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A noite foi excelente. Comida quente e boa na barriga e uma quarto quente.. bom demais.

 

Acordamos e já havia um café esperando pela gente. Havia pão caseiro recém assado, queijo, presunto, salame, geleia caseira, manteiga e biscoitos. Além de café, suco e leite. Ótimo café. Realmente segurou bem até a hora do almoço.

 

Arrumamos as coisas, ligamos a band e infelizmente notamos que esse dia amanheceu nublado e chuvoso. Um pouco frio também. Mas não era pra se reclamar.. já tínhamos desfrutado de dias lindos anteriormente. Sempre um vai dar fora.

 

Voltamos pela carretera austral até encontrarmos novamente a entrada pro sendero Bosque Encantado.

 

Essa não é uma trilha conhecida por nós brasileiros e eu a encontrei por acaso quando observava a ruta 7 pelo google earth. Essa trilha dá em uma linda laguna, conhecida como Laguna Los Gnomos, onde também há um glaciar.

 

Estacionamos a band e ficamos um tempinho esperando pra ver se a chuva ia diminuir.. sem sinas de melhora, colocamos as roupas impermeáveis e fomos pro começo da trilha. A entrada custa 3000 e a trilha é plana em sua maior parte, no final há a travessia de um pequeno rio e uma subida mais ingrime entre rochas. Acho que deu uma 2h de trilha nessa condição de chuva.

 

Mais uma vez, estávamos dentro dos bosques chilenos. Muita água, lama e lodo. Escorregadio com chuva. Quando saímos da parte plana que fica dentro do bosque, encontramos o rio, o atravessamos e começamos a subida. Foi um pouco cansativo porque a chuva e o vento incomodavam muito. Porém quando terminamos a subida e tivemos a visão dela, foi incrível. Mesmo com o tempo fechado, o glaciar escondido entre as nuvens, a laguna continuava com uma cor esmeralda.

 

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Infelizmente com a quantidade de chuva e vento, não consegui tirar boas fotos com a câmera, então usei mais a gopro e por isso disponibilizo o vídeo também.

 

Estava realmente frio por conta da chuva. Decidimos voltar. Foram mais 2h de volta aproximadamente.

 

Descendo sob chuva e fomos convidados pelos guarda parques a ficar uns minutos na cabana deles. Conversamos sobre política, futebol, economia e nos explicaram sobre o clima da região e como funcionam os micro-climas que existem pela carretera austral, dando detalhes sobre chuvas, ventos e neve. Disseram que essa região do Parque Queulat é geralmente muito úmida e chuvosa, por isso a existência dos Bosques.

 

Até nos convidaram para ir trabalhar no Chile heheh

 

Fomos em direção ao carro e vimos uma SW4, com placas brasileiras se aproximando.. Só podia ser o amigo Engels da Bahia! E que se confirmou a suspeita hehe era ele e sua esposa! Estávamos trocando msgs durante a preparação da viagem e até durante a viagem, sempre informando a situação. Acabamos nos encontrando antes do previsto, pois eles não conseguiram fazer a trilha do Ventisquero Colgante por conta da mesma chuva que caía ali.. Já eram quase 2h da tarde, decidimos levá-los para a hosteria em que passamos a última noite, para almoçarmos, conversarmos e aproveitarmos a lareira de lá para secar as roupas kkkk

 

O almoço mais cerveja custou 12mil pesos.

 

Assim sendo, seguimos até a hosteria. Almoçamos muito bem novamente e ficamos um bom tempo conversando. Como nosso roteiro pra frente era igual, decidimos seguir juntos até Villa O'Higgins e tentar a travessia do Paso Rio Mayer.

 

Saímos de Villa Amengual e cada um foi no seu ritmo, até que nos encontramos de novo no posto em Coihaique, uma das maiores cidades da carretera austral, senão a maior. Utilizamos o desvio da ruta 7, tomando a ruta x-50 e depois a ruta 240, já que esse trecho é todo asfalto e teríamos um bocado ainda pela frente. Ali existe combustível barato, pela proximidade do litoral.

