Membros Este é um post popular. silviomoser Postado Outubro 19, 2016 Membros Este é um post popular. Postado Outubro 19, 2016 (editado) MOSTARDAS -> FAROL -> TAVARES percurso : 50km 26/27 de Maio de 2016, quinta/sexta feira feriado de Corpus Christi. A aventura para mim começa as 5h pegando o trem em São Leopoldo até Porto Alegre. Enquanto isso o Diogo vem de Gravataí para nos encontrarmos na rodoviária de POA. Chegamos em cima da hora, o ônibus da Viação Palmares partiu as 6:15h. As 10:20 desembarcamos na rodoviária da simpática e pacata cidade de Mostardas https://pt.wikipedia.org/wiki/Mostardas, onde as ruas cidade estavam decoradas para a procissão de Corpus Christi. Dali até a orla são 14km. No começo estrada de areia com saibro e muito boa manutenção. Nas laterais muita cultura de pinos com extração da resina e goma para indústria de cosméticos, desinfetantes, etc. É uma das atividades econômicas predominantes na região. A partir da placa avisando que agora estamos dentro da área de reserva é que a aventura começa a tomar forma. Estamos na Trilha das Dunas. No início um pequeno trecho com vegetação fechada, mas logo se abre uma região de banhado dos dois lados, com diversas espécies de aves entre outros animais. Logo em seguida o ambiente faz jus ao nome da trilha. Um trecho até o Balneário Mostardense onde a estrada se confunde com dunas e lâminas d´agua empoçadas, mas não chega a nos enganar conforme verão adiante na trilha do Talha Mar. Uma única árvore encontrada e uma pausa na sombra para descanso e almoçar uma Pastelina com água. Seguimos em direção à orla, chegamos no Balneário Mostardense. Uma pequena vila na orla onde no verão recebe um certo movimento e há muitas casas de veraneio, mas agora no inverno o número de pessoas é bastante reduzido, então o som do vento litorâneo zunindo pelos pinheiros é constante e o tempo parece estagnado. Paramos para dar um descanso no mercadinho da D.Irene, distante uns 200m da beira do mar. Lá fui informado que "Bah, coca-cola essa época do ano é bem difícil...". Mas abriu o freezer e tirou uma daquelas bem pequenas, acho que é 200ml. Bebi em dois ou três goles. E seguimos no rumo. Ao chegar na beira da praia, dois homens que vinham do mar para a cidade descem de uma moto (uma CG meia-boca) e a empurram, pois a areia revolta não permitia pilotar. De capacete, um deles pergunta se conhecemos outra via de acesso, ao que respondo que não sou do local e desconheço, mas informo que este acesso está bom até Mostardas, e foi de onde nós viemos. (lembrem desta pessoa). Ali na beira do mar fiz meu agradecimento pois fazia uns 7 anos que não via o oceano. God is good. Subi na única e inabitada guarita de salva vidas do local, estava precisando trocar as vestes de baixo pois tinha suado muito e estava assando. Podia ter me trocado ali mesmo fora, pois não havia ninguém a quem esconder nada. Vida nova! Seguimos ao sul, com vento contra. Praia quase que completamente deserta, não fosse a mescla de alguns pescadores de final de semana com suas camionetes e isopores com bebidas e guloseimas e pescadores locais em seus carros tomados pela ferrugem, sem para brisas e carregados de redes. Bandos de aves de variadas espécies revoavam como reação ao ataque sempre infrutífero da nossa companhia que nos seguiu praticamente até o Farol, um simpático cachorro que foi todo o percurso ensandecidamente abrindo buracos onde ele cabia quase que pela metade dentro. Batizamo-lo de "Tatú Dog" Meus pés começaram a me torturar, pois tinha comprado um tênis/bota novo pela internet "de promoção" e resolvi arriscar e fazer o trekking com eles, mesmo novos (GoNew -> corram delas). Uma porcaria, não façam isso, não existe milagre em termos de equipamento. Quase me matou e estragou com a caminhada. Lá pelos 20km fui obrigado a retirá-los e ir adiante de Havaianas. Minha