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DESTINO FÉRIAS. OS GAMBERONI DE BONITO A LIMA EM 27 DIAS

@leogamberoni

 

Terminado minhas aulas e as de minha filha de doze anos é hora de partir. O destino dessas férias foi traçado desde o início de 2015, mas acabou por sofrer algumas alterações devido ao preço das passagens e a desvalorização do Real.

 

Decidimos conhecer um pedaço do Brasil, de cruzar toda a Bolívia, parte do Chile e finalizar a viagem em Lima, no Peru. O roteiro final ficou: Natal, Bonito, Sucre, Potosi, Uyuni, San Pedro de Atacama, La Paz, Lago Titicaca, Copacabana, Puno, Arequipa, Cuzco, Machu Pichu, Nasca e, por último, Lima de onde retornaremos a Natal.

 

Teremos 27 dias para completar o roteiro. Alguns descartes poderão ser feitos, dependendo de perda de tempo em deslocamentos, ou caso a gente queira passar mais dias em um determinado local, ou explorar lugares não pensados anteriormente. O bom de mochilar é poder alterar sua rota a qualquer momento.

 

Saímos de Natal em direção a Campo Grande, mas antes uma conexão em Brasília. Conseguimos chegar na capital sul matogrossense às 22 horas e de lá pegar um transfer até Bonito. Ás três da madrugada fizemos o checkin na pousada. A cidade faz frio a noite, mas durante o dia é bem quente.

 

Às 11 horas do dia seguinte tínhamos o primeiro passeio agendado: uma flutuação nos rios Sucuri e da Prata. Quase não acontece devido a chuva. Mas no final das contas deu tudo certo.

 

 

O lugar é lindo e, apesar da chuva, a água do rio se manteve cristalina e numa temperatura agradável. Foi possível observar vários cardumes de peixes e a vegetação aquática. Nada de jacarés e sucuris, infelizmente. Em vários pontos também observamos os fervedouros, que são as nascentes do rio. De longe uma experiência indescritível.

 

No dia seguinte fizemos a visita a gruta do lago azul, com cerca de 80 metros de profundidade. Outro lugar para nos deixar impressionados. Uma enorme caverna com águas cristalinas que, devido a combinação da luz solar com os sedimentos em calcário no fundo de seu leito, proporciona a sensação da cor da água ser um azul celeste. É uma atividade de contemplação.

 

A tarde fizemos um passeio leve chamado boia cross. Uma descida na correnteza do rio em cima de uma bóia passando por sete pequenas quedas dágua. A diversão é garantida para as crianças e adultos também. O tempo em Bonito foi pouco. Ficou a sensação de ter que voltar em breve.

 

 

 

IMPRESSÕES SOBRE BONITO

 

É uma cidade nova, com cerca de 50 anos e 20 mil habitantes. Toda planejada, suas ruas são retas formando quarteirões retangulares em toda sua extensão. É extremamente limpa. Há lixeiras seletivas espalhadas por toda a cidade.

 

A população vive basicamente de três atividades: turismo, comércio e agronegócio. Bonito parece ser uma cidade bem tranquila e bem policiada. Povo hospitaleiro, sempre disposto a ajudar.

 

A sensação é de você estar numa enorme fazenda. A moda sertaneja, de botas e chapéus de vaqueiro, predomina entre a população nativa. A música também.

 

 

Possui um custo de vida alto e os passeios, mesmo em baixa estação são caros. O ideal é ter pelo menos cinco dias na cidade para conhecer os principais pontos turísticos. Alugar um carro facilita a visitação já que algumas atrações ficam distantes.

 

 

 

DE BONITO A CORUMBÁ

 

O serviço de transporte na região é muito precário. Os turistas só tem a opção de transporte privado, seja por táxi, contratando transfer diretamente nas agências de turismo ou seja alugando um carro.

 

Na hora de ir embora de Bonito em direção a Corumbá, as opções eram ainda menores. Ao chegar na rodoviária, que só abre 15 minutos antes da partida de cada ônibus, fomos informado que o único ônibus que vai para Corumbá sairia ao meio dia e não havia a opção de fazer reserva de passagens.

