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  • Colaboradores
Perfeifo seu relato.

E sabes mais menos qnt foi gasto no seu periodo no Uruguai? Couchsurfing e facil arrumar la? Quero ir agora em julho /agosto. E gastar o minimo possível. Vai ser meu primeiro mochilao e estou meio perdido ainda. Mais sua check list do q levar ja foi de Grande ajuda.

 

Obrigado, Cláudio,

 

Então, fiquei cerca de doze dias no Uruguai e gastei por volta de mil reais. Este trecho da minha viagem foi o único que permite-me alguns luxos (foi o que eu mais gastei), como por exemplo: Comer em um bom restaurante, frequentar o Café Brasileiro, assistir um jogo de futebol e ainda comprei muitos doces de leite e alfajores para presentear minha família. Em contra partida, cozinhei, caronei, acampei e deixei de fazer muitas coisas

Sobre o couchsurfing, nas cidades maiores é bem tranquilo conseguir. Economizar numa viagem ás vezes é difícil por causa das expectativas que carrega contigo. Eu ficava feliz em caminhar o dia todo e conversar com os nativos. Fazendo isso meu dia estava ganho. Tem pessoas que gostam de fazer compras, outras de baladas e por assim vai. A única que posso te falar com certeza é que você vai gostar e muito do Uruguai.

 

Cláudio muita paz pra ti.

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  • Colaboradores

Parte 12: Monte Roraima y un poquito de Venezuela

Esse canto do mundo rico em diferenças, onde se vive os extremos. Em um dia podemos estar no mar azul caribenho de Los Roques. No outro, podemos explorar a Amazônia. Podemos caminhar pela Gran Sabana e ver os imponentes Tepuys. A maior cachoeira do mundo está aqui. No lago de Maracaibo encontra-se a mais longínqua reserva de petróleo deste planeta. A cordilheira dos Andes começa ou termina neste país da América do Sul que está totalmente localizado no hemisfério norte. Esta terra que é o berço do El libertador Simon Bolívar, esse que sonhava em ver uma América unida pela preciosidade que é a diferença. Assim, como no Brasil, negros, brancos, ameríndios, mestiços e imigrantes fazem deste lugar uma festa do plural. Aqui onde os ricos são muito ricos, os pobres são muito pobres e o abismo social é a marca registrada por cinco séculos. Por muito tempo, viajantes de todo o mundo se aventuraram em seu folclórico rio Orinoco, cegos e fascinados pelas mil e umas histórias sobre El Dorado. Aqui o sangue latino é presente, o riso é alto, os abraços calorosos e os corações são quentes. Você pode torcer o nariz ao ouvir seu nome, mas nunca poderá ignorar sua beleza. Essa é a Venezuela e com muito prazer iniciava minha jornada em suas terras.

Curiosidade 12.1: Venezuela tem esse nome por causa do navegador Américo Vespúcio. Ele chamou à terra de pequena Veneza em homenagem a famosa cidade italiana. Isso porque os nativos ao redor do lago de Maracaibo construíam suas casas com palafitas.

Curiosidade 12.2: A maior cachoeira do mundo chama Salto Angel e tem quase 1000 metros de queda d’água.

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"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!" Assim falou Zaratrustra, Friedrich Nietzsche

Chegamos a Santa Elena de Uairen. O casal logo se despediu. O tempo deles era curto e queriam logo chegar ao Caribe. Iriam ver, conhecer e sentir o mar pela primeira vez. Isso sim é uma viagem marcante.

Eu sai caminhando pela cidade. Entrei num bar e logo me senti um estrangeiro ao ver um amontoado de gente vibrando com um jogo de beisebol. Conversei com algumas pessoas e peguei a direção das agências que fazem o trekking pelo Monte Roraima (para os venezuelanos somente Roraima), meu principal motivo de estar na Venezuela.

Depois de entrar em algumas agências e ficar assustado com os valores, segui procurando e cheguei até a Mystic Tours. Iria sair um grupo de quatro pessoas já na manhã seguinte. Fiquei animado. Conversei com a senhora responsável do lugar e ela disse que o valor era de R$1200. Era o preço mais barato até então, mas fora do meu orçamento. Estava com apenas R$850 (não estava com MoneyTravel e muito menos tinha liberado meu cartão de débito para saque ou operação no estrangeiro). Fiquei toda a tarde conversando com ela, contei minha história, meus motivos e logo parecíamos amigos. Peguei R$700 e dei para ela e disse que era tudo o que eu tinha (realmente era, com os outros R$150 teria que sobreviver em Santa Elena e voltar para Boa Vista). Ela de alguma forma me acolheu e abriu também seu coração para mim. Assim, ela aceitou minha oferta e ainda me arrumou um quarto para passar a noite. Eu teria que levar meu equipamento de camping, os outros integrantes não precisariam. Também seria responsável por montar/desmontar acampamento e não poderia dizer sobre o valor pago (acho que agora pode) com os outros. Meu coração se encheu de alegria, mais uma vez tudo havia dado certo. Pela noite tentei esvaziar minha mochila para o trekking, só iria levar o necessário, afinal seriam 7 dias de caminhada.

Informação 12.1: O preço do trekking é fixado em dólares. Geralmente o preço flutua entre 300 a 500 (dependendo da quantidade de dias e da comodidade escolhida) dólares nas agências venezuelanas. O dólar estava 4 reais na época, por isso o preço de R$1200 na agência.