salvação. Adiante alguns km encontramos os restos de um naufrágio que eu já tinha visto por fotos há anos. Click ! O tempo estava fechando e a tardinha ia chegando quando conseguimos avistar o Farol de Mostardas (https://pt.wikipedia.org/wiki/Farol_de_Mostardas). Incrível como as distâncias parecem próximas nesse ambiente, juro que parecia que o farol tinha rodinhas na sua base e estavam empurrando-o mais para longe à medida em que aproximávamos. Ô farol difícil de chegar! A lanterna sinalizadora foi ligada então começamos a nos atucanar, pois a noite era iminente e não tínhamos ainda onde armar acampamento. Um carro passou com um casal por nós, dez metros depois parou e voltou de ré. Abriu a janela e indagou onde estávamos indo. Respondemos que estávamos indo tentar conhecer o farol. Perguntou sobre onde estávamos hospedados ao que respondemos que nossa hospedaria estava dentro das mochilas mas estávamos meio preocupados pois não conhecíamos o local e o tempo estava se armando. Então ele disse que tinha cruzado por nós de moto lá atrás (lembram?) na entrada do balneário quando estava indo buscar o carro e sua esposa. Se apresentou como sub-oficial comandante da área militar e responsável pela guarda e operação do Farol de Mostardas e, acho que sensibilizado nos convidou para passar a noite com eles na área do Farol !!! Eles deram-nos abrigo, com chuveiro quente, cama, um baita dum café com pão feito na hora, mingau, frios, etc eu disse que já fora militar então o papo rolou até algumas horas. O farol visto de baixo é lindo, quatro faixos de luz giram em um período específico, pena que não dava para captar com a câmera que eu portava. O próprio farol é uma construção linda, completamente recoberta de ladrilhos e muito bem mantida pelos Marinheiros. Esta versão reformada data de 1940 e parece nova. Fomos dormir. Levantei as 5:30h e fiquei sentado na escada à frente da casa fumando um cigarro. Diogo levantou em seguida, quando o Sub Oficial Paulo Cesar nos convidou para irmos juntos para desligar o farol e subir nele. Quase não acreditamos. Subimos e vimos o amanhecer lá de cima. Tomamos uma verdadeira aula de funcionamento do farol, seus equipamentos e demais atividades. Muita gratidão por esse momento inesperado. Pena que não foi possível assistir ao "por do sol matinal" (sic.Diogo) pois a nebulosidade não permitiu. Mas valeu muito, essas são coisas que acontecem na nossa vida e devemos lembrar eternamente. O sub-oficial Villarinho me deu até um par de tênis que ele usava para correr mas estava bem inteiro para eu completar a jornada calçado, visto que meu tênis não tinha mais como usar pois me machucava muito os pés. Essa foi a sorte, pois não sabíamos ainda o que estava por vir. Tomamos café, e partimos as 10:20h. Tínhamos em torno de 14km ainda pela frente e nosso ônibus era só as 16h na BR101. Uma barbada! Nem precisaríamos apressar o passo. O pessoal do Farol tem 4 cães, 1 fêmea (a mãe) e 3 filhos. Pensa nuns cachorros sem noção, meio selvagens e completamente destrambelhados. Parecem uma gangue, um mexe e os outros compram qualquer briga. Os 3 filhos sairam e foram junto nos acompanhando. Qualquer carro que chegasse perto eles avançavam, se atiravam na frente. Não sei como não foram atropelados. Seguimos para o sul mais 5km quando entramos na trilha do Talha Mar em direção à BR101, onde pegaríamos o ônibus das 16h. Pegaríamos, não fosse uma "cagadinha" de errar a trilha do Talha Mar um pouco depois de entrarmos nela. Caímos num brejo ladeando a lagoa e fomos se embretando cada vez mais procurando a estrada que não achávamos nunca. Depois de 2 horas caminhando paramos num banco de areia e almoçamos frutos do mar. Da marca Coqueiro. E de sobremesa frutas tropicais (1 banana). Aos cachorros eu dei umas bolachas folhadas. Eu atirava tipo disco-fly e eles pegavam no ar em