Membros Este é um post popular. jacobrazil_II Postado Janeiro 4, 2017 Membros Este é um post popular. Postado Janeiro 4, 2017 A vontade de sair caminhando por lugares onde nunca andei sempre esteve presente, e foi no final de 2015 que vi a possibilidade de fazer algo novo. Muito influenciado pelos relatos do Divanei (Costa dos Coqueiros: http://www.mochileiros.com/post558641.html#p558641 ) e do Jorge Soto (Costa dos Coqueiros : http://www.mochileiros.com/de-arembepe-a-mangue-seco-se-a-pe-t11941.html e Costa do Descobrimento: http://www.mochileiros.com/de-porto-seguro-ate-prado-a-pe-t12168-15.html ), decidi andar por esses lados também, porém com um diferencial, recém desempregado, ainda recebendo auxílio desemprego e de férias da faculdade, eu tinha tudo que precisava: dinheiro e outra coisa que os dois não tiveram... TEMPO! Como meu próximo compromisso era somente com a faculdade em março, decidi sair andando pela costa até onde conseguisse. Comecei pelo litoral do Espírito Santo porque eu possuía uns pontos de cartão de crédito prestes a vencer e optei por trocar por uma passagem área. Como a quantia de pontos era insignificante, só havia disponível pra mim trechos curtos, exatamente como RJ-ES. 1º DIA No tão esperado dia 15 de dezembro de 2015, parti pro aeroporto e enquanto o ônibus se arrastava no meio de um engarrafamento, minha consciência torcia pra que eu não chegasse a tempo e voltasse pra casa. Mas nada disso se concretizou eu peguei o tal avião pra Vitória, de lá tomei um coletivo direto pra rodoviária da empresa Águia Branca. Minha ideia inicial era ir até Linhares e depois descer para o litoral, mas depois da cagada que aconteceu no Rio Doce, decidi iniciar a caminhada em São Mateus. Demorei umas 3 horas pra poder chegar ao meu destino e quando passei por Linhares pude ver a péssima aparência que se encontrava o rio. Chegando na rodoviária de São Mateus, imediatamente peguei uma condução que me levou até a praia de Guriri, lá comprei um pacotinho de biscoito e uma água gelada e já caminhei em direção à praia. Era um fim de tarde agradável, por volta das 17h e em pleno horário de verão, bastante gente caminhando e voltando da praia nessa hora, o lugar já respirava o clima de férias de final de ano. Seguindo pela orla em poucos minutos passei por um parque aquático aparentemente desativado e a partir daí as residências vão se acabando, cada vez menos famílias nas areais e eu já pensando onde poderia dormir. O mar estava com ondas pequenas, a areia íngreme e fofa, depois vinha uma restinga bem rala cortada por uma estrada de barro, que leva a alguns vilarejos. Eu ainda não fazia ideia de como identificar uma maré alta ou baixa e segui andando no final das ondas onde a areia era ligeiramente mais firme. Algumas pequenas estruturas feitas com umas palhas de coqueiro que eu não entendia muito bem o significado, apareciam pelo caminho e já me faziam pensar se dava pra aproveitar como um possível abrigo. O sol já se despedindo também já me obrigava a pensar em achar um lugar pra passar a noite. Eu sabia que o começo seria o mais difícil em relação a tudo, em especial a minha dormida, pois não havia levado barraca por considerar muito quente pra uma praia, levei uma rede de polyester e um tecido de nylon para fazer uma cobertura pra chuva. Quando avistei uma cabana improvisada com uma cobertura precária com placas de madeira e lonas, não tive dúvidas que iria dormir ali embaixo e tratei de me alojar rapidamente. O vento era constante, o que me fez desistir de improvisar uma janta com o fogareiro. Sem muita fome, comi os biscoitos que havia comprado em Guriri e deitei meio sem jeito na areia forrada com meu nylon até pegar no sono. Anoiteceu com um céu impecável e muito estrelado, mas lá no meio da madrugada caiu um sereno no meu rosto e eu tive que me posicionar melhor embaixo do meu barraco. 2º DIA Meio sem sono acordei logo na primeira clareada que o céu deu. Guardei o saco de dormir e meu nylon, nem me lembro o que comi, abandonei meu par de tênis que seria inútil dali pra frente, e segui rumo ao norte. Pra minha sorte, umas nuvens bem densas cobriram o sol por bastante tempo, quando ele surgiu apareceu rasgando. O cenário ainda era o mesmo com a maré ainda ruim pra caminhar. Andava algumas centenas de metros e subia até a pequena estrada de barro pra tentar visualizar alguma coisa, não via nada adiante então descia de volta pra areia, sempre margeando pelo final das ondas. A meta dessa manhã era chegar até Conceição da barra. Um tempo depois do início da caminhada, avistei um pescador deitado na sombra do seu barco esperando um colega chegar pra iniciar sua pescaria. Perguntei se faltava muito e ele disse que mais uns 30 minutos eu chegaria. Continuei andando e duvidando do cara, porque a praia se perdia no horizonte e não conseguia ver nada, porém o cara estava certo, com aproximadamente 30 minutos de caminhada me deparo com o enorme rio Cricaré e Conceição da Barra bem do na outra margem. Os barcos passavam próximos a outra margem e não me viam, fiquei esperando passar algum barco próximo a mim pra tentar a travessia. Uma cara passou por mim de quadricíclo e disse que esperasse, pois de vez em quando aparecia alguém. Achei a sombra de uma barraca e sentei pra esperar. Cansei de esperar e comecei a acenar pros barcos menores do outro lado, pra minha sorte umas mulheres me viram acenando e avisaram a dois barqueiros que vieram ao meu encontro e me atravessaram numa boa e assim atravessei o primeiro de dezenas de rios. Me apontaram onde era o centro quando perguntei as horas me espantei como era cedo. Tinha caminhado bastante e ainda não era nem 9h da manhã. Fiquei surpreso e me dirigi até uma padaria pra tomar um merecido café da manhã, depois de encher a barriga, fui até a orla e me deitei na sombra de um quiosque e descansei até a hora do almoço. Após comer caminhei um pouco pela areia e parei embaixo de um abrigo de salva vidas, descansei por ali durante a tarde enquanto esperava o sol fortíssimo ficar mais fraco. O mar ainda não era dos mais bonitos, com ondas fracas amarronzadas e mais ao fundo com uma cor ligeiramente esverdeada. Um ou outro casal na praia e um casal namorando em uma barraca abandonada sem fazer cerimônia rs. Por volta das 16h parti, dessa vez com a areia mais firme e sol mais brando. Em menos de 1h de caminhada cheguei na foz do Rio Itaúnas, aqui aprendi que esse encontro do rio com o mar chama-se 'barra'. Perguntei a dois banhistas se dava pra passar com mochila na cabeça e eles disseram que a uns minutos atrás dava sim, mas quando tentei não obtive sucesso. Fiquei sentado esperando algum barco passar e nada, os caras foram embora e fiquei sozinho, enquanto dava uma explorada no lugar, passou um barco e perdi minha carona. Resolvi ficar por ali mesmo, tomei um banho de rio, armei minha rede nas margens do mangue e cobri com o nylon que de cara eu vi não ficou como tinha imaginado. Fiz um miojo com o fogareiro e dormi numa boa, a maré subiu consideravelmente mas não me comprometeu. Na madrugada caiu novamente uma chuva leve, mas minha cobertura deu conta. 3º DIA Amanheceu um pouco nublado, enquanto recolhia minhas coisas passou um barco e perdi novamente a carona. Depois de comer fiquei na margem da barra aguardando alguém passar, pois com aquela maré ainda não dava pra atravessar. Não demorou e passou um barco com dois pescadores que estavam saindo pra recolher a rede no mar. Pedi e mais uma vez me atravessaram numa boa. Comecei a caminhada rumo Itaúnas e as bolhas nos pés já começavam a incomodar, a areia ainda íngreme e fofa também não ajudava. Com um tempo de caminhada o sol foi surgindo e agredindo, o mar ficava menos amarronzado com um ou outro barco passando. Pela praia ninguém aparecia e depois de longos 13km cheguei na praia de Itaúnas. Uns 800m antes das barracas há uma placa que indica o início da Trilha do Tamandaré, que leva direto pra o início do centro, como eu não sabia continuei até as barracas e exausto paguei 4$ por uma água de coco e dei uma descansada. Uma das únicas duas que paguei em toda a viagem. Pra chegar ao centro tive que subir e atravessar a imensa duna que acaba em uma estrada de barro que leva ao centro. Mais 1km de caminhada, onde pude chupar bastante caju, pra chegar bem no meio da praça onde deitei em um banco na sombra e tirei um cochilo até o almoço. Itaúnas é bem agradável e minúsculo, porém tudo muito caro. Depois de comer e catar umas mangas na praça, voltei pra praia e fiquei descansando na mesma barraca onde tomei o coco, aqui me desfiz de um monte de saco de lixo grande, que pretendia cobrir a mochila pra atravessar os rios, vi que não era viável e me livrei do peso. Por volta das 16h parti rumo a Bahia. A caminhada ia em um bom ritmo, mas as dores nos pés e as bolhas me incomodavam bastante. Pouco mais de 1h cheguei no Riacho Doce, a divisa do ES com a BA, o local estava totalmente vazio, com dois quiosques fechados e uma casa. Uma bela praia, um pequeno lago e o riacho, não muito cheios devido à seca, formavam o cenário da divisa. O lugar perfeito pra dormir, em um quiosque já tinham duas redes armadas e bastante lugar coberto caso precisasse armar a minha. Arranquei um coco de um coqueiro baixinho, mas sem faca sofri pra conseguir abrir. Um tempo depois apareceu umas pessoas na casa e fui até lá conversar. Me explicaram que a casa era um restaurante que não funciona mais e estava abandonada, apenas um pescador tomava conta e me deixaram a vontade pra usar o chuveiro. Aproveitei pra tomar um banho e dormi na rede do quiosque. 4º DIA Acordei e tomei café mas não saí de imediato, fiquei enrolando por ali até que chegou o proprietário do quiosque e conversamos bastante. Ele me explicou que sua barraca era do lado capixaba, mas ali era área do Parque Estadual de Itaúnas, por isso ele se mudou pra o lado da Bahia. Papo vai papo vem, ele disse que não estava abrindo ainda, apenas aos fins de semana, somente após o natal que ia abrir diariamente. Me despedi e saí bem tarde, umas 9h com o sol rasgando, porém a sensação de já estar na Bahia me dava disposição pra continuar. Pouco mais de 1km surge um paredão com algumas pedras a serem vencidas, mas as ondas do mar não chegavam a incomodar, após esse local vem uma praia deserta com uma única casa, e ao final da praia mais um paredão de obstáculo, dessa vez com ondas batendo, segui por uma trilha que contorna toda essa falésia e retorna a praia mais à frente. Mais uma imensa praia pra percorrer e no final mais uma falésia como obstáculo, por baixo não dava pra passar, tentei subir margeando mas em certo ponto o mato se fecha, retornei e entrei num hotel que parecia vazio e me informei com um funcionário, o mesmo me indicou uma trilha que contornava o paredão e retornava para praia. Agora começava a aparecer alguns moradores, pescadores e banhistas. Parei na sombra de uma pedra e abri um coco que peguei na trilha e abri com muita dificuldade com uma faca de cozinha cega que consegui na casa de Riacho Doce. Mais uma vez peguei um desvio, dessa vez saí em uma estradinha de barro bem comprida que me levou até Costa Dourada. A essa altura já era 12h e eu já caminhava mancando devido as bolhas. Almocei e descansei o resto da tarde pensando no que fazer em relação às minhas bolhas. Por 35$ acabei ficando na pousada da Tia Fina, onde jantei e estourei as bolhas. 5º DIA Acordei cedo tomei um café da manhã e fiquei numa sombra vendo o movimento. O céu sem nuvem e um sol violento formavam um sábado perfeito pros banhistas que não demoraram a chegar. Dei um mergulho no mar e senti a bolha ardendo um pouco, então continuei a descansar. Após o almoço esperei o sol baixar um pouco e decidi partir por volta das 15h com a maré baixa e ainda andando meio torto pra evitar contato da bolha no chão. Assim que sai praia da Costa Dourada começa um paredão de falésias e somem os banhistas, caminhei sem pressa naquele belo cenário e após cerca de 1,5km cheguei na Praia do Sossego, um lugar que faz jus ao nome, uma bela praia, um rio rasinho desaguando no mar e poucos banhistas descansando. Segui em frente, agora sem falésias e com uma extensa faixa de areia devido a maré baixa. Caminhei bastante e um bom tempo depois voltaram a aparecer banhistas, perguntei a um deles onde era a Praia do Gesuel e o mesmo me informou que ficava ali mesmo. O mangue corre paralelo a praia, atravessei com água na cintura e subi um barranco pra chegar até a única rua do lugar com casas e um bar. No bar da Preta chupei um picolé bem baratinho e programei uma janta com ela, resolvi ficar por ali e não forçar muito o pé. Como essa rua fica no alto, é possível ter uma vista privilegiada de toda e praia e do mar. Matei o tempo por ali até anoitecer e depois da janta fiquei esperando o bar fechar pra armar minha rede ali mesmo com a permissão dos donos, só me arrependi um pouco porque dois cachaceiros não estavam querendo sair do bar o que me fez esperar muito pra dormir. 6º DIA Acordei nos primeiros raios de sol, desarmei a rede e logo parti, atravessei o mangue de volta a praia e parei em um barco na areia pra tomar um café com direito a um mamão que ganhei do dono do bar e um coco que retirei de um coqueiro pequeno. No meio do café me dei conta que arrumei um baita corte na sola do pé. Mais uma bela manhã com ventos agradáveis e bem fortes, caminhei pela areia firme e cheias de urubus que ficavam disputando a carcaça das tartarugas marinhas mortas. Poucas horas de caminhada cheguei na barra do Rio Mucuri, e um pescador me indicou onde eu deveria ficar esperando o barqueiro que atravessava. Mofei por lá um tempo e quando dois pescadores estavam voltando pra margem, me pegaram pra atravessar, como era domingo o tal barqueiro devia ter tirado folga. O pescador pegou umas iscas com o neto e mandou que ele me acompanhasse até a Passarela Ecológica Gigica, onde eu atravessei e saí dentro de Mucuri. No centro comprei um carregador pro meu telefone, que eu havia esquecido em casa, e descansei em um banco na praça até a hora do almoço, após comer me dirigi a saída de Mucuri e fiquei descansando em um quiosque. Era um domingo ensolarado e a cidade e suas praias estavam lotadas. Tomei um banho de mar em seguida um de chuveiro com água doce e quando ia deixando o estabelecimento a dona percebeu que eu estava viajando e me fez um convite pra trabalhar em sua bar, já que a alta temporada estava começando, agradeci e expliquei que não podia aceitar e segui meu destino. A tarde foi uma caminhada longa e agradável, areia boa de caminhar, uma brisa constante e uma enorme torre a quilômetros de distância que eu segui acreditando sem algum povoado. Chegando próximo a um condomínio dei uma parada pra pegar uns cocos bem miúdos que estavam acessível graças as dunas e continuei. Com o sol já se despedindo, os quiosques vazios eram excelentes lugares pra dormir, mas continuei andando pra procurar um comércio achando que ali havia um povoado. No meio dos caminhos de areia, já meio escuro acabei chutando um espinho que entrou exatamente dentro da minha unha. Uma dor terrível que me fez mancar mais do que eu já estava. Achei umas barracas na praia da Costa do Atlântico e o dono me falou que ali não havia nada, nem comércio nem povoado, mas tinha um cara com restaurante e pousada na pista. Fui pra estrada a procura do local, no meio do caminho muito caju e bons lugares pra dormir. Mancando e com muito medo de desistir por causa do dedo ferrado, acabei jantando e dormindo nesse local por 40$. O dono muito bacana me contava que fez uma caminhada semelhante quando era jovem, saindo de Minas Gerais até o litoral baiano e com bem menos recursos. 