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Leblon Spot, primeiro hostel de design do Rio, terá novo restaurante de Claude Troisgros

Publicada em 02/06/2010 às 11h17m

Joana Dale

 

RIO - Um discreto portão de ferro ladeado por paredes de tijolos aparentes guarda o Leblon Spot, o primeiro hostel de design do Rio. Instalado em um antigo prédio de três andares no início da Rua Dias Ferreira, o albergue ainda passa despercebido para muitos cariocas. Em setembro, no entanto, esse jogo promete virar com a inauguração da CT Boucherie, novo restaurante de Claude Troisgros, que vai dividir o número 636 da rua gourmet com a hospedaria. Enquanto o chef não vem, o clima de casinha arrumada já atrai a clientela.

 

 

O sobrenome "design", aliás, é fundamentado no conceito de um lugar que não é necessariamente supercontemporâneo, como a classificação pode dar a entender.

 

- Todo o espaço foi projetado para ser um albergue e estruturado para aconchegar os hóspedes. A maioria dos albergues do mundo vai sendo montada e, quando se vê, tem um varal no meio da sala, roupas penduradas na janela. Aqui não existe essa possibilidade - avisa o gerente, Pedro Dantas, de 25 anos.

 

Um dos ambientes do terceiro andar, por sinal, abriga uma lavanderia bem equipada à disposição dos hóspedes - 85 é a capacidade máxima. São, no total, cinco suítes e 66 leitos, divididos entre quartos para quatro, seis ou dez pessoas. O preço para dormir com ar-condicionado e lençol branquinho varia de R$ 32 (no beliche, com direito a banheiro coletivo) a R$ 220 (na suíte, com vista para o badalo da rua nos fins de semana).

 

- A gente se propôs a fazer um esquema para receber um mix de garotada alberguista tradicional com um público mais diferenciado - explica o empresário Álvaro Sávio, um dos três sócios da empreitada.

 

O Leblon Spot foi inaugurado, em soft opening, no carnaval. A chancela do Hostelling International, novo nome da Federação Internacional de Albergues da Juventude, ajudou a atrair a clientela nacional e internacional - dos cerca de 90 albergues da cidade, apenas outros cinco são associados à instituição, que garante qualidade, limpeza e descontos.

 

- Noventa por cento do nosso público é de brasileiros, sendo que desse total 50% são paulistas. Os outros 10% misturam russos, palestinos, suíços, peruanos. Recebemos muitos argentinos também - lista Edgar Hargreaves, outro sócio.

 

O paulistano Roberto Vilchez Yamato, de 32 anos, engrossou essa estatística. Ele voltou recentemente de uma temporada no Canadá e está fazendo doutorado na PUC carioca.

 

- O fato de estar no Leblon, pertinho da Gávea, pertinho da praia, contribuiu para a minha escolha. Já soube que tem suíte e agora vou programar uma volta com minha mulher - diz.

 

Yamato é o tipo de hóspede cobiçado pelo hostel. Não que os mochileiros durangos não tenham vez. Mas, por enquanto, a maior parte dos frequentadores do albergue chega na recepção empurrando sua malinha.

 

- Só os europeus aparecem com mochilas gigantes. Os que vêm da América do Sul e dos Estados Unidos chegam com mala mesmo - relata Pedro Dantas.

 

Com mochilão ou mala de rodinha, a clientela não tem idade. Há dois meses, o staff da casa ficou encantado com duas senhorinhas quenianas, de 46 e 60 anos.

 

- Elas chegaram do nada, sem reserva, para participar de uma feira de artesanato e ficaram sozinhas em um quarto por um mês. Na despedida, nos deixaram um presente feito por elas, à mão, que virou destaque na sala de convivência - conta o gerente.

 

CT Boucherie será casa de carnes

Por um desses acasos do destino, o mesmo empreiteiro responsável pela obra do Leblon Spot estava comandando uma reforma na casa de Claude Troisgros, na Gávea, e comentou com o chef que o novo empreendimento na Dias Ferreira tinha uma loja na frente, onde por anos funcionou a Padaria Osório.

 

- O Claude veio visitar o espaço no mesmo dia e mostrou interesse em fazer negócio conosco. Já tínhamos conseguido alvará para o funcionamento de um bar, que será explorado por ele - explica o sócio Álvaro Sávio.

 

O CT Boucherie, quarto negócio comandado pela família Troisgros na cidade, será uma casa de carnes.

 

- Não estou indo para o Leblon, estou indo para a Dias Ferreira. Foi um acaso e acho que não se recusa um ponto lá - afirma o chef. - Não vou dizer que farei uma churrascaria ou uma steak house. A ideia é um misto de bistrô e açougue francês, com presuntos e queijos pendurados. Teremos menu com preço fixo, com direito a salada, carnes de altíssima qualidade e suflês de sobremesa.

 

Enquanto as obras do restaurante não terminam, o Leblon Spot fechou parceria com o simpático Azeitona & Cia., que fica em frente. Por R$ 20, o hóspede pode tomar café reforçado no hostel e almoçar o prato do dia no botequim. Para quem deseja fazer apenas o desjejum em "casa", o bufê com pães, frios, sucos e frutas da estação sai por R$ 10.

 

Aliás, o café da manhã no albergue é coisa fina. A mesa é diariamente posta com pratos, talheres e xícaras do Hotel Glória (o brasão nas peças não deixa mentir), que fechou as portas para reformas e botou todo o seu acervo à venda num galpão em Duque de Caxias.

 

- Em três idas a Caxias, comprei boa parte do aparelho de jantar do Glória, composto por louças de excelente qualidade. Todos os nossos copos de vidro, para cerveja, refrigerante ou caipirinha, também vieram do hotel - conta Edgar Hargreaves.

 

 

 

As peças arrematadas pelo sócio no leilão do Glória não se restringem à mesa. A "suíte presidencial" do albergue, por exemplo, é decorada com cortinas e um abajur que, em outros carnavais, fizeram parte do acervo do tradicional hotel no Aterro do Flamengo.

 

 

- As peças têm um charme todo especial. São históricas - ressalta Edgar.

 

Os proprietários do hostel também fizeram a festa com peças de demolição de um casarão dos anos 50, no Jardim Pernambuco. A maior parte das janelas do albergue, por exemplo, veio dessa demolição e ajudou a criar uma atmosfera provençal. Para completar a decoração do interior, a feirinha de antiguidades da Rua do Lavradio foi uma importante fonte de móveis. O visado armário-bar que abriga as garrafas de cachaça, vodca e uísque da recepção é resultado do garimpo feito na Lapa.

 

Os detalhes do Leblon Spot chamaram a atenção da estudante peruana Stephanie Haurt, de 23 anos, que está com amigas visitando o Brasil pela primeira vez.

 

- É ótimo podermos usar a sala de estar e a mesa de jantar do albergue como se estivéssemos realmente em casa - opina a peruana.

 

Já o suíço Cliff Bleise, de 26 anos, que está tentando uma vaga para fazer doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), gostou mesmo é do conforto do cantinho de computadores.

 

- Estou de férias, vou à Praia do Leblon todos os dias, mas ainda tenho algum trabalho a fazer - conta o suíço, que ficará até o fim do mês hospedado no albergue. - Antes de viajar, procurei hospedarias em Copacabana e em Ipanema, mas aí descobri essa no Leblon, que tem uma vizinhança segura e bem simpática.

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