sensacionais saltos e bocadas. Mas depois notamos que eles caçavam o tempo todo e até comeram uma lebre na nossa frente. Agora... pensa num lugar isolado. De repente, sabe-se lá de onde, saiu de trás das dunas de areia um homem dirigindo um veículo que realmente não sei como descreve-lo. Era tipo uma gaiola, misto de madeira, com algumas coisas penduradas e muito pouca lataria feita com algumas placas de sinalização. A capô era de uma placa parada de ônibus. Era algo entre uma tobata e uma carroça sem animais. O motor era tão barulhento (pópópopópópó) que os cães o xingaram até a 4a geração. Não sei porquê, veio lembranças de Mad Max. Veio direto e parou ao nosso lado. Apertei sua mão e pedi por informação se a estrada da Talha Mar estava perto ou ainda faltava muito. Ele apontou para o lado de onde viemos e disse "Tá vendo aqueles pinos? É lá que passa a estrada." Eu olhei para trás e não enxerguei pinos. Aliás não enxerguei qualquer árvore. Realmente não existia nada além de dunas e banhado. "Lá atrás!" - insistiu. Levantei a cabeça e enxerguei lá no horizonte uma fina faixa verde acima das dunas. A fina faixa verde no horizonte era uma área de pinus. E lá estava a estrada. Sabe desânimo? Desespero? Multiplique! Tínhamos que voltar tudo que caminhamos naquela área difícil até a estrada para daí retomar nosso curso. Isso era em torno de 14:10h. Perguntei se ele não podia nos dar uma carona e ele disse que não ia para aquele lado. "Eu vim só ver vocês aqui." Ligou a fubica, deu meia volta e sumiu se peidando todo pelo mesmo lado de onde apareceu. Se não fosse ele, seguiríamos adiante e nos perderíamos cada vez mais.INCRÍVEL. OK, você deve estar se perguntando porquê diabos não tiramos uma fotinho sequer desse personagem. Também nos perguntamos depois. Tiramos fotos até das formigas no caminho, mas deste importante personagem não nos lembramos de levantar a mão e dar um clique. Depois minha esposa deu uma versão que deve ser a mais plausível : "Não se pode tirar fotos de anjos". Hmm, all makes perfect sense. Bem, fizemos o que dava para fazer. Baixamos a cabeça e saímos a toda máquina caminhando de volta. Pior: o vento parou e levantou uma horda de mosquitos que nos acompanhavam caminhando e nos picavam com a ferocidade de um leão que não comia havia duas semanas. As duas horas de ida voltamos em 1h20min. Achamos a estrada era 15:30h e tínhamos 8km até a rodovia para pegar o onibus das 16h. No way. A esta hora eu simplesmente não estava mais aguentando de dores tremendas nos pés, panturrilha, coxas, quadris, costas, ombros e braços. O pescoço, os cabelos, sobrancelhas e unhas não doíam. Ainda. Ao chegar na placa de saída da reserva simplesmente não aguentei e me atirei na lateral da estrada. Os quadris começaram a doer de uma forma muito intensa. Então ouvimos o barulho de um caminhão que logo surgiu e parou ao nosso lado. Era uma caçamba de recolhimento de lixo do município. Tinha já 4 pessoas empoleiradas na cabine. Pararam e perguntaram se precisávamos de ajuda. Eu disse que se conseguissem uma carona até a rodovia seria de muito bom grado. Ele disse "olha, ali atrás tem lugar, mas tá cheio de lixo. Se não for incômodo...". Eu disse que não tinha problema, mas realmente não tinha condições de subir. Então eu e o Diogo subimos nas portas laterais e fomos pendurados pelos espelhos retrovisores. O rapaz que estava na cabine telefonou, não sei pra quem, e foi informado de que o ônibus que pensávamos ter perdido tinha atrasado sua saída de Tavares e ainda não tinha passado na federal. Nossa! O motorista puxou uma reduzida e meteu pé na táboa! Loucura! Eu estava todo quebrado, pendurado num caminhão de lixo a toda máquina, os cachorros correndo ao lado, o Diogo no outro lado rindo sem parar. Cara, coisa de louco. Até pensei em pegar a câmera, mas não tinha como, se soltasse o puta-merda