7º DIA Muito aliviado pelo espinho não ter ficado dentro da unha e puto por ter gasto grana pra dormir, parti mancando logo cedo pra praia, pelo caminho lá mais caju! Mais um dia ensolarado e praia bonita. Foram mais de 10km pra se aproximar do centro de Nova Viçosa. Uma embarcação que acabava de chegar do mar deixou pra trás muitos peixes pequenos, isso gerou uma aglomeração, o pessoal selecionava os peixes que ainda podiam ser aproveitados e assim formava uma enorme xepa. Após Nova Viçosa existem muitos rios e mangues desaguando na praia, meu plano era contornar essa região e continuar a caminhada em Caravelas. Um pouco mais adiante entrei pra pista e segui andando com muita dor no pé até o cais pra tentar achar uma embarcação que me levasse até Caravelas, porém esse itinerário não é frequente e eu tive que fazer esse trajeto de ônibus. No ponto de ônibus da cidade comprei uma passagem com uma atendente muito ignorante e fui pra Teixeira de Freitas e de lá peguei outro pra Caravelas. Viagem longa, durante o percurso muita seca e queimadas por todos os lados, cheguei em Caravelas somente a noite. Andar de ônibus serviu pra dar uma aliviada nos pés. Em caravelas lanchei, tomei um banho na pequena rodoviária e consegui pegar o último coletivo que iria me deixar na praia da Barra de Caravelas. Exausto, só forrei a areia e deitei embaixo de um quiosque. 8º DIA Acordei num espetacular nascer do sol, arrumei as coisas, um rápido café e segui. Areia boa, mar calmo e algumas senhoras caminhando pra lá e pra cá fazendo sua ginástica matinal. Muitos coqueiros caídos no chão derrubados pelas ondas do mar. Depois de um tempo e com sede parei na casa de um pescador e pedi um pouco de água. A casa do cara repleta de enfeites naturalmente feitos com ossos de baleia, muitos ossos e todos enormes. Me dei conta que estava bem no coração da Costa das Baleias, infelizmente na hora de registrar, a bateria da máquina me deixou na mão. Voltei a caminhar, o sol já estava rasgando e a areia nem tão agradável assim. Cansado, parei em uma sombra pra descansar, com muito sacrifício consegui derrubar um coco e com mais sacrifício ainda abri-lo com uma faca de cortar pão. Um trator passou umas duas vezes e eu perdi uma possível carona, acabei caindo no sono pesado. Voltei pra caminhada e uns 3km antes de Alcobaça, surge uns bancos de areia que formam uma imensa lagoa, eu deveria ter caminhado pela parte externa da lagoa, beirando o mar, mas fui por dentro e encontrei muitos obstáculos como mata fechada e propriedades particulares. Pelos menos arrumei mais alguns cocos pulando umas cercas. Com certa dificuldade acabei chegando na margem do rio Itanhém, ou rio Alcobaça. Um bacana atracou com uma barco motorizado e sua família pra tomar um banho, quando perguntei como faria pra atravessar e tal, ele me informou que não sabia e que também não podia me levar pois o barco estava lotado... o barco só tinha algumas crianças e 2 adultos, enfim, continuei sentado esperando e veio um pescador de canoa, mal perguntei pra ele e já mandou eu subir e me atravessou na boa. Durante o percurso falou que o barco do cara tinha capacidade pra transportar um time de futebol inteiro dentro. Na orla de Alcobaça, tomei um banho em um quiosque, e fui pro centro comer alguma coisa, já era tarde e não tinha almoçado nada. Entrei em uma loja de eletrônicos de um tal Tostão e comprei mais um carregador. Fiquei por lá carregando minhas coisas e dando risada até anoitecer. Me dirigi ao final da cidade e próximo à Praça do Farol mandei ver um espetinho de carde com um molho delicioso e uma merecida cerveja. Forrei o chão duro de um quiosque e deitei em uma péssima noite de sono. 9º DIA Levantei cedo, tomei aquele café da manhã fajuto e comecei a andar. Já estava no final de Alcobaça e segui caminhando com incomodo pela estradinha paralela à praia, depois de uns minutos desci pra areia que estava bem íngreme e fofa. Cheguei numa pequena vila de pescadores acreditando ser meu local de parada mas não era. Nessa altura por volta de 7h da matina, o sol já castigava e surgiam umas algas na praia que formavam uma espécie de lama. Chegando em Guaratiba encostei logo na única barraca da praia, pedi um refrigerante e passei o restante da manhã descansando enquanto conversava com o garçom e um cara que tomava uma pinga misturada com cerveja. Depois de umas 2 chuvas passageiras, saí da praia pra procurar um local pra almoçar e vi que Guaratiba se tratava de enormes condomínios. Apesar da vizinhança, achei um bom lugar pra almoçar com preço em conta e enchi a barriga antes de voltar pra praia. Após um mergulho e de descansar a tarde inteira, eu já planejava dormir por ali, mas percebi a movimentação do dono da barraca insatisfeito com minha presença ali, então fui procurar um outro canto pra dormir. O sol já estava se escondendo e avistei uma barraca aos pedaços ao lado de um lago. Perto dali alguns pescadores puxavam rede e quando fui pegar informação eles me incentivaram a continuar andando pois era noite de lua e a maré já estava secando. Questionei se dava mesmo pois haviam 2 barras pra atravessar e me responderam que uma eu já havia atravessado e não percebi. Me senti confiante e toquei rumo a Prado. Rapidamente escureceu e fazia a caminhada mais apressada até o momento, porém a lua e as estrelas deixavam tudo absurdamente claro, cenário lindo e único. Cheguei na segunda barra pra atravessar, bem larga por sinal, e por inexperiência saí atravessando em linha reta. A medida que avançava ia afundando aos poucos nos bancos de areia, quanto mais perto do outro lado chegava mais fundo ia ficando. Perto da outra margem, com a mochila já na cabeça, água no pescoço, corrente forte e na escuridão total, me vi a um instante de largar a mochila e nadar pra não ser arrastado. Por muito pouco deu certo a travessia, e com calma do outro lado vi que poderia ter escolhido uma trajetória melhor pra atravessar ou esperado a maré baixar um pouco mais. Continuei pela praia mais um tempo e desviei de muitas árvores que estavam perto das ondas. Percebi que o dedo estava ardendo, quando passei a mão vi que tinha um baita corte embaixo do dedão, quanto azar! Pra minha surpresa acabei saindo em uma nova barra pra atravessar, e do lado que eu estava apenas uns galpões aparentemente abandonados. Fui entrando aos poucos e achei o segurança do local, que tomou um susto e me deu uma carona de barco até o cais no centro de Prado, no caminho me explicou que aquela barra não existia uns anos atrás, que hoje é impossível atravessar mesmo na maré baixa e que o local era um hotel que fechou. Cheguei todo fudido em Prado, procurei um canto pra lanchar e fui pra praia procurar um canto pra dormir. Pernoitei num quiosque na praia lotado de mosquitos, apenas forrei o chão e tive outra noite desconfortável. 10º DIA Acordei cedo e enquanto arrumava minhas coisas, uma família também acompanhava o espetáculo do nascer do sol. Tomei um café da manhã na padaria, passei a manhã procurando um camping, mas o único ativo da cidade ainda não estava funcionando. Como era noite de Natal, acabei passando o resto do dia em Prado pra poder ligar pra família a noite. Por 40$, dormi no Restaurante e Pousada D'Ajudinha. 11º DIA Parti de manhã mas nem tão cedo assim, a praia no centro de Prado totalmente cheia, afinal era o feriado de Natal e a cidade estava repleta de turistas. A caminhada começou com o sobe e desce das ondulações na areia, o sol a pino e um belo mar de águas clarinhas ao fundo. Até a praia do Farol surgiram grandes falésias pra embelezar o cenário e foi constante a presença de banhistas. As nuvens e o céu azul formaram uma bela imagem pra se apreciar, enquanto já chegava na praia da Paixão. Passei pela praia da Amendoeira, que se trata de um pequeno rio, onde a criançada pula do pontilhão e as famílias fazem aquela farofada. Chegando na praia dos corais, muita gente, muito movimento nas barracas e uma praia bem bacana recheada de pedras e corais. Não gostei da muvuca e segui andando entre o mar e as falésias, pelo caminho algumas nascentes caiam pelos paredões e eu aproveitava pra dar uma refrescada pois o sol castigava violentamente, a essa altura eu já estava com um bronzeado típico de pescador. Passei pela praia das Ostras, que era mais um rio com um pontilhão e algumas famílias, e continuei até passar por outro rio, dessa vez vazio e com uma escada que levava até o topo da falésia, aproveitei aqui pra comer pois a fome já estava apertando. Lá em cima das falésias foi possível perceber a grandeza e a beleza do mar e das praias dessa região. Depois de dar uma descansada segui rumo à Cumuruxatiba, alguns trechos com presença de uma areia bem mole e preta o que dificultou bastante minha vida. Nos últimos metros pra entrar no centro, estava repleto de pedras e a maré já estava batendo consideravelmente no paredão, o jeito foi botar a mochila na cabeça e deixar uma galera que estava a minha frente passar pra ver qual o melhor lugar pra se pisar. Não deu outra, me molhei todo mas consegui chegar, logo na entrada vi um camping e entrei pra ver, mas a grosseria do dono me espantou e acabei achando um outro bem no centro, ainda inativo mas, a dona me acolheu. A noite procurei um lugar pra comer mas tudo era destinado ao turismo, ou seja tudo bem carinho e cheio de frescura, acabei lanchando um sanduíche numa barraca que estava cheia de moradores locais, o pé latejava de dor. 12º DIA Depois de recolher umas mangas que caíram durante a noite, deixei o camping, me sentindo um otário por ter pago 25$ pra dormir numa rede num quintal. Até hoje me pergunto porque procurei um camping pra dormir, decidi que dali pra frente não poderia ficar me dando ao luxo de gastar grana com hospedagem. Deixei Cumuruxatiba por volta de umas 7 horas da matina, o sol já prometia castigar como nos dias anteriores, mas a maré estava ao meu favor e também corria uma boa brisa que refrescava. Logo na saída do centro é possível ver o velho píer destruído pelo mar, e bem distante o final da praia que eu ia ter que percorrer. Ao final dela surgem falésias e bastante corais, essa é a praia do Moreira. Mais uns 5km de caminhada agradável, cheguei no caríssimo restaurante Barra do Cahy. Pela distância percorrida e o tempo gasto cheguei a conclusão que eu estava caminhando a uma velocidade de 4km por hora. Armei minha rede na sombra e fiquei o restante da manhã descansando ali e batendo papo com a atendente do quiosque de sorvete, que me contou bastante da história do lugar e ainda me deu um panfleto com a tábua das marés. Sem condições de almoçar por ali, comprei uns espetinhos de queijo e comi com pão. Por volta de umas 15h, após ser alertado sobre a maré, saí rápido pra poder atravessar a famosa Barra do Cahy, local onde os portugueses pisaram pela primeira vez no Brasil. A caminhada a tarde estava foi bem mais puxada que de manhã, por causa da areia fofa eu caminhei descalço até uns 2km após o rio, a partir daqui a água já estava batendo no paredão da falésia então resolvi pular a cerca e caminhar por cima da falésia, valeu a pena pois a vista lá de cima estava deslumbrante. Pouco tempo depois uma cena inusitada, um avião estava pousando e uma família desembarcou, pensei que ia tomar uns gritos mas pra minha surpresa ignoraram totalmente minha presença ali e cada um de nós seguiu seu caminho. Acabei saindo numa espécie de hotel ou mansão, quando avistei uma empregada me fingi de perdido e voltei para a praia. A caminhada seguiu puxada e surgiram muitas espreguiçadeiras de hotéis chiques que antecediam Corumbau, cheguei lá com o sol já fraco, tomei uma chuveirada e combinei uma janta num restaurante. Corumbau é uma de vila bem pobre cercada de hotéis caros. A janta teve um preço bem salgado e me ensinou e nunca mais pedir alguma coisa sem antes perguntar o preço. A noite foi de lua cheia com céu bem bacana, dormi na rede do próprio restaurante. 13º DIA Acordei cedo e parti depois de improvisar alguma coisa pra comer, logo de cara é preciso atravessar o rio Corumbau mas tem barqueiro disponível pra isso. Do outro lado é preciso pagar a viagem aos indígenas que controlam essa travessia, pra mim custou 4$, então me dei conta de que desse lado tem algumas aldeias. Enquanto andava na areia avistei alguns indígenas transitando pela estradinha paralela à praia. Depois de muito chão e muito sol, cheguei em Caraíva, que estava com as areias lotadas de turistas. Entrei pra ver como era o lugar e andei por ruas estreitas lotadas de areia fofa e pousadas. Cheguei no que parecia ser o centro, onde tem um campo de futebol (de areia rs) e descansei numa sombra de árvore chupando umas mangas. Almocei por ali e andei até o local da travessia de barco pra cruzar o rio Caraíva. O local é movimentado e a travessia é curta e cara, 5$. Do outro lado é preciso subir uma ladeira por uma estrada de barro e entrar no primeiro beco a direita, ele acaba levando pra praia da Barra, daí basta ir margeando o rio que sai novamente na praia. Do lado de Caraíva, a praia estava totalmente lotada, e eu segui meu caminho pro lado oposto. Um tempo depois encontro um pessoal banhando de um lago, mas não entrei, um pouco mais a frente outro lago, dessa vez dei uma parada para um banho doce e refrescante. Depois do lago veio um trecho de areia preta estilo lama que dificultou um pouco as passadas e então o início da trilha para a Praia do Espelho. Essa trilha contorna por cima uma enorme falésia em que as ondas batiam diretamente nela, depois de uma caminhada pelo alto e eu sem água, avistei uma casa e me aproximei pra fingir pedir informação e descolar uma água geladinha. Uma menina que trabalhava na rede hoteleira da região me explicou tudo e me deu 2 copões de água geladinha, a mais prazerosa de toda a viagem. Prossegui pela trilha, dessa vez descendo e cheguei até a praia, passei por mais umas falésias dessa vez por cima das pedras e cheguei na Praia do Espelho. Mais um pouco de caminhada e cheguei em Caraípe. Lugar de bacana, praia totalmente cheia de turistas, barracas caras e hotéis de luxo de ponta a ponta. Tomei um banho de mar e fiquei por ali, armei minha rede embaixo de uma das barracas, jantei um miojo e abri 4 cocos. 