 

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Completei os tanques da band em um COPEC. Foram 78,17 litros, 34790 pesos, 445 pesos por litro e o odômetro marcava 10365km.

 

Conforme avisos pela carretera, decidi junto com Engels que seria melhor irmos até Villa Cerro Castillo, uma vez que estavam ocorrendo interrupções diárias, depois das 13h, entre o trecho de Cerro Castillo até as proximidades de de Bahia Murta.

 

Se dormíssemos em Coihaique, podíamos acabar chegando tarde em Cerro Catillo e ficar presos no bloqueio do trânsito.

 

Coihaique está em uma grande planície, e como os guardaparques nos disseram, ali seria outro clima. Sem chuva, sem nuvens. Saímos já no anoitecer e infelizmente pegamos um trecho da carretera à noite, algo que não estava nos planos, uma vez que a estrada também é o destino.

 

Depois de passar pela planície, voltamos a passar por entre as montanhas e descemos uma serra até chegarmos em Villa Cerro Castillo.

 

Engels encontrou uma hosteria e nós encontramos um camping nas coordenadas -46.125580, -72.152605.

 

Camping bom, com cozinha grande, lareira, churrasqueira, ducha quente(porém banheiros minúsculos) e grande área de camping. Tinha até wifi, mas difícil conectar. Custou 4000 pesos.

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A noite foi fria. Realmente, a cada km que dirigíamos ao sul, o frio apertava mais e mais. Os 'problemas' da band continuavam, vazamento de água no radiador e de óleo da dh. O óleo do motor também baixava um pouco e ia completando.

 

Villa Cerro Castillo é muito conhecida pelas diversas trilhas e locais para trekking, sendo o mais visitado o cerro que dá nome ao lugar, o Cerro Castillo. O camping tem uma linda vista do mesmo e de manhã, era possível observar sua beleza.

 

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Logo na saída da cidade de Villa Cerro Castillo, já começavam as obras. É um longo trecho com abertura de pista, perfuratrizes para explodir as rochas e muitas máquinas trafegando. Muito pare e siga. Então muita atenção nesse trecho.

 

Nesse longo pedaço de rípio com muita costela de vaca, que senti a diferença dos amortecedores antigos da band pros novos Turbogás que instalei. Não faz milagre! Mas o carro fica melhor sim! Recomendo e agradeço ao amigo Paulo, da Tropa4x4 por ter me conseguido dois com um ótimo preço!

 

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Perdemos muito tempo com todas as obras e chegamos no Lago General Carrera já próximo das 14:30. Esse lago tem uma cor azul incrível! E é nele que estão as famosas Capillas del Marmol!

 

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Seguimos mais um pouco e chegamos na cidade de Puerto Rio Tranquilo. Não é uma cidade grande e tem grande parte da receita vindo do turismo. Ali existem empresas que fazem passeios ao Campo de Gelo Norte, glaciares, lagunas, icetrekking.. muita coisa bacana. Inclusive, ali também é oferecido o passeio pra Capillas del Marmol.

 

Logo que chegamos encontramos Engels, havia acabado de comer e estava pra procurar o passeio também. Porém, seguindo a dica do amigo Marcelo(xexelo), fomos mais a frente da cidade, até encontrarmos a entrada pra Bahia Mansa, de onde também saem lanchas. Segundo Marcelo nos disse, nesse ponto é mais barato o passeio. Como nem chegamos a perguntar lá na cidade, não sabemos dizer quanto economizamos ali.

 

As coordenadas da entrada são -46.660917, -72.640916.

 

Descemos uma encosta bem íngreme e chegamos no pequeno atracadouro com uma meia dúzia de barcos. Ali encontramos um motociclista brasileiro, o Marcos, que estava sozinho dando uma volta com sua BMW 1200 pela patagônia e depois ia pro atacama. Detalhe: ele vinha junto de outro cara, que amarelou no 3º dia e voltou pra casa.. kkkk

 

Acham que é fácil ficar 30 dias fora do conforto do lar e da família? Não é não..