 

Optamos por pegar um transfer até Miranda, cerca de 120km de Bonito e de lá pegar um ônibus com destino a Corumbá. Problema resolvido. Depois de algumas horas de espera na rodoviária de Miranda, finalmente estamos a caminho de Corumbá. A expectativa é conseguir atravessar a fronteira ainda hoje e já tomar o trem da morte para Santa Cruz de la Sierra.

 

 

A IMIGRAÇÃO Y LA IMIGRACION

 

Chegamos em Corumbá as 17:30 e seguimos direto para a fronteira com a esperança de conseguir dar entrada na documentação e ainda pegar o ferrobus que sairia as 18:00, fuso-horário boliviano, uma hora a menos que Corumbá e duas a menos que Brasília.

 

Entretanto, apesar do letreiro marcar o atendimento até as 18:00, o serviço do lado brasileiro já estava encerrado. Tivemos que dormir em Quijarro e acordar as 4:00 para retornar a imigração e dar entrada na documentação. Do lado brasileiro, fomos os segundos. Mas ainda tinha la imigracion boliviana, com sua fila gigantesca e que só crescia.

 

Nessas horas o melhor a fazer é puxar conversa para conseguir informações valiosas. Conhecemos um grupo de estudantes brasileiros que voltavam ao Brasil de férias. Eles nos deram a dica para fazer o câmbio ali mesmo já que em Santa Cruz a cotação estava pior. E assim foi feito.

 

 

CHEGANDO A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

 

Depois de quase três horas nas filas de imigração brasileira e boliviana, conseguimos a autorização para entrar no país. Fomos direto para a rodoviária comprar passagens já que o ônibus sairia as 11:00.

 

Desistimos de ir de trem. O mesmo somente sairia a noite e não havia a garantia de conseguirmos passagens. Os ônibus são confortáveis, estilo leito. O preço também é equivalente ao superpulman. Só não teremos a paisagem da viagem de trem mas, em compensação, a viagem levará 8 horas, o que nos ajudará a recuperar parte do tempo perdido.

 

 

BOLÍVIA ES UN CAOS

 

A felicidade de conseguir resolver tudo dentro do prazo durou pouco. Apesar de tomar cuidado em comprar passagem pelas empresas indicadas, o ônibus que pegamos quebrou duas horas depois de viagem.

 

Sabe aquela sensação de estar vivenciando uma realidade precária no transporte brasileiro de vinte, trinta anos atrás? A Bolívia passa por uma realidade difícil. Frota velha de carros e ônibus, com quase nenhuma manutenção. Tivemos que parar na estrada por falta de freio. Mais uma vez enfrentamos uma adversidade na viagem. O ponto positivo se deu na qualidade das estradas, todas novas e conservadas.

 

 

A SAGA DE PUERTO QUIJARRO ATÉ SUCRE

 

Chegamos em Santa Cruz às vinte e uma horas bem cansados. Resolvemos dormir próximo a rodoviária e, no dia seguinte, arriscar até o aeroporto para tentar comprar passagens para Sucre. Do contrário, teríamos que enfrentar uma viagem de 15 horas de ônibus e que sairia apenas as 17 horas do dia seguinte.

 

Deu certo. Conseguimos um vôo com conexão em Cochabamba, que já está a 2.500m de altitude. Nos custou as duas passagens 860 Bolivianos. Eu comecei a me sentir tonto e com Náuseas mas, felizmente Brunninha está bem.

 

A intenção é passar duas noites em Sucre para nos aclimatar a altura e conhecer o local. Depois seguimos viagem para os salares de Uyuni.

 

 

A ACONCHEGANTE SUCRE

 

De longe, a cidade mais bela que visitamos na Bolívia até o momento. Sucre é uma cidade colonial conhecida como La Ciudad Blanca, por ter suas edificações pintadas de branco.

 

Aqui, o ar já começa a faltar. São 2.750m de altitude e o clima é bem agradável. A noite, pegamos 8 graus, mas durante o dia fez bastante calor.

 

A viagem cansativa até aqui valeu a pena. Sua arquitetura colonial é belíssima e a cidade, apesar de ser a capital constitucional da Bolívia, tem ares de interior.

 

São vários pontos para se visitar. Partindo da Plaza 25 de Mayo, em pouco tempo é possível conhecer os principais destinos turísticos. É uma cidade para passar dois dias. Amanhã partimos para Uyuni.

