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Como explicamos antes, vimos que estávamos pobres, sem Couchsurfing em Piriápolis, estava chovendo, meio tarde para ir para a estrada e, provavelmente, ninguém pararia para duas criaturas molhadas, então decidimos ver quanto era a passagem para Piria e a Ellen lembrou dos pesos argentinos e chilenos que tinha. Conseguimos trocar apenas os pesos argentinos, o que foi melhor que nada. Compramos as passagens por 128 pesos cada. Ainda não tínhamos ideia se íamos acampar, nem o que faríamos com tão pouco dinheiro, mas, pelo menos, tínhamos comida. Começávamos a perceber que íamos ter que entrar em uma administração de guerra e vender brigadeiro ou sei lá, porque faltava muito para chegar em Bariloche, onde pretendíamos parar para trabalhar. Estava chegando o momento que teríamos que aprender a viajar sem dinheiro.

 

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Cassy preparando nossos sanduíches de atum no terminal de ônibus

 

Bem, quando chegamos a Piria, ainda estava chovendo e, na chuva, fomos ao camping em frente ao terminal. Não vimos ninguém, totalmente deserto, fomos procurar os hostels que tínhamos visto na internet, também estavam fechados. Voltamos até o camping para procurar alguém e nos foi avisado que estava fechado também, mas, pelo menos, o dono informou que o camping AEBU estava aberto todo o ano e era o único lugar na cidade que estava aberto. Ficamos indignadas que nada funcionava na cidade na baixa temporada, mas, ainda na chuva, caminhamos uma dúzia de quadras e pensávamos que nunca chegaríamos, exaustas de carregar todas as tralhas. Chegamos, estava aberto e nos deram uma área coberta para montar a barraca. Lá, ficamos 3 noites e dois dias, durante os quais não fizemos muita coisa: cozinhamos pela primeira vez com nosso fogareiro, escutamos música, saímos para sacar dinheiro e, no terceiro dia, conhecemos Federico e Rodrigo, primos que estão no Couchsurfing e que não podiam nos hospedar, mas que nos convidaram a passar o dia com eles. Passamos quase o dia inteiro juntos, caminhamos, comemos bizcochos, jantamos macarrão, bebemos mate, os ensinamos a sambar, foi muito engraçado e divertido.

 

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Primeira refeição feita com o fogareiro: Purê e arroz com molho

 

Um pouquinho de Piria:

 

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No dia seguinte, arrumamos as coisas, comemos milanesas compradas em um mercadinho e fomos para a estrada, que começava dentro da cidade mesmo. Era dia de ir para Montevideo. O primeiro carro parou em menos de 10 minutos e nos levou até a entrada de Las Flores. Daí, mal tínhamos arrumado as mochilas no chão e tentávamos tirar uma foto, parou o Álvaro, que nos levou direto para a capital.

 

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Ao posar para a foto, o carro de Álvaro estava vindo e parou. ::hahaha::

 

Chegando lá, pegamos um táxi até o terminal de ônibus, onde conseguimos usar a internet para falar com Silvina, uruguaia que Ellen conheceu em Porto Alegre. Ela explicou como fazia para chegar na casa dela e fomos. Chegando lá, sua irmã e seu pai nos receberam e alojaram no quarto da Sil. Fomos muito bem recebidas, conversamos bastante e vimos televisão depois que a mãe da Sil chegou. Quando ela mesma chegou, eu, Ellen, senti que, depois de mais de um ano sem se ver, nao foi necessariamente esquisito, mas que, de alguma forma, éramos totalmente estranhas. Conversamos coisas triviais e pronto, já não tinha mais o que falar. Aí percebi que nossa amizade não era e não seria mais a mesma, e isso me decepcionou muito, visto que eu estava muito empolgada para vê-la de novo. Mas vida que segue. Uma hora, a gente aprende que algumas pessoas, por mais próximas que tenham sido, só estavam na sua vida de passagem. Viajar é uma das formas mais eficazes de constatar esse fato.

 

No dia seguinte, saímos logo cedo para ir à visita guiada grátis da Antel, de onde se tem vista panorâmica da cidade.

 

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Daí, fomos ao Palácio Legislativo, mas, além de ter que pagar, a visita guiada era à tarde.

 

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Seguimos, então, para o Mercado Agrícola, que é muito bonito, cheio de lojinhas, restaurantes, padarias e a loja da cervejaria Mastra, nosso principal objetivo de ter ido lá. Aí, pagamos $ 260 (pesos uruguaios) na degustação de cerveja artesanal deles. Valeu muito a pena. Vem 4 copos médios de cerveja e você pode escolher os tipos em meio a uma lista muito boa.

 

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Felizes, saímos de lá rumo ao centro visitar uns museus. Alguns estavam fechados, outros não existiam mais e outros eram legais. Acabamos indo só no Museo da Pedagogia, que mostra como a Reforma Vareliana mudou o ensino no Uruguai. Daí, fomos comer, mas acabamos gastando mais do que o esperado.