 

Confirmamos o preço do passeio: 8000 pesos por pessoa.

 

Fomos em 10 pessoas no barco, todos com colete e roupas impermeáveis, porque venta muito no lago e dá pra se molhar bastante. Em menos de 5 minutos, já estávamos próximos das Capillas.. Na verdade, são várias formações rochosas esculpidas pelo vento e pela água, ao longo de milhares, milhões de anos.. Cada uma tem seu nome, não lembro de todos, mas sei que existem as Capillas, a Catedral e um que se não me engano, eram os Túneis.. ou algo assim.

 

Infelizmente, na hora em que chegamos, o sol acabava de cair por detrás da grande encosta que ali margeia o lago, assim ficando um pouco escura a água, que é de uma pureza incrível. Ainda assim, estava tudo muito bonito! Recomendo fazer esse passeio antes das 2h da tarde, se possível, de manhã próximo da hora do almoço, com sol a pino.

 

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Bem.. se for postar todas as fotos vai demorar carregar a página depois hehehe

 

Enfim, esse é um dos passeios IMPERDÍVEIS da carretera. Se no dia estiver chovendo, sério, espero pelo próximo. A beleza é singular, os detalhes do mármore, á água.. enfim. VÁ!

 

Três vídeos aqui para vocês:

 

 

O passeio não durou mais que 1hora eu acho.. é rápido, mas valeu muito.

 

Voltamos pro atracadouro e ajudamos o Marcos a voltar pra pista. Levamos algumas coisas da moto dela na band, porque a subida era muito íngreme.

 

Nos despedimos e seguimos pro sul, para dormirmos em Cochrane.

 

Aqui nesse ponto, os amigos podem dar uma esticadinha até a fronteira com a Argentina, no Paso Los Antiguos. É uma estrada linda que margeia o Lago General Carrera por alguns despenhadeiros. É uma opção também pra quem deseja encontrar a Ruta 40.

 

Um pouco mais de 30km, encontramos o famoso Rio Baker, considerado um dos melhores do mundo para a prática de rafting por conta de suas incríveis corredeiras. Existem muitos hotéis e empresas de turismo nesse trecho. Parece ser bem organizado. O rio é muito bonito, vale muitas fotos!

 

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Informação: desde Puerto Rio Tranquilo, não há mais asfalto, e nem previsão para pavimento.

 

Chegamos em Cochrane já de noite. Mesmo tendo muito combustível no tanque, com receio do que encontraríamos pela frente, resolvi abastecer. Foram 30,040 litros, 17003 pesos, 566 pesos por litro e o odômetro marcava 10725,4km.

 

Logo pegamos informação com o frentista e ficamos em um bom camping, porém não muito grande. Coordenadas -47.253020, -72.579176.

 

Tinha cozinha pequena, energia, luz, banhos quentes e não foi caro, só não me recordo se foi 4000 ou 5000 pesos.

 

Fizemos janta e fomos deitar.

 

Tracklog adicionado. Deu uma duplicada em cima do último, porém não tem erro, é só ver onde tô relatando e ir acompanhando na linha do tempo do google earth.

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Noite tranquila, sem vento, frio moderado.

 

Tomamos café com calma e saímos de Cochrane(pronuncia-se cocrêine) rumo novamente ao sul. Rumo Villa O'Higgins.

 

Esse dia seria cansativo. Eram nada menos que 230km do mais puro rípio chileno e 1 balsa com apenas 2 horários no dia.

 

Pois bem, pegamos novamente a ruta 7 e seguimos um bom trecho com um rípio razoável. Parece que em um pequeno trecho existe um contrato de 'manutenção'.