 

 

A CAMINHO DE UYUNI

 

Depois de dois dias em Sucre, partimos em direção a Uyuni, com parada em Potosi, já que não havia ônibus direto no momento em que chegamos na rodoviária. É uma viagem de pelo menos 7 horas em ônibus velhos e sem ar condicionado. Potosi está a mais de quatro mil metros de altitude e até respirar cansa. O clima é muito seco e há sempre poeira no ar devido ao tipo de solo da região.

 

A chegada em Uyuni se deu no fim da tarde. Antes de ir atrás de hotel fomos logo em busca das empresas que fazem o passeio de três dias pelo salar e garantir logo nossa vaga.

 

Conseguimos uma empresa que, aparentemente é boa. Vamos testar na prática. Também nos hospedamos na mesma rua para facilitar a logística. A noite fez o maior frio de toda a viagem até o momento: 0 graus.

 

Já aproveitei para comprar as passagens de ida para La Paz para daqui três dias e pernoitarmos no ônibus. Desistimos de seguir por San Pedro de Atacama. Vai aumentar a viagem em três dias e perdemos dois dias tentando chegar a Sucre.

 

 

PRIMEIRO DIA NO DESERTO DE SAL

 

Nosso passeio pelo salar de Uyuni começou por uma visita ao cemitério de trens. São várias máquinas abandonadas que já foram utilizadas no minério de ferro e prata. Depois, fomos até a feira de artesanias bolivianas. Parada estratégica para a compra de luvas e gorros que já serão utilizados esta mesma noite.

 

O sol durante o dia estava muito forte. O clima seco nos desidratava muito rápido. Consumimos dois litros de água rapidamente. Nosso carro estava formado por dois turistas de La Paz, dois australianos, além de mim e minha filha. Todos sofrendo com o clima.

 

Nossa terceira parada foi numa nascente de água salgada, que borbulhava do chão, extremamente gelada. Algumas pessoas se aventuravam em colocar os pés ou as mãos, mas logo desistiam.

 

Depois fomos até a isla del pescado, que fica no meio do salar. Uma visão surreal. Uma pequena formação rochosa, cheia de cactus e algumas construções, que se destaca no horizonte da paisagem branca e retilínea. Para conhece-la é preciso desembolsar 30 Bolivianos. Depois paramos para almoçar em um restaurante de sal. Suas paredes, mesas e cadeiras são feitas literalmente de sal.

 

A tarde seguimos em frente. Uma última parada para fotos na imensidão branca de sal e observação do horizonte que faz parecer que as montanhas flutuam. A primeira pernoite foi num hotel cujas camas e decoração também são de sal.

 

 

SEGUNDO DIA: LAGOAS E VULCÕES

 

O segundo dia começou as seis horas. Tomamos café e partimos em direção aos vulcões e lagoas no deserto de Uyuni. A primeira parada foi no vulcão Ollague, que ainda está ativo. De um lado é a Bolívia e do outro já é o Chile. Pudemos andar sobre suas lavas petrificadas.

 

Seguimos em direção as lagoas. Quatro no total. A primeira a ser visitada foi a laguna Canhapa, localizada entre montanhas vulcânicas. Haviam vários flamingos sobrevoando-a. Visitamos mais duas lagoas com a mesma formação.

 

A tarde, depois do almoço, conhecemos a árvore de pedra. Formação de lava vulcânica que lembra uma árvore petrificada. No percurso pegamos várias rajadas de areia que obrigava o nosso motorista a para o carro.

 

Em seguida, partimos para o ápice deste dia: a laguna colorada. Sua formação a partir de sedimentos rochosos que são trazidos pela água que brota das montanhas vulcânicas, ganha cores diversas, de acordo com os minérios da região. É uma das vistas mais incríveis do passeio.

 

A laguna Colorado, com 4.500 metros de altitude, fica em um parque nacional e para ter acesso cada passageiro tem que pagar 150 Bolivianos. Chegamos no hotel ás 16:30. Só poderemos carregar os celulares e câmeras a partir das 19:30, quando ligam o gerador. Há pelo menos seis grupos de seis pessoas e duas tomadas. A disputa vai ser grande.

 

 

ÚLTIMO DIA: GEYSERS, FONTE TERMAL E MAIS VULCÕES

 

O último dia no deserto começou cedo. As três e meia da manhã já estávamos de pé para arrumar a bagagem e tomar o café da manhã. Tudo no escuro pois os geradores foram desligados durante a noite e leva algum tempo para voltar a funcionar.