14º DIA Dexei o local na primeira luz do sol enquanto passava pelos resorts e via as mesas de café da manhã começando a serem montadas, uma verdadeira tentação. Caiaques e pranchas de StandUp espalhadas pelos quintais, redes armadas e muitas espreguiçadeiras acolchoadas me faziam questionar se era viável dormir num local desses escondido. Algumas praias depois cheguei no Rio dos Frades, enquanto esperava uma carona de barco eu completava meu café da manhã com algumas mangas. Logo apareceu minha carona e atravessei o rio, a caminhada seguiu tranquila e agradável. Entra praia sai praia e o cenário é o mesmo, maré baixando, água bem calma, um ou outro pescador de barco e alguns hotéis a beira mar, num deles uma menina arrumando as espreguiçadeiras, a mesma que havia me dado água! Dei um bom dia, fiz aquela cara de surpresa e segui rindo sozinho. Todo o luxo visto até agora é multiplicado com a aproximação de Trancoso. Barracas e hotéis que pobre não entra e turista sem dinheiro só olha. Fui direto pro centro pegar uma grana no banco pois só estava com 30$. Subi a ladeira pra chegar até o centro onde tinha comércio destinada a pessoas normais e descansei até o almoço. Depois de comer passei pelo quadrado e dei uma admirada no visual antes de descer para a praia. O mar estava ótimo, fiquei descansando enquanto observava o tempo passar. Uma cena me chamou atenção, alguns moradores dali tentavam fumar uma maconha as margens do rio e ao lado de um restaurante que parecia mais uma boate, os seguranças puxaram pistolas e deram uma revista em todos já encostados na parede, enquanto dentro da boate, onde as garçonetes trabalhavam de biquíni, um trio fumava tranquilamente seu baseado numa mesa recheada de champanhe. Passei o resto da tarde por ali trocando ideia com o pessoal que vendia queijo e tapioca. Ao anoitecer dei mais uma volta no quadrado e jantei um espetinho com uma cerveja gelada lá no centro popular, pois no centro turístico os preços são surreais. Voltei pra praia e armei minha rede embaixo de um quiosque enquanto imaginava comigo: O turista vai passear em Trancoso, almoça no restaurante do paulista, se hospeda no hotel do carioca, faz um passeio com a agência do goiano, e assim o capital gira na mão do povo de Trancoso rsrs. 15º DIA A noite choveu um pouco e amanheceu meio nublado, abri uns cocos na praia com uma certa facilidade utilizando uma faca que tinha comprado em Prado e parti. Passando pela boate deu pra ver que uma rave havia acabado a pouco tempo, pois o pessoal que vendia queijo ainda estava andando por ali, no dia anterior eles me disseram que o melhor horário pra vender era no final das raves que aconteciam naquele bar. Um pouco a frente um casal que havia virado a noite na praia me acompanhou alguns metros até o hotel onde estavam hospedados, ficaram surpresos quando falei que estava indo pra Arraial D'Ajuda e me desejaram boa sorte no meu passeio. A maré estava um pouco alta e as ondas do mar fortes, em dois trechos com falésias tive que atravessar por cima das pedras. O cenário hoteleiro era parecido com o do dia anterior, era comum passar na frente dos hotéis com diversas espreguiçadeiras expostas na praia. Nas proximidades de Arraial já era comum ver um ou outro turista dando um corrida matinal pela areia. As centenas de bares na praia começando a abrir era um aviso de que eu havia chegado. Fui até o centro comprar mais um café da manhã no mercado, a essa altura minha aparência já não era das melhores e eu não estava nem um pouco preocupado, o segurança do mercado também notou meu visual e ficava na minha cola pra lá e pra cá. Saí do centro e peguei água direto da fonte Nossa Senhora D'Ajuda, e desci ladeira abaixo até a balsa. Como não havia muitos detalhes anotados, fui pego de surpresa tendo que andar 4km no asfalto. Depois de atravessar para Porto Seguro, chupei um picolé e dei uma cochilada no banco de praça na Av. do Descobrimento. Depois de uma descansada peguei um ônibus que me deixou em Coroa Vermelha que estava bem lotada. Depois de um almoço bem baratinho fui caminhando pela praia até a Ponta da Coroa, onde dei uns mergulhos no mar clarinho enquanto observava o banco de areia que dá nome ao lugar ir desaparecendo em câmera lenta. Fiquei no bar localizado bem na extremidade, que pertence ao Maurício, ele é filho de índio e tocava o bar sozinho com alguns colegas. Fiquei por ali contando e ouvindo histórias enquanto ele trazia como cortesia umas batatas fritas e cerveja. A noite fomos lanchar e ele me mostrou e contou bastante da história do local. Pra dormir armei a rede embaixo da cabana do Maurício, é assim que eles chamam os quiosques por lá, foi uma noite refrescante e de céu limpo. 16º DIA Levantei com o sol já todo exposto, me despedi do Maurício e parti. Até o final da praia de Coroa Vermelha a areia foi bem generosa, após um pequeno córrego a areia ficou fofa pra valer, a maré estava alta e as ondas bem fortes. Desde o começo é possível ver os 6km de praia que faltam pra chegar em Cabrália, uma caminhada pesada devido sol escaldante e falta de vento, resultado: muito suor. Chegando em Santa Cruz Cabrália, depois de comprar uns pães pro café, peguei a balsa que me atravessou até Santo André, peguei um carro alternativo que me deixou mais perto da praia e quando cheguei armei minha rede e fiz o que o cenário me mandava, descansei. Após o almoço, peguei uma água de gosto terrível no lugar onde comi e voltei pra rede. Lá pro meio da tarde deixei a praia, que estava razoavelmente cheia pra um dia de semana, afinal era final de ano. Após 3km de caminhada surge um recife bem comprido que segue por 1km, bastava seguir pela esquerda andando pela areia, mas meu extinto ruim acabou escolhendo ir por cima das pedras achando que a areia não levava a lugar nenhum. Depois de uns 25 minutos conseguir sair do recife e voltar pra areia. Nesse trecho da praia surge uma ou outra mansão e dá pra ver bem a Coroa Alta, um banco de areia no meio do mar que segundo Maurício nunca é coberto. No final da praia tem uma mansão/hotel abandonado e o largo rio Santo Antônio pra atravessar. Havia apenas um pescador sozinho com uma rede no local, enquanto conversava com ele, um barco vinha do mar em direção ao rio, era minha carona! Entrei no barco que estava com água no fundo e fui logo me sentando sem perceber que o celular estava no bolso, resultado: perdi o telefone. O pescador me levou até o povoado de Sto. Antônio onde fica uma enorme estátua do santo. A comunidade cresceu ao redor da rodovia e é bem pequena com pouco comércio. A estátua fica localizada em cima de um pequeno morro, de lá a vista da região é fabulosa. Antes de escurecer comprei uns pastéis pra jantar e parti pra praia, que fica 1km dali, no meio do caminho decidi armar a rede entre os coqueiros num local onde tinha uma casa abandonada. Foi um sufoco porque essa hora os maruins são implacáveis naquela região. Dormir em local descoberto tem suas vantagens quando é uma noite de céu limpo e estrelado, apesar das picadas dos mosquitos, valeu a pena. 17º DIA Acordei no horário de costume e segui para praia que estava em boas condições pra caminhar, maré baixa com uma enorme faixa de areia durinha, uma brisa pra refrescar, mar com ondas médias, água levemente mais escura e sol rachando. Praia bem deserta, depois de pouco tempo a areia já ficou mais fofa e ondulada, dificultando a caminhada, enquanto isso pelo caminho cruzei com um cara da CTE, que verificava os piquetes das tartarugas marinhas fincadas na areia. No meio do caminho consegui ver uns coqueiros baixos e fui logo pulando a cerca pra pegar, matei minha sede e ainda enchi uma garrafa com 9 cocos. Renovado com os cocos, passei pela foz do Rio Guaiú praticamente seco na maré baixa e segui caminhando, 5kms depois mais uma barra de rio, dessa vez deu pra passar com água na barriga, logo depois já apareceu alguns banhistas, era sinal que havia chegado em Mogiquiçaba. O pequeno centro fica a 500m da praia e pra minha sorte assim que cheguei dei de cara com um chafariz comunitário, onde tomei um banho e recolhi umas mangas. Passei o resto da manhã descansando e cochilando numa sombra da praça central. Depois do almoço voltei a descansar no mesmo local antes de prosseguir em direção ao Terminal Marítmo de Belmonte. A tarde a caminhada foi muito agradável, uma faixa de areia muito extensa e firme e um bom vento pra refrescar o sol escaldante. O terminal fica a 7km de Mogiquiçaba mas não tem nada lá além disso, segui em frente e passei por uma turma que tinha escolhido a praia pra passar a virada de ano, estavam travando uma verdadeira guerra com a ventania pra poder armar uma tenda entre os coqueiros. Um tempo depois acabei descobrindo o meu local de réveillon, uma casa ainda em construção e com água já encanada. Armei a rede na boa, e fiquei tomando um banho de mar naquela praia deserta. Antes de escurecer tomei uma chuveirada e preparei minha ceia que se resumia a um miojo. E foi assim que passei a virada do ano mais calma da minha vida, sem nenhum barulho de fogos de artifício, incomunicável e num lugar sensacional. 18º DIA Acordei nos primeiros claros de 2016, e segui bem animado numa extensa faixa de areia bem durinha e molhada, o que formava um gigante espelho d'água que refletia o céu. Encontrei o primeiro ser vivo do ano, uma minúscula tartaruga marinha que se arrastava lentamente em direção ao mar, dei uma ajudinha e a soltei bem perto da água. Um tempo depois encontro novamente o cara da CTE que tinha visto no dia anterior, verificando seus piquetes com os ovos das tartarugas. Uns quilômetros depois a areia passou a ficar fofa e íngreme porém mais a frente, voltou a ficar firme. Cheguei na praia de Belmonte que ainda se recuperava da ressaca da noite anterior, e fui pra o centro procurar o local onde pegar a balsa. No calçadão da praia tem uma imagem de um guaiamum gigante, caranguejo símbolo daquela região. São quase 3km em linha reta pra chegar no centro. Fiquei esperando o barco que ia pra Canavieiras enquanto chupava umas mangas e assistia a uma procissão marítima no enorme Rio Jequitinhonha. Partimos pra Canavieiras apenas o piloto do barco, uma passageira e eu. Era uma lancha que praticamente voava pelos enormes rios e mangues. A passagem custou 30$, um pouco cara mas compensa o pelo passeio e pela distância, foram 40 minutos pra percorrer uns 30km até Canavieiras. Durante a viagem passamos por uma enorme foz de um rio, o que me desanimou, pois em minhas anotações eu teria uns 60km com enormes rios pra atravessar e nenhum vestígio de vila ou moradias. Acabei mudando os planos e pegando um ônibus até Acuípe por 15$ e desci em Lençóis de Una, um lugarejo as margens da BA-001 paralelo à praia. Acessei a praia e continuei andando com o sol já fraco. Com ondas médias e águas mais claras parei pra um rápido mergulho em seguida uma chuveirada em um restaurante. Desse trecho até Ilhéus, as praias são bem movimentadas com algumas casas de veraneio, condomínios, bares e restaurantes. Havia bastante banhista pela praia e um vai e vem irresponsável de quadriciclos. Meu dedo anelar já começava a sentir uma pequena bolha que se formava, mesmo assim continuei até chegar em Águas de Olivença. Parei na cabana Amigos do Mar, de um índio chamado Xavier, tomei mais um banho de mar, uma cerveja de litro e uma janta, tudo num preço bem camarada. Dormi ali mesmo embaixo da cabana num numa noite de céu estrelado. 19º DIA Acordei um pouco antes do sol, abri 2 cocos, me despedi do Xavier e segui. Pouco tempo de caminhada, encontrei uma pia de um bar onde havia água, parei ali pra lavar umas roupas e fiquei descansando enquanto secavam. Enquanto isso chegou um casal, uma brasileira e um americano chamado Richard, que se reuniam com um grupo pra um mutirão contra o lixo, acabei pegando um saco pra ajudá-los quando partisse. Quando segui, foi fácil encher um saco de lixo, onde tem gente não falta. Cheguei no centro de Olivença e estranhei não encontrar uma padaria, acabei comendo umas rosquinhas e seguindo. Logo saindo do centro é preciso contornar uns hotéis por cima das pedras sem muita dificuldade, depois disso a areia voltou a ficar larga e o mar verdinho. Acabei encontrando uma cabana que me serviu um saboroso PF de arraia, depois fui descansar na praia. Depois de uma mergulhada e uma chuveirada continuei andando pela praia lotada. O sol castigava durante essa tarde e quando vi que o local já estava muito urbanizado e se estendia até o centro de Ilhéus, fui pra pista pegar um ônibus até o centro, de lá tomei outro até o bairro chamado São Miguel do outro lado de Ilhéus. Já no fim da tarde apenas, combinei uma janta em uma barraca e fiquei descansando. Esse local tem um certo movimento a noite, o que dificultou na hora de achar um canto pra armar a rede, continuei andando já no escuro até o final do perímetro urbano onde armei a rede entre 2 coqueiros. 20º DIA Acordei com o sol já um pouco alto, durante a noite pra minha sorte só caiu um ligeiro sereno que não comprometeu minha dormida. A caminhada foi bem agradável com maré baixa e céu nublado boa parte da manhã. Em menos de 1 hora de caminhada já alcancei o condomínio Mar e Sol, quase colado nesse vem outro chamado Joia do Atlântico, um pouco depois vem o Barramares e Verdemares, todos esses com algumas casas de veraneio, enfim o típico lugar de "barão". Depois da parte chique vem a parte do povão, Ponta do Tulha. Descansei em uma sombra até a hora do almoço vendo o vai e vem dos banhistas e o sol que já dava uma belo tom verde ao mar. A tarde o sol saiu de vez e o mar ficou com um verde incrível. A tarde, rapidamente cheguei em Mamoã, as praias tinham uma quantidade razoável de banhistas e eu acabei avistando a terceira mulher praticando um topless. Sentei embaixo de uma barraca de palha vazia pra dar uma descansada, seco de sede e com pouca água na mochila, como um milagre do destino, avistei ao meu lado um coqueiro baixinho com um cacho de coco verdinho. Abri os 6 ali na frente de todos, matando minha sede e matando alguns banhistas de inveja. Depois de uns mergulhos segui adiante e cruzei com uma galera voltando da Praia da Barrinha, parei novamente mais à frente pra descansar e já conseguia avistar uma serra uns 3km dali, esse trecho da praia estava lindo. Com os pés já exaustos, fui até um mercadinho comprar uns pães e voltei pra praia onde descansei até anoitecer. Jantei um miojão e armei a rede embaixo de uma barraca de lona. Enfim a chuva caiu com força, infelizmente na hora errada, em plena madrugada. Quando me dei conta que tinha uma goteira bem em cima de mim, já estava com a rede e o saco de dormir bem molhados, passei boa parte da madrugada retirando a água acumulada na lona e testando novas posições pra rede, uma noite de cão. 21º DIA Levantei antes do sol sair, porém já estava acordado, guardei as coisas ainda molhadas, comi e parti. Com vento e um pouco de chuva fina, cheguei no fim da praia me deparei com a Serra Grande, tentei contornar mas acabei desistindo e me dirigi até a pista pra pegar um ônibus pra Itacaré. Acabei não visitando as belas praias da Serra Grande de Itacaré por não saber se havia trilhas ligando uma praia a outra e sem saber disso eu gastaria muito tempo. Esse pedaço é digno de uma viajem exclusiva somente pra explorar essa região. Peguei um ônibus da empresa Rota e depois de muito parar cheguei na rodoviária de Itacaré, fiquei ali pelo centro andando e descansando pelo resto da manhã. Depois do almoço fui até o barqueiro que fazia a travessia do Rio das Contas por 5$. Do outro lado da praia tem um quiosque e a praia estava somente com alguns banhistas e surfistas, comecei a andar sobre uma areia fofa e embaixo de um céu nublado. No final dessa praia a areia ficou firme e surgiu um pequeno córrego que atravessei sem problemas. Colado nesse córrego tem início uma plantação quase infinita de coqueiros baixinhos. Abri e bebi muito coco e ainda enchi uma garrafa pra levar. Caminhada tranquila por belas praias completamente desertas até encontrar um bom lugar pra dormir. Uma casa abandonada com uma boa cobertura nos fundos, enquanto arrumava minhas coisas me dei conta de que tinha perdido minha faca. Escondi as coisas e acabei voltando cerca de 2km até onde eu achava que tinha perdido, não achei e voltei, acabei andando 4km de graça. Voltei até a casa onde tomei um banho de mar e jantei um miojo. A noite choveu bastante mas não me molhei, o desconforto ficou somente pelo saco e a rede um pouco úmidos, mosquitos, e a falta de vento, que era bloqueado pela casa. 22º DIA Acordei após uma noite recheada de maruins, me arrumei e segui. O tempo ainda um pouco nublado mas com areia firme, andei um bom tempo até surgirem os primeiros casarões e hotéis e mais alguns minutos cheguei na Praia de Algodões. Somente 3 barracas nessa praia, tomei um banho no mar cheio de recifes e depois uma chuveirada, depois rumei pra Saquaíra, pois me informaram que era um pouco maior. Quase 1 hora de caminhada cheguei em Saquaíra com sua orla toda destruída pelo mar. Enquanto me dirigia para o centro, ia chupando todos os cajus que achava. No centro descansei até o almoço, comprei uma faca que não cortava nem sabão e me abasteci de manga. Depois de almoçar, voltei pra praia e achei um bom lugar pra descançar, acabei armando a rede embaixo de uma barraca de palha e fiquei por ali descansando. A tarde as mansões e os hotéis começavam a surgir com mais frequência, com o mar um pouco agitado e areia durinha eu ia caminhando e contemplando o local. Era possível ver côcos do tamanho de melancias. Em Taipú de Fora as piscinas naturais são inacreditáveis, mesmo com o céu nublado a água se mantinha com uma cor belíssima. Na orla de Taipú só tem hotel e bar. Acabei encostando em um onde tomei banho, jantei e armei minha rede. Acabei sendo devorado pelos maruins pela terceira noite seguida. 