 

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Para andar no rípio eu usava 26 psi nos pneus, porém dava até pra usar menos, ficaria mais macio. O maior problema do rípio é o desgaste por cortes nos pneus. Os meus traseiros voltaram bastante judiados..

 

Eu divido o rípio em 4 condições:

rípio de qualquer condição + costelas de vaca = 30-40km/h mais que isso a band desmonta..

rípio grosso = 50km/h

rípio fino = 60km/h

chão batido, pouco cascalho = 70km/h

 

Essas eram as velocidades que eu descrevia com a minha band. Não que eu ficasse olhando o chão pra ver o que tinha. Era automático. Você que sabe sentir seu carro, percebe quando e quanto consegue desenvolver. Lembro todos os amigos que o rípio é traiçoeiro. Frear, fazer curvas ou pegar o 'acostamento' é complicado. Surpresas sempre acontecem. Me perdi na quantidade de saídas de traseira que tive com a band. Portanto, olho aberto sempre.. a patagônia, principalmente esse trecho da carretera, não é um bom lugar pra ter problemas.

 

Saindo de Cochrane, nos afastamos do Campo de Gelo Patagônico Norte. Isso não significa menos frio.. muito pelo contrário, estávamos indo em direção ao início do Campo de Gelo Patagônico Sul, terceira maior concentração de gelo do planeta. Além de tudo isso, estávamos nos aproximando de uma área que sofre muita influência dos canais oceânicos. Um baita vento frio soprava ali.

 

Nossa balsa tinha o primeiro horário às 12:00 horas, e depois só às 15:00. Segue horário da balsa.

 

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Como não conseguiríamos chegar pra pegar a primeira, decidimos tomar o desvio pela ruta x-904 e ir até Caleta Tortel, para conhecer e almoçar. É um pequeno desvio, menos que 20km.

 

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A estrada é muito bonita. A cidade mais incrível ainda.

 

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Caleta Tortel é uma cidade curiosa: não há ruas, a cidade se desenvolveu em torno do mar/degelo em cima de palafitas! Existe apenas um acesso e ele termina em uma praça com estacionamento. Depois é só andando! Muito curioso!

 

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Não é uma cidade com grande infra estrutura para turistas. Nós por ex não encontramos nenhum lugar aberto para comer, e eram apenas 1:30 da tarde.. Os albergues e hotéis estavam fechados pra temporada.

 

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Como não encontramos nada aberto, decidimos voltar, chegar no local da balsa e tentar cozinhar algo de forma rápida.

 

Quando chegamos novamente no estacionamento, encontramos Engels e Ivana. Eles também estavam atrás de almoço e queriam ficar uma noite ali na cidade. Explicamos que não havia muita coisa funcionando, porém ficaram ali e nós seguimos até a balsa.

 

Logo que chegamos, não mais que 5 min, Engels chegou também. Não encontraram nada agradável por lá. Preferiram seguir até Villa O'Higgins.

 

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A balsa era pequena, porém não completou a lotação. Essa balsa é gratuita, porém é por ordem de chegada.. na alta temporada deve ser meio complicado, então, cheguem cedo!

 

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Esse trecho é curto, não mais que meia hora de navegação. A balsa conta com uma pequena sala de espera e banheiros, mas não havia nada para comer.

 

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Chegamos em Rio Bravo e eram mais 100km até Villa O'Higgins. A ansiedade só aumentava para chegar ao fim da Carretera.

 

Andava nesses últimos kms lembrando o tanto que eu olhei pelo google maps, street view, google earth.. fotos, relatos. Imaginando a carretera, imaginando a band ali. Me imaginando com um ponto no mapa e pensando na distância que estava de casa.. E agora, dirigindo por ela, tudo me parecia ao mesmo tempo estranho e familiar. Uma baita sensação.. Só estando lá pra sentir..

 

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Uma parada no Lago Cisnes, que tem uma linda visão.

 

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Mais alguns km que pareciam cada vez mais longos.

