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TRAVESSIA LAGAMAR: Cananeia-SP à Paranaguá-PR - Pai e filha pela vastidão dos mares do sul.


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DSC03729.JPG.bf7e32ade6d74ebe8ccacf4d7055aec5.JPGTRAVESSIA LAGAMAR: De Cananéia-SP à Paranaguá-PR

 

....................... Ela vai à frente. Cabelos coloridos ao vento. Desfila feito um cisne e os passos são firmes e decididos, mesmo com os pés carcomidos pela areia da praia. Quando partimos a quase três dias atrás, eu tinha minhas dúvidas se ela chegaria ao fim dos quase 60 km de caminhada, mas não só chegou, como pulverizou minhas desconfianças. Às vezes ameaça correr como quem vai agarrar as garças e outros pássaros que bicam uns olhos de uns peixes à beira mar. Atrás vou eu, já homem de meia idade, 46 anos, dor nas costas por carregar uma mochila abarrotada de tranqueiras de acampamento. Contento-me em olhar minha filha de 15 anos esbanjar energia e vitalidade, ela sou eu, eu sou ela, somos um só e me alegro porque nela meus passos continuarão a palmilhar por lugares tão encantadores como estes, porque, até que se prove o contrário, os país renascem nos filhos e se isso for mesmo verdade, através dela minha jornada está longe de terminar.......................

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Muitos anos atrás, sozinho, cruzei pela parte norte da Ilha do Cardoso. Me deslumbrei com uma paisagem incrível, passei por praias desertas, atravessei rios, comunidades caiçaras isoladas, atravessei grandes costões rochosos, onde a maré alta me fez escalar grandes paredões açoitados por ondas gigantes e chegando à Marujá, uma povoado perdido num fim de mundo ilhéu, sem energia elétrica, carros ou qualquer outra modernidade, prometi para mim mesmo voltar lá um dia para terminar o resto da ilha paulista e emendar a grande caminhada pelo LAGAMAR, como é conhecida toda aquela região de ilhas, mangues , golfinhos, tartarugas, restingas, dunas, ilhas selvagens e povoados isolados. Acontece que o tempo foi passando e sempre uma desculpa nova era dada para deixar essa clássica travessia de lado. Além de ser um dos maiores berçários de vida marinha de todo o planeta, ainda foi tombada como Patrimônio Natural da Humanidade e considerada um dos melhores roteiros de ecoturismo do mundo. Mas mesmo com essa pompa toda, essa grande travessia nunca foi popular no trekking do Brasil, coisa que ainda não consegui entender o porquê, talvez pela grande dificuldade de acesso, com uma logística extremamente difícil e um percurso não tão curto assim, sendo preciso suar por mais de 60 km de praias isoladas num fim de mundo perdido na dívida do litoral de São Paulo com o Paraná, tanto que é mais fácil ver ciclistas cruzando pelas grandes praias do que gente com mochila nas costas. Mas chega um dia que é preciso retirar velhos planos da gaveta e colocá-los em prática, ainda mais quando minha filha de 15 anos me encostou-se à parede exigindo que eu a levasse para uma grande travessia e aí não tive dúvidas, jogamos as mochilas às costas e fomos nos perder pela vastidão dos mares do sul.

 

Nosso ônibus para Cananéia partiu da capital paulista somente às 14:30 de uma véspera de feriado da Inconfidência e só foi possível partir nesse único horário vespertino, porque consegui uma folga do trabalho e foi uma grande sorte mesmo conseguir um lugar, porque o outro horário somente às nove da manhã, dois horários ingratos que vão nos mostrando porque o Lagamar tem ficado de fora dos roteiros dos paulistas. Antes das nove da noite nosso transporte encosta junto a um grande terreno, onde a maioria que desce, vai mesmo atravessar a balsa para a Ilha Comprida a fim de participarem de um congresso circense e eu, a Julia e outro turista, somos os únicos que iremos nos dirigir para a distante Vila de Marujá, na Ilha do Cardoso, mas isso somente na manhã do outro dia porque a noite não existem barcos para a distante ilha. Então eu e a Julia nos juntamos ao Heitor e fomos tentar achar um camping e não encontrando nada, nos contentamos com um quartinho num muquifo qualquer ali perto de onde o nosso ônibus parou e sem perder tempo, fomos comer um lanche no conhecidíssimo bar do Rauzito de Cananéia. Aliás, Cananéia para quem não sabe é considerada a primeira cidade funda no Brasil (1.531), cinco meses antes de São Vicente, uma polêmica histórica que ainda perdura até hoje e fica a 265 km da capital, tento um lindo centro histórico e com uma população em torno de 12 mil habitantes.