23º DIA Acordei cedo com o céu todo nublado, chupei umas mangas e parti. Caminhada bem agradável com as belas piscinas naturais ao longo de quase todo trecho. Essa caminhada tem cerca de 8km e passa por várias praias com diversos hotéis e bares chiques até chegar no píer de Barra Grande. Consegui pagar um suposto preço de morador e peguei uma lancha até Camamu por 20$. Dé lá peguei um ônibus da empresa Cidade Sol para Bom Despacho por 33$, somente as 15h depois de parar muito consegui chegar em Itaparica e então pude pegar o Ferry Boat pra Salvador. Em Salvador aproveitei pra descansar e passei a noite na casa de uma prima. 24º DIA Depois de um café da manhã na padaria, me despedi de minha prima e peguei o coletivo até Arembepe. Fiquei toda a manhã descansando enquanto chupava uns geladinhos, observando o mar, que explodia suas ondas nas pedras enquanto a maré ia subindo e uma discreta boca de fumo que rolava no acesso à praia. Almocei num lugar que vende uma macaxeira sensacional acompanhado de suco de cupuaçu, tudo por um preço bem generoso e voltei pra praia pra outro descanso. Quando comecei a caminhar a areia estava bem fofa e o mar com ondas bem fortes, mas o que mais me chamou a atenção foram as construções que estavam sendo erguidas. Talvez 1 ou 2 anos antes, eu estive em Arembepe e não havia nada entre o centro e o Projeto Tamar, agora já existe marcações de condomínio e construções em andamento. 4km depois do centro cheguei no Emissário de Arembepe, o mar ainda com ondas fortes e muitas pessoas por lá admirando a vista e também pescando de vara. Mais 5km de praia com enormes coqueiros e ondas fortes cheguei na Barra do Jacuípe, com a maré ainda alta não pude atravessar mas consegui uma carona na lancha do pessoal que praticava KiteSurf. Já do outro lado experimentei uma pamonha de carimã, é saborosa mas não supera a de milho. Já no escuro desci até a praia pra achar um canto pra deitar mas um louco estranhou minha movimentação e quis crescer pra cima de mim me expulsando do local. A galera do artesanato me perguntou o que houve e após explicar me convidaram pra passar a noite ali com eles, armei minha rede na boa e dormi. Me disseram tanto que o que eu estava fazendo era perigoso, mas esse episódio foi o mais próximo de perigo que passei rsrs. 25º DIA Acordei com o sol enquanto o pessoal ainda dormia, guardei minhas coisas e me dirigi até a praia, lá comi alguma coisa e comecei a andar. A manhã quase toda foi nublada, o que facilitou a caminhada junto com a maré baixa. Na praia muitas pessoas caminhando e alguns pescadores de luxo, todo esse trecho de Jacuípe até Guarajuba é lotado de condomínio, o que deixa a caminhada meio sem graça. Ao chegar em Itacimirim me sentei num coqueiro e descansei, o sol já começava a sair e eu caí no sono. Na hora do almoço entrei pelas ruas de Itacimirim, que também é recheado de casarão, e achei um lugar pra comer um PF e reabastecer minha água. Continuei andando depois do almoço logo acabei parando na Barra do Rio Pojuca, com a maré já alta, armei minha rede e fiquei esperando a maré baixar novamente, a essa altura o sol já estava rasgando e o belo local repleto de banhista. Após ver o primeiro banhista atravessar andando, armei minhas coisas e parti. A partir daqui residências somem e o cenário volta a ficar bonito. Desde Itacimirim já era possível avistar a Praia do Forte no horizonte. Pouquíssimo tempo depois já surgem os primeiros hotéis, e a movimentação aumenta bastante, é a Praia do Forte. Fiquei pelo centro onde jantei e descansei, armei minha rede numa cobertura ao lado do Projeto Tamar e dormi. 26º DIA Acordei cedo mas não parti, esperei o comércio abrir pra tomar um café e aí sim, prosseguir. Ao partir pude ver as belas piscinas naturais com um mar verde clarinho ao fundo. Ao deixar a Praia do Forte pra trás o cenário voltou a ser como no sul da Bahia com belas praias desertas a se perder de vista. Perto de chegar em Imbassaí, o tempo virou e o céu ficou preto, consegui entrar em uma barraca pra me abrigar mas era tarde demais, já estava todo ensopado. Após passar a chuva entrei nas ruas de Imbassaí e até encontrei umas mangas e uns cajus pra chupar, almocei por lá e a tarde voltei a caminhar. Caminhada bem puxada na areia fofa, mas a ausência do sol ajudava. 5km depois, na Praia de Santo Antônio, a chuva ameaçou voltar e eu dei uma parada numa barraca pra esperar. Aqui é a porta de entrada para a Vila Diogo. Após a rápida chuva segui e após uns 2,5km passei pela famosa Praia de Sauípe. Após passar pelo luxuoso hotel repleto de gringo, a praia voltou a ficar deserta, porém mas um chuva rápida, dessa vez pesada, me fez parar em uma barraca de um condomínio e esperar. Tinha uma família tomando banho e um senhor conversava comigo a respeito do avanço das moradias nas praias da região. Ao passar a chuva segui adiante e a essa altura já entendia muito melhor como funcionava a maré. Chegando na Praia da Barra do Sauípe, esbarrei mais uma vez no rio cheio, enquanto esperava do outro lado sozinho, o salva vidas local veio me oferecer ajuda na travessia. Ele levou minha mochila no caiaque e eu fui remando em cima da prancha, acabei deixando 5$ pro refrigerante. Mais 2km de caminhada e cheguei em Porto do Sauípe. Fiquei por lá até anoitecer onde pude ver uma autêntica roda de capoeira baiana de sair faísca. Pra dormir, armei a rede em um quiosque fechado mas a noite foi ruim, quando não eram os bêbados curiosos era o vento forte que jogava a chuva em mim. Ao mudar a rede de local até choque levei. 27º DIA Esse dia amanheceu ainda nublado e minha garganta um pouco dolorida. Depois de comer segui viagem e não demorou muito para as casas sumirem de vez e dar lugar a praia deserta. De um lado o mar bem agitado, do outro uma sequência de enormes coqueiros e a frente uma praia com maré baixa a se perder de vista, pra completar o cenário, o sol resolveu dar as caras pra valer. Caminhava meio preocupado sobre como ia fazer pra cruzar a praia de nudismo mas pra minha sorte passei por lá ainda cedo, apenas umas 3 barracas de praia ainda botando as cadeiras pra fora. Até Massarandupió foram exaustos 10km de caminhada. Quase que colado na praia naturista tem umas barracas de praia destinada a banhistas tradicionais, e um pouco mais a frente rolava uma espécie de campeonato de pesca, cada equipe devidamente uniformizada com seus carrões invadindo a areia. Mais uns 6km pra frente cheguei na pequena Barra do Crumaí, onde os primeiros banhistas começavam a chegar. Daqui já conseguia ver o farol de Subaúma, e quanto mais andava mais via banhista vindo no sentido contrário sempre em seus quadricículos. Chegando em Subaúma era domingo, a praia estava lotada e eu exausto, até aqui são 20km desde Sauípe. Descansei em uma sombra até a hora do almoço, ao lado de uma barraca de pescadores que vendia peixe. Depois de comer voltei pro mesmo lugar e consegui uns baldes pra lavar roupa. Um pescador gostou de uma camisa minha e troquei por um facão. A tarde toda fiquei ali descansando enquanto ouvia as histórias de pescador deles e via as excursões que vinham de Alagoinha deixando a praia. No fim da tarde parti, logo 1km a frente tem 2 barras pra atravessar, a primeira passei sem problemas, na segunda, do Rio Subaúma, não consegui e fiquei esperando. Um grupo tentava atravessar no sentido contrário e pediram carona a um playboy de jetski. O cara atravessou apenas 1 pessoa e simplesmente deu as costas e foi embora enquanto o restante do grupo pedia ajuda. Como também não consegui carona acabei dormindo em uma casa abandonada que tem bem ao lado. 28º DIA Levantei com o sol e com uma bando de maruís devoradores, guardei logo tudo e fui tomar café na beira do rio. Enquanto esperava a maré baixar pensei em pegar um barco que estava atracado e levar a mochila mas no primeiro metro o barco começou a rodar e desisti na mesma hora. Passaram uns surfistas atravessando de prancha e logo depois veio um pescador que me levou até o outro lado. Caminhada parecida com a do dia anterior, muito coqueiro grande, maré baixa, alguns recifes e o surgimento das primeiras águas vivas do tipo arredondada e transparente, antes só tinha aparecido do tipo caravela. No caminho avistei um coqueiro que estava meio torto e consegui pegar 7 cocos. Durante o percurso passou um cara de cavalo, uma moto do Tamar e um ou outro quadriciclo. Ao chegar em Baixios vi o quanto o lugar era pequeno, descansei até a hora do almoço e em seguida parti pra atravessar logo a barra do Rio Inhambupe. Conseguir passar com a água no peito, fiquei dando uns mergulhos do outro lado e descansei na sombra de um coqueiro o resto da tarde. Com o sol mais fraco continuei, mas não conseguia ver nada muito adiante, subindo o morro de areia pra ver o que tinha do outro lado me deparei com coqueiros de todo tamanho e um imenso lago. Continuei pela praia e passei por uma cabana onde uma velha morava com uns cachorros e me indicou umas barracas de um hotel pra dormir mais a frente, não levei fé nela e acabei armando a rede no coqueiral mesmo. Esse trecho da caminhada tem umas marcações de quilometragem que podem servir pra orientação. Antes de dormir, ainda tomei um banho na lagoa, abri mais uns cocos e fiquei na rede olhando aviões que passavam pelo céu bem estrelado. 29º DIA Levantei no primeiro claro, tomei um café com direito a muita água de coco e voltei pra areia. A caminhada começou com a areia bem fofa mas aos poucos foi melhorando. Logo mais à frente encontrei as barracas que a velha mencionou, e era mesmo um bom lugar pra passar a noite, continuei pela praia que ainda contava com as marcações quilométricas e um lixo considerável, e então cheguei na Barra do Itariri. Do meu lado não havia ninguém e do outro as barracas ainda estavam arrumando suas cadeiras na areia. Ao entrar na água sem mochila pra verificar a maré, a forte correnteza me arrastou e só consegui parar ao me segurar nas pedras que pareciam umas navalhas, resultado: mãos todas raladas e uma unha quase arrebentada. Fui cochilar enquanto aguardava a maré baixar mais um pouco e me questionava se estava valendo a pena essa jornada. O rio baixou e atravessei, continuei descansando do outro lado enquanto a criançada nadava no rio, pareciam verdadeiros peixes, nadavam muito. A tarde continuei numa imensa reta que se perdia de vista, as marcações quilométricas continuaram até um armário fechado do Tamar. Cheguei em Sítio do Conde no finalzinho da tarde e tomei uma boa ducha na primeira barraca que achei. O lugar é bem agradável, com inúmeras pousadas, jantei e armei a rede nas barracas da praia depois de driblar os cachorros que guardavam o local. Pra completar meu dia de azar, meu chinelo arrebentou e nenhum mercado tinha o número 40. 30º DIA Deixei Sítio do Conde somente depois de comprar uns pães no mercado e procurar chinelo novamente, acabei não achando e parti descalço mesmo. Em pouco tempo de caminhada a areia já estava cozinhando de quente e fofa, de uma lado era areia e do outro pedras tão quentes quanto. Andei sempre procurando pisar na parte mais molhada das pedras e areia. Cheguei já na hora do almoço num lugarejo bem pequeno chamado Poças, consegui comprar um chinelo, almocei um pesado sarapatel e me abasteci de água. A tarde continuei caminhando, agora com areia mais firme e pés calçados. Cheguei em Siribinha onde as ondas traziam uma grande quantidade de algas, que pareciam até bagaço de cana de açúcar, mas passei direto até a barra que fica a menos de 3km de lá. As barracas estavam cheias de banhistas que já se arrumavam pra pegar os barcos de volta pra Siribinha. Enquanto tomava banho perguntei se uns pescadores podiam me levar ao outro lado e me aconselharam a dormir onde estava que me atravessariam 5h da manhã seguinte, foi o que fiz. 31º DIA Levantei ainda no escuro as 4:30, e logo os pescadores passaram como prometido. Eles me atravessaram pelo enorme Rio Itapicuru e tomei um café do outro lado ainda com o sol saindo. O mar ainda estava bem agitado e a água um pouco escurecida devido à proximidade com o rio, no céu algumas nuvens e tempo abafado mas a caminhada foi agradável. 8km depois chego em Costa Azul, um lugar muito pequeno com poucas barracas na praia. Entrei pra reconhecer o lugar e não achei muita coisa, subi uma ladeira e acabei parando em um bar onde lavei umas roupas e tomei banho, lá de cima a vista fazia valer a pena subir a ladeira, um mar imenso que se confundia no horizonte com o azul do céu. Achei um lugar pra almoçar e depois armei a rede pra dar um descanso. Continuei a tarde por volta de 14:30, um tempo de caminhada depois passei por uma espécie de hotel desativado, onde consegui pegar muito coco. Daqui já era possível avistar o final da praia onde se localizava Mangue Seco, com umas 2h de caminhada tinham uma molecada no mar, que me disseram que ali ainda era Costa Azul e que mais pra frente eu encontraria barracas na praia. Continuei pela praia sem nenhum sinal de vida, apenas com as marcações do Tamar, que agora estavam com bandeirinhas amarradas. Com o sol já perto de sumir, achei um bom lugar pra pernoitar, uma estrutura em ruínas que parecia ser uma casa mas resolvi seguir adiante onde um pescador puxava uma rede pra me informar sobre as tais barracas. Ele confirmou mas disse que eram em Coqueiros, lugar ainda bem distante dali. Continuei andando até escurecer, mas o claridade do céu era suficiente pra iluminar tudo. Muito chão depois achei uma barraca, não sei ao certo se era na altura de Coqueiros ou não, fui logo armando a rede e de tão cansado deitei sem sequer jantar, dormi com o céu absurdamente estrelado. 