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Travessia Petrópolis – Teresópolis – Rio de Janeiro

17/08/16 à 19/08/16

 

 

A travessia entre a cidade de Petrópolis e Teresópolis no RJ é considerada uma das trilhas mais bonitas do Brasil e não é a toa, apesar do esforço físico exigido em todos os dias, o viajante se depara com paisagens fantásticas a todo instante.

A travessia geralmente é feita em 3 dias, cujo percurso total é de aproximadamente 30km.

 

1º DIA:

O primeiro dia sem dúvida é o mais longo e exaustivo. Logo após o credenciamento na entrada do Parque Nacional Serra dos Órgãos (PARNASO) em Petrópolis, o viajante já começa uma subida que parece não ter mais fim.

 

Iniciamos o primeiro dia de trilha exatamente às 10 h devido aos trâmites burocráticos na entrada do parque. No total percorremos 9km em aproximadamente 5h, realizando uma subida total de 1.210 m de altura a partir do ponto inicial, até chegarmos ao primeiro acampamento no Castelo Açu.

 

O fator crucial do desgaste do primeiro dia é a grande quantidade de peso que o viajante leva na mochila, pois todo equipamento e comida para os 3 dias de travessia devem está perfeitamente acomodados nas cargueiras. Outro ponto que merece destaque é a enorme subida durante toda a trilha que marca esse dia.

 

A chegada ao castelo Açu (local do primeiro acampamento) é um momento quase que indescritível, tanto pelo grande esforço físico para se chegar ao local em razão das subidas, quanto pela vista incrível do local (1.210 m de altura).

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Lá há uma pequena cabana como ponto de apoio que dispõe de banheiros, uma pequena cozinha e um bivak, espécie de quarto comunitário. Tudo é pago. Para se ter uma ideia, um banho quente de 5 minutos custa R$ 20,00, a utilização do quarto comunitário custa R$ 30,00 reais e assim por diante.

 

Desde o início optamos em ficar acampados, para tanto, levamos barracas, saco de dormir e isolantes térmicos, além de todo material para preparar as refeições, tudo visando baratear os custos. Na cabana do primeiro acampamento optamos em tomar um banho quente de 5 minutos que nos custou R$ 20,00 reais. Como a água é escassa e a energia é solar o tempo do banho é rigorosamente controlado pelo guarda do parque responsável pelo primeiro acampamento.

 

Após a refeição (macarrão com salsicha e ovos cozidos), fomos dormir para acordar cedo no dia seguinte e contemplar o nascer do sol da parte mais alta do Castelo Açu.

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Como já era de se imaginar a visão do alto do Castelo Açu ao nascer do sol é incrível. Lá de cima é possível avistar toda serra dos órgãos, inclusive o Dedo de Deus, montanha muito conhecida localizada na entrada da cidade de Teresópolis/RJ.

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Todas as montanhas da Serra Dos órgãos são praticamente mais baixas do que o Castelo Açu, salvo a pedra do Sino, ponto mais alto de toda travessia e local do segundo acampamento.

 

 

2º Dia:

Após o nascer do sol e as várias fotos que tiramos de cima do Castelo Açu, nos preparamos para o segundo dia de trilha. Saímos do acampamento por volta das 7:45h em direção a pedra do Sino. De todos os grupos que estavam realizando a travessia fomos os últimos a sair do primeiro acampamento em razão de também sermos o único grupo a subir no Castelo Açu ao amanhecer.

 

O trekking do 2º dia foi relativamente menos cansativo do que o primeiro, apesar de que nesse segundo dia nos deparamos com alguns trechos de descidas em paredões de pedra bem acentuadas, subidas consideravelmente longas e por fim, já no final da trilha os 3 trechos mais técnicos (elevador, mergulho e cavalinho).

 

Apesar do nosso grupo ter sido o ultimo a sair da primeiro acampamento, conseguimos alcançar os outros grupos após 1h de trilha. Infelizmente alcançamos um dos grupos logo no primeiro obstáculo (elevador), digo infelizmente pois, tivemos que esperar aproximadamente 20 minutos até que a ultima integrante desse grupo pudesse superar seus medos e ultrapassar esse obstáculo. Esse fato inevitavelmente quebrou nosso ritmo de caminhada.