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Na manhã seguinte, pouco depois que o sol nasceu, fomos perambular pelo caís na tentativa de conseguirmos um barco que nos leve para a Ilha do Cardoso, mais precisamente para a capital da ilha, no povoado de Marujá. Descobrimos que o barco público sairia depois das oito, mas não demora muito, alguém nos oferece uma vaga em uma "voadeira", como são conhecidas as lanchas rápidas que fazem essa travessia e como o preço proposto não ficava muito acima do que pagaríamos pelo barco popular, aceitamos a oferta, ainda mais sabendo que a voadeira gasta apenas 1 hora de viagem, enquanto o barco comum pode levar até umas 3 horas de navegação. Nesta pequena lancha nos faz companhia, uma família que não está indo para Marujá e sim para Ariri, outro povoado perto de Marujá, mas não na ilha e sim num povoado esparramado à beira do canal. Conforme a lancha vai de enfiando nos canais, em meio ao mangue, nos sentimos com quem navega no meio da floresta Amazônica, já que o canal interior é tão calmo que mais parece um grande rio. Hora ou outra é possível avistar o dorso de um golfinho, na verdade são botos cinza que aqui no estuário se adaptam muito bem, tendo como companhia guarás e outras infinidades de aves como o xauá ou papagaio de cara rocha, além do jacaré de papo amarelo e outra infinidade de animais. É uma viagem mesmo encantadora, diria que é uma viagem de sonhos em se tratando de natureza e é difícil passar incólume por uma paisagem daquelas. Nem vimos a viagem passar e uma hora depois a lancha encosta em um pequeno trapiche em Marujá. O povoado parecia uma vila fantasma, e nos surpreendeu todo aquele abandono em se tratando de um feriado prolongado. É verdade que descemos em um píer secundário, mas mesmo o principal se encontrava igualmente vazio e abandonado. Energia somente de painéis solares e alguns poucos geradores. Existem alguns campings no povoado e também algumas pousadas e aluguéis de quartos, mas na maioria tudo simples, em casas sem cercas e com grandes gramados. Nesta parte onde está o vilarejo, a ilha é estreita e pertence a um Parque Estadual, de um lado o canal interior e do outro lado, a grande praia em mar aberto, sendo que as casas da vila se esparramam ao lado do canal, onde o mar é calmo e de fácil navegação.

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Sem perder muito tempo, antes das nove da manhã, jogamos nossas mochilas nas costas e partimos e como o Heitor ainda não conhecia a ilha, resolveu nos acompanhar na caminhada por algum tempo. Poderíamos termos pego uma trilha e em cinco minutos atingiríamos logo a praia, mas preferimos ao invés disto, seguir para a direita, caminhando pela grande trilha interior, entre o canal e a praia. A trilha, na sua maioria sombreada, vai cortando o povoado ao meio, passando por casas de pescadores e alguns campings, onde em um deles aproveitamos para encher nossos cantis, no caso, meu e da Julia, dois litros por pessoas, já que teremos mais de 15 km para enfrentar até o final do dia, sem saber se poderemos encontrar o precioso liquido pelo caminho. Não demora muito e as casas do minúsculo povoado ficam para trás, a trilha passa por um túnel de arbustos mais alto e vira definitivamente para a esquerda, passa por dentro de umas pequenas dunas e restingas e desemboca na grande praia da Ilha do Cardoso, um mundo sem fim se descortina à nossa frente, num mar aberto e tranquilo, chegamos a vastidão dos mares do Sul, do qual faremos de casa pelos próximos dias.

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Nossos primeiros passos servem para irmos estudando o terreno, vendo qual o melhor caminho a tomar, analisando a consistência da areia e logo notamos que andar perto da arrebentação, onde a areia era compacta, seria o tom dado naquela travessia. Eu ainda prefiro continuar caminhando de bota, mas minha filha faz companhia ao Heitor e se joga para dentro do chinelo para poder ir sentindo a água do mar, que surpreendentemente está quente. O Heitor resolve continuar caminhando conosco e eu até tento persuadi-lo a nos acompanhar até o próximo povoado, mas parece claro que ele não iria muito longe não. Estava com uma mochilinha pequena, com uma barraca amarrada do lado de fora, meio que um hip que caiu do caminhão de mudança. Como as distâncias são intermináveis e praticamente não se consegue ver o fim no horizonte, afinal de contas é uma praia de mais de 16 km que temos de vencer nesse primeiro dia, procuramos na paisagem algo que nos distraia a mente e nos alegre a alma e como primeiro objetivo nos guiamos por um arbusto solitário e isolado sobre a restinga. Faz um calor que a muitos anos não se via num dia de outono, no céu não há uma nuvem se quer. Mas antes mesmo de atingirmos nosso objetivo, avistamos uma família de pescadores à frente e esse acabou por se tornar nosso novo alvo. A Julia vai se encantando com as bolachas do mar e as águas vivas se espalham pela areia da praia. Outra coisa que acaba por chamar a atenção é a quantidade de coisas que acabam trazidas à praia pela maré e como esse paraíso é deserto, não há ninguém para limpar. Às onze da manhã nos encontramos com os pescadores, que vieram de um povoado do outro lado do canal apenas para coletar um pouco de corruptos, uma espécie de crustáceo que se esconde na areia da praia e é capturado com uma bomba manual que suga o bicho do buraco. Minha filha fica encantada com o bichinho, mas eu nem tanto, porque foi a mim que ele escolheu para enfiar suas garras e abrir um buraco no meu dedo. (Desgraçado dos infernos.........rsrrsrsr)