32º DIA Dormi bem na noite anterior e só levantei as 7h. Após comer parti pra finalmente acabar a caminhada dentro da Bahia. A partir daqui o cenário fica diferente, as dunas avançaram pra cima dos coqueiros e deixam os cocos ao alcance das mãos. Abasteci minha garrafa com coco e segui. Um pouco a frente já apareciam bugueiros indo trabalhar em Mangue Seco e um deles me ofereceu carona, apesar do cansaço recusei, sem chance chegar de carona na reta final. Chegando na praia onde ficam as barracas, entrei pra esquerda em direção a torre, seguindo nessa direção e sempre margeando a água cheguei na vila, onde turistas não paravam de chegar. Esperei um pouco e consegui um barco que atravessou a enorme foz do Rio Real e me levou pra Praia do Saco em Sergipe por 15$. Fiquei descansando até depois do almoço pra começar a andar em terras sergipanas. Ao entrar no início da praia o cenário muda um pouco, a praia fica imensamente ampla, com faixas de areia quase infinitas e bem durinhas. Olhar pra trás e ver que havia saído da Bahia dava um novo ânimo. Andando rumo ao norte logo se acabam as casas e fico andando sozinho na imensa praia, com pequenas dunas a esquerda, maré baixa, água um pouco amarronzada e sol rachando, apenas um quadriciclo passando hora ou outra. Ainda dei uma parada pra pegar uns cocos mas estavam todos azedos, continuei e não demorei muito até chegar em Abaís que está com sua orla parcialmente destruída devido à proximidade com a água. Fiquei vendo o final da tarde na praia, depois jantei com direito a uma cerveja gelada e armei minha rede numa barraca montada na praia. Noite de céu limpo e muito vento. 33º DIA Um pequeno chuvisco com o forte vento me fizeram levantar bem cedo, arrumei as coisas e parti depois de comer. Meu novo chinelo já começava a fazer novas bolhas. As casas de Abaís logo ficaram pra trás e o único movimento que havia na imensa praia eram uns passarinhos cinzas que aproveitavam pra caçar comida sempre que as ondas recuavam. No meio do caminho avistei uma casa abandonada onde parei pra beber uma água. Algumas horas depois chego em Caueiras, lugar com belas casas mas pouco comércio. 5km adiante eu teria uma imensa barra do Rio Vaza Barris pra atravessar e logo começaria um trecho muito urbano, então resolvi partir direto pra Aracaju. Depois de uma ducha no banheiro público do local, peguei uma van pra Itaporanga por 5$ e em seguida outra pra Aracaju por 3,20$. Almocei pelo centro e fui até a orla de Atalaia beber cerveja e tomar caldinho de sururu, tudo muito barato, depois retornei ao centro onde peguei um coletivo até Atalaia Nova. Desci na Praia da Costa. Tentei armar minha rede num coqueiral mas o vento fortíssimo não deixava, acabei indo deitar no comércio da praia e rapidamente os seguranças chegaram me questionando mas depois de conversar me deixaram bem à vontade. No meio da noite surgiu uma água não sei de onde e molhou todo meu saco de dormir... péssima noite. 34º DIA Levantei antes do sol, arrumei tudo, comi, tomei uma chuveirada e parti logo as 5:30. Ainda quase no escuro era possível ver a iluminada Aracaju pra trás e algumas plataformas no mar a frente. Menos de 2km tem um enorme hotel e ao lado dele uma turma já jogava uma animada pelada, não demorou muito e começou o transito de carros 4x4 e comuns, que andavam bem devido a maré baixa e areia durinha. Um pouquinho mais à frente começa um enorme coqueiral com coqueiros baixinhos, dei uma pulada na cerca e abasteci minha garrafa. O mar um pouco amarronzado, maré baixa com areia dura, coqueiral sem fim, enorme faixa de areia e um sol razoável, esse era o cenário. Passei por um torneio de pescaria, era aqui que todos os carros estavam vindo mais cedo, ao passá-los a praia volta a ficar deserta somente com o Terminal Marítmo mais a frente. Chegando próximo ao terminal, algumas poucas casas onde um cara domava um cavalo. Embaixo do acesso ao terminal, várias famílias aproveitavam sua sombra e armavam ali sua farofa. Logo após o terminal vem a Praia de Jatobá, que tem uma fileira de casas, alguns mercadinhos e muitos cataventos de energia eólica. Parei em uma das barracas pra descansar enquanto botava meu saco de dormir pra secar. Parti a tarde com o sol já queimando pra valer, depois que acabam as casas volta a paisagem deserta, de um lado o mar ainda um pouco escuro, do outro uma enorme cerca com alguns coqueiros e mais adiante dunas medianas tomadas pela vegetação. Desde a Praia da Costa há troncos de coqueiros como marcos quilométricos, embora esteja faltando alguns as medidas parecem estar precisas. Pra chegar em Pirambú ainda é preciso atravessar a barra do Rio Japaratuba, que estava apenas batendo no joelho, Pirambú é um lugar simpático, e estava com praias cheias e comércio fechado pois era domingo. Armei minha rede embaixo da barraca Pirambeleza, indicado pelo próprio garçom do lugar, apaguei logo cedo mas acabei acordando com as goteiras durante uma chuva, acabei migrando pro outro canto e tive mais uma péssima noite de sono. 35º DIA Levantei logos nos primeiros claros, comi e tomei uma boa ducha enquanto as primeiras pessoas já começavam a se exercitar pela areia. Ainda voltei ao centro pra tomar um segundo café enquanto esperava uma chuva forte passar, acabei ficando até a hora do almoço e partindo em seguida. O sol não me atrapalhava mas o tempo estava bem abafado sem brisa alguma. Com a areia ainda em boas condições e sem o incômodo das bolhas, andei bem pra compensar a manhã parada. A partir de Pirambú as marcações do Tamar, ainda em troncos de coqueiro, seguem em ordem crescente. Por não ter vento o mar estava bem calmo, com ondas bem suaves e pequenas, a esquerda muita vegetação rasteira sobre pequenas dunas, mais pra dentro dunas maiores com vegetação também maior e ainda adiante um morro acompanhava a praia até a altura de Lagoa Redonda. No caminho apenas alguns pescadores puxando rede, no km 11 tem início um pequeno córrego a esquerda e no km 12 uma pequena cabana do ICMBio com um coqueiral desordenado ao fundo, que é na verdade o acesso à Lagoa Redonda. Armei a rede pra secar enquanto dei uma descansada. Fui conhecer Lagoa Redonda, passando 700m pelo coqueiral tem o córrego com inúmeros quiosques fechados, do outro lado do córrego uma fábrica da Petrobras e em seguida Lagoa Redonda que se resume a uma única rua. Combinei uma janta no que pareceu ser o único restaurante do lugar e desci pra ver as lagoas do lugar. São pequenas lagoas formadas pelo córrego aos pés de belas dunas alaranjadas. Já perto do fim do dia armei a rede em um dos quiosques repletos de mosquitos e subi pra jantar. A noite foi um pouco complicado pois não havia vento e os mosquitos estavam pegando. 36º DIA Levantei logo as 4h da madruga, e parti cedo, chegando na praia voltei sem mochila pra buscar a porra do facão que havia esquecido. Da praia ainda é possível avistar muito longe o Terminal e os cataventos da Praia de Jatobá e pra frente uma imensidão de areia e o mar com uma plataforma solitária muito distante. O sol apareceu como de costume por volta das 5:10 num céu bastante limpo. O mar parecia uma lagoa com pouquíssimas ondas e sem ventania. Esse era o dia que eu mais temia em toda a caminhada porque as imagens do GEarth estavam defasadas e não tinha certeza de onde seria meu próximo ponto de patada. Às 9:00 eu já conseguia avistar uma torre que indicava um povoado, minhas anotações de distâncias estavam precisas mas os nomes das localidades nesse trecho estavam bem equivocadas. Em alguns momentos é possível ver o interiorzão sergipano a oeste e até mesmo as águas do Velho Chico. Chegando próximo a um coqueiral cercado parei pra descansar e arranquei quase todos os cocos da plantação e todos estavam sem água. Voltando a andar me deparei com uma barra pra atravessar e fui margeando até me informar com uns caras que trabalhavam numa obra perto, me falaram que ali se chamava Boca da Barra e que não ia passar ninguém de barco e que era melhor eu ir por dentro, e aí sairia em Ponta dos Mangues, foi o que fiz. No caminho muitas construções sendo erguidas e o cara me falou que tudo seria hotel futuramente. 4km de caminhada por uma estrada de chão bem arborizada repleta de mangueiras e coqueiros cheguei a Ponta dos Mangues e fui logo procurando um canto pra comer. Apenas 3 bares no local perguntei 2 vezes e informaram que não tinha lugar ali que servisse almoço. Acabei indo perguntar em outro bar, o da Marleide e ela me explicou que ali ninguém serve almoço, muito menos a gente desconhecida, então depois de uma conversa ela me intitulou "Viajante do Tempo" e me serviu um almoço gratuito. Passei parte da tarde ali descansando e ouvindo as histórias da velha que contou como o lugar surgiu a partir de 3 famílias e que vez ou outra também apareciam pessoas viajando de barco ou bicicleta, porém nunca a pé. Saí de lá abastecido de água, manga e chupando 2 geladinhos que custaram apenas 25 centavos cada. Seguindo a principal e pegando a direita saí numa espécie de porto, onde consegui uma carona para o outro lado do rio que na verdade acaba sendo uma ilha bem comprida, isolada pelo mar de um lado e o rio do outro. O mar agora estava bem diferente, bem agitado e com uma cor impecável, fui dar uns mergulhos e depois retornei pra o lado do rio onde tinham 2 cabanas desertas e até uma fonte de água adoce. Acabei ficando por ali, lavando umas roupas e tomando banho de rio. A noite jantei um miojão e dormi tranquilamente ali isolado. 37º DIA Acordei muito bem e parti depois de comer. Logo acompanhei um cara do Tamar até próximo a um lugar chamado Barra do Cabecinha, no caminho me explicou muito sobre o trabalho do Tamar e que os passarinhos que ficam na praia se chamam "Maçarico". A manhã estava nublada com sol agradável quando aparecia. 12km e 3h depois cheguei numa barra de rio que acaba sendo um braço do imenso São Francisco. O lugar tem algumas construções destruídas pelo tempo mas nenhuma pessoa por perto. Levei um tempo até descobrir uma rota pra atravessar o rio sem mochila e depois voltei pra buscá-la. Mais pra frente vem um trecho de mangue que foi engolido pela maré e hoje só ficaram as árvores secas. A chuva também acabou caindo e cobri a mochila com sacos de lixo e segui na chuva mesmo já que não tinha onde se abrigar, mas a chuva não dura nem 10 minutos. Fartura de caju nesse trecho até chegar numa Croa, onde era possível avistar um farol quase totalmente engolido pelo mar, aqui é o antigo povoado Cabeço que foi extinto pela maré. Daqui já dá pra avistar a bela foz do São Francisco, continuei margeando até a extremidade e ao chegar a decepção, só tem movimento do lado alagoano, do meu lado absolutamente ninguém. Voltei até umas poucas casas que sobrou do Cabeço e um pescador me levou ao outro lado na boa, ou mal intencionado esperando uma gorjeta sei lá. Acabei cruzando o imenso e belo Rio São Francisco numa pequena canoa, dei 5$ pra gasolina do cara. Do lado alagoano é onde os barcos chegam cheios de turistas de todo canto, aí tem os passeios de buggy, barracas de cocada e souvenirs. Acabei comendo um espetinho de robalo com farofa, que foi meu almoço, fui até uns coqueiros pra descansar, acabei subindo no coqueiro pra derrubar mais 2 cocos sem água. Cenário único aqui, apenas o local onde os turistas ficam, uns poucos coqueiros, e uma torre de telefonia, muita duna, o mar e umas lagoas, mas não tinha lugar pra comer nem pra dormir, decidi me mandar. Desde a travessia do rio que o sol já botava pra fuder, pra piorar a maré estava cheia e a areia ruim pra caminhar. No início da caminhada alguns pescadores puxando rede e rindo de mim quando disse que ia andar até Pontal do Peba, logo depois surge o climão de deserto. O sol fervia as dunas a esquerda enquanto eu ia pela parte molhada da areia desviando do lixo que o mar cuspia de volta pra terra firme. Eu havia me transformado numa máquina de caminhar, seguia sempre adiante exaustivamente a medida que já conseguia ver Pontal do Peba bem distante. Nos quilômetros finais cheguei na merda com as pernas e principalmente a solda dos pés realmente doloridos como ainda não havia sentido. Merecia um descanso e acabei pagando uma pousada por 50$ com direito até a café da manhã. Não consegui janta, comi um xtudo e fui pro quarto desabar. Nunca caminhei tanto em um único dia na minha vida, foram 40km de andança. 38º DIA Não consegui levantar muito tarde, mas fiquei deitado até a hora do café, comi como se fosse a última refeição da minha vida e parti. O cansaço do dia anterior não me deixou perceber como Pontal do Peba é bacana. Uma verdadeira vila de pescador lotada de pequenos barcos atracados no mar clarinho e cheio de piscinas naturais. A areia na altura do centro estava tão firme que até um ônibus circulava por lá sem dificuldade. A partir daqui começa a maior sequência de coqueiros de todos, com coqueiros de todos os tipos, também já dava pra avistar a entrada para Feliz Deserto, a exatos 7km a frente. A caminhada foi tranquila, tempo nublado, a maré baixa formava uma extensa faixa de areia e o mar parecia uma piscina de tão calmo, ao longo da caminhada aparecem diversos pequenos cursos d'agua pra atravessar sem dificuldade, que saem de um riacho paralelo a praia. Ainda mandei ver um coco do tipo amarelo antes de chegar no acesso a Feliz Deserto. O centro fica a quase 2km da praia, e ao chegar a chuva desabou de vez e tive que me abrigar até a hora do almoço. Voltei a andar a tarde embaixo de uma fina chuva. Ao longo dos coqueirais há várias barracas montadas que são excelentes pra uma dormida, aqui é onde o pessoal se junta pra descascar os cocos pra vende-los secos. A chuva desabou mas continuei dessa vez com uma capa de chuva e um saco protegendo a mochila que funcionaram muito bem. Após a primeira ponta no final da praia já dá pra avistar Miaí de Baixo, por onde passei direto e na ponta do final dessa praia já começam as casas de Miaí de Cima, onde descansei o resto do dia até o café da noite, é assim que chamam a janta por aqui, que na maioria das vezes é um cuscuz ou macaxeira acompanhada de café e algum tipo de carne. Alguns moradores desconfiados e curiosos ficavam me observando na praia. Ao anoitecer armei a rede numa barraca de pescador onde não batia vento e tinha muito mosquito, pra piorar algumas goteiras na hora da chuva, noite ruim. 39º DIA Fiquei de pé logo as 4:40h e parti logo após uma ducha e um café. Pela praia os pescadores já começavam a entrar no mar que parecia mais uma lagoa de tão calmo. Desde o centro é possível avistar Pontal do Coruripe ao final da praia. Caminhada fácil com a maré baixa e o tempo nublado, apenas o coqueiral e alguns cavalos soltos ao longo do caminho. Ao final da praia dá pra perceber Barreias, um outro vilarejo que estava escondido por trás do coqueiral e a Barra do Rio Coruripe que apesar da maré baixa não me deixou atravessar. Pra minha sorte uma jangada vinha chegando do mar e me atravessou. Do outro lado a chuva caiu pesada e novamente puxei a capa até chegar no centro de Coruripe. Aqui é mais uma vila pesqueira pequena e muito bonita, comprei um bolo de mandioca numa feira e fui até o farol dar uma descansada (leia-se cochilada) até