 

O primeiro obstáculo mais relevante do segundo dia é o “elevador” que nada mais é do que uma subida em uma pedra de inclinação considerável, por isso, há nesse local alguns vergalhões de ferro encravados na pedra para auxiliar o viajante, contudo, a situação desses vergalhões é bem precária em alguns pontos. Alguns já não existem mais e outros estão quase se soltando da pedra. De qualquer forma a subida pode ser feita sem maiores dificuldades, bastando o trilheiro utilizar técnicas básicas de escalada e confiar na própria bota.

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Após ultrapassarem o primeiro obstáculo, os demais grupos fizeram uma pausa para descanso e almoço tendo em vista o decorrer da hora. Nesse momento aproveitamos para alcançar e passar na frente de todos já que adotamos a estratégia de fazer pequenas refeições durante a trilha e deixar para fazer a refeição principal no acampamento.

 

Essa estratégia foi fundamental no segundo dia já que pela frente ainda teríamos 2 outros obstáculos que certamente seriam mais técnicos que o primeiro e fatalmente teríamos que ficar esperando muito tempo até que os grupos a nossa frente ultrapassassem esses obstáculos.

 

O segundo obstáculo aparece após 1h de caminhada do primeiro e é denominado de “mergulho” já que para continuar na trilha é necessário descer por uma fenda entre duas rochas. Nesse ponto em especial há grampos de segurança nas pedras onde o viajante deve, por questão de segurança e bom senso, utilizar uma corda para realizar a descida em segurança. Levamos uma corda de aproximadamente 10 m que foi suficiente para nossa equipe superar esse obstáculo em segurança e sem maiores dificuldades.

 

O ultimo obstáculo e, na minha modesta opinião, o mais técnico de todos aparece logo após o mergulho, aproximadamente 30 minutos de caminhada e é conhecido como “cavalinho”. O cavalinho é uma pequena escalada que o trilheiro tem que fazer por cima de uma pedra que caiu no meio da trilha. Acontece que o caminho até essa pedra é bem estreito, sendo de um lado um abismo e do outro a parede da montanha. Fui o primeiro do grupo a subir com a corda para assessorar os demais da equipe e somente no momento de passar pela pedra caída é que descobri o real motivo do nome “cavalinho”. Nessa pedra necessariamente o viajante, após uma pequena escalada, tem que passar a perna por cima da pedra como se estivesse montando a cavalo. O medo de alguns integrantes do nosso grupo foi evidente em razão do lado esquerdo ser um penhasco muito alto, ou seja, não há zona de escape. Por precaução passamos todas as mochilas cargueiras primeiro para que todos pudessem subir sem peso e consequentemente com mais segurança.

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Logo após o cavalinho há uma segunda passagem que exige igualmente um pouco de técnica básica de escalada. Alguns chamam esse segundo trecho de cavalinho 2 e se assemelha muito com o primeiro obstáculo.

Após 20 minutos de caminhada do cavalinho 2 chegamos a base de uma enorme parede de pedra. Nessa parede há uma escada de ferro bem longa que é utilizada para se chegar ao topo.

 

Ultrapassando a escada ainda andamos aproximadamente 30 minutos até chegar ao acampamento do segundo dia, conhecido como acampamento nº 4. Essa cabana tem esse nome já que antigamente haviam outros 3 acampamentos. Hoje em dia, dois deles foram desativados havendo apenas o acampamento no castelo açu e esse na pedra do sino.

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A cabana do acampamento 4 (Pedra do Sino) é bem mais estruturada que a primeira e também oferece aos viajantes banho quente a R$ 20,00 reais e locação de barracas (Super Esquilo Nautika) por R$ 38,00. Como já estávamos levando as nossas barracas, escolhemos um local próximo a cabana para acamparmos e prepararmos nossa refeição do dia.