 

O destino era os geysers, jatos de vapor de água que chegam a 5 metros de altura, a 200 graus e que estão localizados a 4.850 metros de altitude. O ponto mais alto de todo o nosso percurso. O cheiro de enxofre era insuportável.

 

O frio fora do carro era de menos 3 graus. Colocamos todas as roupas de frio que levamos e, mesmo assim, sofremos com a temperatura. Saímos do hotel em uma espécie de comboio não organizado já que todos os carros queriam chegar primeiro nos geysers e garantir as melhores fotos.

 

A segunda parada, um pouco mais a frente, foi em Águas Calientes, águas termais, a 36 graus, que brotam da pedra e formam piscinas onde se pode tomar banho por 6 bolivianos. O contraste com a temperatura ambiente forçava as pessoas não quererem sair de lá.

 

Seguimos pelo deserto de Dali e suas rochas surreais que parecem mover-se pelas areias. Por fim, chegamos a laguna verde e ao vulcão Licambur, cuja altura é de 5.960 metros.

 

Em nosso planejamento inicial deveríamos seguir a San Pedro de Atacama, mas retornamos a Uyuni e iremos para La Paz. Atacama ficará para uma outra oportunidade.

 

 

A CIDADE DE UYUNI

 

Uyuni é uma cidade localizada a cerca de 4.000 metros de altitude. Possui basicamente duas fontes econômicas: a mineração e o turismo. Recebe gente de todo o mundo.

 

Nas suas ruas, hotéis e carros 4x4 que fazem o trajeto pelo deserto se houve sotaques americanos, chilenos, colombianos, australianos, brasileiros, japonês, chinês, francês, entre outros.

 

Em alguns pontos de visitação, os mais disputados, era possível ver de 30 a 50 veículos estacionados, chegando e saindo. Sempre com sua lotação máxima de um motorista e seis turistas.

 

A infraestrutura turística é precária. Desde a rede hoteleira, como também na parte alimentar, passando por banheiros públicos. Já os passeios são de excelente qualidade.

 

Os carros, obrigatoriamente, precisam ser 4x4 e de sete lugares. Não são tão novos, o nosso era de 2001, mas com manutenção adequada, ofereceu conforto e segurança a todos nós.

 

Eles partem com três galões extra de combustível, as refeições de seus passageiros - café da manhã, almoço e jantar - e um pequeno kit de manutenção. No caminho, não há onde comprar mantimentos. O turista precisa sair de Uyuni levando seus sucos, biscoitos, leites, entre outros, se quiser complementar as refeições oferecidas pela empresa de turismo.

 

É o tipo de lugar que o desejo de voltar prevalece sobre as adversidades, tais como o clima seco, arenoso e a precariedade de sua infraestrutura.

 

 

LA PAZ, A CAPITAL

 

Saímos de Uyuni a noite em direção a La Paz. Chegamos ainda de madrugada, às 4:00. Tivemos que fazer hora até o comércio abrir e seguir para a pousada. O taxista se enrolou e não conseguiu nos deixar no endereço correto.

 

Precisamos pegar outro táxi. Em La Paz ficamos duas noites. Aproveitamos para descansar do ritmo puxado que vinhamos. Passeamos apenas pela cidade. Abortamos os passeios para que Brunna e eu pudéssemos descansar.

 

Em uma das caminhadas pela cidade, vimos que estava passando Stars Wars, episódio VII. Fomos assistir, obviamente. A pousada em que ficamos era muito boa. Uma casa antiga, estilo colonial muito aconchegante.

 

Partimos no dia seguinte em direção a Copacabana, último destino na Bolívia. A cidade fica localizada já na fronteira com o Peru, nas margens do lago Titicaca

 

Antes de chegar a Copacabana, atravessamos de balsa um pequeno braço de água no lago, localizado em Tiquina. Almoçamos já em Copacabana e seguimos viagem para Puno.

 

PERU, PRIMEIRO DESTINO: PUNO

 

Em Puno tivemos nosso primeiro contato com o povo peruano e sua cultura. Cidade a beira do lago Titicaca, fez muito frio durante a noite. Percebemos logo a mudança na vegetação e na umidade no ar, algo difícil de encontrar na Bolívia.