Informação 12.2: Existe apenas uma agência brasileira autorizada a fazer o trekking esta é a Roraima Adventures. O preço é muito mais salgado. Compensa muito mais ir até a Venezuela e contratar uma agência de lá.

“Achava que com oitocentos reais conseguiria conhecer o Monte Roraima, Salto Angel e talvez as islas Margaritas. Fui muito inocente. Não sei ao certo. Se tivesse que escolher o Roraima seria minha escolha e foi o que fiz hoje. Escolhi. Por um momento achei que não conseguiria conhecer nenhum, mas aquela senhora, por algum motivo confiou em mim. Dizia que nunca antes havia alguém que chegastes como cheguei. Ainda bem. Agora vou conhecer o Roraima e espero aprender com a montanha. Já é noite e estou muito ansioso. Quero logo estar de frente com a montanha e sentir o que ela tem a me oferecer.” Notas de Diário

O sul da Venezuela tem problemas com abastecimento de água e como janeiro é época de seca na região, toda a cidade de Santa Elena de Uairen não tinha água nas torneiras. Não existe reserva de água, o volume dos rios dita o ritmo do uso da água. Água por sinal era tratada como ouro. Tomar banho em um hotel barato é impossível nos primeiros meses do ano. Claro, que os endinheirados sempre vencem e as pousadas mais pomposas conseguem o milagre de jorrar água pelas torneiras.

Santa Elena de Uairen é uma cidade peculiar. Sabemos dos problemas de abastecimento de itens básicos na Venezuela, uns vão dizer que é por boicote internacional e outros por descaso do governo. Não importa seu ponto de vista. O que importa que Santa Elena faz fronteira com o Brasil e a moeda brasileira, mesmo com a crise, é muito mais forte que os bolivares venezuelanos. Os brasileiros que vivem na fronteira sabendo disso vão até a cidade e compram tudo o que pode. Fazendo sobrar quase nada para os venezuelanos.

Informação 12.3: A moeda na Venezuela é o Bolívar. O governo fixa o valor oficial do dólar no país e isso cria um mercado paralelo inflacionado. Consegue-se trocar um dólar/real no mercado paralelo por mais de 20 vezes o valor da cotação oficial.

Informação 12.4: Como o governo congela o valor do dólar e não faz isso com os preços, e também não lança notas de grandes valores, faz o papel moeda não ter quase valor. Caso queira cambiar mil dólares irá precisar de uma mochila de 90 litros só para guardar o dinheiro.

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Dormi nesse dia ansioso por começar a caminhada que me levaria ao Monte Roraima.

 

Trekking Monte Roraima – Dia 1

Acordei. Eram quatro horas da manhã. Meu olho doía demais. Fui até o espelho e vi que meu olho esquerdo estava fechado por causa de um calazo/terçol. Não era a primeira vez que isso acontecia, mas por que agora? Não tinha água no quarto e eu precisava tomar banho e fazer compressa de água quente no meu olho. Sai da cama e fui para a Mystic Tours. Lá consegui um banho e água para começar tratar o calazo. Não desanimei, encarei isso como uma provação para merecer estar na montanha.

Depois de algumas horas conheci a Carola que acabava de chegar à agência. Ela era integrante do grupo que iria subir o Monte Roraima comigo.

Carola é uma mineira de dezoito anos. A pouca idade contradiz o tamanho da sua coragem. Decidiu fazer seu primeiro mochilão e tudo começava no Roraima. Mulher, viajando sozinha, caroneira, sua falta de experiência era compensada pelo seu humor que contagia todo mundo.

Logo chegou o trio do Rio Grande do Sul que eu já havia conhecido no dia anterior. Assim, o grupo estava completo.

Camila e o Anderson são um casal dos mais simpáticos e agradáveis. Ele engenheiro e ela futura arquiteta. São de uma paz incrível. O respeito que os dois transbordam um pelo outro é coisa a se admirar. O complemento que um é para o outro faz parecer que relacionamentos são coisas das mais fáceis.

Luana é amiga do casal. Morou alguns anos na Austrália e cursa biotecnologia. Tudo perto dela parece fácil, dona de uma simpatia natural e de um coração grande. Tem um sorriso fácil. Ela e a Cami são das melhores amigas.

Juntamos nossas coisas no teto da Toyota que nos levariam até Paraitepuy, comunidade que é a porta de entrada para o trekking. Dentro do carro conhecemos o Hélio que seria o nosso guia. Também conhecemos o Miguel que seria o responsável por cozinhar e carregar a comida do grupo, e por fim, e não menos importante, o Cecílio que carregaria os itens do acampamento.

O terreno onde se localiza o Monte Roraima é uma reserva indígena. Como regra é necessário ter ao menos um guia local para poder adentrar as terras pertencentes a eles. No nosso caso, o Hélio, Miguel e o Cecílio eram nativos daquelas terras que tem as formações expostas mais antigas do nosso planeta. A região onde se localiza o Monte Roraima é chamado de Gran Sabana e situa-se na macro-região dos planalto das Guianas (região que corresponde as Guianas, Suriname, os estados de Roraima e Amapá e uma parte da Venezuela).

