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Preparativos

 

Em abril de 2015 começou a preparação para mais um mochilão pela Europa. Com as passagens compradas pela TAM, totalizando pouco mais de 2 mil reais, eu teria 24 dias líquidos para rodar pelo velho continente, num ritmo mais acelerado do que deveria ter sido.

 

Ao longo dos meses seguintes, enquanto planejava minuciosamente o roteiro, fui reservando as hospedagens pelo Hostels, Booking e AirBnb, e os meios de transporte pelo Megabus, Norwegian, Ryanair, Wizzair e ArgusCarHire, afim de minimizar a perda de tempo e problemas durante a viagem em si.

 

No dia 14/8 parti do trabalho para o trem e de lá para os aeroportos, no sentido POA-BSB-GRU, onde quase perdi o voo internacional por problemas na aeronave.

 

1° dia

 

No meio da tarde cheguei a Londres. Fui direto para o Hyde Park, onde fiquei perambulando nos jardins e lagos por algumas horas em meio a muita gente e alguns animais fofos, como esquilos, e outros nem tão fofos, como ratazanas.

 

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Segui, então, para frente do Palácio de Buckingham, onde encontrei a Tati. À noite, uma viagem interminável até a Escócia nos esperava. Apesar de ter pagado apenas 1 libra pela passagem na Megabus (o mesmo que paguei na maioria dos trechos seguintes), a falta de reclinação das poltronas tornou a longa viagem torturante, tanto que cheguei a me deitar no corredor do ônibus, para surpresa dos indianos, meus vizinhos de fundão. Mas com o jetlag batendo, o sono não veio.

 

2° dia

 

De manhã bem cedo desembarcamos em Glasgow, a segunda maior cidade da Escócia. Pegamos um ônibus ligeiramente para fora de lá, a fim de atravessar trechos do Seven Lochs Wetland Park. Não sei se foi por falta de chuva, mas não vi muitas zonas encharcadas por lá, mas enfim. A maior parte são campos com esparsas florestas, onde tivemos contato com a única coisa interessante, a corça, que é um tipo de veado. Passamos por algumas, enquanto caminhávamos praticamente sozinhos pelas trilhas.

 

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Nas horas seguintes de caminhada, nada de importante a ver, apenas lagos e cisnes. Com isso, voltamos a cidade, e com o passe de metrô ilimitado para um dia ao custo de 4 libras, passamos por alguns pontos de interesse.

 

Primeiro a bela catedral gótica do século 12, onde um jovem tocava um imponente órgão, enquanto algumas pessoas visitavam.

 

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A sua volta fica um cemitério de luxo conhecido como Glasgow Necropolis, onde lápides majestosas situam-se no topo de uma colina com vista para toda a cidade.

 

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O almoço, como na maior parte do tempo passado na zona da libra esterlina, que aumentava vertiginosamente sua cotação, foi a base de supermercado.

 

Em seguida paramos no museu eleito como o melhor da Europa em 2013, o Riverside Museum of Transport and Travel. Ao menos esse tipo de atração cultural é quase sempre gratuito no Reino Unido. No entanto, além da vista agradável na margem do rio que corta Glasgow e de algumas réplicas de meios de transporte antigos, não fiquei muito impressionado.

 

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De lá fomos para o Kelvingrove Art Gallery and Museum, também sem custo e com algumas exposições interessantes.

 

Por fim, paramos na região central para tomarmos uma cerveja local na rua, sob alguns olhares desconfiados, e assistir a uma clássica apresentação de gaita-de-foles. Homens de saia nós não vimos, e o uísque teve que ficar para uma próxima.

 

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3° dia

 

Esse foi o dia de conhecer o berço da Revolução Industrial, Manchester. Depois de uma boa noite de sono e do café-da-manhã simples no hostel Hatters, iniciamos a caminhada ao redor do centro. Dentro de alguns quarteirões vislumbramos primeiro a bela catedral gótica anglicana, construída na Idade Média.