 

Nossa noite em Puno era véspera de Natal. Aproveitamos para jantar em companhia de cinco turistas brasileiros do Estado de São Paulo que conhecemos na rodoviária de La Paz com os quais fizemos amizades.

 

Eles também estão percorrendo a Bolívia e Peru e possuem, assim como a gente, o destino final, Lima. A noite de natal, apesar de longe da família, foi muito agradável.

 

No dia seguinte fizemos o tão esperado passeio pelo lago Titicaca, que durou cerca de dez horas. O dia amanheceu frio, mas foi aquecendo a medida que as horas passavam.

 

A primeira parada foi nas ilhas flutuantes de Uros. Feitas de totoro, uma planta nativa do lago, as ilhas servem de moradia para os índios que habitam a região.

 

Tudo na ilha tem como matéria prima o totoro. Suas raízes servem de sustentação para que flutuem. Do seu caule é feito o chão das ilhas, que possuem cerca de três metros de altura em relação ao nível do lago.

 

É com ele que as embarcações e as casas também são feitas. É algo sem parâmetro, saber que dezenas de famílias vivem nessas ilhas flutuantes e delas tiram todo seu sustento.

 

De lá seguimos para a ilha natural de Tequile, cujo seu cume chega a 4 mil metros de altura. O lugar é habitado há séculos por um povo de mesmo nome da ilha e que possui uma cultura própria.

 

A subida por suas estreitas calçadas íngremes acabou com o pouco de fôlego que ainda nos restava. Mas o visual é recompensador. É possível ver o horizonte continental montanhoso formado pelas cordilheiras reais, diversas ilhas de todos os tamanhos, cercadas pelas águas de cor azul turquesa do lago Titicaca.

 

O passeio terminou com a gente retornando a Puno em uma viagem direta de barco que durou cerca de três horas. Chegando na cidade, foi o tempo de buscarmos nossa mochila no hotel, jantarmos e nos despedirmos de nossos amigos paulistas, que seguiriam viagem para Cuzco. O nosso destino era Arequipa.

 

 

EM AREQUIPA, C NION DEL COLCA E A NASCENTE DO RIO AMAZONAS

 

Em Arequipa passamos dois dias e uma noite. A cidade surpreendeu em seu tamanho e organização. Ficamos hospedados a uma quadra da Plaza de Armas, uma das mais bonitas entre as cidades de origem espanhola que conheço.

 

Aproveitamos a primeira tarde na cidade para conhecer a parte histórica e seus mirantes para os diversos vulcões da região. Visitamos uma igreja fundada no século XVI e que resistiu a diversos terremotos.

 

No dia seguinte, fomos até o cânion del Colca, o passeio mais aguardado em Arequipa. O cânion é considerado o segundo maior do mundo em profundidade, com mais de 4 mil metros.

 

A paisagem é deslumbrante. Ficamos de um lado do cânion e pudemos observar sua imponente formação rochosa a cerca de dois quilômetros de distância.

 

Os paredões são cortados por nada menos que o rio Amazonas, cuja sua principal nascente está a poucos quilômetros do ponto de observação, na cordilheira Chilli.

 

Imagina a emoção de estar em uma das principais nascentes do rio Amazonas, a cerca de 4 mil metros de altitude, na cordilheira andina peruana? E eu que vivi em Manaus de onde, quem está em uma das margens, não consegue ver do outro lado do rio.

 

De lá, seguimos viagem pelo Vale del Colca, região mais acessível e domesticada há milhares de anos pelas sociedades pré-Incas. É possível observar as montanhas cortadas pelo homem como se fossem gigantescos degraus. É ali que se criam animais e pratica a agricultura.

 

Apesar da altura, fez muito calor. Fomos preparados para o frio, o que nos fez sofrer um pouco. No retorno a Arequipa, ainda pudemos observar uma cadeia de quatro vulcões, sendo que um deles estava ativo. O cume do maior, o vulcão Chachani, supera os seis mil metros.

 

 

ENFIM, CUSCO E MACHU PICCHU

 

Chegamos ao ápice de nossa viagem. Chegamos a Cusco. A viagem de ônibus de Arequipa a Cusco durou dez horas. Lá, também ficamos alojados bem próximos a plaza de armas.