 

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Enfim, encontramos a cidade de Villa O'Higgins. Pequena como imaginava, mais simples do que previa. Casas de 1 ou 2 pavimentos, chaminés funcionando e ruas vazias.

 

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Sensação incrível de estar ali. 1 ano de preparação de viagem. Porém, o ponto final não era ali. A Ruta 7 - Carretera Austral terminava alguns km a frente, no Lago O'Higgins. Encontramos Engels e seguimos juntos até lá.

 

Chegar no fim da Carretera realmente me deixou sem palavras. Não sabia bem como aceitar o fato de ter conseguido. Parece bobeira, mas deixar a família e amigos para ir até um lugar que tão poucos conheciam e que a grande maioria me perguntava: mas o que tem lá? o que há de especial lá? E você não saber bem como explicar o fascínio que tinha em querer estar ali, simplesmente dirigir até chegar nesse ponto.. puts..

 

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Passada a euforia do momento, do check in com o Spot, voltamos pra cidade. Estava esfriando muito rapidamente.

 

Mesmo aparentando vazia, os hotéis, pousadas e cabanas estavam praticamente todos cheios. Haviam obras na cidade, muitos trabalhadores hospedados.

 

Procuramos um lugar para comer também. Não havíamos almoçado naquele dia, estávamos apenas com barrinhas de cereal.. Após muita procura, uma senhora gentilmente se dispôs a fazer uma janta em sua casa. Enquanto ela fazia a comida, continuamos a procura. Engels encontrou uma cabana, nós uma hosteria muito boa. Preço um pouco salgado pra baixa temporada, mas havia wifi, banho quente e café da manhã. Muito boa e organizada. Foram 15mil pesos. Hosteria El Mosco, coordenadas -48.464672, -72.560831.

 

Voltamos pra jantar, e mesmo com alguns cabelos na comida, estava muito boa kkkk

 

Foi preparado arroz, bife, batata frita e salada. Com mais duas caixinhas de cerveja que eu e Engels compramos, desceu redondo

 

Não me recordo do valor, mas foi algo muito barato.. não mais que 4000 pesos por pessoa..

 

Enquanto comíamos, combinamos de ir tentar atravessar a fronteira pra Argentina pelo Paso Rio Mayer no outro dia pela manhã.

 

Fomos pras hospedagens e passamos aquela noite com um bom sono, merecido sono.

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O sono apertou e perdemos a hora heheh

 

Acordamos já com o café sendo preparado. Havia mexido de ovos, pão, torrada, geleia, manteiga, café e leite.

 

Conversamos com a proprietária da hosteria e ela não nos encorajou muito a tentar a travessia. Disse que dependia de uma série de fatores, como chuvas, degelo, temperatura.. além da permissão dos carabineros.

 

Perguntamos se era comum travessia de carros ali e ela nos disse que não. Vez ou outra alguns locais tentavam a travessia, mas que não conhecia relatos de turistas que conseguiram atravessar.. preocupante, ham?

 

Procurei muito e muito na internet relatos sobre a travessia. O pouco que encontrava era sobre travessia de bicicletas.

 

Encontrei um relato de 2 motociclistas, que se fuderam muito, incluindo um quase-calço hidráulico, mas passaram com a ajuda de um guia local à cavalo:

 

 

E esse vídeo de uns caras com uma Hilux em algum dos braços dos rios:

 

 

No mais, os sites das aduanas chilenas e argentinas relacionavam o Paso Rio Mayer apenas para ciclistas e pedestres. Troquei alguns emails com empresas de turismo, pessoas locais e até mesmo com as 'prefeituras' e aduanas locais, as respostas estão abaixo:

 

"Es un paso abierto todo el año, pero no recomendado para automóviles, incluidos 4x4, y motos, ya que falta un puente sobre un río muy caudaloso en verano. Además, en el lado argentino junto a la frontera hay 7 kms sin huella definida.