 

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Continuando, passamos pela prefeitura, que apresenta o mesmo estilo arquitetônico. Logo mais, entramos na biblioteca John Rylands. A construção mais moderna guarda milhões de documentos em um salão com vista agradável, que dizem ser parecido com uma localidade da série Harry Potter.

 

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Um pouco além, chegando à margem do rio Irwell, fica uma das principais atrações da cidade, o Museum of Science and Industry. A temática de suas várias construções basicamente gira em torno da história da Revolução Industrial na Inglaterra e tempos modernos, abrangendo tanto as inovações tecnológicas quanto as condições sociais. Boa parte dos itens do museu eu já tinha visto em outros do mesmo estilo, mas como não havia que pagar entrada, valeu o tempo consumido.

 

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Caminhamos mais um pouco até passar pela Chinatown, o reduto chinês. Encontrando um buffet livre por 7 libras, ficamos por ali mesmo nos empanturrando de carnes agridoces, pseudo-miojos em Shoyu, cogumelos, vegetais indecifráveis, e até mesmo doces e frutas, com destaque para as lichias.

 

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Ainda havia tempo até o próximo ônibus, mas como o museu e estádio do Manchester United estavam longe, apenas passamos por lojas e mais lojas, observando os preços impraticáveis.

 

À noite segui em carreira solo até Cardiff, capital do país de Gales. Apesar de ter certo agito no centro, no albergue Bunkhouse não se ouvia um pio, além da TV que o recepcionista ouvia.

 

4° dia

 

Amanheceu o primeiro dia ensolarado da viagem, com uma temperatura bastante agradável. Tentei achar uma bicicleta para me deslocar mais facilmente, mas não tive sucesso. O jeito foi caminhar um tanto e judiar meu tornozelo ainda bastante inchado da lesão que sofri antes da viagem.

 

O centro é relativamente pequeno para uma capital, e limpo. Logo de início, despontava o castelo na vista. Não cheguei a entrar, pois o ingresso era salgado, mas consegui ver parte dele, que lembra muito uma cena típica da idade Média ou do jogo Age of Empires 2.

 

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Em meio a prédios históricos e lojas contemporâneas fica o mercado central. Entre os corredores encontram-se principalmente alimentos produzidos localmente, como carnes, doces e frutos. Ali fiz uma das maiores descobertas da viagem, deliciosos mirtilos por menos de 10 reais o quilo, valor que não vi em nenhum outro lugar no mundo!

 

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Enquanto forrava o estômago, segui pelo rio Taff até Cardiff Bay, outra parte bastante turística da cidade. Havia ali um banhado protegido, onde colhi uma porção de amoras-silvestres e fotografei algumas aves costeiras.

 

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Do outro lado da baía há uma marina, e ao lado da reserva um hotel 5 estrelas. Em sequência o Mermaid Quay, um agradável núcleo de restaurantes e parque de diversões à beira-mar, bastante movimentado.

 

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Foi em um centro comercial atrás dele que achei outro restaurante chinês para almoçar. De lá, voltei até o castelo e fiz uma longa caminhada pelo Bute Park, embora não tenha visto nada de mais por lá, já que boa parte é gramado.

 

Voltei para a via de pedestres principal do centro, com sua arquitetura inconfundível e as onipresentes bandeiras nacionais, e segui viagem de volta à Londres.

 

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Como já era noite e estava com a mochila pesada, tive que pagar absurdas 4,8 libras para passar por algumas estações de metrô até o Smart Russell Square Hostel. Encontrei-me com a Tati e com a nova companheira Tami, jantamos e dormimos nas camas de 3 andares.

 

5° dia

 

De manhã cedo tomamos o trem na Waterloo Train Station até Weymouth, no litoral sul da Inglaterra. Logo ao chegar enfrentamos um chuvisco que praticamente não cessou durante toda a estadia. Ainda bem que havia trazido roupa à prova de chuva, pois nossa hospedagem não estava aberta na hora em que chegamos. Apesar desse clima, uma coisa que notei foi que os moradores de lá são bem simpáticos, sorrindo o tempo todo, ao contrário de Londres e companhia.