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No final da tarde subimos a pedra do sino, ponto mais alto de toda travessia (aproximadamente 2.250m de altura) para contemplarmos o por do sol. O vento lá de cima é absurdamente forte e como estávamos no inverno também estava bem frio. A visão lá do alto é fantástica. Por conta da altura, todas as nuvens estão abaixo da pedra do sino e a sensação é de estar literalmente voando. Com o anoitecer a temperatura caiu rapidamente para cerca de uns 10º e por causa das fortes rajadas de vento a sensação térmica certamente era próxima a 0º.

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3º dia:

Nosso ultimo dia começou as 5:40h da manhã quando acordamos para ver o sol nascer do do alto da Pedra da Baleia que também ficava bem próximo ao acampamento nº 4. Essa madrugada sem dúvida foi a mais fria de todas (aproximadamente 5º) e como já era de se esperar o vento não deu trégua em nenhum momento, fazendo a sensação térmica despencar ainda mais. De qualquer forma, quando o sol apontou no horizonte, foi certamente uma das cenas mais incríveis de toda a travessia. Como dizia o André, um dos integrantes do nosso grupo: “O céu estava policromático, com tons indescritíveis”.

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Após presenciar essa maravilha, retornamos ao acampamento e iniciamos a desmontagem das barracas e tomamos um café da manhã com tudo que havia sobrado de comida, objetivando levar a menor quantidade de peso possível no último dia. Durante o café da manhã observamos o mapa no GPS e constatamos que a trilha seria bem fácil, apenas com descidas cuja estimativa de tempo seria entre 4 e 5 horas de caminhada.

 

Iniciamos a trilha do último dia bem tarde, por volta das 09:42 h e como já tínhamos verificado nos mapas e cartas topográficas do GPS, a trilha inteira era de descida. Contudo, em determinado ponto, verifiquei no GPS que havia um desvio, uma espécie de “trilha alternativa” que cortaria boa parte do trajeto original que deveríamos fazer. Nessa hora reuni o grupo, pois tínhamos que tomar uma importante decisão: Expliquei a todos sobre a trilha alternativa que nos economizaria algo em torno de 5-6 km, porém, as pilhas do GPS estavam no final e seria muito provável que não durasse até o final daquele dia, ou seja, havia uma enorme chance não termos como consultar o GPS caso necessário.

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Após analisarmos os riscos a decisão do grupo foi unânime no sentido de que deveríamos seguir a trilha alternativa por duas razões: primeiro por economizar uma boa parte do percurso, poupando nossos corpos que já estavam exaustos após 2 longos dias de caminhadas, e segundo, literalmente em nome do espírito de aventura do grupo que estavam dispostos a conhecer novos caminhos mesmo que houvesse alguns riscos.

 

Pois bem, saímos da trilha original e entramos em uma trilha bem mais fechada cuja inclinação de descida era bem mais acentuada, o terreno era completamente instável com vários pontos soltos e escorregadios e sem nenhuma área de escape. Pelo senso de direção que nosso grupo tinha, sabíamos que a direção estava correta e mesmo diante de vários obstáculos no caminho, após 1 h conseguimos enfim chegar ao encontro novamente da trilha original. Continuamos pela trilha padrão e a medida que fomos chegando próximo a cidade de Teresópolis/RJ fomos passando por várias pessoas que faziam trilhas menores na região.

 

De fato, o último dia é praticamente um passeio no bosque, a trilha original é aberta, bem delimitada e quase que na totalidade coberta pela copa das árvores, fato que deixa a caminhada bem mais agradável em relação ao sol, fator de extremo desgaste nos dois primeiros dias.

 

Chegamos enfim à sede do Parque Nacional Serra dos Órgão na cidade de Teresópolis/RJ às 12:42 h, ou seja, exatamente 3 h após a saída do último acampamento, o que foi uma surpresa para outros montanhistas que também estavam no mesmo acampamento e tinham saído muito antes do nosso grupo. A média de tempo dos demais grupos foi de 4-5h de trilha, enquanto a nosso foi de apenas 3h graças a ousadia do nosso grupo em seguir pela trilha alternativa, economizando alguns quilômetros e horas de caminhada.

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