O Monte Roraima é um tepuy. Os tepuys são mesetas, ou seja, montanhas com paredes verticais e com o topo plano que lembram uma mesa. O Monte Roraima é o maior tepuy, mas não é o único.

No caminho para Paraitepuy fomos conversando entre o terreno acidentado e belo que liga a comunidade a Santa Elena. Nos primeiros momentos tive a certeza que seria feliz nos próximos dias. Tive sorte de estar num grupo tão pequeno e cheio de boas pessoas.

Curiosidade 12.3: Para encher o tanque de gasolina na Venezuela é necessário apenas R$0,04. A gasolina é subsidiada pelo governo. Brasileiros na fronteira conseguem abastecer num posto de gasolina onde a gasolina é 40 centavos o litro, mas a fila é gigantesca, assim como na Venezuela.

Chegamos à comunidade e logo começamos a caminhada que seria de 15 km no primeiro dia. O percurso nesse dia é relativamente tranqüilo, sem muita subida e com algumas descidas. O problema é o sol. Como é uma região de savana a vegetação é baixa e tem poucos lugares para fugir do sol. Nesse mesmo dia dois grupos mais iniciaram o caminho. Um grupo de umas 15 pessoas de venezuelanos e outro grupo de 10 japoneses. Esses dois grupos não carregavam suas mochilas, contrataram carregadores pra isso. Então, nosso grupo, onde todos levavam suas mochilas, era o mais lento, mas também era o mais unido.

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No meio do trajeto tem-se a melhor vista de todas. Você avista no horizonte toda trilha que será percorrida e no seu fim está o imponente Roraima e seu vizinho Kukenán. Que beleza. Nesse momento, você tem a certeza que as escolhas que te levaram até ali foram às certas. Não tem como não sorrir diante de tamanha beleza. Aproveitamos para tirar as primeiras fotos em grupo.

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Depois de quase cinco horas de caminhada chegamos ao primeiro acampamento. Aproveitamos para nos banhar no rio Tek. No resto do dia, nos conhecemos melhor e nos aproximávamos cada vez mais. Fiz as compressas quentes no meu olho. O melhor foi pela noite onde o céu se abriu para nós. Sem nenhuma poluição luminosa era possível ver o céu preenchido com suas infinitas estrelas. Lindeza demais. Depois do deserto de Atacama, o céu na Gran Sabana são os mais bonitos que já vi.

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Trekking Monte Roraima – Dia 2

Acordamos cedo. Já na segunda refeição o Miguel se mostrava o melhor cozinheiro de todos. As noites naquele canto do mundo são úmidas demais. Toda manhã tinha que deixar minha barraca para secar e depois desmontar o acampamento às pressas para não atrasar o grupo.

O segundo dia, em minha opinião, foi o mais difícil. Não pelo trajeto, mas pelo sol. Neste dia, caminha-se o tempo todo em um campo aberto e tivemos a “sorte” de ter a companhia do sol em todo o momento. Não existe sombra pelo caminho. O trajeto tem muitas subidas, mas o sol acaba contigo. Para piorar o tênis do Ander abriu-se todo. Esse trajeto parece mais uma penitência. Consegue-se água só pelo fim, onde alguns trechos de rio margeiam o caminho. O paredão do Monte Roraima vai se aproximando cada vez mais, quase não dá tempo de apreciar a paisagem. A vontade é tanta de chegar ao segundo acampamento que o entorno perde sentido. Chegar ao acampamento neste dia, foi como, acho eu, chegar ao céu. Alivio. Desmaiamos por alguns momentos no gramado.

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Comemos muito bem. O Miguelito até então se escondia de nós, mas sua presença sempre estava nas refeições. Ele conseguia fazer um prato simples uma verdadeira obra de arte. O Cecílio, pelo contrário, cada vez mais nos tornávamos amigos, ele falava um espanhol ruim e eu também. Nesse dia, ele separou o melhor lugar do acampamento para mim. Com o coração gigante sempre se lembrava do meu olho doente e trazia água quente para a compressa. O Hélio ganhou todo o grupo, hoje. Antes ele mostrou seus dotes de costureiro e consertou o tênis do Ander. Depois resolveu comer conosco e com sua simplicidade contou inúmeras histórias, primeiro em sua língua e depois em espanhol. Nessa noite eu respeitei o meu grupo, não por ser companhia de trajeto e sim por suas almas. Ver que o respeito e admiração que o Ander, Cami, Carola e a Lu tinham pelo Hélio, Miguel e o Cecílio eram o mesmo que eu tinha, me fez ter a certeza que aquele grupo era o melhor que estava subindo a montanha naqueles dias.

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Estávamos na beira do paredão. Acampados e unidos. O frio era grande, mas o céu nesse dia foi o mais lindo. A imensidão de estrelas cheias de brilho é uma cena que me recordo todos os dias. Tentamos fotografar o céu, sem sucesso. O Ander, Cami e Lu conseguiram uma foto escrevendo Roraima com a lanterna. Se eu pudesse escolher, estaria vivendo até hoje aquela noite. Ao som das histórias do Hélio, com o companheirismo de todos os outros, o céu estrelado e o Roraima tão perto, faz você entender que não é preciso muito para ter um dia inesquecível, apenas sintonia.

