Colaboradores Notícias Postado Maio 18, 2010 Colaboradores Postado Maio 18, 2010 Uma triste felicidade: alunos e professores membros do curso de turismo da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), foram os primeiros do ano a participarem, em 25/04/2010, de uma visita, com finalidades educacionais, à São Luiz do Paraitinga, SP. Triste felicidade, pois, de acordo com nosso guia local, Hélio Alexandre de Souza, nesta época do ano, não fosse a enchente, ele já teria conduzido várias delas... Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul por Andréa Rabinovici Claro, recapitulo brevemente o ocorrido, pensando em alguém que, em meio às festas de fim de ano tenha perdido a notícia, principalmente se teve acesso à imprensa somente duas semanas depois das enchentes em Paraitinga, ofuscadas pelo terremoto no Haiti. Assim, vale uma nota para esclarecer sobre o ocorrido: na noite do reveillon de 2009/2010, uma forte chuva atingiu o Vale do Paraíba, fazendo com que o rio Paraitinga transbordasse, tendo subido em torno de 15 metros, alagando a cidade e feito com que, aproximadamente 9.000 pessoas (quase toda a população) tivessem que abandonar, às pressas, suas casas. Vários casarões históricos tombaram ou foram danificados e, a Igreja Matriz de São Luiz de Tolosa e a Capela das Mercês ruíram completamente. A cidade ficou isolada por alguns dias, acessos por terra foram fechados, e o abastecimento de energia, água e alimentos foi comprometido. Até o momento, ainda há desabrigados em casas de amigos, parentes ou em instalações improvisadas. Voltando ao relato, estar em Paraitinga, com os alunos de turismo, praticamente um ano depois de uma visita à cidade, antes da enchente, com seu patrimônio histórico ainda em pé, e, mesmo sabendo do que me esperava tendo acompanhado atentamente todas as notícias sobre a tragédia, foi extremamente impactante. Afora as perdas do patrimônio material, foi muito emocionante rever os luizenses, antes acostumados e até cansados com a invasão de turistas, mas agora curiosos com nossa chegada, cheios de esperanças, muito cientes de suas responsabilidades, de sua tragédia, de sua sorte, de seu destino. Há indícios de que teremos novidades no que tange às possíveis soluções para algumas das questões que os intrigavam, tais como a explosão do carnaval, com a cidade fervilhando durante o evento, fato não tão bem aceito por parte dos munícipes. A mudança na relação com o turismo e até com os guias de turismo, os quais, segundo o nosso guia, foram transformados de maconheiros em heróis pela população que foi salva por eles com sua experiência em conduzir botes do rafting, fato confirmado pelas homenagens visíveis nos tapumes da Igreja Matriz. Tudo foi muito emocionante neste primeiro City-Tour, vimos casas repintadas, mais bonitas do que antes, outras completamente abandonadas, esperando cair de vez, e, algumas ruínas do que antes teriam sido Igreja, capela, casa de cultura caipira... Em termos didáticos, ficou muito fácil agora explicar as técnicas de construção das casas, os impactos do desmatamento, e até arriscar alguns palpites sobre o futuro, caso continuem a castigar o entorno do rio Paraitinga, e plantar monoculturas ao redor da cidade. Fácil, mas muito triste e, no entanto, muito complicado para nosso Hélio, destreinado por alguns meses sem trabalho como guia. Meses nos quais atuou no salvamento e reconstrução na cidade, tornou-se herói dentro e fora do município, tendo recebido medalha de honra ao mérito do Governo de São Paulo. Louros que ele faz questão de dividir com seus outros colegas do rafting. Na hora de falar da cidade uma dificuldade tamanha, uma confusão, apontar para um lugar, dizer que ali fica a Igreja, suas características, sua história e nada vermos a não ser a sua lembrança para quem a conheceu, ou as ruínas para quem não teve a chance... Não há de ser fácil e Hélio reconhece isso, diz estar inclusive se tratando em terapias para retomar a sua rotina de guia apaixonado pela cidade. Eu que o vi atuando noutras ocasiões, percebi claramente sua confusão, sua dor e seu empenho em passar otimismo a todos, isso, inclusive constatei já nos primeiros dias da tragédia nas entrevistas que deu a alguns canais de televisão e de internet. Para contar toda esta história, Hélio, que além de guia de turismo é formado em letras, está finalizando um livro sobre a história da cidade após a enchente. Já tem até um nome: Tijolo por tijolo, coração por coração e deverá se constituir num relato bastante detalhado, apaixonado, mas também muito lúcido do ocorrido. Os depoimentos orais que nos foram dados no dia da nossa visita já permitem prever a qualidade e o interesse do livro. O que a obra não terá, infelizmente, é a emoção da sua fala, e, o semblante dos luizenses que pararam para ouvir, curiosos, as reações dos alunos, além do toque final e mais do que emocionante, do sino da Igreja, resgatado dos escombros e agora pendurado de forma improvisada na praça e, tocado em badaladas de tristeza. São Luiz do Paraitinga continua sendo um lugar mais do que especial, talvez na sua reconstrução, retome o seu antigo carnaval, sem os contornos do que estava se tornando, especialmente desde que foi reconhecido como um dos carnavais mais interessantes do Brasil. Seus habitantes parecem conviver corajosamente com todas as situações em que estão sendo parte, quando se considera as invasões de foliões, das águas, de sua rotina. Seu casario, o que se manteve em pé, agora com as marcas da enchente, parece ter mais história para contar, e, aqueles que ruíram, deixaram os espaços físicos que nos obrigam a repensar, imaginar, buscar sua história, recriá-los. Não resta dúvida, ir à Paraitinga agora, nos coloca dentro do problema, nos obriga a sermos parte da solução, nos toca e nos torna mais sensíveis, solidários, quase que automaticamente. Pude sentir isso nos alunos, nos demais ouvintes atentos à fala do Hélio. Ficamos todos decididos a ajudar neste novo capítulo da história luizense. A comunidade da UFSCar tem como ajudar de várias maneiras e, pode ampliar o apoio para outros munícipes de Sorocaba. Neste momento com o saber técnico, é possível repensar o turismo e planejá-lo junto à população de lá. Mais para frente, recolher livros e enviá-los, já que a cidade ficou sem suas bibliotecas, sem seus instrumentos musicais, tecidos e outros. Alimentos e roupas, água e colchões chegaram em grande quantidade e foram até redistribuídos para outros municípios. De imediato fica o convite mais agradável de todos: ir visitar a cidade, em dias de festa (sendo a próxima a Festa do Divino), em dias normais, conversar com as pessoas de lá, ouvir suas histórias, celebrar a vida e todas as possibilidades de recomeço, repletas da fé que os luizenses irradiam. Ao Hélio e a todos os luizenses nossa solidariedade. Andréa Rabinovici é professora da UFSCar
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