 

Aproveitando a parada para uma boa conversa com a família de pescadores, resolvemos nos enfiar de vez na água e inaugurar nossos mergulhos no mar. Como eu disse, a água estava espetacularmente quente, com uma transparência incrível já que as águas dessa região costumam ser um pouco mais escuras por causas dos rios que vem dos mangues. O mar é um pouco violento, com ondas altas e é preciso ficar atento às corretes, mas mesmo assim foi um grande prazer nos jogar naquele marzão sem fim, onde apenas nós três reinávamos soberanos naquelas praias, já que até a família de pescadores já haviam tomado seu rumo e se perdido no meio da restinga, de volta para o mundo de sonho deles. Já é mais do que sabido que eu odeio praias lotadas e estar ali naquele lugar me traz uma satisfação indescritível, mas nós não viemos para pregar a bunda na areia da praia não, temos dezenas de km pela frente e não podemos nos demorar por ali, então botamos novamente a mochila às costas e partimos para mais uma pernada. Mas o sol estava mesmo queimando tudo e não deu nem mais uma hora de caminhada e novamente pinchamos as mochilas na areia e corremos para o mar, quando digo corremos, me refiro a mim e a Julia, porque o Heitor aproveitou um barranco de uma duna para se esconder na sombra e tirar uma soneca. Quando voltamos do mar, ele acordou e foi se banhar e esse seria o último mergulho dele em nossa companhia, porque logo quando voltou também apanhou sua mochila, se despediu da gente e foi se perder de volta na imensidão da praia, tomou o caminho de volta para Marujá e até então, essa foi a última vez que ouvimos falar nele, do mesmo jeito que apareceu no nosso caminho, desapareceu para sempre.

 

Agora éramos somente eu e a Julia e antes de retomarmos a caminhada, subi numa pequena duna e avistei ao longe, no meio da restinga, o telhado de uma casa e não demorou muito localizamos a entrada da habitação. Entrada marcada por uma construção de madeira, tipo um observatório de uns 3 metros de altura, onde subimos para tentar aumentar o nosso horizonte. Nada conseguimos enxergar, então resolvemos pegar o caminho que ia em direção a tal casa. É um caminho que se enfia restinga à dentro porque todas as habitações desta caminhada, sempre ficam distantes do mar, mais encostada ao canal interior, onde existe um excelente abrigo para os barquinhos dos pescadores. Nossa intenção era adentrarmos no povoado da ENSEADA DA BALEIA para podermos preparar um almoço, já que fazia mais de uma hora que o dia havia passado da sua metade. Chegamos até a casa e fomos informados que ali não era a Enseada da Baleia e antes de voltarmos para areia da praia, não resistimos e apanhamos uma mão de minúsculos peixes que secava ao sol, esparramado em uma lona jogada ao chão. Mais vinte minutos de caminhada nos levou ao tal povoado que procurávamos. Meia dúzia de casas esparramadas entre o Canal interno e a grande praia. Aliás, esse é um povoado fadado a desaparecer do mapa com o tempo porque o canal já está quase se juntando ao mar e segundo me relataram os pescadores, é possível que toda a ponta final da Ilha do Cardoso um dia acabe virando terras paranaenses, mudando toda a geografia do lugar. Na Enseada da Baleia, conseguimos uns 3 litros de água para preparar nosso almoço e enquanto o rango cozinhava, aproveitamos o tempo para um grande mergulho no canal interior, já que o calor não arrefecia de jeito nenhum e o lugar é realmente muito bonito, com dunas altas espalhadas à beira da água. O povoado é um silêncio só, na verdade não passa de um fim de mundo isolado da civilização, pontilhado por algumas grandes árvores, meia dúzia de casas e um barracão que serve de apoio aos pescadores e abriga uma pequena escola que nem sei se funciona mais. Despedimos-nos da gentil família que nos deu guarida e tomamos novamente o rumo da grande praia, confiando na informação dos nativos de que não estaria longe o nosso próximo paradeiro.

 