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Trekking Monte Roraima – Dia 3

O terceiro dia é o dia da subida. A elevação vertical do dia chega perto dos mil metros. Também é o dia que separa algo que parece tão distante para palpável. O dia que o sonhar torna-se realidade. O trajeto no inicio é muito íngreme, acredito que em partes chega a sessenta graus. No encosto do Monte Roraima a savana dá lugar a uma vegetação densa. Caminhar nesse momento é mais agradável, o sol não judia tanto. O verde toma conta de tudo. O coração bate mais forte ao encostar-se pela primeira vez no Roraima.

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Todo o trajeto continua relativamente tranqüilo até chegar à subida final. Ai é uma hora de desgaste total, ainda demos sorte que a cachoeira que corta o percurso estava seca, facilitando o caminho. Eu só conseguia pensar no topo. O legal que o grupo permaneceu unido em todo momento. Esperando a fraqueza de cada um. O Hélio fez uma oração antes de darmos o passo final. Ele pedia a permissão da montanha para estarmos lá. Chegamos ao topo de mãos dadas. Todo cansaço não importava diante daquele diferente cenário. Logo corremos para os desfiladeiros e avistamos todo os 40 km que distanciava-nos do inicio.

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Lá em cima, existem várias cavernas que o pessoal chama de hotéis e servem de acampamentos para se proteger do peculiar clima do topo do Roraima. Só havia uma caverna disponível que cabia apenas duas barracas. Assim, eu tive que acampar no relento e não foi nada ruim. O frio era intenso. Antes de cair à noite, todos já estavam abrigados.

Informação 12.5: Ao estar em cima do Roraima, toda as fezes criada lá tem que ser levada pra baixo. Então, cagou levou. Quando está nos acampamentos abaixo, tem-se a opção de enterrar. Pegou a enxada no acampamento todos sabem o que irá acontecer rs.

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Trekking Monte Roraima – Dia 4

Neste dia acordei doente. À noite na barraca exposta ao relento me fez mal. Tinha febre e tosse, ao menos meu olho parecia melhor. Conseguimos uma caverna numa elevação. Mudei o acampamento e tomamos um bom café, depois começamos a caminhada para a tríplice fronteira.

Nesse dia me dei o direito de pensar um pouco mais. Comecei a pensar na vida dos nativos deste lugar. O quão custoso era nascer ali. Você nasce e seu futuro é ser carregador de carga. A reserva não é auto-sustentável, fazendo do turismo o principal meio de vida de todos. Então, você aceita o seu destino ou aceita, não tem opção. Ver aquele monte de nativos que sobem e descem o Roraima numa velocidade incrível faz você achar que são super homens e super mulheres. No entanto, com o tempo sabe-se que eles muitas vezes se drogam para poder agüentar as repetidas subidas com o peso além do normal. O sistema é cruel, se não existe o turismo eles não tem o dinheiro e com o turismo eles são destinados há uma vida de migalhas. Pensei no choque cultural. Pensei na injustiça. Pensei em milhares de coisas. Só conseguia pensar nisso nesse dia. Tudo começou depois do Miguel aceitar uma proposta de ajudar um pessoal descer uns equipamentos (até o acampamento do primeiro dia) e retornar no mesmo dia, por míseros quarenta reais.

"Em 1492, os nativos descobriram que eram índios,

descobriram que viviam na América,

descobriram que estavam nus,

descobriram que existia o pecado,

descobriram que deviam obediência a um rei e a uma rainha

de outro mundo e a um deus de outro céu,

e que esse deus havia inventado a culpa e o vestido

e havia mandado que fosse queimado vivo quem adorasse

o sol e a lua e a terra e a chuva que a molha." Os filhos dos dias, Eduardo Galeano

O caminho para chegar até a tríplice fronteira (Brasil, Venezuela e Guiana) é longo. Quatro horas de intensa caminhada. O caminho até o lugar é todo belo. Cheio de formações rochosas (não sei ao certo qual formação geológica é, mas usarei o termo rochoso/a) diferentes e de todas as formas. Nesse dia, para quem assistiu Up – Altas Aventuras é muito característico. A mudança de clima é constante. Sol. Daqui alguns minutos neblina intensa e depois sol. Alternando assim, o tempo todo. Clima louco. A fauna e a flora são únicas. Tudo que ver tem que guardar na memória, pois não verá em nenhum outro lugar do mundo.

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Chegamos à tríplice fronteira, depois de muito custo. Um monumento sem sal e nem açúcar indica o lugar. Aqui aquela máxima: “O que vale é o caminho e não o destino” se faz justa.

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Todos estavam mortos. Caminhar de volta ao acampamento foi difícil. Paramos numa lagoa em uma caverna, só de olhar dava frio. Eu por causa da febre não encarei e a Carola me acompanhou. O restante do grupo foi mais corajoso e resolveram nadar. Retornamos depois de quase oito horas de caminhada. Chegamos, comemos e num piscar de olhos dormimos.

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Trekking Monte Roraima – Dia 5

Nesse dia acordei muito bem. A febre desapareceu e meu olho parecia estar bom. Tomamos café e a Carola não queria sair da barraca. Penso hoje, se ela tivesse insistido em ficar na barraca descansando perderia o clímax de todo o trekking. Conseguimos convencer ela ir. Ainda bem.