o almoço. O mar dispensa comentários, cheio de piscinas naturais e uma cor verde clara espetacular apesar do tempo totalmente fechado. Depois de comer uma bela posta de peixe voltei a caminhar a tarde, pra acessar a praia tive que dar uma volta em um quarteirão pois as ondas já estavam batendo nos muros de umas pousadas/casas que duvido muito que irão resistir por muito tempo. A caminhada de uns 4km até Lagoa do Pau foi de dificuldade mediana pois a areia já não estava tão firme pra pisar. Ao passar por um pequeno córrego, já surgem os primeiros casarões de veraneio e pousadas. Com o tempo bastante abafado, fiquei descansando na praia enquanto bebia água de coco. A noite fui até o centro onde rolava uma festa do padroeiro da região, jantei e voltei a praia pra armar a rede em um quiosque. Aqui é tão calmo que as barracas sequer recolhem suas cadeiras e mesas ao fechar, tomei uma ducha e tive uma boa noite de sono. 40º DIA Parti depois de comer com o tempo nublado mas sem chuva. Ao deixar Lagoa do Pau enchi uma garrafinha de 500ml de coco, um pouco mais a frente voltei a encher mais 500ml, coqueiro aqui tem em abundância. Ao final da praia aparecem belíssimas piscinas naturais, ainda achei um chuveirão num local gramado e com bancos que pareciam ser de alguma propriedade bem chique, acabei indo tomar banho no mar que mais uma vez estava com uma cor impressionante apesar do tempo fechado. Mais umas praias a frente aparece a Barra do Poxim, que foi possível atravessar com água no joelho, mais 3km a frente se chega em Dunas de Marapé, mais uma barra pra atravessar sem dificuldades, descansei por ali e vi que se eu fosse almoçar no centro não conseguiria atravessar o Rio Jequiá de volta, pois a maré já estava subindo. O fato de estar chegando um ônibus turistas atrás do outro me ajudou a decidir sair dali logo. A partir daqui o mar começa a ficar mais agitado e surgem algumas pedras pela praia, com meia hora de caminhada também começam a surgir as falésias e logo dá pra avistar de longe Lagoa Azeda, meu local de parada. O sol deu as caras pra valer cheguei lá bem na hora do almoço. Lagoa Azeda é mais uma vila pesqueira que se resume a duas fileiras de casas que cresceram ao redor da única rua paralela à praia. Do lado do mar, praticamente todas as casas já estão com seus muros quase caindo devido as ondas. O lugar é tão pequeno que não tem onde comer, tive que correr até um mercadinho, que já estava fechando pro almoço e comprei uma sardinha pra comer com miojo. Almocei e descansei numa barraca de praia que estava sendo construída próximo ao acesso à rodovia. A tarde fui até um depósito e bebi umas cervejas cracudinhas bem baratas a 2,50$, conversando sobre o lugar o dono ria e me falava que se Lagoa Azeda fosse um corpo humano, certamente seria o cú, rs. A noite consegui lanchar um hambúrguer e armei a rede no mesmo lugar do almoço com os mosquitos me comendo. 41º DIA Domingo, 24 de janeiro de 2016, meu aniversário de 29 anos. Levantei cedo, comi e saí sem pressa, ainda em Lagoa Azeda pedi pra uma senhora pra abastecer minha garrafa de água e deixei o local. Mar com ondas leves, o sol saindo pra valer e maré baixando aos poucos com areia fácil de andar. Desde o início a presença das falésias é uma constante, algumas simplesmente gigantes onde era fácil diferenciar no mínimo sete cores distintas. Pouco menos de 1h andando cheguei em um lago com alguns cartazes sobre os benefícios da argila, aqui aparenta ter muita movimentação turística, porém devido o horário, apenas 2 pescadores de fim de semana no local, banhei e dei uma descansada rápida e segui. A medida que caminhava, os buggys passavam por mim lotados em direção as falésias e o lago. Com o término das falésias logo voltam os coqueirais e não pensei nem 2 vezes antes de pular uma cerca e me abastecer de coco. Chegando na bela Praia do Gunga a farofada turística rola solta. O mar é disputado por lanchas, jetski, pequenos barcos e banhistas e o céu por helicópteros, paramotor e pasmem, barcos voadores! Passei o dia por ali tomando banho e deitando na rede, almocei um sarapatel nos restaurantes baratos que ficam escondidos por trás dos restaurantes caros e ainda me dei de presente uma caríssimo açaí de 300ml por 10$. Ao fim da tarde quando já me arrumava pra dormir chegou o chefe da segurança explicando que ali não podia ficar e tal que era uma área particular, todo aquele blá blá blá, Contei o porquê de estar ali e apesar dele não ter entendido me deu uma carona até Barra do São Miguel, onde lanchei um sanduíche e armei a rede em um quiosque. 42º DIA Acordei cedo, comi alguma coisa e fui logo pegando um ônibus até Maceió pois a partir daqui tudo é muito urbanizado. Da capital peguei uma van que me levou até Paripueira, onde decidi continuar andar. Depois de comprar uns pães pro meu segundo café da manhã, fui até a praia que estava com uma cor claríssima e maré extremamente baixa. Ainda na primeira praia já apareceram pequenos coqueiros me convidaram pra pular a cerca e pegá-los. Paripueira estava bem tranquila, praia magnífica com praticamente nenhum turista, apenas poucos pescadores tentando pegar alguma coisa nos recifes bem distantes da praia. Ainda teve uma rápida chuva lá pelas 9h mas logo o sol saiu e ficou até o fim do dia. Aqui quase não tem praias retas como as que andei, elas são mais curtas e a cada final de praia o cenário muda não deixando o tédio tomar conta, uma hora aparecem praias lotadas de recifes, outra hora aparecem muitos catadores de mariscos e assim a caminhada passa rápido. Cruzei uma pequena barra com água na canela sem problemas mas umas 3 praias a frente surge a imensa Barra do Rio Santo Antônio que não dá pra atravessar, é preciso ir margeando o rio até acessar a rua e depois cruzá-lo pela ponte. Já na hora do almoço, acabei comendo um PF no bar do Píu, que tem uma vista espetacular pro mar. Aqui o mar tem cor escura devido à proximidade com o rio, mas é possível ver adiante o mar com aquela cor digna de photoshop. Depois de comer voltei a andar com a maré já subindo mas com a areia ainda boa pra pisar. Os coqueirais passaram a ficar mais altos e a água cada vez mais azulada. Chegando na Praia de Carro Quebrado só tinha um vendedor de picolé, uma família argentina e uma carcaça de fusca. Entrei no mar mas as águas vivas me expulsaram rapidamente. Com a maré alta não é possível prosseguir muito pois as ondas ficam batendo na enorme falésia que tem mais a frente, andei mais uns metros pra achar um lugar pra dormir e acabei parando em uma barraca onde um velhinho tomava conta, antes que eu abrisse a boca ele já foi logo mandando eu dormir ali na barraca, armei minha rede por lá e dormi muito bem. 43º DIA Acordei com um belo nascer do sol, arrumei as coisas comi uma besteira e parti. Passei por mais umas 3 barracas, todas com uma carcaça de carro quebrado pra enfeitar, e uns 2km de caminhada depois cheguei no final da praia, aqui tive que esperar a maré baixar mais um pouco pois as ondas ainda batiam na enorme falésia. Depois de uns 20 minutos consegui passar e no final do trecho em pedras fui recompensado com uma fonte de água nem tão doce assim, mas que deu pra me abastecer. A próxima praia é lindíssima, possui apenas uns dois hotéis e mais nada, na praia somente alguns pescadores puxando rede e um belo coqueiral do outro lado. No final dessa praia surge a o Rio Camaragibe, sem lugar raso, porém com uma balsa que faz a travessia por 2$. Barra de Camaragibe se resume a uma curta rua principal e algumas outras ao redor, na praia dezenas de barcos e viveiros montados na água, ainda consegui pegar 4 cocos e prossegui. As praias seguintes continuam lindas, o sol torrando a cabeça e o mar calmo e manso bem no fundo. Chegando em São Miguel dos Milagres, peguei o acesso de 800m até o centro onde almocei, depois voltei a praia onde armei minha rede e passei o resto da tarde cochilando e tomando banho de mar em um dos cenários mais incríveis até então. No fim da tarde segui viagem. Passei por vários hotéis de luxo, muitos coqueirais baixinhos e muitos argentinos até chegar em Porto de Rua que tinha muito barco pesqueiro e água mais escura pela presença de uns mangues mais a frente. Para contornar esse mangue segui pela pista por 3km e quando cheguei em Tatuamunha, entrei para direita onde atravessei o rio por uma sequência de 3 passarelas de madeira. Ao voltar a praia ainda tive que driblar a maré que já batia nos muros das pousadas mas logo melhorou. Depois do manguezal a água imediatamente volta a ficar verdinha mesmo com o sol já indo embora. Andei mais um pouco e pernoitei numa cabana que abrigava uns barcos, jantei um miojo e dormi bem. 44º DIA Acordei antes do sol, comi uns biscoitos e comecei a andar. Com a maré alta, tive que driblar novamente as ondas que batiam nas pousadas escalando pelas telas de proteção do muro, mas logo melhorou. Pouco tempo depois cheguei em Porto de Pedra, lá tomei café e peguei uma balsa gratuita pra atravessar o Rio Manguaba e chegar no Pontal do Boqueirão, onde é lotado de casarões de veraneio e hotéis. Passo por diversos córregos que batem no tornozelo e chego na Barreira do Boqueirão, praia com água de cor única e uma bela falésia dando charme ao fundo. Exatos 5km e 3 cocos depois cheguei em Japaratinga, tomei logo uma ducha no chuveirão da praia e descansei até o almoço. Após comer fui procurar um bom canto pra armar a rede mas só encontrei em São Bento 4km a frente, pelo caminho há muita construção sendo erguida e a presença do Rio Salgado com água no joelho pra atravessar. Armei a rede pra descansar e já conseguia ver Maragogi mais à frente e as últimas terras de Alagoas. Descansei a tarde toda e achei um lugar pra jantar um “café”, com cuscuz, carne e um delicioso suco de caju. Não achei um bom lugar pra dormir e continuei andando até encontrar, no escuro não achei nada e acabei saindo em Maragogi, ainda tive uma tentativa frustrada de armar a rede em uma propriedade particular mas os cachorros me expulsaram. Pra chegar até a praia ainda foi preciso acessar a estrada pra atravessar o rio pela ponte. Só no centro achei uma boa barraca pra armar a rede, lá pelas 21:30. 45º DIA Acordei cedo, tomei uma ducha na barraca, comi e fiquei descansando na orla. Em um quiosque que estava em reforma aproveitei e pedi uns baldes pra lar minha roupa e tirei o resto do dia pra descansar. Aqui eu tinha tudo a disposição, café, almoço, janta, banho, dormida e uma praia sensacional. Passei o dia por ali observando o vai e vem dos turistas que gastam minutos posando pra fotos com o mar ao fundo mas sequer param pra admirá-lo por um instante. No fim da tarde chegou um pessoal de um coletivo de cinema que pela 4º vez estava no mesmo lugar que eu em Alagoas. Eu os vi na foz do São Francisco, Carro Quebrado, São Miguel dos Milagres e agora em Maragogi. Fiquei por ali matando o tempo até anoitecer e dormir pela orla mesmo. 46º DIA Acordei cedo mas não saí de imediato, com minha tábua das marés em mãos, esperei um tempo pra partir pois logo teria um rio pra atravessar mais à frente. Após atravessar o Rio dos Paus com água baixinha começa Barra Grande, a presença de casas ainda é grande e chega um momento que é necessário caminhar pelas ruas pra fugir das ondas batendo nos muros, mas logo é possível voltar a praia. As nuvens esconderam o sol no meio da manhã mas nem isso foi capaz de escurecer a água do mar que estava com uma cor surreal, um azul que nunca vi na minha vida. Depois de Barra Grande vem Ponta do Mangue e alguns outros lugarejos, pelo caminho pequenos riachos rasos e muito buggy levando turistas até a divisa e até as lanchas que vão para as piscinas naturais. Por volta das 12:00 depois de algumas chuvas cheguei no Rio Jacuípe que faz a divisa entre Alagoas e Pernambuco, almocei em São José da Coroa Grande e depois segui. Ao deixar o centro as casas vão lentamente sumindo e o céu ficando cada vez mais preto, pela praia, apenas poucos pescadores. Não demorou muito e a chuva caiu pesada e continuei com a capa de chuva e o saco pra proteger a mochila, dessa vez ela não vinha do mar e sim do oeste. Ao chegar à foz do Rio Una não tinha nada de movimento apenas 3 crianças tentando pescar em sua jangada, logo me ofereceram a carona que eu aceitei desconfiado. A jangada era pequena mas coube os 4 com muito balanço e depois de vencer a desconfiança conseguimos atravessar, dei 4$ pra eles dividirem entre si. A chuva continuava caindo com muito trovão e raio, o mar bastante agitado com ondas enormes. Ao longo da praia tinha algumas barracas mas nenhuma delas legal pra armar a rede, continuei andando até o final da praia onde tinha bastante pedra, que pra minha surpresa morava um cara que parecia mais o Robinson Crusoé brasileiro. É preciso subir pra contornar as pedras e sair na praia do outro lado, 1km a frente chega na Ilha do Coqueiro Solitário, onde tinha uma boa barraca pra dormir, mas fui adiante onde tinha uma espécie de hotel, que ao lado dele tinha uma bar aparentemente abandonado. Era o bar Mamucabinha, onde armei a rede e fiz um miojo pra janta, com um funcionário do hotel consegui água. Noite de chuva com muitos mosquitos e o cachorro do hotel latindo a noite toda, pelo menos não molhei nada. 47º DIA Acordei cedo mas quis tomar café na rede e continuei descansando um bom tempo nela, quando parti o céu ainda estava nublado mas sem nenhum sinal de chuva, o mar bem agitado e o clima muito abafado. A 1,3km, no final da praia, foi preciso contornar uma casa onde as ondas ainda batiam, mais 1km a frente tem o Rio Mamucabas, onde atravessei nadando e perguntei ao pessoal de umas barracas o melhor lugar pra atravessar andando. Retornei e atravessei novamente com a mochila na cabeça e a água no pescoço. Mais um pouquinho de caminhada e lentamente as casas vão surgindo e logo chego no centro de Tamandaré. Comprei uns mantimentos e descansei até o almoço. A tarde parti rumo a Praia dos Carneiros, a caminhada é praticamente toda urbanizada e a medida que avanço mais chiques vão ficando as edificações. No início da praia tem umas piscinas naturais que estavam totalmente lotadas de banhistas, afinal era um sábado. A partir daqui o ambiente se torna o mais escroto possível, restaurantes e resorts caríssimos destinado a turista e com segurança particular devidamente armada. Enquanto era atentamente observado pelos seguranças, segui margeando a praia até chegar as margens do Rio Formoso, onde tem uma capelinha do século 18 ainda erguida. Consegui pechinchar uma travessia por 15$ até o outro lado na Praia de Guadalupe, que só tinha algumas barracas de drinks e espetinhos. Ao fim da tarde todos os barraqueiros e banhistas que estavam do meu lado se foram e fiquei sozinho lá, armei minha rede entre as árvores, fiz um estoque de mangas e descansei até a noite observando o agito do lado oposto. 