Pés na areia novamente, agora nosso objetivo era chegarmos ao fim do mundo paulista, a última terra ao sul do Estado de São Paulo. Gaivotas e urubus marcam o caminho, se alimentando dos peixes porco que acabam encalhando com a maré alta. No horizonte um grande trambolho se descortina e esse será nosso próximo alvo. Desviando nosso olhar mais para oeste é possível ver uma grande cadeia de montanhas coberta de florestas a perder de vista. Como a tarde já se anunciava, tratamos logo de apertar o passo e como o calor não diminuía, ao chegarmos no tal trambolho, que na realidade não passava de uma boia marítima totalmente corroída pelo tempo, resolvemos dar uma descansada em sua sombra, onde acabamos caindo no sono e só fomos acordados meia hora depois porque um siri safado resolveu morder o pé da Julia, que já acordou pensando que eu estava sacaneando ela. Mas o sirizinho nos fez um favor porque cansados do jeito que estávamos, era capaz de dormirmos a tarde toda. Levantamos-nos então para o estirão final, só tínhamos olhos para o final da ilha, onde deveríamos encontrar o próximo povoado onde pretendíamos passar a noite. Pouco depois das quatro da tarde passamos por um rancho que servia de proteção para um barco, mas ao adentramos a trilha, não vimos ninguém no casebre. Seguimos enfrente nos atentando para uma grande antena de rádio, mas ao vermos que a antena estava distante da praia, acabamos passando reto no que deveria ser a entrada do povoado. Agora hipnotizados pela foz do canal que divide os dois Estados e loucos para ver o que havia no fim da ilha, apertamos o passo de vez e quando o final chegou, largamos nossas mochilas ao chão e corremos para pisarmos no último palmo de terras ao sul do Estado, estávamos no PONTAL DO LESTE.

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No final das terras Paulistas, que não passa de areia coberta pela vegetação rasteira da restinga, uma grande árvore isolada marca o extremo fim. As águas do canal são calmas, mas com certa correnteza, onde alguns bancos de areia se espalham pelo seu meio. Ao chegarmos nessa ponta de areia não poderíamos ter feito outra coisa senão apoiarmos nossa câmera em um tronco caído ao chão e corrermos para o último palmo de terra para uma foto geográfica do lugar. Registramos nossa passagem e sem demora já partimos, mas não para frente e sim dando a volta, atravessando todo o estado de São Paulo no seu percurso mais curto, que aqui não passa de uma dezena de metros. Caminhamos agora nas praias internas do canal e realmente é um lugar de encantos. Mais à frente uma tradicional canoa caiçara encosta na areia, tornando aquele cenário encantador. Perguntamos para o caiçara se era possível atravessarmos para o outro lado, para o vilarejo de Barra do Ararapira, já em terras Paranaenses, mas ainda à beira do canal. O caiçara nos responde que se nossa intenção é continuar caminhando pelas praias a partir de Ararapira, melhor que tiremos nosso cavalo da chuva porque a antiga trilha não existe mais a muito tempo, foi totalmente interditada pelos galhos de árvores jogados pela maré. Diante da notícia desanimadora, decidimos dormir mesmo no povoado de Pontal do Leste e no outro dia conseguir uma canoa que nos atravessasse direto para a Grande Praia Deserta de Superagui.

 

Despedimos-nos do pescador e continuamos caminhando pelas praias internas e como o calor ainda estava de matar, aproveitávamos para vários mergulhos nas águas mornas. Fomos mirando as casinhas e os barcos que se esparramavam à beira do canal e como eu não sabia se teríamos onde ficar no povoado, já fui vendo algum lugar que pudéssemos montar nossa barraquinha e realmente, se quiséssemos, poderíamos acampar por ali mesmo, mas achei melhor tentar um camping no vilarejo. Minutos depois já estamos estacionados no porto da vila, onde uma meia dúzia de barquinhos está amarrados, porque nem trapiche existe. Um homem sentado à beira da praia nos indica o caminho para o centro do povoado. Entramos então a direita, passamos por uma pontinha, pela igrejinha e chegamos em um camping. Na verdade, uma área sombreada e sem nenhuma barraca se quer. A família simples do lugar nos acolheu de braços abertos, mas já nos avisou que a vila anda meio sem água e banho somente de canequinha. Montamos nossa barraquinha e voltamos para o canal para aproveitarmos o final de tarde e não foi um final de tarde qualquer. Eu e a Julia sentamos na areia da prainha e nos preparamos para o deslumbramento. O sol começou a se por, refletindo nas águas do canal, avermelhando tudo ao seu redor. Os barquinhos coloridos, espalhados pela água, quase não se mexiam e nós quase nem respirávamos, com medo de perder aquela cena que teima em não sair da nossa retina e quando a gente resolveu se levantar para ir embora, fomos obrigados a bater continência para uma lua cheia avermelhada que espalhou brilho por todos os cantos e a gente voltou para o povoado para tomar banho de canequinha, feliz da vida por sermos testemunhas daquele momento único.

 

Naquele povoado perdido num fim de mundo qualquer do litoral Paulista, como não poderia deixar de ser, logo fizemos amizade com os nativos e não demorou muito tempo, estávamos comendo na mesa com eles, porque nenhuma travessia dessa valeria a pena se a gente não pudesse se juntar ao povo local e interagir com os nativos. O patriarca da família prometeu nos levar de barco na manhã seguinte para o outro lado do canal, na praia do Superagui e como pretendíamos começar bem cedo, jantamos e fomos para barraca dormir. Mesmo à noite, fez um calor infernal, por isso mesmo, deixamos nossa casa de mato sem a cobertura externa. Mas por incrível que pareça o tempo mudou. Antes das 5:00 da manhã o vento uivou. Acordei de sobressalto, e com dó da minha filha por ser tão sedo, mas achando que não era tão sedo assim e que não compensaria ter um grande trabalho para colocar a cobertura, arrastei ela para uma área coberta e desmontei logo a barraquinha. E a chuva veio e eu já pensei logo que a travessia poderia ter terminado ali mesmo, fiquei com medo de a minha filha pedir para abortarmos a caminhada, ainda mais porque ela acordou com a garganta inflamada.