Primeiro passamos pelos cristais, a maioria deles estão todos quebrados. O turismo danifica a preciosidade do cenário. Sempre tem os espertões que querem levar um pedaço do lugar e roubam os cristais. Depois vimos à figura do Fidel Castro numa formação rochosa. Caminhamos mais um pouco e mal sabia que estava indo de encontro com a imagem que não sai mais da minha cabeça.

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Chegamos às Las Ventanas. Lugar onde o vazio entre o Roraima e o Kukenán (Tepuy vizinho ao Roraima) é preenchido por nuvens. Não consigo explicar o que é estar ali. Olhar aquele infinito de nuvens que mais se parecia com um caminho de algodão doce era algo sobrenatural. Pensei em muitos momentos caminhar nas nuvens. Ainda acho que não cairia. Sabia que aquilo que estava vendo iria/vai me acompanhar em pensamento até meu último momento. Não consigo descrever o que meus olhos viram. Vou deixar as imagens explicarem melhor.

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A Cami e a Lú levaram bexigas para tirar foto em Las Ventanas e tentar recordar/reproduzir o belíssimo filme Up – Altas Aventuras. A idéia foi mais que genial e todos que chegavam queriam uma recordação com as bexigas. Um grupo de coreanos que estavam no topo quase enlouqueceu de tantas fotos que tiraram. Realmente, as meninas mandaram bem demais. Até eu que não sou muito de fotografia quis arriscar uma foto sendo levado pelas bexigas.

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Depois de se despedir deste lugar e ver os rostos do Ander, Cami, Carola e Lú parecia que a leveza tinha tomado conta do grupo. Todos pareciam felizes. O cansaço dos dias não existia mais. A beleza do lugar tinha vencido mais uma vez. Passamos por um lago de cor esquisita e nos banhamos sem se importar com o frio. Voltamos para o acampamento e decidimos descer o Roraima neste dia. Acredito que tomamos essa decisão, pois nada mais superaria aqueles momentos vividos minutos atrás.

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Desfizemos o acampamento e iniciamos a descida. Não conseguia pensar em muita coisa. Estava concentrado em descer. O terreno é meio traiçoeiro na descida e é preciso tomar muito cuidado. Muitas pessoas torcem o joelho ou tornozelo. Pelo que me lembro vi duas pessoas nesta situação. Chegamos ao acampamento. Neste dia o grupo se tornou uma família. Hélio, Miguel e Cecílio estavam acostumados com nossa presença e já conversávamos sem pensar na burocracia que nos uniam. Pela noite era um misto de dever cumprido e de gratidão de estar ali, com aquelas pessoas, naquele lugar. Agora ao escrever consigo lembrar perfeitamente dos sorrisos do Ander, Cami, Carola, Lú, Hélio, Miguel e do Cecílio naquela noite. Esse foi o melhor dia dos dias no Monte Roraima.

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Uma coisa que me marcou foi uma história do Hélio. Ele nos contou que não conhecia o mar. Pensar no Hélio é como pensar na liberdade. E saber que ele conhecia cada passo do Roraima e não sabia o que era água salgada me deixou um pouco triste. O legal que ele justificava que preferia não conhecer, por que ele não conseguia imaginar uma água sem poder beber. Outra coisa que ele me disse e tive que concordar é que ele não sai de lá, pois não saberia viver nas noites sem ver todas aquelas estrelas. Eu só conseguiria sorrir depois disso. Aquelas noites, com todas aquelas estrelas amostra eram noites mais que especiais. Hoje em casa, vendo um céu sem graça dou toda razão a ele.

 

Trekking Monte Roraima – Dia 6

Hoje nos demos o direito de acordar mais tarde. De tomar o café com mais calma. De caminhar mais lentamente. De aproveitar o percurso. Estranho andar na direção contrária do Roraima. Estar de costas para aquele que foi nossa obsessão por dias. Agora a cada passo nos distanciaríamos mais e mais.

Em questão de esforço físico e mental hoje foi disparado o mais tranqüilo. Andávamos. Parávamos. Andávamos. Parávamos. O retorno era lento. O sol era forte.

Chegamos. Havia muitas pessoas no acampamento base. Metade iniciava o caminho até o Roraima e a outra metade estava em tom de despedida. Conhecemos algumas pessoas dos outros grupos. O dia foi agradável. A leveza do dever cumprido fazia tudo ficar mais fácil. O rio Tek era disputado por todos. A noite caiu e o fim estava próximo.

Resolvemos juntar o pouco dinheiro que tínhamos e presentear o Hélio, Miguel e o Cecílio. Foi à forma que encontramos de dizer o quão gratos e prazerosos estávamos com eles. O escuro dominava e a Carola puxou o discurso de agradecimento. Ninguém conseguia ver com exatidão o que fazia do som mais intenso. As palavras da Carola ecoavam entre nós. Todas as palavras ficaram pequenas diante da última palavra dita por todos: - Obrigado!

Obrigado pela companhia. Obrigado pelas histórias. Obrigado pelo companheirismo. Obrigado pela proteção. Obrigado por serem vocês. Obrigado pela humildade. Obrigado. Muito Obrigado Hélio, Miguel e Cecílio.

Assim fomos dormir. Gratos por aqueles que fizeram do nosso sonho algo possível.

 

Trekking Monte Roraima – Dia 7

O último dia começou bem cedo. Desfizemos acampamento pela última vez. Tomamos café juntos pela última vez. Pela última vez iniciávamos a caminhada por aquelas terras. O nascer do sol era lindo. O Roraima parecia mais vermelho, suas cores hoje eram mais intensas. Esse foi último presente dele para nós.