- Si es un aventurero 4x4, y tiene tiempo disponible para retornar a Cochrane en caso de no poder cruzar, ¡atrévase!, la naturaleza manda y no podemos asegurarle que el río estará crecido o convertido en un amistoso riachuelo...

- Algunos viajeros, muy pocos, han tenido suerte y han encontrado el río Carrera con bajo caudal y han cruzado por un vado de ripios. Otros, los más, han tenido que regresar a la ruta 40 o a la Carretera Austral sin lograr el objetivo."

 

"PASO FRONTERIZO RIO MAYER.

Informamos que esta ruta internacional no está habilitada para automóviles. Sólo es posible llegar cerca de la frontera desde Chile y Argentina, pero falta un tramo de 10 kms de camino y un puente sobre el río Carrera (Argentina). Cruce para ciclistas con precaución sobre pasarela peatonal."

 

"Hola Guilherme:

mira en efecto, la ruta 40 empalma en el sector "Las Horquetas" con la ruta que conduce a las estancias Alma Gaucha y Tucu Tucu,

la ruta es una senda de aprox13 km, y siguen otros 4 km para cruzas vadeando el rio carrera.

 

te aconsejo comunicarte con el depto de Turismo de Gobernador Gregores que puede tener mayor informacion respecto al estado del paso que solo es un paso pedestre."

 

"BUENOS DIAS, EL PROBLEMA NO ES EL RIO MAYER, ES EL RIO CARRERAS MUY CAUDALOSO Y NO POSEE NINGUN TIPO DE PUENTE, ADEMAS ES UN RIO VARIABLE SU CURSO EN SU DELTA (POSIBLE LUGAR DE VADEO), LA RUTA ESTA EN CONDICIONES EL RIO NO ES RECONDABLE SU VADEO, Y UN AUXILIO CERCANO NO HAY. DESDE MI OPINION RECOMIENDO REALIZAR EL CRUCE POR EL PASO ROBALLOS, COCHRANE Y LUEGO VILLA O`HIGGINS, POR LA CARRETERA AUSTRAL....

 

ATTE GENDARMERIA"

 

 

Bem desanimador, heim?

 

Agora vamos explicar o motivo, o tesão, o encanto por esse trechinho que ninguém sabe que existe direito:

 

Depois de Villa O'Higgins, o próximo destino era El Chaltén, que fica muito próximo geograficamente falando, menos de 100km em linha reta. Praticamente 'só' cruzar o Lago O'Higgins e percorrer 50km entre os vales argentinos. Porém essa travessia só é possível para bicicletas e pedestres, em alguns pequenos barcos. Não há transbordo de motos e carros.

 

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Primeira opção que pessoas com juízo fariam: Voltar até Cochrane, cerca de 250km de rípio e tomar a entrada para o Paso Roballos.

 

O Paso Roballos é habilitado todo o ano para todo tipo de veículos, porém é todo de rípio e em condições não tão boas.

 

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Segunda opção que pessoas com juízo fariam: Voltar até próximo de Puerto Guadal, cerca de 300k de rípio, para então seguir margeando o Lago General Carrera e encontrar o Paso Los Antiguos.

 

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O Paso Los Antiguos é rípio em todo lado chileno, porém conta com uma linda estrada que margeia o Lago General Carrera. Depois segue asfalto no lado argentino por um bom trecho na ruta 40.

 

Muito chão heim? Pois bem, eis que surge a opção do Paso Rio Mayer, ou Paso Ribera Norte.

 

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Esse Paso nos economizaria cerca de 400km e até 10h de viagem. Tentador.. tanto pela economia, quando pelo desafio.

 

O problema como já explicado, era todo o trecho entre as aduanas, cerca de 9km em linha reta sem estrada, atravessando os Rios Mayer e Carrera, além de um grande lamaçal e um trecho depois da travessia dos rios em que não sabíamos ao certo como seria, pois não tínhamos qualquer informação.