 

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A praia principal não tem graça nenhuma, comparada com as que temos em nosso país, mas pareciam agradar os ingleses que se reuniam no festival que estava ocorrendo por ali, com diversões para gringo ver.

 

Achamos que seria possível caminhar até a Ilha de Portland, mas o relevo, que não fazia parte do mapa, nos fez embarcar em um ônibus até lá. Descemos no topo da península homenageada pela semelhança de seus calcários com o cimento de mesmo nome. A vista, apesar de bonita, era dificultada pelo clima indesejável.

 

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Continuamos até uma das diversas pedreiras indicadas pelo GPS no local. Por sorte, não era uma pedreira comum. O que pareceu estranho no começo, algo como ruínas de esculturas de uma civilização antiga, na verdade era uma brincadeira. No Tout Quarry Sculpture Park and Nature Reserve, os diversos elementos naturais em material rochoso espalhados pelo terreno são fruto do trabalho de diversos artistas ao longo de décadas.

 

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Depois de algumas fotos nós descemos o desfiladeiro até Chesil Beach, a praia formada por seixos coloridos polidos pela ação das ondas. Esse conjunto forma um istmo que liga por alguns quilômetros Portland até o resto da região de Dorset.

 

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Já de volta à Weymouth, à noite fomos tomar uns chopes no bar mais próximo de onde estávamos hospedados. O pequeno lugar chamado The Waterloo era frequentado por pessoas com no mínimo o dobro de nossa idade. O problema maior não foi esse, e sim o horário de fechamento. Às 11h fomos gentilmente expulsos de lá, tendo que terminar à noite assistindo o Massacre da Serra Elétrica original na TV.

 

6° dia

 

Enfim chegara o dia que estava esperando. O motivo de eu ter escolhido esse destino foi o de ser um dos locais com maior registro de fósseis do mundo, e com a coleta permitida. A denominada Costa Jurássica se estende por dezenas de quilômetros e municípios do sul da Inglaterra, sendo Weymouth um dos que possui acesso mais fácil.

Como não sabia as localizações exatas, segui pela praia em direção nordeste, esperando encontrar algo. O que não contava era com a dificuldade do terreno e, para piorar, eu estava calçando Havaianas, já que meu tênis tinha perdido definitivamente seu poder de ser impermeável e nesse momento estava encharcado. Antes que me perguntem, ressalto que não rola ir descalço, a menos que estejam pagando penitência. E assim segui até ter os primeiros sinais de fósseis, simples traços de concha em meio às rochas maiores.

 

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Sem ferramentas, no entanto, nada podia fazer além de observar. Mais adiante, consegui coletar alguns pedaços que jaziam no solo e usei uma técnica pré-histórica para extrair outros fósseis que estavam em uma rocha mais quebradiça. O resultado foi o que acredito serem tubos de poliquetas Serpulidae e moluscos bivalves dos gêneros Myophorella, Gryphaea e outro desconhecido.

 

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Estava feliz com o resultado de poucas horas, mas inconsciente do problema que enfrentaria em seguida. Ao chegar a Osmington Mills, tive que cruzar um trecho com lama. Resultado: o chinelo foi pro saco. Nem usar a técnica do segundo furo resolveu. Com isso, tive que voltar descalço à estrada. Como não consegui carona, tive que pegar o ônibus de volta.

 

Aproveitei as horas finais para dar uma passada na Lodmoor Nature Reserve, antes de partir com a chuva sempre presente. Uma pena não ter conseguido ir até a Lulworth Cove e o Durdle Door, duas feições geológicas excepcionais localizadas a uma dezena de quilômetros dali.

 

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Voltamos à Londres, onde em sequência embarcamos no ônibus para a zona do euro. Mais uma noite mal dormida, levando em conta que no meio dela tivemos que desembarcar na imigração francesa e subir em uma balsa (Eurotúnel, onde está você?).

 

7° dia

 

O sol ainda não havia nascido quando o ônibus nos largou no meio do nada, ao sul de Ghent, cidade belga da porção holandesa. Caminhamos até o centro histórico, muito bonito por sinal. Uma mescla de canais com construções medievais e edificações padronizadas dá um tom especial ao local.