 

Cusco é outra cidade encantadora. Seu centro histórico, todo feito em pedras talhadas a mão, é algo que logo chama atenção de quem chega a cidade.

 

Suas ruas estreitas absorvem o tráfego de carros e pedestres, ocasionando engarrafamento ao longo de todo o dia. É preciso ter cuidado para não ser atropelado.

 

A todo momento ouvimos sotaques de todo lugar. Cusco também é uma cidade que atrai pessoas do mundo inteiro. Tiramos o primeiro dia para conhece-la, visitar seu artesanato e vivenciar seus hábitos.

 

A tarde, contratamos o pacote para Machu Picchu. Chegamos a cidade com poucos Soles, nenhum dólares e alguns reais. Aqui, mais do que qualquer outro lugar que passamos nessa viagem, tudo é cotado em dólar.

 

Precisei cambiar reais e ainda sacar dinheiro em caixa eletrônico para pagar nosso pacote, equivalente a U$255,00, cada. Fiquei sem limite no cartão o resto do dia, já que no Peru, o limite de saque é de 600,00 Soles por dia.

 

Aliás, um transtorno, já que o custo dos passeios é alto e, se você quiser pagar com cartão, os lojistas cobram um adicional de 8%. Este tem sido o ponto fraco de viajar pelo Peru. O país se dolarizou. Tudo cotado em dólar. O trem para Machu Picchu deve ser o mais rentável do mundo.

 

 

DE CUZCO A MACHU PICCHU

 

Conseguimos um pacote para descer a Machu Picchu no dia 29.12, dormir em Águas Calientes e retornar a Cuzco no dia seguinte. Desde o início a viagem tomou ares de ser o clímax de todo nosso roteiro. Antes do relato sobre a indescritível Machu Picchu, falemos sobre nossa segunda saga de toda viagem.

 

Ainda em Puno, o guia que nos levou as ilhas de Uros nos indicou um outro guia, em Arequipa, que nos receberia na rodoviária e este nos indicaria um terceiro guia em Cuzco. Só que o mesmo não apareceu na rodoviária.

 

Depois de uma hora esperando, resolvemos pegar um táxi para o hotel. Acabamos nos hospedando em outro hotel que vimos no caminho. Lá, fizemos amizade com o dono, que nos ajudou bastante.

 

Ele era de Cuzco e nos indicou um amigo de infância que trabalha com turismo. Quando chegamos na cidade, o mesmo não pôde ir nos buscar, pois adoeceu. Mas mandou um outro amigo.

 

Este nos levou a pousada e organizou o pacote para Machu Picchu. Fizemos o pagamento no meio da Plaza de Armas. Pode parecer loucura, e é, entregar o equivalente a R$ 2.200,00 a um desconhecido, sem comprovante, mas aqui as coisas funcionam na base de La Garantia Soy Yo.

 

Acordamos ás 3:30 para pegar o transfer que chegaria ás 4:00. Começamos a nos preocupar quando era 4:30 e a van não chegava. Depois de mais meia hora ela chegou. Tinha que nos levar a estação de trem que fica na cidade vizinha, de Ollantaytambo, a 2 horas de viagem. Sendo que nosso trem sairia ás 7:10 para Machu Pichu.

 

Chegamos exatamente as 7:00. Só tivemos tempo para correr até a estação, apresentar os bilhetes e entrar no trem. Chegando em Águas Calientes, pegamos um ônibus que sobe a cordilheira e nos deixa na porta do antigo império inca de Machu Picchu.

 

Lá, mais uma surpresa. Nosso passaporte de entrada estava com a data errada. Em vez de dia 29, constava dia 30. Mais um imbróglio para resolver. Novos passaportes só são vendidos em Águas Calientes. A passagem de ônibus são 30 dólares ou uma descida de 2 horas a pé.

 

O jeito foi apelar para a organização do santuário. Eles entraram em contato com nosso “agente” e nos liberaram. Foram longos vinte minutos de negociação e tive que gastar todo o meu portunhol.

 

Mas, enfim, estamos em Machu Picchu.

 

 

O QUE DIZER DE MACHU PICCHU?