 

Como era:

 

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Como ficou:

 

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Depois, fomos atrás do Museo del Vino; estava fechado, pois era um bar. Na verdade, não sabemos como funciona. :P Daí, seguimos para casa, mas não sem antes parar em um carrito que vendia panchito muito barato e onde, obviamente, devíamos ter comido antes.

 

No terceiro dia, fomos na fábrica da cervejaria Davok. Para realizar essa visita, é só enviar um e-mail para eles e marcar um horário. Fizeram um pequeno tour grátis com a gente e, apesar de não ganharmos uma degustação, ganhamos várias dicas de cervejas e cervejarias na América Latina.

 

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Daí, fomos para a Plaza Independencia e para o Archivo da cidade, onde vimos umas exposições.

 

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O Palacio Salvo continua lindo

 

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Archivo Histórico

 

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Depois, caminhamos mais, comemos pão com chorizo, e fomos procurar o Unibar, que não estava aberto porque não eram nem 5 da tarde. Por coincidência, encontramos o Museo de Historia Natural.

 

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Quando saímos daí, vimos que o bar começou a abrir, então fomos a uma bizcochería ao lado passar o tempo. Depois de um tempo no bar e de duas cervejas, percebemos que não iria encher, então decidimos ir embora. No caminho até a parada de ônibus, vimos um protesto e corremos para ver o que era. Foi a melhor coisa que fizemos. Foi o primeiro protesto feminista que participamos e foi tão forte, mas tão forte. Seguido desse momento de êxtase, fomos para casa.

 

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Vítimas do feminicídio, que aumenta a cada ano no Uruguai

 

No nosso quarto dia, fomos para Pocitos andar um pouco frente à praia e tirar fotos no letreiro da cidade, que, apesar de já termos ido a Montevideo, ainda não conhecíamos.

 

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À noite, saímos com Silvina, que nos levou ao Bar Rodó. Daí, eu e Cassy seguimos para um irish pub, que estava muito legal, e para o Jackson Bar, lugar de festa latina, onde curtimos muito. Toda a área desses bares está a noite da cidade.

 

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Em nosso último dia, aproveitamos para descansar. ::otemo::

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Intendencia de Colonia

 

Para sair de Montevideo, pegamos um ônibus e, depois que descemos, andamos cerca de 5 km até um ponto onde decidimos pedir carona. Quinze minutos depois, Evan, de Río Branco, parou porque aquela era uma zona perigosa para caronar. Ele tinha o dia livre, é taxista e estava indo buscar a mãe em San José. Depois dele, às 14h30, quem nos deu carona foi o caminhoneiro Fabricio, que nos ajudou e deixou bem perto de Colonia del Sacramento. Cara muito gente boa.

 

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Fabricio

 

Às 15h50, Melina e Eliana, nossa segunda carona feminina, pararam, nos ajudaram e nos levaram até Colonia. Daí, seguimos para o Hostel Sur, onde ficamos 2 dias por não ter conseguido couch. Até foi bom porque, depois de duas experiências complicadas com famílias, podíamos, finalmente, nos sentir confortáveis.

 

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No primeiro dia lá, como chegamos perto do fim de tarde, não fizemos muito, só sacamos dinheiro e fomos ao mercado. No dia seguinte, fizemos brigadeiro e saímos para vender enquanto caminhávamos zonas históricas e não históricas da cidade. Descobrimos que não temos espírito de vendedoras e nem cara de pau, mas até que nos saímos bem para a primeira vez. ahahhah.. Vimos o por do sol comendo os 4 que não conseguimos vender. ::tchann::

 

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No outro dia, era hora de ir para a estrada novamente. Caminhamos até a ruta e três cachorros nos seguiram e não nos largaram mais. Depois de um tempão esperando alguém parar, começamos a caminhar, e Álvaro parou sem a gente fazer sinal. Eram 14h15. Ele nos levou por 10 km na Ruta 21 para que nos afastássemos mais da entrada da cidade. Às 16h15, outro moço parou. Ellen foi na caçamba, e Cassy dentro do carro conversando com ele.

 