 

Antes das sete da manhã fizemos companhia para a família de pescadores no de jejum matinal e logo em seguida botamos as mochilas às costas e partimos para a praia e sem muitas delongas subimos na canoa a motor e partimos para a travessia do canal que separa São Paulo do Paraná. E aqui eu proveito para um adendo: Muito se falou de que a tal trilha que parte do povoado de Barra do Ararapira não mais existia, que o mar havia jogado grandes troncos no caminho, inviabilizando de vez esse trajeto, mas isso não passa de uma grande bobagem. Na maré baixa é possível que se passe pela praia até de bicicleta, com certo esforço, mas é possível. Mas a pé pode-se passar de qualquer jeito porque são apenas umas galhadas que podem ser cruzadas até sem muito esforço. Mas fica a pergunta: Porque então os caiçaras sempre dizem que é impossível? Hora bolas, caiçara não estão acostumados com trekking e qualquer obstáculo, por mínimo que seja, já é motivo para eles classificarem como impassável. Tudo isso a gente pode constatar passando bem rente à praia que liga Ararapira à Grande Praia Deserta do Superagui, que foi onde desembarcamos, nos despedimos do caiçara e ganhamos a imensidão de areia, mar e solidão.

 

A chuva havia parado, mas as nuvens negras não deixavam dúvidas: o céu iria desabar nas nossas cabeças. Improvisamos uma capa de chuva e seguimos a passos firmes para aproveitar a manhã fresca. Menos de quarenta minutos avistamos o que nos parecia ser uma casa enfiada no meio da restinga, de onde uma meia dúzia de cachorros barulhentos saiu para nos acuar na praia, mas passamos batidos sem dar muita liga. Mais uma hora de caminhada chegamos a foz de um rio com águas cor de coca cola e foi aí que a chuva que prometia cair, caiu. Como não era uma chuva provida de raios resolvemos nos esconder embaixo de um pequeno arbusto solitário no meio da restinga, mas logo nos vimos molhados, então abandonamos a ideia e nos lançamos a dançar na chuva já que o calor não havia nos abandonado. Caminhamos às margens do rio que foi aumentando de largura, onde pequenas dunas, que se formaram na praia, tiveram que ser cruzadas. Vamos mirando no horizonte e tentando identificar à frente o que parece ser várias pessoas vindas em nossa direção. Pensamos ser um grupo de pescadores, mas não demora muito, descobrimos ser um grupo de ciclistas fazendo o caminho inverso ao nosso e durante toda nossa travessia só encontramos mais um grupo de ciclistas e ninguém, absolutamente ninguém se aventurando a pé e isso me faz crer que esse é mesmo um roteiro especial, uma travessia esquecida, um roteiro que ainda não foi descoberto pela maioria caminhante do país.

 

Cumprimentamos o grupo de ciclista, que se espantaram com nossa presença solitária e desmontada. Nuvens negras no horizonte voltavam a ameaçar a nossa paz e comecei a ficar preocupado com aquela situação. Estava claro que desta vez a gente corria perigo de sermos atingidos por um raio, vagando naquele mundo onde nós éramos o ponto mais alto. Por isso apertamos o passo, desta vez sem nem conversarmos, precisávamos chegar a algum abrigo rapidamente. Já se aproximava das onze horas da manhã e nossa caminhada se resumia em dar um passo após o outro e quando a coisa parecia que iria ficar monótona, avistei ao longe algo que se debatia na areia, onde as ondas findavam. Passei sebo nas canelas e desembestei a correr feito um doido, enquanto a Julia arregalava os olhos sem saber do que se tratava. Me atirei encima do nosso almoço e venci a briga contra as ondas do mar, agarrei o peixe porco quase pelo rabo e fiquei comemorando até que a minha filha chegou e tirou o doce da minha boca: - Coitado pai, vamos devolver o bichinho para o mar agora mesmo! Desgraça, eu que já lambia os beiços pensando em comer um peixe fresco, teria que me contentar com uma sardinha em lata.