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Na caminhada decidi ir sozinho num ritmo mais intenso. Meu joelho não estava legal e não quis esfriar o corpo com paradas. Fiz o trajeto sem nenhuma parada. Meu corpo estava muito bem. Pude testar minha resistência. Fiquei feliz em descobrir que depois de seis dias de exaustão eu estava melhor do que no primeiro dia. Cheguei até a comunidade de Paraitepuy. A primeira coisa que fiz foi me jogar debaixo de um chuveiro que tem lá. A caminhada tinha acabado. Fiquei esperando o restante do grupo. Um a um eles iam chegando. Por fim, estávamos todos nós juntos novamente.

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Felicidade reinava na comunidade para os que iniciavam e para os que encerravam a caminhada. Fomos num botequinho. Tomamos a tão esperada cerveja. Que saudade. Cecílio e o Miguel são bons companheiros de bar. Estávamos todos ali. Bebemos. Rimos. Sorrimos. Conversamos. Bebemos. Sorrimos. O clima entre nós era leve e a jornada ao Roraima acabava de acabar.

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Permito-me encerrar essa parte da viagem com a minha visão de todos nós dentro da Toyota retornando para Santa Elena. Estávamos nós oito espremidos. Olhava para o Hélio e sentia tristeza em seu olhar, nunca irei saber o porquê, quero acreditar que a tristeza seja fruto da felicidade dos nossos dias juntos que agora estava terminando. Olhava o Miguel, dias antes mal conseguia falar de tanta vergonha com a nossa presença e nesse momento conversava com todos. Olhava o Cecílio, ele era só risos e sorrisos. Olhava o Ander e via um grande homem. Olhava a Cami e seu sorriso era do tamanho do seu carisma, gigante. Olhava a Lú que parecia estar triste e feliz ao mesmo tempo. Olhava a Carola, ela era o cansaço em pessoa, mas seu sorriso não fugia nunca. Olhava para dentro de mim e sabia que aquele momento era o fim de um capítulo importante da minha vida. Sentia um misto de tristeza e felicidade. Felicidade por ter compartilhado meus dias no Roraima com aquelas pessoas. Tristeza por ter que me separar dessas mesmas pessoas. A única certeza que eu tinha é que eles iriam fazer para sempre parte da minha história e iria lembrar-me daqueles dias como alguns dos melhores que já vivi. Dias mais que especiais. Ander, Cami, Carola, Cecilio, Hélio, Lu e o Miguel muito obrigado por estarem comigo. Um beijo na alma de vocês.

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Parte 13: Viajando pelo rio Amazonas

Fui embora da Venezuela com a sensação de até breve. Estava na companhia do Ander, Cami, Carola e Lú, todos nós seguiríamos para Manaus. Seguimos viagem logo depois de chegarmos a Santa Elena de Uairen. A primeira parada foi Boa Vista. O interessante que ao descermos na rodoviária, já era noite, acabou a energia na cidade. Com isso tivemos alguns problemas para comprarmos nossas passagens e tomarmos banho. Já era quase fim do dia quando embarcamos. Chegamos a Manaus pela manhã. Agora era hora de despedidas. Depois de muitos dias juntos era hora de dizer o triste adeus para o trio do sul.

Eu ficaria mais alguns dias em Manaus e agora na companhia da Carola que logo seguiria para a Bolívia. Resolvi mostrar o pouco que conhecia da cidade para ela. Fizemos boa parte dos lugares da minha primeira passagem. Caminhamos muito pela cidade. Fomos ao Ceasa. A Carola conheceu os encontros das águas que por sinal estava mais bonito neste dia, não havia nuvens e as cores dos rios se destacavam muito mais. No centro participamos de um pré-carnaval muito animado, com cerveja barata e samba da melhor qualidade.

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A Carola ficou fissurada pela culinária manauara. Teve a oportunidade de provar tambaqui, pão com tucumã, açai puro, sorvete de Buriti e os sucos de cupuaçu, bacuri, taperebá, cajá e graviola. O engraçado que ela sempre tinha certo receio de experimentar e sempre perguntava qual era o sabor. Qual é o gosto de buriti? Qual é o gosto de cupuaçu? Qual o gosto do tucumã? E as respostas sempre eram as mesmas. Tem gosto de buriti. Tem gosto de cupuaçu. Tem gosto de tucumã. Era engraçado demais isso.

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No dia da nossa despedida acordamos cedo. Eu iria pegar o barco pela manhã. Nesta noite ela voaria para Campo Grande e continuaria seu mochilão pela Bolívia e Peru. Ela me acompanhou até o porto. Antes fomos ao mercadão. Tomamos nosso último açaí juntos. Agora era hora da despedida. Viajar com ela era fácil, mas despedir-se não seria. Falei tchau sabendo que sentiria muitas saudades.