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á perto de Carmelo, mas quase fim de tarde, pedimos carona mais uma vez já olhando ao redor onde podíamos colocar a barraca. Depois de um tempo, Jose parou e nos levou até a cidade. Conversamos bastante, ele perguntou onde ficaríamos, e eu disse que não sabíamos muito bem, mas que talvez acampássemos na Playa Seré. Ele, então, disse que faria um tour com a gente e que, se quiséssemos, no fim, podíamos ficar na casa que ele tinha há 3 km ou acampar na praia. Ao fim, mesmo ficando com o pé atrás, óbvio que aceitamos ficar numa casa quentinha do que na praia no frio, mas não imaginávamos que a casa fosse tão bonita e ótima. Na verdade, era tipo uma casa-restaurante, no campo, com piscina e tudo, mas não era tão longe da cidade. Ele não morava lá. Em seguida que chegamos, ele foi trabalhar, e nós ficamos cozinhando e tomamos nosso merecido banho. Ele logo voltou com um amigo, cozinharam frango, vimos o jogo do Brasil (estava rolando os Jogos Panamericanos) e eles se foram, deixando a casa só pra nós. Antes de sair e depois de um monte de perguntas acerca da nossa viagem sem muita grana e de carona, o amigo de Jose nos deu dinheiro para nos ajudar a seguir e que foi muito útil no dia seguinte. Confessamos que, em todo momento, por sermos mulheres, estávamos com o pé atrás e não dormimos muito bem imaginando que eles podiam voltar ou qualquer pessoa podia aparecer no meio da noite e nos atacar porque a casa ficava no meio do nada.. ahahhah… Mas nada aconteceu, acordamos aliviadas e com mais fé na bondade das pessoas. A estrada é mesmo imprevisível, não só por chegar em um lugar sem teto e conseguir um lugar quentinho, com um quarto só para nós, mas também porque, nessa noite, depois de muito esperar por respostas positivas de alojamento no norte do Uruguai, decidimos que desistiríamos e seguiríamos para a Argentina.

 

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Vista desde a casa

 

Às 13h do outro dia, Jose nos levou até a ruta para pedirmos carona para Mercedes.

 

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Jose

 

Ficamos lá mais de 2h e nada, ninguém parava. Foi quando decidimos voltar até a parada mais próxima e esperar o bus para lá. Ônibus tomado, na rodoviária de Mercedes, compramos passagem para Gualeguaychú, já na Argentina. O bus sairia às 6h30, portanto, passamos a noite no terminal, Cassy dormindo e a Ellen vendo filmes. Nisso, antes de dormir, Cassy fez um pedido de couch para o Nacho. De madrugada, já tínhamos uma resposta positiva. Era a Argentina nos dando as boas-vindas.

  • 3 semanas depois...
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Atravessando a fronteira Uru-Arg

 

Pegamos o bus para Gualeguaychú, paramos no terminal, mas não sabíamos o endereço da casa do Nacho (nosso host do couchsurfing) e também não tínhamos dinheiro argentino. Começamos a caminhar até o centro da cidade, lá ia ter internet e cambio, assim pensávamos. Depois de passar por todas as ruas principais e não principais, entrando em bancos e lojas que não nos ajudaram em nada, conseguimos trocar o dinheiro e entrar em contato com o Nacho. Com o endereço na mão, paramos em um café porque a fome já estava batendo depois de ficar zanzando e se estressando naquela cidade.

 

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Enfim, conhecemos nosso host, que nos recebeu muito bem e nos fez sentir muito confortáveis. Logo nos convidou para um show que iria com os amigos à noite, que prontamente aceitamos. Comemos, descansamos e, mais tarde, fomos com ele para a casa de sua amiga Tina. Lá, conhecemos também Luchi, Macarena, Santiago, Mati, Matute e um amigo que não lembramos o nome. Jantamos pizza, assistimos o jogo da Argentina e, depois, fomos para o bar La Cantina ver o show da banda Invasión Ska, que é muito boa! Quando terminou, fomos para o segundo andar. Lá, conhecemos Sabina, Gonzalo e Juanma, pessoas muito divertidas que nos convidaram para um after party de música eletrônica. Aceitamos, foi legal, mas não ficamos muito tempo.

 

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No dia seguinte, pela tarde, íamos com o Nacho e Matute para o parque, mas como tínhamos combinado com a Sabina de ir a um seminário de samba, os guris ficaram esperando.

 

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Quando voltamos, como estava tarde acabamos não indo ao parque, e logo outros amigos chegaram com os instrumentos. Tocaram vários tipos de música por horas, daí decidiram fazer uma festa e convidaram outras pessoas, mas só o pessoal da noite anterior apareceu, o que não foi problema algum porque onde eles estão sempre tem festa. Cantamos karaokê, improvisamos rap (nós bem mal), comemos, tomamos bastante ceva e, depois, a maioria de nós foi para uma festa na Zero. Estava muito boa!

 

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Ao acordarmos, já era mega tarde. Fomos pro parque com o Nacho, Mati e Matute. O dia estava lindo, com sol.

 

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Na volta pra casa, enquanto tentávamos achar couch no Paraná, Nacho e Matute estavam jogando videogame, e Mati e Santi estavam tocando. Logo, decidiram ir para a casa de Tina. Era a nossa despedida. Santi cozinhou para todos uma comida muito gostosa. Durante o jantar, muitos sentimentos se misturavam porque a Argentina nos recepcionou com dias intensos, mas o que importava eram aquelas pessoas ali, lindas, compartilhando momentos com a gente, nos tornando parte daquela família de amigos, se despedindo carinhosamente. A saudade já começava a apertar, mas é sempre necessário seguir viagem.

 

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  • 10 meses depois...

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