 

Para nossa sorte o temporal que se avizinhava, não veio e as nuvens passaram ao largo, mas ainda havia a possibilidade de outra leva de nuvens carregada nos atingir. Logo à frente conseguimos identificar o que parecia ser a entrada de uma casa. Como já expliquei antes, não há casas nas praias, elas ficam até centenas de metros no meio da restinga e só é possível saber que há uma habitação porque os caiçaras colocam uns paus enfincados na areia. Além dessa madeira visível à frente, nos chamou a atenção algo parecido com um grande peixe perto dos paus e quando chegamos lá nos deparamos com a carcaça de um boto e minha filha ficou impressionada com a beleza, mesmo fúnebre, do animal inusitado. Passamos pelo animal e nos dirigimos em direção a trilha que em alguns minutos nos levou a casa da D. Rose e seu Amarildo. Uma casa de madeira erguida sobre troncos a um metro do chão e em meio a um bosque. Fomos recebidos por seu Amarildo, uns 35 anos mais ou menos. Ao seu lado três crianças pequenas e logo aparece D. Rose, jovem também. São gente simples que vivem isolados do mundo a 15 km do vilarejo mais próximo, sem barco e com uma bicicleta que lhes serve de transporte para leva-los para onde precisam. Tomamos um gole de água fresca do poço e para nossa própria infelicidade, recusamos o convite para ficar para o almoço. “Meu, como a gente é burro”! (rsrsrsrsrsr)

 

Depois de uma boa prosa com a doce família de caiçara, nos despedimos deles rapidamente porque o dia já começava a chegar a sua metade. Tomamos de novo o caminho da praia e novamente nos pusemos a caminhar nas areias duras. Com quinze minutos de caminhada passamos por uma lagoa à beira da restinga, onde uma grande boia náutica marca esse ponto e a partir daí aquilo que a gente temia aconteceu: As grandes nuvens negras nos alcançaram e com quem faz troça com meninos desavisados, despejou toda sua raiva sobre nossas cabeças. Do nosso lado outro grande rio começou a correr, mas com certeza não corria mais que a gente, que vendo a entrada que nos levaria para outra casa, não perdemos tempo e entramos na trilha, onde cruzamos o próprio rio passando por cima de uma pinguela de madeira que boiava sobre umas boias improvisadas, onde um desavisado não tardaria em despencar e ir conhecer suas lindas águas vermelha a fundo. Pegamos o caminho longo em direção a habitação e, quase à nado, fomos tropeçar na casa da D. Rosa, onde eventualmente é possível acampar. Rapidamente fomos convidados a entrar e a sair do molhaceiro.

 

A priori, a nossa intenção era acampar na casa da D. Rosa, mas o tempo fresco daquele dia nos fez caminhar muito rápido e acabamos por chegar muito cedo àquele ponto. Então apenas aproveitamos a gentileza dos proprietários caiçaras, que nos cederam o fogão para fazermos um chá quente, comemos umas torradas com requeijão e partimos para o estirão final até o povoado, já que a chuva havia cessado por completo. Cruzamos novamente a pontinha e apertamos o passo, tendo como objetivo um trambolho amarelo no nosso campo de visão e uma hora depois estávamos fazendo pose para uma foto encima de mais uma boia marítima. Mais quinze minutos de andanças e nos deparamos em mais um rio e menos de uma hora depois, chegamos à entrada da trilha que nos levaria ao povoado. Na verdade, poderíamos ter continuado pela praia mesmo, mas como recebemos informação de que essa trilha nos economizaria quase meia hora de caminhada, foi por ela que optamos. A trilha é marcada por dois galões coloridos de 20 litros pendurados num pau. Na verdade, são duas trilhas. Nós pegamos a da direita, mas as duas irão sair no mesmo lugar, nos levando em direção a vila. A trilha passa pela restinga e entra na vegetação mais alta, cruza por cima de vários riachos, passa ao lado de um grande rio e quarenta minutos depois nos leva ao centro da VILA DE SUPERAGUI, que comparada a Pontal do Leste é quase uma metrópole, mas que na verdade não passa mesmo de mais um povoado de ruelas de areia, perdido em mais um fim de mundo sem carro e sem modernidades excessivas.

 

Superagui é o nome da vila, da ilha e do Parque Nacional, Patrimônio Natural da Humanidade, berçário de várias vidas marinhas. Já passava das cinco da tarde quando chegamos à vila, poderíamos simplesmente ter retardado um pouco a nossa caminhada e acampado em qualquer lugar, na praia ou na restinga, mas queríamos acampar no povoado para conhecê-lo, mas não contávamos com um problema: o nosso dinheiro praticamente havia acabado e os lugares que aceitavam cartões estavam com problemas com o dinheiro de plástico, então nos vimos perdidos no vilarejo. Cansados e vendo que o tempo havia virado novamente para chuva, saímos a procura de solução, mas sem saber ainda qual seria. Encontramos um pescador que nos ofereceu um quarto em sua casa e como essa prática é comum nesses lugares, aceitamos o convite, já que o valor cobrado era irrisório frente às pousadas do povoado. Foi realmente um achado porque a chuva voltou a varrer o lugar e ficamos felizes por estarmos abrigados e não acampados naquela noite sombria.