caía. Ao chegarmos na rodovia, descemos e agradecemos a carona, mas realmente pensamos ter perdido o ônibus. Os cachorros, lembram que falei que eram totalmente "sem-noção"? Pois então, começaram a avançar nos carros que passavam na rodovia, por muito pouco não foram atropelados. Eles nunca tinham saído da beira do mar no farol, aquilo era uma aventura em outro planeta para eles. Uma alma bondosa guiando um gol vermelho parou e ofereceu carona. Quando o Diogo foi falar com ele o Ônibus apareceu e dispensamos a carona agradecendo. Acho que deu uns 2 minutos. Se tivéssemos atrasado mais 2 minutos não teríamos como voltar e dormiríamos na BR. Uma grande aventura. Agradeço a Deus, meus mentores, guias e protetores espirituais, a minha esposa que amo e permitiu que eu realizasse essa aventura, ao grande parceiro Diogo Rhoden e aos novo amigos Alexandre Villarinho e Paulo César da Marinha do Brasil, ao Tatú-Dog, aos cães sem noção, ao cara do veículo estranho no banhado. That´s All Folk´s ! Silvio Moser http://www.meusitefree.com.br Editado Fevereiro 6, 2017 por Visitante 5 Citar
Membros mcparadinha Postado Outubro 19, 2016 Membros Postado Outubro 19, 2016 Olá como é a praia de mostarda e Tavares sabe me dizer também se tem camping por aí, e o farol fica em cidade, belas fotos Citar
Membros silviomoser Postado Outubro 19, 2016 Autor Membros Postado Outubro 19, 2016 Bom dia. A praia fica a 14km da BR e da cidade de Mostardas, localidade "Balneário Mostardense". É um viliarejo, veja foto acima, que só tem gente no verão, saindo da temporada vira cidadezinha bem deserta, se tiver algum camping, só se for nesta localidade. Dali pro sul só costa deserta. Sobre o farol, veja na ultima foto do post, foi um mapa que tracei no g.earth. Fica mais 14km para o sul, local deserto, tem uma pequena vila de pescadores que se criou ao redor do farol. Sobre o farol, é uma área militar e proibido o acesso. Não espere entrar na área do farol, os militares que ficam por lá não são sempre os mesmos e a intrução que eles tem é de não deixar entrar. 2 Citar
Membros mcparadinha Postado Outubro 19, 2016 Membros Postado Outubro 19, 2016 Bem interessante, valeu Citar
Membros mochileiraencardida Postado Novembro 4, 2016 Membros Postado Novembro 4, 2016 "bah, coca-cola essa época do ano é dificil" Mano! Esse é o relato mais engraçado que eu já vi nesse fórum. To rindo sozinha aqui no trabalho. 1 Citar
Membros de Honra Sandro Postado Novembro 5, 2016 Membros de Honra Postado Novembro 5, 2016 Ótimo relato Silvio, que divertida aventura. Agora quando for para Porto Alegre terei que experimentar essa iguaria riograndense que é Pastelina. Citar
Membros silviomoser Postado Novembro 7, 2016 Autor Membros Postado Novembro 7, 2016 "bah, coca-cola essa época do ano é dificil" Mano! Esse é o relato mais engraçado que eu já vi nesse fórum. To rindo sozinha aqui no trabalho. É que aqui no Sul, não sei se já conheces nosso litoral, só tem vida entre novembro / abril. O resto do ano só falta aquelas bolas de feno sendo arrastadas pelo vento. rsrsrss abraço, 2 Citar
Membros silviomoser Postado Novembro 7, 2016 Autor Membros Postado Novembro 7, 2016 Ótimo relato Silvio, que divertida aventura. Agora quando for para Porto Alegre terei que experimentar essa iguaria riograndense que é Pastelina. Fala Sandrão! Cara, Pastelina é um salgadinho feito com farinha, agua e sal. E só. Um clássico. Tem as imitações, não caia nelas. rsrsrs Grande abraço. 1 Citar
Membros Diogo Rhoden Postado Janeiro 18, 2017 Membros Postado Janeiro 18, 2017 Essa aventura ficará para sempre na memória!!! Citar
Membros Iamlully Postado Janeiro 27, 2017 Membros Postado Janeiro 27, 2017 adorei o relato. será que os cães souberam voltar pro farol? eu queria ir pra Tavares, visitar a Lagoa do Peixe, é por ali né? Citar
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