 

A entrada em Machu Picchu, mesmo cercado de milhares de outros turistas, causa um impacto visual incrível em qualquer um. Impossível ficar indiferente. Mesmo já tendo visto milhares de fotos e vídeos e lido dezenas de relatos, poder estar presencialmente acompanhado de sua filha em um lugar assim, nos traz emoções fortes.

 

A primeira imagem que nos remete é tentar imaginar como os incas viveram ali, seus hábitos, tradições, comportamentos sociais, arquitetura, folclores, cultivos alimentares, hierarquias sociais, logística para obter água, guerras, dominações e porque desapareceram, dentre outras.

 

Pela disposição dos espaços para cultivo de plantas e criação de animais, ainda fora da fortificação da cidade, já se percebe que seria insuficiente para abastecer uma população em torno de mil habitantes. Precisavam trazer mantimentos das outras comunidades incas.

 

Segundo os locais, no ápice da civilização, quando os espanhóis chegaram às fortificações de Cozco, os incas eram ao todo 14 milhões. Em sua cidade sagrada, Machu Picchu, viviam mil incas. Só em contato com os espanhóis, morreram 7 milhões por doenças trazidas pelos europeus. Foras os que viriam morrer por meio das guerras.

 

A cidade, no alto da montanha e cercada por uma fortificação de pedra, possui uma praça central, templos religiosos, oficinas de trabalho as residências reais e as casas dos demais moradores, além das áreas de plantio e criação de animais. Suas construções buscam respeitar o delinear da montanha.

 

Por ser uma montanha ingrime, com um grau de inclinação entre 70° e 80°, era possível vigiar todos os lados. Na base da montanha corre o rio que também serve de sustento. Na montanha ao lado, mais alta, há uma nascente. É de lá, por meio de sistemas de canais, que a cidade era abastecida de água potável.

 

A cidade possui uma incrível preservação. Mais de 70% ainda está lá, mesmo a gente sabendo que a civilização inca foi dizimada. Isso se explica pelo fato do imperador inca à época da colonização espanhola determinar o abandono de Machu Picchu e a fuga de seu povo para a floresta amazônica.

 

Com a chegada dos espanhóis à porta da cidade e, não havendo riquezas nem possíveis índios para serem transformados em escravos, não houve batalhas e nem interesse de permanência dos europeus no lugar.

 

Graças a esta conjuntura, hoje podemos visitar o lugar e vivenciar um pouco daqueles momentos. E também é por isso que Machu Picchu foi reconhecido como patrimônio mundial da humanidade e uma das sete maravilhas do mundo moderno.

 

 

UMA NOITE EM ÁGUAS CALIENTES E DE VOLTA A CUZCO

 

Ao final do passeio pelas ruínas de Machu Picchu, dormimos em Águas Calientes, cidade de apoio àqueles que estão em viagem pela região. Almoçamos uma pizza por volta das 16 horas e fomos em busca de nossa pousada para descansar.

 

Como serve de entreposto para quem vai de Cuzco a Machu Picchu, possui uma boa infraestrutura gastronômica. Planejamos comer um ceviche a noite. Mas o cansaço era tanto que, do cochilo que tiramos para descansar um pouco, só fui acordar a meia noite.

 

O jeito foi voltar a dormir para pegar o trem de volta a Cuzco. Chegamos no começo da tarde, almoçamos e fomos visitar alguns museus. Um pequeno adendo: nosso objetivo de viagem não está ligado a gastronomia, mas vale salientar que no Peru se come bem. O país possui uma variedade de opções de entradas e pratos principal, mesmo no menu turístico - mais barato e restrito - bem diferente do que acontece na Argentina, Chile e Uruguai.

 

No dia seguinte tínhamos um passeio agendado pelas ruínas sagradas de Saqsayhuaman, Q’enqo, Pukapukara e Tambomachay. São cidades e templos incas próximos a Cuzco, cuja relevância é fundamental para entender a história desta civilização.

 

Saqsayhuaman é onde fica as ruínas da antiga cidade inca, feita de pedras trazidas de uma distância de 30km. Foi dominada pelos espanhóis e, posteriormente, suas construções foram derrubadas para que servissem de matéria-prima para a construção de Cuzco.

 

Pukapukara e Tambomachay são um posto militar e um templo de devoção a natureza, respectivamente. Possuem conexão visual entre si para caso de uma invasão inimiga pudessem se comunicar por meio de espelhos, fogo, sons ou outro meio de comunicação vigente.