 

O dia que amanhece é um dia ensolarado, com um céu azul e sem nenhuma nuvem. Logo cedo nos mandamos para o píer da praia no intuito de conseguirmos uma canoa para nos atravessar para a outra ilha, onde voltaríamos a caminhar. Não demora muito e aparece um pescador e nos oferece o serviço. Em pouco mais de cinco minutos já estamos saltando do barquinho a motor e ganhando mais uma nova imensidão, agora na ILHA DAS PEÇAS, numa praia bem mais limpa que as demais, já que não estamos mais em mar totalmente aberto, tendo ao longe a ilha do Mel. Quarenta minutos de caminhada nos leva ao encontro do primeiro riacho mais encorpado, mas o grande rio, o Rio do Barco, apareceria em mais vinte minutos de caminhada. É um lindo rio de águas vermelhas e como o calor já estava de lascar, não pensamos duas vezes e nos jogamos dentro dele, antes mesmo que ele desaguasse no mar, já que corria paralelo a praia. À nossa frente, algo branco chama a nossa atenção. Pensei logo que estávamos próximo do tal farol em ruínas e cegamente compramos essa ideia por muito tempo e realmente em praias de longa distância ter algo em que se agarrar alegra muito a alma. Mas a cada passo que dávamos, essa certeza ia caindo por terra. Vimos logo que a tal coisa branca era na verdade uma fortaleza que ficava do outro lado, na Ilha do Mel e que a nossa praia fazia uma curva grande para a direita, mudando completamente de direção, estávamos contornando a ponta da Ilha das Peças.

 

Não tenho dúvidas, esse é um lugar deslumbrante. Ao nosso lado, bem pertinho, a Ilha do Mel nos atrai a atenção, onde dá até para ver o seu farol. Mas falando em farol, o farol da Ilha das Peças finalmente apareceu e antes de nos apresentarmos a ele, nos entretemos com um cadáver de uma tartaruga jogado na areia e logo depois, mais outra tartaruga, mas desta vez dentro da água e quando o farol se aproximou, corremos para vê-lo, feito D. Quixote, querendo derrotar os moinhos de vento. O gigante deitou, não sei em que época, mas hoje jaz esticado em escombros na areia da praia, atravessado quase de uma ponta à outra e mesmo não sendo nós os responsáveis pela sua desgraça, não nos furtamos em trepar em sua estrutura e tripudiar encima de seu esqueleto de concreto.

 

A caminhada segue e a paisagem muda de vez, a restinga dá lugar a uma floresta exuberante, os nossos olhos se enchem de alegria e meia hora depois quando tropeçamos no Rio do Índio, jogamos nossas mochilas ao chão e fomos nos jogar novamente ao mar e por ali ficamos um bom tempo, nos regozijando nas águas quentes e mansas daquele lugar incrível, desabitado. Aquela grande praia de quilômetros de tamanho desapareceu e agora reinavam as pequenas enseadas, com minúsculas praias cobertas de matas. No nosso horizonte já era possível avistar ao longe a grande antena de rádio que marca o próximo povoado.

 

Ela vai à frente. Cabelos coloridos ao vento. Desfila feito um cisne e os passos são firmes e decididos, mesmo com os pés carcomidos pela areia da praia. Quando partimos a quase três dias atrás, eu tinha minhas dúvidas se ela chegaria ao fim dos quase 60 km de caminhada, mas não só chegou, como pulverizou minhas desconfianças. Às vezes ameaça correr como quem vai agarrar as garças e outros pássaros que bicam uns olhos de uns peixes à beira mar. Atrás vou eu, já homem de meia idade, 46 anos, dor nas costas por carregar uma mochila abarrotada de tranqueiras de acampamento. Contento-me em olhar minha filha de 15 anos esbanjar energia e vitalidade, ela sou eu, eu sou ela, somos um só e me alegro porque nela meus passos continuarão a palmilhar por lugares tão encantadores como estes, porque, até que se prove o contrário, os país renascem nos filhos e se isso for mesmo verdade, através dela minha jornada está longe de terminar. Mas deixando os devaneios de lado, porque tô velho, mas não tô morto e por enquanto sou eu quem manda nessa bagaça, logo tomo novamente a dianteira e aperto o passo e como a maré está bem alta, vamos caminhando praticamente dentro do mar, com a água pela canela e a uma e meia da tarde encontramos com o primeiro pescador, denunciando que o vilarejo não tardaria em aparecer. Quinze minutos depois já atingimos as primeiras casas e antes mesmo de chegarmos ao trapiche da vila, que está escondido numa curva, mais uma vez nos livramos das nossas mochilas e fomos comemorar nossa chegada com um peixinho frito e uma coca cola gelada num restaurante à beira mar e foi ali que conseguimos descolar a grana que precisávamos, em uma operação financeira com o cartão de débito, mediante pagamento de uma pequena comissão ao dono da birosca.