 

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O castelo, chamado Gravensteen, é uma dessas construções. Feito em 1180, hoje em dia é um museu. Não chegamos a entrar, pois acontecia a gravação de um filme no momento em que passamos.

 

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Passamos por diversos prédios e mercados até percebermos que era hora de partir. Só havia um problema: o suposto ônibus urbano que nos levaria até o ponto super afastado da Megabus não funcionava no período de férias escolares! Pelo menos foi o que deduzi da placa em holandês do ponto de ônibus, depois de esperar minutos em vão. Como não havia táxis por ali, iniciamos a procissão em marcha acelerada até lá. Se tudo ocorresse bem chegaríamos em ponto no local devido. Infelizmente não foi o que aconteceu. O atalho que pegamos foi por cima de uma auto-estrada, mas para nosso azar, o engarrafamento no local atraiu uma viatura policial que quando nos viu mandou retornarmos, pois era proibido o trânsito de pedestres pela via. Tentei argumentar em vão. O desfecho foi que perdemos o ônibus e tivemos que comprar uma passagem de trem muito mais cara que a 1 libra que eu havia pagado!

 

Com bolhas nos pés chegamos durante a noite em Amsterdam. Nossa cara devia estar bastante deplorável, a ponto da condutora do bonde não cobrar nosso ingresso para chegar ao hostel Hans Briker, o único com preço aceitável para aquela noite.

 

O máximo que fizemos foi tomar uma no bar do albergue, antes de capotar.

 

8° dia

 

O café-da-manhã de lá tinha bastante sustância, o problema era a fila quilométrica. Ainda bem que não deixei para a última hora, quando a fila dobrou de tamanho.

 

Aproveitamos a manhã para passear entre os muitos canais urbanos e as lojas, onde abundavam botões de flores e porcelanas entre os souvenires.

 

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Depois de nos perder tentando achar um modo de chegar até o outro lado do canal principal, que não possui pontes, chegamos à hospedagem mais diferente que eu já havia ficado, uma lancha! O pequeno barco foi reservado através do AirBnb, junto com bicicletas para nós 3. Isso se for possível chamar as latas-velhas que nos alugaram, cujos freios eram acionados pelo movimento retrógrado dos pedais. Quem diabos tem freado a bicicleta com os pés nos últimos 40 anos??

 

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Depois de aprender a pilotar aquela joça e a me orientar nas ciclovias, o que não é fácil à primeira vista, seguimos desbravando o entorno, a base da iguaria local chamada waffle. Na orla do canal destacam-se os aerogeradores. Incrível o quanto podíamos chegar perto deles, inclusive tocá-los e tirar selfies.

 

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Em seguida, fomos em direção aos moinhos, as turbinas eólicas do passado. Como depois de meia hora pedalando ainda não havíamos chegado, as garotas decidiram voltar. Perderam, pois cinco minutos depois cheguei a uma zona bucólica e passei pelo primeiro belo exemplar, ainda funcionando na tarefa de movimentar a água.

 

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Continuei nas onipresentes ciclovias até chegar ao povoado de Zaanse Schans, no município de Zaandam. Ali se aglomeram diversos moinhos restaurados e operantes do século 17 em diante, além de outras construções relacionadas à Holanda dos séculos passados, como uma fábrica de sapatos de madeira, por exemplo.

 

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Ao lado desse agradável e silencioso ambiente, fica uma área protegida alagada, onde registrei a briga de duas donzelinhas, que depois percebi ser um sexo selvagem.

 

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O sol já estava a baixar, então voltei à cidade. Embarquei com a bicicleta na balsa gratuita que sai a todo o momento para o outro lado do canal, crente que ela iria parar na estação central logo em frente. Até que ela mudou de direção e seguiu para o leste!

 

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Sem saber que havia mais de uma rota, fui parar alguns quilômetros além do meu destino. Por sorte estava com a magrela para retornar. Estacionei no bicicletário grátis, esperando poder encontra-la em meio a tantas outras na volta, e fui-me ao centro.