 

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Bem, depois dessa longa explicação, acredito que a maioria de nós aqui do fórum 4x4, 'jipeiros que samos', com alguns parafusos faltando e coragem sobrando, também ficaria tentada e com ambição de arriscar a travessia pelo Paso Mayer. (esse relato originalmente está sendo escrito no fórum 4x4brasil e sendo replicado aqui, por isso há algumas referências)

 

Assim sendo, nos encontramos com Engels um pouco mais tarde do que combinado e seguimos rumo ao Reten Fronterizo chileno. A entrada fica 10km voltando pela ruta 7, nas coordenadas -48.416886, -72.547543.

 

O caminho é de rípio e algumas vezes é bem estreito.. porém não é complicado, não há erro, só seguir a estrada e o GPS, se tiverem com algum mapa que esteja marcando ali.

 

São cerca de 40km até o posto dos carabineros. Nos últimos km já é possível ver o nosso grande desafio: a grande baixada por onde correm as dezenas de braços de rio.

 

 

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A foto não é minha, é da internet, não estava pensando em tirar foto nessa hora hehehe

 

Chegamos então no controle chileno. Fomos recebidos com olhares estranhos. Até os cachorros latiram.

 

Logo um oficial veio nos receber. Não escondemos nossos planos e logo dissemos que queríamos tentar a travessia.

 

A primeira pergunta foi 'Quem disse que vocês podiam passar por aqui?'

 

E aí que eu digo e repito que estudar o local e trajeto faz toda a diferença.. Começamos a explicar nossa necessidade, dissemos que tínhamos estudado sobre a travessia e que éramos experientes jipeiros(fizemos nosso filme kk)

 

Fomos convidados para entrar e conversar com outro oficial. Esse nos desencorajou muito e muito mais. Nos explicou toda a dificuldade, disse que não poderia fazer nada nada se tivéssemos problema com os veículos e que só atuariam em caso de risco de vida.

 

Afinal, até pra eles era complicado, só tinham uma picape nissan e meia dúzia de pessoas.

 

Depois de muita conversa, de muito 'Vocês tem certeza disso?', enfim começou a procurar papéis e livros para fazer a documentação de saída do Chile. Esse mesmo oficial nos disse que só soube de um grupo que havia atravessado ali, 5 motociclistas guiados pelo piloto chileno do Rally Dakar. De veículos, não havia visto nenhum. Isso em 5 anos.

 

A autorização demorou a sair. O computador parecia ser com internet via rádio ou satélite. Muito lento.

 

Enfim, baixa no passaporte, autorizados a passar. Era quase 12:30. Nos desejou sorte.

 

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Descemos, passamos a primeira cerca, e depois de alguns metros já estávamos em território argentino.

 

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Rodas livres travadas, tração acionada, fomos seguindo devagar pelo cascalho. No primeiro ponto que íamos atravessar, surpresa.. uma baita de uma lama, grudou na band que nem reduzido saiu. Pior, a band tava afundando parada. Entre a atolada e a saída, já tava apoiada nos eixos.

 

Engels pegou as cintas e me puxou pra trás, saí sem muita dificuldade.

 

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Até brincamos, que os guardas já estavam pensando 'já vão desistir' kkkk

 

Então olhamos pra trás e vimos o guada fazendo sinais pra alguma direção. Entendemos que deveríamos evitar aquele trecho, e seguimos por outro, com mais pedras.

 

Daí pra frente foi muito devagar o avanço. Mesmo a parte que havia pedras afundava, então tínhamos que ir pra algum local mais seco. Assim fomos procurando e atravessando os riachos, medindo profundidade e tentando traçar uma direção.

 

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Meu GPS só tinha o início da estrada do outro lado argentino. Seriam então 5km apenas tendo referência das montanhas e o caminho era difícil.

 

O nosso maior inimigo era o degelo, que aumentava o volume de água dos rios enquanto o dia corria. Estávamos atrasados, perdemos tempo nos carabineros.. mas seguimos.