 

Já Q’enqo é um lugar sagrado para os incas. Um lugar de devoção aos mortos e seus deuses. É lá que se mumificava os mortos em um ritual de purificação do corpo. As múmias incas eram embalsamadas em posição fetal, para que pudessem renascer no próximo plano astral.

 

A noite, nos preparamos para passar o réveillon na plaza de armas de Cuzco. Milhares de pessoas se aglomeravam a espera de 2016. Infelizmente, a experiência que tinha tudo para ser marcante, se tornou negativa.

 

A falsa sensação de segurança proporcionada pela revista policial nos turistas para que não entrassem com bebidas alcoólicas na área da praça, logo se dissipou. Havia milhares de pessoas tanto consumindo quanto vendendo cervejas, vinhos e espumantes em garrafas de vidro.

 

A blitz logo tomou ares de favorecimento aos locais para que vendessem bebidas aos turistas sem nenhuma restrição a segurança.

A todo instante, fogos de artifício eram lançados do nosso lado, com distâncias de um ou dois metros. Aliás, a venda de fogos, sejam os para crianças ou rojões de grande impacto, não possuía a menor fiscalização.

 

Tão logo chegou 2016, fomos embora. Entretanto, no caminho do hotel um peruano lançou, em nossa direção várias bombas que passaram centímetros de meu rosto e o de minha filha. Fui reclamar com ele e ouvi vários xingamentos além de um dedo em riste. Continuei reclamando e ele puxou uma garrafa de vidro para brigar.

 

Enfim, é algo para refletir. Não deveria ter discutido, mas o fato dele quase ferir minha filha e ainda agir com desprezo e deboche, me tirou do sério. Ele foi contido por seus familiares e eu segui meu caminho.

 

 

EM BREVE, UM DIA EM NAZCA

 

Chegamos a Nazca no dia 2, por volta das 6h. Uma viagem cansativa de 15 horas. Pegamos três passeios pela região. Um, pela manhã, para conhecer as linhas de Nazca e dois pela tarde - as pirâmides e as múmias.

 

Optamos em conhecer as linhas de Nazca por meio de carro e miradores. Não é a mesma coisa de avião, mas não me senti seguro em colocar minha filha num vôo de teco-teco.

 

O passeio foi interessante. Fomos a três miradores e a um museu. Foi possível ver alguns desenhos de milhares de anos. A justificativa para sua preservação por tanto tempo, mesmo sendo desenhos com menos de 5cm de profundidade no solo, é o fato de chover menos de duas horas por ano na região, insuficiente para apagar as figuras.

 

A tarde, fizemos primeiro as pirâmides. De longe o melhor passeio. Imaginar que está civilização pré inca desenvolveu edificações tão singulares, em meio a uma região inóspita.

 

Depois seguimos ao deserto das múmias. Outro evento singular. Já foram catalogadas dezenas de múmias. Todas viradas ao nascente do sol.

 

O ponto negativo está no aspecto da preservação. As linhas de Nazca não foram preservadas na hora da construção de rodovias; as pirâmides não possuem vigilância, assim como no cemitérios de múmias. Parece que o Peru ainda não se deu conta do patrimônio histórico que possui em Nazca.

 

 

DESTINO FINAL, LIMA

 

Em Lima a energia já estava gasta. Não tivemos muito pique para fazer todos os passeios. No primeiro dia aproveitamos para dormir e descansar.

 

Como ficamos hospedados em Miraflores, bairro litorâneo, fomos andando até o mirante da baía. O lugar chama atenção pela vista e pela qualidade de vida que proporciona aos seus moradores.

 

Aproveitamos para conhecer algumas praças da região. Há uma ciclovia que se estende por toda avenida e continua em direção ao litoral. Também vimos várias ruas fechadas para os carros, proporcionando a prática de esportes e lazer.

 

No dia seguinte fomos visitar os bairros históricos da cidade, como a plaza de armas, palácios, museus e igrejas. Tudo muito bonito e bem cuidado.

 

Também fomos a praia, só para ver. Água muito fria. Caminhamos pela orla, fomos ao point de surfistas e de para-pente. O cansaço já estava grande. Nos organizamos para voltar para casa. E que venha a próxima!

  • 1 ano depois...

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