 

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Nenhuma experiência em Amsterdam é completa sem conhecer os famosos coffeeshops. Para embasar melhor minha opinião, passei por dois. No entanto, não curti muito os ambientes. Achei malcheirosos e, para minha decepção, não tocavam reggae. Ainda assim, provei o tal do bolo espacial. Como no primeiro o muffin de chocolate praticamente não fez efeito, no segundo experimentei um que parecia uma fatia de pão, também de chocolate. Na embalagem dizia para consumir no máximo um por pessoa. Quase 2 horas depois fui descobrir o porquê. As coisas começaram a ficar engraçadas sem motivo, o chão a se mexer e as pessoas falarem português. Estava quase em outra dimensão.

 

Como eu queria ver o Red Light District, onde as moçoilas sem pudores expunham seus corpos nas vitrines, lá fui eu. No meu estado, eu consegui ver apenas bonecas com movimentos robóticos.

 

O retorno até o barco onde dormiria também foi complicado, já que a balsa tinha acabado de parar de operar.

 

9° dia

 

Nesse dia fomos para Bruxelas. Para não perdermos o transporte outra vez, chegamos cedo ao ponto.

 

No final da tarde estávamos no Sleep Well Youth Hostel, muito bom por sinal. Caminhamos um pouco pelo centro até escolhermos um lugar para jantar. Aquela provavelmente foi a melhor refeição da viagem, uma paella completa que custou 12 euros. Apesar de bastante saborosa, diferentemente das servidas por aqui, lá era você quem tinha que abrir as conchas, que eram várias. Isso explica o formato da (faca?).

 

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A noite foi de delirar no Delirium, famoso bar que tem inclusive sua linha própria de cervejas artesanais. As cervejas belgas são bem saborosas, mas os preços não são muito convidativos.

 

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Depois de tomar algumas, seguimos para um segundo bar em frente, pois este já estava fechando as portas.

 

10° dia

 

A ideia original era passar esse dia nos castelos de Luxemburgo, mas como a noite anterior foi longa e eu ainda não conhecia Bruxelas, decidi ficar por ali mesmo. Depois do café-da-manhã reforçado segui para o Manneken Pis, também conhecido como a estátua do garoto mijão. Nesse dia ele estava vestido em comemoração à independência da Ucrânia.

 

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Num parque próximo havia uma banda cantando, aparentemente para arrecadar fundos para caridade. Ouvi umas músicas, peguei o bonde e desci próximo a outra das atrações de Bruxelas, o Atomium.

 

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O baita conjunto metálico de mais de 100 metros que representa uma molécula de ferro ampliada foi construído durante uma exposição em 1958. Ainda serve para esse propósito e como mirante. Como os 11 euros de entrada não estão muito em conta na cotação atual, fiquei admirando só por baixo.

 

Para quem quiser aproveitar mais, em sua volta ficam o Mini-Europe, semelhante ao Mini Mundo de Gramado, e o Oceade, parque aquático. Também há um planetário grátis.

 

Voltei com o metrô, passei por alguns parques e fui fazer compras no shopping em frente ao albergue. Saí de lá com uma mochila e tênis novos.

 

Prosseguindo, embarquei no translado para Charleroi, a cidade vizinha onde pegaríamos o voo na manhã seguinte. Chegando lá caminhei que nem um condenado até o Class'eco Charleroi, único hotel da viagem, onde dividiríamos o quarto em 3.

 

11° dia

 

Bem cedo rachamos um táxi e voamos pela Ryanair até os Bálcãs; mais precisamente, Rijeka, na Croácia. Embarcamos no carro alugado, o qual recebeu um upgrade grátis para o Peugeot 3008, e seguimos pelo aprazível litoral em direção ao sul, pelas estradas muito bem cuidadas mas com cobrança de pedágio. Próximo a Zadar, paramos para almoçar e tirar umas fotos da paisagem.

 

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Centenas de quilômetros depois encontramos meu amigo Paulo em Split. Depois de um passeio pelo Palácio de Diocleciano, ruínas e museu da época romana, seguimos viagem.