48º DIA Acordei as 05:40, comi, arrumei tudo, coletei mais manga e segui. Logo a frente tem umas estruturas abandonadas que eram ideias pra um pernoite e mangas muito mais saborosas, refiz todo o meu estoque de manga. Com a maré ainda alta, tive que desviar por trás de algumas casas e só consegui sair na Praia da Gamela, onde também possui barracas boas pra pernoite. A seguir vem uma enorme praia com um imenso coqueiral a esquerda, essa longa caminhada fez a correia do chinelo incomodar um pouco durante a manhã que teve de tudo: tempo abafado, nublado, saiu sol e chuviscou. Chegando em Barra do Sirinhaém, basta ir pela margem que se chega no porto local, pra atravessar o Rio Sirinhaém peguei um barco por 2,50$ até Coqueirinho, do outro lado. Na praia, apesar de ser domingo, quase ninguém nessa praia, afinal aqui é praticamente um condomínio fechado, ao fim da praia é preciso sair do condomínio pra contornar a maré, na primeira oportunidade que tive entrei em outro condomínio e voltei a praia. Bela praia, recheada de mansões e seguranças pra lá e pra cá de moto. Ao chegar em Serrambi, alguns recifes formam belas piscinas naturais, segui em direção ao centro onde achei um almoço baratinho de 10$. A tarde voltei a praia que continuava repleta de mansão, hotel e seguranças que iam discretamente me escoltando até o final da parte rica. Após andar mais um chão, dessa vez sem escolta, cheguei no Pontal de Maracaípe, onde atravessei sem problemas com água na canela. Em Maracaípe parei pra descansar tomando banho de mar e uma chuveirada, na Palhoça da Cris parei pra tomar 3 geladas com caldinho de sururu enquanto assistia ao fim da tarde. Ainda jantei uma macaxeira em um outro bar da Cris e retornei à praia pra armar a rede na palhoça dela. Daqui já era possível avista Porto de Galinhas poucos km a frente. 49º DIA Acordei logo com o sol, comi arrumei as coisa e parti andando pela ruazinha de barro paralela à praia. Ainda passei por uns bares que começavam a abrir uma espécie de camping no início do coqueiral que se estende até Porto de Galinhas. Com o tempo parcialmente nublado demorei apenas uns 30 minutos pra chegar ao centro e avistar as inúmeras jangadas com velas patrocinadas por marcas famosas. O centro de Porto de Galinhas é praticamente uma irmã da Praia do Forte na Bahia, repleta de pousadas e restaurantes destinados a turistas. Fiquei por ali somente enquanto esperava a farmácia abrir pra comprar uma pinça e retirar um bicho do pé que estava me incomodando, pois no final da caminhada eu voltaria pra lá. Peguei o ônibus pra Recife por 13,70$ e cheguei 2h depois. No centro de Recife o comércio pegava fogo, e rapidamente me dirigi ao ponto do ônibus que me levaria até o litoral norte em Ponta de Pedras por 12$. Mais 2h de viagem e cheguei e fui logo almoçando. O lugarejo é bem tranquilo, com o mar verdinho e muitos barcos na praia. Após dar uma boa descansada na orla, enchi minha garrafa de água num posto de saúde e segui. As casas simples do centro vão sendo substituídas por casas de veraneio a medida que me distancio. No que parecia ser um hotel pouquíssimo movimentado, peguei 3 cocos na altura da mão pra dar uma refrescada. Ao longo da caminhada é comum a presença de pequenas contenções de madeira e pedra feitas pra tentar segurar a maré. Ainda passo por uma região de mangue e um pequeno coqueiral até chegar em Carne de Vaca, lugarejo ainda menor. Passei o resto da tarde na praia vendo uma galera jogar vôlei de praia e olhando os pescadores no fundo do mar com água batendo apenas na cintura, aqui a água já é um pouco mais escura devido à proximidade com o rio. Fiquei batendo papo com a dona de um bar enquanto ela arrumava pra abrir e acabei ganhando uma janta de graça, na barraca ao lado que estava vazia armei minha rede e dormi muito bem. 50º DIA Acordei cedo e fui comprar pão na padaria, como eu só tinha 50$ inteiro, não sei a mulher não tinha troco ou ficou com pena pela minha aparência mas ela me deixou levar os pães sem pagar. Segui até o final da praia onde atracam os barcos que atravessam o rio, enquanto esperava tomava meu café da manhã. Caso não haja barco disponível, o macete é levantar um pau com uma sacola na ponta que o barco vem do outro lado te buscar, e foi assim que aconteceu, o barco veio da Paraíba me buscar e atravessamos o imenso Rio Goiana por 10$. Ao atravessar cheguei em Acaú do lado paraibano, e peguei uma van até Alhandra onde fui rever um camarada que se mudou pra lá alguns anos atrás. 51º DIA Retornei pra Acaú por volta das 10h e depois de um café na padaria, continuei a caminhar. Praticamente todo o trecho até Pitimbú é cheio de casas, o que torna a caminhada não muito interessante. A praia com mar calmo, cheio de algas e lixo, a areia estava repleta de minúsculas conchas quebradas mas ainda boa pra andar. Acaú e Pitimbú são lugares mais simples com pouca presença de casarões. Em Pitimbú almocei e passei um bom tempo descansando, o chinelo já não incomodavam meus pés em nada e eu já considerava a possibilidade de andar até o Ceará. Depois de uma boa descansada, voltei a caminhar e em alguns minutos já era possível ver a barra do Abiaí ao fundo, apenas com algumas moradias de palha e uns coqueiros. Confirmei com os moradores qual seria o melhor ponto pra travessia e fiquei as margens da barra chupando manga enquanto aguardava a maré baixar mais um pouco. Esperei um bom tempo pois a água voltava pro mar com força e velocidade consideráveis. Fiz a primeira travessia sem nada e depois voltei com a mochila e passei com água no peito e o sol já perto de se pôr, os poucos moradores do lado oposto já me observavam com certa desconfiança, provavelmente esse pedaço do litoral não é tão frequentado por turistas muito menos por caminhantes como eu. A cara de poucos amigos dos moradores me tiraram qualquer vontade de armar rede por ali, mas 700m a frente já achei uma barraca isolada na praia onde providenciei meu pernoite. Organizei meu miojo com sardinha e dormi muito bem sob um céu incrivelmente iluminado. 52º DIA Após uma boa noite de sono, levantei com o sol, comi e saí cedinho. Com o sol rasgando como de costume, passei por um pequeno lugarejo e 1km a frente falésias cinzentas e avermelhadas surgem, mais 1,5km chego na Praia Bela, de um lado o mar clarinho, no meio centenas de mesas e cadeiras dos restaurantes e do outro lado as águas doces do Rio Macatu completam o cenário. Mais alguns minutos atravessei a Barra do Graú com água no joelho, exatos 2km a frente surgem muitas pedras e uma placa anunciando que dali pra frente era nudez total, pois começava a famosa praia naturista de Tambaba. Fui desviando das pedras enquanto imaginava o que viria pela frente, a primeira vista era apenas uma praia vazia, mas logo notei um senhor pelado a minha direita e sua senhora a esquerda, onde acampavam. Baixei a cabeça e segui naturalmente até o fim da praia, onde tinha mais uma turma acampando, porém vestidos. Novamente pra sair da praia é preciso passar por mais pedras que dão na praia de Tambaba “normal”. Esse lado é a porta de entrada e cartão postal de Tambaba. Armei minha rede, dei uns mergulhos e descansei, na hora do almoço recorri a um miojo com 2 espetinhos, pois ali os preços são salgados. O vai e vem na parte naturista é constante, tanto pelos banhistas como pelos vendedores que tem autorização para entrarem vestidos. Por volta das 15h parti, pra seguir até a próxima praia é preciso contornar as pedras por uma pequena trilha, enquanto passava avistei um casal dando uma trepada entre as árvores, novamente ignorei e cheguei na praia seguinte onde poucos surfistas se aventuravam na imensas ondas. Aqui a caminhada volta a ficar bem agradável, são quilômetros de falésias e praia deserta com uma bela brisa. O clima só foi quebrado com a presença de uma gigante restaurante que dá início a Praia de Coqueirinho e alguns casarões de veraneio. Com o fim da tarde as barracas já estavam sendo desmontadas e os banhistas se retiravam da praia. Ao fim da praia já é possível avistar Carapibus e Jacumã, mais à frente na Praia de Tabatinga, achei um bom local pra armar a rede nas árvores dentro de uma falésia gigante, ainda passei o final da tarde no mar calmo e esverdeado antes de jantar e dormir. 53º DIA Após partir, foi preciso andar somente umas 2 praias pra chegar na parte urbanizada de Carapibus, lotada de belas casas, pousadas e restaurantes. Ao fim de Carapibus, algumas pedras me obrigaram a passar por um desvio pelo mato que tem bem ao lado, daí pra frente já começa a praia de Jacumã, com urbanização bem semelhante a praia anterior. Ao final de Jacumã mais uma vez são as pedras que fazem o limite, com destaque pra Pedra Furada ou Túnel do Amor, que marca a passagem pra Praia do Amor, novamente por uma trilha adjacente, pois as ondas batem forte nas pedras. Ao descer o barranco apenas algumas barracas bem simples, uma praia bem curva e com águas calmas e claras. Daqui já avistava a imensa Barra do Gramame uns 3km a frente e segui embaixo do sol escaldante até ela. Chegando na barra, após ter um pedido de água negado, apenas peguei uma dica de onde era o melhor lugar pra atravessar e segui. A barra é imensa mas atravessei numa boa com a maré baixa. Na praia seguinte volta aquele cenário bacana: imensas falésias a minha esquerda, uma extensa faixa de areia a perder de vista e o mar quebrando a minha direita. Pra minha surpresa me deparei com um casal namorando escondidinho entre umas pedras, passei direto e mais à frente cheguei na Praia do Sol, onde consegui uma boa água gelada pra beber, nessa praia os preços me chamaram atenção por serem muito em conta em relação a outras. 1km a frente passei pela discreta barra do Rio Cuiá e cheguei na Praia de Jacarapé, uma típica praia de pescador repleta de barco e casas de taipo. A partir dela vem mais um trecho de praia deserta e um pequeno lago a esquerda com poucas barracas que marcam o início de um belo coqueiral, tudo que eu precisava! Esse dia estava com pouca água então na primeira chance que tive pulei a cerca e mandei ver, estava seco de sede. Hidratado, porém cansado, continuei a andar e a presença de banhista e casas aumentou um pouco, mas logo sumiu dando lugar a enormes falésias. Minha ideia era caminhar até a Ponta do Seixas mas como o local se encontrava acima das falésias passei direto sem ver, continuei caminhando entre falésias e pedras até chegar num local onde avistei toda João Pessoa. Continuei andando até a Praia de Cabo Branco e em seguida até a ensolarada Praia de Tambaú, que estava bem vazia apesar de ser uma sexta feira de carnaval. Exausto depois de caminhar por 26km, relógio marcava 12h, parei pra almoçar e em seguida fui visitar familiares que moram lá, onde passei os 4 dias seguintes. 58º DIA Após uma péssima noite de sono, tomei café e parti da Praia de Lucena, já no litoral norte da Paraíba. Aqui já vejo o sol nascendo ligeiramente mais a sudoeste, as águas nas margens ligeiramente escurecidas devido à proximidade com o imenso Rio Paraíba e mais ao fundo o típico verde claro. 2km são suficientes pra sumirem todas as casas e a praia ficar deserta, mais 2km andando pela Praia de Bonsucesso chego na barra do Rio Miriri, ainda eram 7h e a maré estava baixando, aguardei tirando um cochilo, mas logo fui interrompido por uns farofeiros que chegaram tocando um som ensurdecedor. Continuei aguardando e quando vi um cara atravessando no sentido contrário, fui também. A caminhada é agradável, praia deserta com areia bem firme, brisa e o mar cada vez mais verdinho. Depois de uns 5km chego em Campina, lugar de belos casarões com um minúsculo centro mais popular, decidi só parar pra almoçar em Barra do Mamanguape, pelo meio do caminho em cima de uma duna, parei pra dar uma descansada em uma casa em construção abandonada onde a vista é belíssima, se não fosse a fome poderia ficar por ali o resto do dia. Pela praia acessei o centro quando vi uma cabine/armário verde que parece ser de algum pescador ou do Projeto Peixe Boi, daqui também já é possível avista a Baía da Traição. Após almoçar encontrei um pescador que me ofereceu um passeio, expliquei que só queria atravessar e com muita conversa consegui a travessia por 15$. Fiquei em uns lagos que parecem ser criadouros de alguma coisa, mas ainda bem distante da praia. Tive que seguir até uma barraca na estrada de barro e pegar a direita, poucos metros à frente entrar a esquerda e seguir até o final, onde encontra outra estrada principal que pega a direita até o fim. Pelo caminho ainda achei uma mangueira carregada e fiz um estoque. Depois surgiu um surfista que me deu uma carona até a aldeia indígena de Camurupim, chegando lá atravessei de carona no barco do colega dele até o outro lado, daí bastou uma caminhada de uns 300m pela areia fofa até chegar a Praia de Coqueirinho que fica dentro de uma reserva indígena e área de preservação do peixe boi. Parei em uma barraca pra tomar um banho e bebi uma cerveja geladíssima por apenas 5$ enquanto tentava avistar algum peixe boi. Aqui dá pra ter ideia de como é grande o recife que se estende desde a Barra de Mamanguape até a Baía da Traição. Após uma boa chuveirada, voltei em direção ao rio, onde achei uma boa árvore pra armar a rede e passar a noite. Quando escureceu um rato gigante ainda ficou fuçando minha mochila e só sossegou quando deixei alguns biscoitos de cortesia pra ele. 59º DIA Chupei no café 5 mangas que peguei no dia anterior e voltei a praia pra caminhar. A maré ainda estava alta mas a areia bem firme pra pisar, o sol rasgando e nenhum vento pra refrescar. Ao fim da primeira praia já surgem as primeiras casas, porém tudo sem movimento, de fato tinha acabado a farra, os turistas haviam sumido e o lugar ainda respirava a ressaca do carnaval. Com as barracas ainda fechadas, parei em uma delas na Ponta da Prainha e arranquei 2 cocos com ajuda de uma mesa da barraca. Subi até o centro pra tomar um café e usar uma lan house pra fazer umas anotações que não tinha do caminho até Natal. Da orla é possível ver a imensa baía e a Barra de Camaratuba 12km a frente. Seguindo pela praia, casas mais simples vão surgindo ao longo da orla parcialmente destruída pelas ondas. A caminhada é das melhores, com mar claro, céu azul, maré baixa com areia firme e uma brisa pra refrescar. 6km do centro surge um bloqueio de pedras que fazem nem motos nem buggys passarem, aí sim vira um desertão. Na próxima praia alguns surfistas se preparavam pra entrar no mar e me chamaram pra tomar um refrigerante que aceitei na hora. O percurso inteiro é recheado de falésias misturadas com mato até chegar em mais um bloqueio de pedra, onde tem o Rio Camaratuba, que atravessei com água na cintura. O lugar é extraordinário de tão bonito. A 800m tem um centro muito pequeno com apenas 1 lugar pra comer, nas paredes ainda tinham os preços caros do carnaval mas paguei apenas 15$ no PF. Após o almoço armei a rede numa sombra de barraca de barco e tirei um bom cochilo, que só acordei com meu próprio ronco. Lá pras 15h com sol mais ameno votei a andar. Começa o Parque Eólico Vale dos Ventos, que segue até a divisa com RN e surgem pequenos morrinhos de dunas com vegetação rasteira. Em uma barraca isolada, na Lagoa da Pavuna, o dono já estava fechando e me esperava desconfiado com um facão na cintura, peguei uma informação rápida e segui. Mais à frente apareceu uma barraca bem equipada com cordas pra rede, panelas, mesa, bancos e até um banheiro improvisado, tudo ao lado de um laguinho com água doce. Ao fundo, máquinas ainda trabalhavam em uma espécie de jazida. Fiquei tomando banho até anoitecer e tive uma excelente noite de sono, com céu estrelado e os cataventos iluminados. 