parabéns Pia! Porque o mais importante não é o fim e sim a jornada.

Gandhi já dizia: “A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita”. E complemento com outra ótima frase de Napoleão: “A arte de ser ora audacioso ora prudente é a arte de vencer”.

 

Abraço. ::otemo::

  • Membros de Honra
Postado

Grande Paulo, que bela roubada que o Ogum te levou, hein? E esta hipotermia, que droga! Vc levaria certo estes 300 km!

  • Membros de Honra
Postado
Grande Paulo, que bela roubada que o Ogum te levou, hein? E esta hipotermia, que droga! Vc levaria certo estes 300 km!

 

alemão, cê sabe que vc e o silnei já tão inscritos na série de brevets do ano que vem, né? pode ir treinando....

  • Membros de Honra
Postado

Opa.

 

Obrigado Lico, Sandrão e Cacius... Por tudo isso me animo mais ainda a continuar nessa ...

 

 

Ogum. O pneu que deu bolha foi um Kenda. modelo Concept.

 

 

Abração

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