 

Com a barriga cheia e a alma lotada voltamos para nossa jornada que estava a menos de quinze minutos do fim. Vamos, agora a passos lentos, caminhando pela praia, olhando a turistada que se espantam com o tamanho das nossas mochilas e parecem querer saber de onde saímos e de onde viemos, mas acostumados com esses olhares de quem viu extraterrestres no toco, nem ligo mais para isso e faço a curva da praia e já dou de cara com o trapiche onde aportam os barcos que chegam do continente ou de outras ilhas vizinhas. Em frente ao trapiche, finalmente somos apresentados a VILA DAS PEÇAS, outro povoado isolado, sem carros, com ruas de areias e sua tradicional igrejinha no centro da vila. É um mundo diferente do nosso, onde o tempo parece passar devagar, muito devagar. De repente há um alvoroço no píer, sem saber o que está acontecendo corremos para cima do trapiche, bem a tempo de presenciar um grande boto saltar para fora da água na tentativa de capturar um peixe desavisado e logo em seguida outros golfinhos da mesma espécie vem se juntar a ele, então a gente toma nossos assentos no chão do píer e somos espectadores do espetáculo promovido pelos mamíferos aquáticos, o show estava completo.

 

A caminhada havia terminado, mas nossa jornada ainda não. Faltava a travessia marítima da Ilha das Peças até a cidade de Paranaguá-PR e como o único barco que saí a tarde só partiria às 16h30min, enquanto a Julia resolveu ir tirar um cochilo à sombra de uma árvore entre o campo de futebol e o restaurante popular, resolvi ir conhecer o povoado e quando voltei e a encontrei dormindo, fui dar um mergulho no mar e lavar a alma com sal para me despedir do paraíso. Antes das cinco então, partimos. Pouco mais de uma hora e meia depois, debaixo de um sol vermelho, sem aviso prévio fomos apresentados a Paranaguá e foi aí que meu queixo despencou da minha cara e foi parar no fundo do mar. Que cidade linda! Nunca pensei encontrar uma cidade tão agradável no litoral do Paraná, com seus casarios coloniais preservados, uma beleza que nos surpreendeu. Para falar a verdade, conheço quase todo o litoral do Brasil, mas jamais tinha pisado no litoral paranaense, exceto uma breve espiada numa noite fria, no fim de uma travessia de montanha que culminou com seu final em Antonina, mas isso nem conta. O certo é que Paranaguá foi uma grata surpresa, mais uma linda cidade que irá figurar nas minhas melhores lembranças. Mas não tínhamos muito tempo a perder se quiséssemos voltar para casa no mesmo dia, então partimos para rodoviária e imediatamente embarcamos para Curitiba e de lá abandonamos o Paraná e retornamos para capital de São Paulo, aonde chegamos às seis da manhã, bem a tempo de voltarmos para o interior paulista, Campinas e depois Sumaré, onde amarramos nosso burro por mais de 35 anos.

 

Até hoje eu me pergunto por que diabos levei mais de 20 anos para me jogar nessa incrível travessia, onde estava eu com a cabeça que deixei passar essa preciosidade bem no quintal da minha casa e porque até hoje essa jornada passa tão despercebida pela maioria dos amantes das aventuras sobre duas pernas? No meu caso a resposta parece ser simples: Ainda não havia chegado a hora. Não que eu acredite em destino, mas essa jornada não poderia ter acontecido na companhia de outra pessoa se não a da minha filha, parece que o tempo nos juntou no lugar certo e no momento certo, um pai, uma filha, um paraíso à beira mar, uma vastidão sem fim. Em um certo momento a Julia, ao me ver reclamar de uma dor nas costas, me disse que achava que estava chegando a hora de eu pendurar as botas, que talvez eu não fosse muito longe nessas aventuras. Talvez ela esteja certa, talvez seja mesmo a hora de passar o meu bastão, mas para garantir e para tentar mais uma vez passar a perna no tempo, desafiei ela a refazer essa travessia daqui a 10 anos e eu, desde já os convido a ler mais um relato desta Travessia pelos Mares do Sul em 2026, porque mesmo que eu não esteja presente (mas vou estar, pode apostar), já tenho quem carregue minha mochila e meus sonhos.

 

Divanei Goes de Paula - abril/2016

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Parabéns pelo relato e obrigado pelas palavras sobre Paranaguá. A cidade é bonita mas já foi muito mais. Os casarões coloniais estão uma lástima perto do que eram 40 anos atrás quando de minhas primeiras viagens à cidade (minha família materna é toda de lá).

Uma viagem e tanto a sua, não?

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Em 05/03/2022 em 04:01, pmichelazzo disse:

Parabéns pelo relato e obrigado pelas palavras sobre Paranaguá. A cidade é bonita mas já foi muito mais. Os casarões coloniais estão uma lástima perto do que eram 40 anos atrás quando de minhas primeiras viagens à cidade (minha família materna é toda de lá).

Uma viagem e tanto a sua, não?

Obrigado! Hoje parece que a natureza se encaminhou de mudar o roteiro. Na Praia da Baleia, no final da ilha do Cardoso-SP , o canal se abriu e mudou a geografia da região. Então hoje é preciso desenrolar a travessia naquele ponto e não mais no Pontal do Leste. Gostei muito de Paranaguá , fiquei de voltar lá para ir até a Ilha do Mel , mas farei isso com minha filha, já que fizemos uma promessa de voltar lá 10 anos depois dessa travessia, quando ela me disse que eu não aguentaria por causa da idade e por hora, ela tá errando feio, rsrsrsrsrsrsrsrsrs

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