60º DIA Acordei cedo, comi, e saí sem pressa e com 1h de caminhada cheguei até a divisa de estado, um outro lugar muito bonito com rio, dunas e mar. Tentei atravessar mas a maré ainda estava alta, tentei ir por uma trilha que tinha no mangue mas andei em círculo e voltei ao mesmo lugar, acabei desistindo armei a rede e esperei. Depois de um tempo, atravessei com água na barriga, do lado potiguar as marcações do Tamar ressurgem. Ao fim da praia, antes de Sagi, alguns surfistas pegavam onda enquanto eu trepei em um coqueiro e consegui pegar 2 cocos que me salvaram pois já estava seco sem água e o sol pra variar estava escaldante. Mais uns metros à frente parei nos recifes pra um banho no mar que estava com cor impecável. Percebi que ali só havia restaurante destinado a turistas, ou seja, caros. Parti rumo a Baía Formosa uns 12km a frente pra poder almoçar. Esse trecho é espetacular, uma praia mais bonita que a outra diversos corais, no mar de cor clarinha, apenas um ou outro pescador pegando alguma coisa nas pedras. Embaixo do sol escaldante os buggys passavam freneticamente rumo a Praia do Sagi. Ao virar a praia onde tem o Farol de Bacupari, já dá pra avistar o centro. Nessa última praia, diversas barracas dos pescadores e no fim dela começa a cidade, subi a primeira ladeira a esquerda e fui procurar um canto pra comer e não achei nada, fui perguntar um casal de velhos onde eu achava um lugar pra comer, e a senhora me perguntou se eu comia algo especial, falei que não e ela me colocou dentro da sua casa e me serviu um almoço, fiquei impressionado. No fim tentei pagar mas claro que ela recusou, agradeci e segui em frente. A cidade fica localizada no alto, o que proporciona uma vista única, desci até a praia e fiquei o resto da tarde ali tomando banho no mar. Ao anoitecer, voltei ao centro pra lanchar e armei minha rede nas barracas dos pescadores. Durante a madrugada eles se reuniram pra pescar mas me deixaram deitado lá numa boa. 61º DIA Acordei cedo e fui na padaria comprar café, e fiquei comendo sem pressa pois pela tábua das marés teria que esperar um pouco mais pra atravessar a Barra do Cunhaú, que fica 8km a frente mas pode ser vista do alto do centro. O caminho começa na Praia do Porto, com mar calmo e dezenas de barcos atracados, logo começam as falésias mas em 30 minutos de caminhada elas dão lugar a pequenas dunas. Um pouco mais a frente começa um enorme coqueiral, entrei nele e derrubei uns cocos que pro meu azar estava com um gosto terrível. Uns quilômetros à frente cheguei no rio e pra minha surpresa ele é enorme. Não adiantou nada ficar esperando a maré baixar, tive que pagar 3$ e atravessar na balsa. Na praia vazia, vi em um quintal um coqueiro anão e fui matar minha vontade de beber coco, arranquei 9, me dei conta que esqueci o facão no coqueiral anterior, mas mesmo assim abri com certa dificuldade os cocos com uma faquinha cega, matei minha sede e enchi minha garrafa. Andando por mais umas praias cheguei até o Rio Catu, atravessei na boa e fiquei tomando banho. A noite fui até o centro de Sibaúma e jantei um PF, depois desci até a praia e armei a rede em uma varanda de uma casa parcialmente tomada pela areia da praia. 62º DIA Levantei um pouco tarde, por volta de 6:20h, com o tempo meio nublado e bastante vendo. Depois de comer uns biscoitos com água de coco segui viagem até a Praia de Pipa. Logo no começo da caminhada foi preciso subir um barranco pra descer em seguida até a praia. Até Pipa são muitos paredões de falésias e muita areia fofa. No fim da praia, tem início uma subida que leva até o Chapadão, um enorme platô que tem uma vista bem bacana do lugar, com destaque pra Praia do Amor que fica logo abaixo. Ainda roubei uns cocos de um casarão/hotel que estava em construção, em seguida peguei uma rua a esquerda que me levou até o centro. Fiquei na praia principal tomando banho na maré baixa, ainda fui conhecer a parte baixa da Praia do Amor e depois fui almoçar. Apesar de ser lotada de comércio e turistas, muitos deles gringos, Pipa tem uma atmosfera muito bacana. Parti a tarde com a maré já subindo, logo na primeira praia as casas vão sumindo e dando lugar a falésias desertas. Pra acessar a Baía dos Golfinhos é preciso desviar por muitas pedras até chegar, a praia lotada de gringos, nela tem muitas barracas destinadas a quem tem dinheiro, pois tinham bastante espreguiçadeiras e vendiam bastante longneck verdinha. Ao fim da praia mais um bloqueio de pedras, dessa vez foi preciso ir pulando sobre elas até chegar na Praia do Madeiro, que é muito semelhante a anterior em todos os aspectos. Um pouco adiante tem mais umas pedras que basta desviar pra chegar em uma enorme praia dessa vez em linha reta, toda ela com enormes paredões de falésias, tão altas que me faziam caminhar na sombra. Ao final da reta mais uma vez surgem pedras, basta desviá-las e andar mais um pouco que chega a uma rua que sobe até o centro de Tibau do Sul. Jantei uma saborosa macarronada e desci, armei a rede em uma barraca de praia e dormi muito bem. 63º DIA Acordei cedinho, tomei café e fui até outra barraca onde tomei uma ducha. Fiquei aguardando a balsa pra atravessar a foz da Lagoa dos Guaraíras. Deitei na sombra, comi novamente, vi as barracas todas se arrumarem pra abrir, vi os gringos chegarem pra passear de caiaque, vi até um timbú que morava na copa de um coqueiro até que a balsa chegasse as 10h. Segundo o barraqueiro ela demorou porque a maré ainda estava alta e não teria lugar pra atracar do outro lado. Paguei 3$ pela travessia, todos os buggys e quadriciclos ficaram na areia ainda aguardando a maré baixar mais um pouco enquanto eu segui andando. Logo começa o trecho das Dunas de Malembá e algumas marcações do Tamar. No km5 é o início do lugarejo chamado Barreta, onde a praia é cheia de pedras. As casas da orla praticamente todas estavam vazias, o clima era de deserto total. Em certo momento entrei nas ruas onde achei o único lugar que tinha almoço, comi e voltei até a praia onde armei a rede numa varanda de uma casa e cochilei, ainda tomei uma ducha antes de partir. A praia continuava cheia de piscinas naturais e cenário deserto, somente em alguns restaurantes era notada a presença de turistas, muito deles gringos. Praticamente colado a Barreta vem Tabatinga que é lotado de hotéis e casarões. Ao fim da praia é preciso ir por trás das casas para descer em seguida na praia seguinte, que tem um paredão imenso de falésia que logo dão lugar as dunas. Após o trecho das dunas já começa a parte urbanizada da Praia de Búzios. Próximo ao final da praia continuei andando pela pista pra encontrar uma tal padaria que me indicaram, que só fui achar no bairro de Pirambúzios. Depois de comer uma típica tapioca, voltei a praia e cruzei o Riacho Taborda enquanto a maré estava baixa, acabei armando minha rede embaixo de uma árvore nas barracas da Praia de Pirangi, logo depois do píer, exatamente onde fica o maior cajueiro do mundo. Ainda fiz um miojo antes de deitar e tive uma péssima noite de sono com uns 3 chuviscos me incomodando, um segurança da orla ainda apareceu pra me abordar mas me deixou ficar ali na boa. 64º DIA Acordei cedo, com o sol totalmente nublado e logo fui partindo. No fim da primeira praia é cheio de pedras, mas deu pra passar sem dificuldade, em seguida vem uma praia menor, novamente com pedras no final, mas dessa vez tive que ir por cima delas e bem devagar. A praia seguinte é um pouco maior, apenas algumas barracas de pescadores e mais pedras pra passar no final, dessa vez segui por uma trilha que contorna a falésia, entra em uma estradinha e sai na Praia do Cotovelo, que ainda estava totalmente vazia. No final dessa praia uma placa avisa que é proibida a passagem a partir dali, pois é área militar. Só pra desencargo de consciência perguntei a um cara que pescava com vara na areia se podia prosseguir, o mesmo me disse que sim, isso bastou pra que eu continuasse andando. O trecho começa com várias dunas que logo se acabam e dão lugar a uma imensa sequência de falésias, que formam a famosa Barreira do Inferno. No início é preciso desviar de algumas erosões mas depois surge uma trilha bem demarcada que segue margeando o precipício. Lá de cima a vista é única. Quando já ia descendo a falésia pra acessar a praia seguinte, uma viatura já me esperava do outro lado, me explicaram que o trânsito de civis ali é proibido e me levaram até a base, onde depois de uma conversa, o militar gente fina Araújo acabou me liberando. Dali até Ponta Negra eu tinha 2 opções: ir de ônibus ou a pé. Foram 4km exaustivos pela estrada até a primeira rua a direita, fui pegando informações até chegar a Praia de Ponta Negra, fiquei tomando banho o resto da manhã e por fim paguei minha segunda e última água de coco por 3$. 16 de fevereiro de 2016 dei fim a minha caminhada, almocei e segui pra casa de parentes meus, ainda fiquei pelo nordeste por mais um mês fazendo um turismo convencional, acabei retornando ainda em João Pessoa, Porto de Galinhas e Maragogi antes de voltar pra casa. A caminhada foi muito cansativa e prazerosa ao mesmo tempo, cada lugar tem sua beleza própria, seus prós e contras, recomendo a quem tiver vontade de fazer algo semelhante caminhando por algum desses trechos, que faça o quanto antes, pois o crescimento imobiliário em todo o litoral está frenético, daqui um tempo será cada vez mais difícil encontrar praias desertas e pequenos vilarejos de pescadores. Meus pés demoraram algumas semanas pra ficarem 100% sem dor, fiz toda essa caminhada com equipamento básico e precário: uma rede de nylon, um outro tecido de nylon pra cobrir a rede em caso de chuva (que não funcionou muito), um saco de dormir, fogareiro espiriteira que só fazia miojo, pouca roupa e pouco dinheiro. Voltar a caminhar a partir de onde parei é apenas questão de tempo. 10 Citar
Membros islamorena Postado Janeiro 5, 2017 Membros Postado Janeiro 5, 2017 Nossaaaaa!!! .não consegui parar enquanto não li todo relato!! Acredito q isso foi um resumão....imagino como deve ter sido todo a viagem!! Obrigado :'> por dividir esta experiencia impar..... foi muito bem descritivo e a medida que lia e com a ajuda das fotos, pude "ver" todo o trajeto , pois já conheci (como turista) alguns dos lugares por onde passou e foi como se estivesse junto com vc...mas só assistindo seus perrengues e torcendo para que tudo desse certo!! Abraços Isabel 1 Citar
Membros jacobrazil_II Postado Janeiro 5, 2017 Autor Membros Postado Janeiro 5, 2017 Nossaaaaa!!! .não consegui parar enquanto não li todo relato!! Acredito q isso foi um resumão....imagino como deve ter sido todo a viagem!! Obrigado :'> por dividir esta experiencia impar..... foi muito bem descritivo e a medida que lia e com a ajuda das fotos, pude "ver" todo o trajeto , pois já conheci (como turista) alguns dos lugares por onde passou e foi como se estivesse junto com vc...mas só assistindo seus perrengues e torcendo para que tudo desse certo!! Abraços Isabel islamorena, foi um resumão mesmo pois não sou tão bom em relatar minhas caminhadas. Tentei descrever os cenários e expor os fatos mais relevantes da melhor maneira possível para que algum interessado possa aproveitar as informações assim como eu aproveitei de outros relatos. Que bom que gostou e parabéns pela paciência de ler tudo rsrs 1 Citar
Colaboradores Juliana Champi Postado Janeiro 5, 2017 Colaboradores Postado Janeiro 5, 2017 Gostei muito do seu relato. Andei por um pequeno pedaço desse, mas não a pé como vc, rs. Entre Barreira do Boqueirão e Maragogi vc se lembra de Japaratinga? Estive lá a muitos anos em uma viagem pela costa do PE e AL e fiquei apaixonada pela praia na época... prometi morar um ano lá quando me aposentasse. Era uma praia bem calma, não tinha quase ninguém quando estive, por isso gostei tanto. E vc conseguiu recuperar seu celular? Pois como se virava com o google earth?? E cara, vc não teve nenhuma diarréia?? Incrível, kkkkkk... vc teve muita sorte!!! Um dia quero fazer uma caminhada assim... mas por enquanto estou limitada aos meus 30 dias de férias. Citar
Membros jacobrazil_II Postado Janeiro 5, 2017 Autor Membros Postado Janeiro 5, 2017 Gostei muito do seu relato. Andei por um pequeno pedaço desse, mas não a pé como vc, rs. Entre Barreira do Boqueirão e Maragogi vc se lembra de Japaratinga? Estive lá a muitos anos em uma viagem pela costa do PE e AL e fiquei apaixonada pela praia na época... prometi morar um ano lá quando me aposentasse. Era uma praia bem calma, não tinha quase ninguém quando estive, por isso gostei tanto. E vc conseguiu recuperar seu celular? Pois como se virava com o google earth?? E cara, vc não teve nenhuma diarréia?? Incrível, kkkkkk... vc teve muita sorte!!! Um dia quero fazer uma caminhada assim... mas por enquanto estou limitada aos meus 30 dias de férias. O litoral alagoano pra mim foi o mais bonito de todos, gostei tanto que voltei depois lá depois da caminhada, inclusive em Japaratinga. Com mais tempo andaria por lá com mais calma por umas 2 semanas. O celular que citei pifou, em Salvador arrumei outro que durou até João Pessoa. Só usei o googleEarth em casa antes de partir pra fazer as anotações, depois usei uma lan house pra completar anotações que ainda não tinha entre PB e RN. Em relação a diarréia eu comia sempre uns PFs bem simples, ficava com medo pela quantidade de água de coco que bebia, mas não me lembro ter passado por algo fora do normal rsrs. To pronto pra outra rs Citar
Membros de Honra gvogetta Postado Janeiro 9, 2017 Membros de Honra Postado Janeiro 9, 2017 Salve! Incrível essa sua pernada, simples, objetiva e intensa, sem dúvida. Parabéns pela pernada e pelo relato! Fiz bastante este tipo de coisa: sair de um ponto a outro da costa andando, mas sempre em escala bem menor que você fez nesta empreitada. 60 dias não é para qualquer um, não só pelo tempo mas aguentar a jornada. Abraço! Citar
Membros Wilson Iwazawa Postado Janeiro 23, 2017 Membros Postado Janeiro 23, 2017 Muito foda a experiência e o relato! O mais foda ainda é fazer uma caminhada desse naipe com havaianas. E a gente quebrando o pau no fórum de botas. PS: enjoei de água de coco só de ler o relato... Citar
Membros islamorena Postado Janeiro 30, 2017 Membros Postado Janeiro 30, 2017 islamorena, foi um resumão mesmo pois não sou tão bom em relatar minhas caminhadas. Tentei descrever os cenários e expor os fatos mais relevantes da melhor maneira possível para que algum interessado possa aproveitar as informações assim como eu aproveitei de outros relatos. Que bom que gostou e parabéns pela paciência de ler tudo rsrs hahaha...imagine se vc fosse bom em relatar, hein ???Foi um relato bem minucioso....mas não cansativo!! obrigado vc por dividir conosco!!! alguma novidade depois disso??rsrs abraço Citar
Membros jacobrazil_II Postado Fevereiro 1, 2017 Autor Membros Postado Fevereiro 1, 2017 hahaha...imagine se vc fosse bom em relatar, hein ???Foi um relato bem minucioso....mas não cansativo!! obrigado vc por dividir conosco!!! alguma novidade depois disso??rsrsabraço Novidade nenhuma. Eu planejava voltar nas férias 2016/2017 mas comecei a trabalhar em outubro/2016. Estou só aguardando uma nova oportunidade. rs Citar
Membros Amanda Sfair Gonçalves Postado Fevereiro 1, 2017 Membros Postado Fevereiro 1, 2017 Só vim aqui deixar a minha salva de palmas para você! Caraca! Que disposição e que viagem incrível! Citar
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