 

Fomos cortando rio e andamos cerca de 1,5km em cerca de 2:30.. o avanço era difícil.

 

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Em uma das buscas por caminhos melhores, encontramos uma trilha apagada, possivelmente de patrulha pelo Unimog argentino, fora do rio, por cima de um pequeno banhado. Vimos que ela cortaria um bom trecho de rio e por ali seguimos. Descemos novamente pro rio e demos de cara com o Rio Carrera. Esse que é o maior problema da travessia.

 

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O Rio Mayer corre no sentido como no sentido Leste - Oeste em diversos braços, o Carrera vem do 'norte' em um único braço, muito fundo e violento. Impossível de passar naquelas condições.

 

Começamos a procurar outros pontos de travessia.. vimos dois tocos de madeira pintados de vermelho e ficamos em dúvida se ali era ponto de travessia ou ponto de perigo.. ali conseguimos até avistar o Unimog argentino lá do outro lado patrulhando.. fomos margeando, até conseguimos um pequeno avanço.. porém já estava tarde.. eram 15:15 e já conseguíamos ver que alguns pontos que havíamos atravessado, já estava com água. Ou seja, a água estava subindo, e rápido!

 

Por segurança, decidimos voltar pra fronteira chilena. Com a experiência adquirida nesse dia e a certeza de que haviam condições de conseguir atravessar com a água um pouco mais baixo, combinamos de tentar no outro dia de novo, bem cedo.

 

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Tomamos a trilha encontrada e para nossa surpresa, ela dava praticamente na polícia chilena.. fizemos todo o trajeto de volta em menos de 40 minutos.. Isso foi um grande achado e nos serviria para ganharmos tempo no próximo dia.

 

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Conversamos com o oficial e ele aceitou que tentássemos mais uma vez, sob a condição de ficar com nosso ticket da PID (Policia de Investigaciones), necessário para sair do país. Caso desistíssemos no outro dia e quiséssemos ir embora por outro lugar, teríamos que voltar lá para pegar o ticket e cancelar a saída do passaporte.

 

Voltamos pra Villa O'Higgins, chateados por não termos conseguido, mas animados pro próximo dia. Estávamos confiantes.

 

Como havíamos andando um pouco, decidi abastecer a band. Foram 33,841 litros, 20000 pesos, 591 pesos por litro e o odômetro marcava 11143,1 km.

 

Para facilitar no próximo dia, ficamos todos na hosteria do dia anterior.

 

Mais uma vez jantamos na senhora que deixa cair cabelo na comida.

 

A noite estava fria. Fomos dormir esperando pelo próximo dia..

 

Tracklog em anexo. Mostra o deslocamento de Villa O'Higgins até o ponto em que conseguimos chegar, com a trilha que encontramos.

1ª tentativa Paso Rio Mayer.rar

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Guilherme, a travessia do Paso Mayer foi épica ::otemo:::shock: Que vontade de ter um 4x4 ::cool:::'> Muito bom o relato ::otemo::

 

Qual foi mais difícil? Atravessar o Salar de Uyuni ou o Paso Mayer? hehe abs

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Guilherme, a travessia do Paso Mayer foi épica ::otemo:::shock: Que vontade de ter um 4x4 ::cool:::'> Muito bom o relato ::otemo::

 

Qual foi mais difícil? Atravessar o Salar de Uyuni ou o Paso Mayer? hehe abs

 

Herbert, o Mayer é mais difícil! Muito mais isolado e com muito mais riscos que o Salar de Uyuni.. se você quebrar no salar, alguém pode te rebocar até fora. No Mayer, não tem NINGUÉM pra te rebocar.. não entra carro, caminhão, moto.. nada! E a travessia de rio sempre é perigosa. Pode bater cárter, caixa, eixos, furar radiador, quebrar mangueiras.. muito mais complexo!

 

Mas o Salar também tem suas surpresas..

 

Abraço!

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