“Agora vou realizar outro sonho. Irei navegar por todo o rio Amazonas. Estou muito ansioso. Espero ser feliz como fui em quase toda a viagem até aqui. ” Notas de Diário

Comprei minha passagem até Parintins por cinqüenta reais. O barco tinha muitas escalas e o destino final seria em Santarém no Pará. Diferente do barco no rio Madeira, este tinha uma infinidade de pessoas. Creio que tinha mil pessoas a bordo. Não havia lugar para colocar a rede. Estava cheio. O pessoal fazia andares de redes para acomodar todos, colocando uma rede mais esticada (deixando ela alta) e outra mais frouxa, assim cabia duas redes numa mesma área. Resolvi não colocar a rede. Seria apenas vinte horas de viagem. Quando o sono batesse deitaria em algum canto. Segui para o piso superior do barco e fiquei no bar.

Informação 13.1: O valor da passagem não inclui alimentação.

Informação 13.2: Existe um restaurante que serve almoço e janta no preço de 12 reais a refeição.

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"As amazonas, temíveis mulheres, tinham lutado contra Hércules quando ele ainda era Heracles, e contra Aquiles na Guerra de Tróia. Odiavam os homens e cortavam o seio direito para que suas flechadas fossem mais certeiras.

O grande rio que atravessa o corpo das Américas de lado a lado se chama Amazonas por obra e graça do conquistador espanhol Francisco de Orellana.

Ele foi o primeiro europeu que o navegou, lá de dentro da terra até mar afora. Voltou para a Espanha com um olho a menos, e contou que seus bergantins tinham sido crivados a flechadas por mulheres guerreiras, que lutavam nuas, rugiam como feras e quando sentiam fome de amores seqüestravam homens, os beijavam na noite e os estrangulavam ao amanhecer.

E para dar prestígio grego ao seu relato, Orellana disse que elas eram aquelas amazonas adoradoras da deusa Diana, e com seu nome batizou o rio onde tinham seu reino.

Os séculos se passaram. Das amazonas, nunca mais ninguém soube. Mas o rio continua com o seu nome, e embora a cada dia o envenenem os pesticidas, os adubos químicos, o mercúrio das minas e o petróleo dos barcos, suas águas continuam sendo as mais ricas do mundo em peixes, aves e histórias." Espelhos, Eduardo Galeano

No bar o fluxo de pessoas era grande. Toda hora eu estava conversando, muito por causa da minha mochila que despertava a atenção das pessoas. Joguei truco e dominó. Ouvi um milhão de vezes as músicas do Safadão. Depois fiz boa amizade com o Henrique que trabalha no IBGE. Ganhei algumas cervejas. Depois nossa turma era bem grande e o tempo passava rapidamente. O barco era tão grande que tinha um telão, estilo cinema, no piso superior e no inicio da noite passava algum filme que preferi não ver.

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O melhor dessa parte da viagem é ter a oportunidade de ver os rios Negro e Solimões caminhando por muitos quilômetros sem se misturarem. A mistura vai acontecendo de forma lenta. O rio Negro vai desaparecendo aos poucos até o rio Amazonas se tornar homogêneo. É muito lindo. O rio cada vez fica mais largo e em alguns momentos não é possível ver as margens.

No fim da noite fui ao compartimento de carga e amarrei minha rede para dormir. Poucas horas depois atracávamos em Parintins.

Parintins consegue ser mais quente e úmido que Manaus. Aqui as cores azul e vermelho dividem a cidade. Os bois Caprichoso e Garantido fazem Parintins ser conhecida Brasil afora. Nos primeiros passos é possível entender a real dimensão da rivalidade entre os bois. Um banco Bradesco na saída do porto com o seu logotipo tradicional vermelho e outro azul. Isso é comum. Uma marca que é azul faz sua versão vermelha e vice-versa para não perder a clientela.

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Apesar de o boi-bumbá ter nascido e se popularizado no Maranhão, a maior festa ou pelo menos a mais conhecida acontece sempre no último final de semana de junho em Parintins. O que faz a cidade receber milhares de turistas nestes dias. A mercantilização do festival e sua divulgação mundo afora estão tornando o festival apenas para turista ver. Das pessoas que conheci em Parintins, apenas uma já tinha estado no Bumbódromo (local onde se realiza o festival) nos dias do festival.

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O azul e o vermelho divide a cidade em duas. O lado azul representa o boi que leva o azul na bandeira, o Caprichoso. Muitas casas pintadas de azul e a paixão pelo boi demonstrada em todos os cantos. A única coisa que não pode ter aqui é o vermelho, cor do rival Garantido. No curral do Caprichoso é o único lugar do mundo que se vende Coca-Cola com embalagem azul, afinal o vermelho é proibido aqui.

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O lado vermelho da cidade representa o boi Garantido. Aqui a paixão pelo boi parece ser muito maior. Cheguei andar muitas quadras onde todas as casas eram vermelhas. O curral do Garantido é um lugar mais afastado do centro. Se eu tivesse que tomar partido e escolher um boi para torcer seria o Garantido.

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Estava numa época pré-carnaval e quase nada se falava dos bois. Os currais estavam vazios e não tinha previsão de ensaios para antes do carnaval. Isso me frustrou um pouco. Queria ter visto ao menos um ensaio para sentir a energia real do Festival Folclórico. De resto, Parintins é um lugar bem organizado na parte central e pouco confuso em todo resto. Sua orla com diversos bares e com um pôr-do-sol incrível é, com toda certeza, o melhor da cidade.

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Resolvi partir. Existiam duas maneiras para prosseguir até Santarém. Uma delas seria embarcar nos barcos que saem de Manaus e fazem escala em Parintins, iguais ao que eu peguei para chegar até aqui. A outra opção era um barco bem menor que tinha como origem a cidade de Parintins. As duas opções custavam setenta reais. Preferi ir no barco menor e assim segui viagem.

O barco era tão pequeno que eu não conseguia ficar de pé nele. Batia a cabeça. Em contra partida, apenas umas quinze pessoas embarcaram. Tinha espaço suficiente para as redes. Quando a viagem começou tive a certeza que seria uma viagem tensa. O barco balançava muito. Era impossível ficar deitado tranquilão na rede. Tive que amarrar minha mochila para ela não voar para fora. Foi complicado. Pela noite a rede balançava tanto que eu batia nas duas redes ao meu lado (parecia um bate-beque) o que tornava o sono impossível. Apesar dos pesares, gostei muito de ter viajado nesse barco e ter experimentado outro tipo de embarcação. O trajeto é todo bonito, passamos e paramos por diversos vilarejos. A paisagem da Amazônia nunca decepciona.

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Depois de 24 horas cheguei a Santarém e caminhei pela orla em busca de um lugar para ficar. Consegui um hotel por 25 reais a diária. O único motivo de eu estar em Santarém era por causa de Alter do Chão. Arrumei minhas coisas no quarto e apesar da noite mal dormida quis ir conhecer Alter.

A praia Alter do Chão localiza-se no rio Tapajós e é considerada, segundo algumas revistas especializadas, a praia de água doce mais bonita do mundo. Outros o chamam de Caribe brasileiro.

Peguei um ônibus circular e depois de uma hora estava em Alter. O vilarejo é todo charmoso e cheio de turistas. A primeira visão ao avistar a praia é a melhor e é a imagem que eu tenho na minha cabeça quando a memória me leva para os dias passados lá. O lugar é indescritível, bonito de verdade. A praia vira uma ilha dependendo do nível da água. Fica uns barqueiros para atravessar (acho que é dois reais, não usei o serviço) até a parte principal, mas é tranqüilo ir nadando, são uns 100 metros apenas. Nesse dia aluguei um caiaque (R$10) e fui para todos os cantos da praia. Parei em algumas ilhotas. Atravessei um caminho de pássaros. Dormi deitado na areia protegido pela sombra das árvores. Nadei demais. O mais gostoso são as correntes de água gelada que passam pelas pernas, enquanto que na parte de cima a água é bem morna. Não tem como não se apaixonar por este lugar. E claro, me apaixonei.

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Voltei diariamente para Alter do Chão, apesar de saber da existência de praias igualmente belíssimas como Ponta de Pedras. Não queria ir pra outro lugar estando em Santarém. Isso acontece às vezes comigo, gosto tanto de um lugar que abro mão de explorar o resto. Não me arrependo. Passei momentos de verdadeira paz naquelas águas. Não pensava em nada. A vida não poderia estar melhor. A única coisa que me arrependo é não ter acampado em alguma ilhota daquele lugar. Ao menos tenho um motivo para voltar.

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Santarém pouco conheci. A cidade tem uma orla bonita e movimentada. Pelas noites caminhava na orla e ia encontrar algumas pessoas que conheci. Ficávamos sentados em algum parapeito conversando e bebendo. De resto pouco vi e o que vi foi pela janela do ônibus rumo a Alter do Chão.

Informação 13.3: Santarém é muito mais barato que a vila de Alter do Chão. A distância entre os dois lugares é de quase uma hora de ônibus circular que custa R$2,50.

O próximo destino era Belém. Novamente seguiria pelo rio Amazonas. O barco dessa vez seria grande, porém com poucas pessoas. Foi muito bom esse trecho da viagem. Logo de inicio vê-se o encontro do Amazonas com o Tapajós. O Tapajós, com sua água de cor esverdeada, vai se perdendo no marrom das águas do Amazonas.

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Conheci algumas boas pessoas. Em especial, conheci uma senhorinha toda educada e cheia de histórias que fazia as horas, dentro do barco, passarem rapidamente. Quando o barco passa pelo estreito de Breves o rio deixa de ser imenso e único para dar lugar a dezenas de ramificações estreitas de rio. Em minha opinião é a parte mais bonita do rio Amazonas. Muito verde. Nesse momento o barco anda lentamente e garotos indígenas e ribeirinhas com suas canoas acompanham o barco até conseguirem atracar. Estando no barco, eles esperam ganhar algum tipo de presente dos viajantes, principalmente alimentos. Eles são talentosos com os barquinhos. Infelizmente não tive contato com nenhum deles. O barco parou algumas vezes e numa dessas vezes foi em Breves. Por um momento pude sentir a sensação de estar na ilha de Marajó.

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Depois de dois dias eu conseguia ver Belém ao fundo, cada vez mais próxima.

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“Fui para os bosques viver de livre vontade.

Para sugar todo o tutano da vida.

Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi.” Walden, Henry D. Thoreau

Obrigado Amazônia. Obrigado por me oferecer lindos cenários. Obrigado pelas pessoas que colocou no meu caminho. Obrigado por me fazer provar o calor extremo e a umidade extrema. Obrigado por me mostrar diversos tipos e estilos de vida. Obrigado por me atrair até você. Obrigado por seu verde intenso. Obrigado pelas viagens em suas águas. Obrigado por me respeitar. Obrigado Amazônia. Sentirei saudades. Até breve.

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