 

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À noite chegamos em Dubrovnik, mais uma cidade romana. Fomos diretamente ao centro histórico, onde estão de pé diversas construções e fortificações do Império Bizantino, que se tornaram Patrimônio Mundial da UNESCO em 1979.

 

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As edificações iluminadas colaboram com a agitada vida noturna desse lugar, com diversos bares e restaurantes. Só esperaria que os croatas fossem um pouco mais simpáticos.

 

12° dia

 

Acordamos com uma surpresa desagradável, nosso carro tinha sido guinchado! Apesar do local em que deixamos não expressar a proibição, não tivemos escolha em ter que pagar para retirá-lo...

 

Uma pena termos saído de lá com uma impressão meio ruim, pois o lugar é muito bonito.

 

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Cruzamos tranquilamente a fronteira com um dos países mais novos do mundo, Montenegro, enquanto no sentido contrário a fila ia longe. Paramos em um supermercado para abastecer de suprimentos. Para nossa grata surpresa os valores eram bem menores do que nos outros países onde tínhamos estado.

 

Outra surpresa foi a beleza natural da região, admirada de perto enquanto contornávamos as Bocas de Cattaro, os fiordes montenegrinos também tombados pela UNESCO. Apesar disso, todo esse calcário significava que, assim como na Croácia, praticamente não existiam faixas de areia, dificultando o acesso dos banhistas.

 

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Depois de passar a cidade de Kotor, atravessamos um túnel para começar a subida até o Parque Nacional de Lovćen. E que subida! Acredito que por quase uma hora tenhamos ziguezagueado em estradas estreitas e pouco sempre protegidas, enquanto motoristas malucos aceleravam na direção contrária, até chegarmos quase ao topo da montanha, onde ficava uma das entradas do parque. A vista da baía compensou.

 

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Depois de pagar a módica taxa de 2 euros por pessoa, o porteiro nos deixou entrar no parque mesmo após o encerramento teórico dele. Atravessamos os rochedos alvos, os campos secos e as florestas de coníferas até chegar ao cume principal, onde havia um mirante e o mausoléu de um governante, acessível mediante outro pagamento. Chegamos no momento certo para ver a paisagem lá de cima.

 

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Descemos pelo lado oposto, saindo por Cetinje. Como estávamos atrasados, já anoitecia quando saímos da cidade para ir em direção à Bósnia. O que não contávamos é que a via seria precária, montanhosa e que não haveria praticamente nada na estrada, incluindo um posto para abastecer o carro que já estava na reserva. Pedimos ajuda a um carro no meio do caminho. De início achamos que os bósnios iam nos sequestrar, torturar e roubar nossos órgãos, como aprendemos com os filmes sobre essa região. Muito pelo contrário, eles foram bem receptivos e nos ajudaram como puderam.

 

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Como ainda estávamos sem combustível, e segundo informações dos bósnios o único posto próximo à fronteira só abriria pela manhã, começamos a achar que perderíamos nossa reserva em Trebinje. Eis que ao chegar na rodovia, uma hora depois, encontramos um restaurante, e através de mímicas fomos salvos pela gasolina de um dos clientes! Mais um ponto para os bósnios.

 

À meia-noite, encostamos no recém-inaugurado Red Door Hostel, poucos minutos antes do dono ir dormir. Fizemos uma janta com os feijões coloridos adquiridos em Montenegro e fomos dormir com os buchos cheios.

 

13° dia

 

Nos despedimos do albergue e da cidade, e atravessamos o país sem passar por nenhuma grande cidade. A impressão que tivemos é que o país inteiro é rural.

 

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As marcas da guerra são muito presentes. Desde prédios alvejados por balas e inúmeros cemitérios...

 

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...até campos minados da vida real, bastante concentrados na porção mais ao norte do país.

 

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Apesar disso, o povo parece estar superando todo esse sofrimento e se preparando para os turistas que começam a chegar.

 

No fim do dia chegamos ao Parque Nacional Una, na fronteira com a Croácia. Lastimável não termos chegado antes, pois é um belo parque. Só tivemos tempo de ver os cânions de cima e pequenas corredeiras cobertas de névoa, onde se pode praticar rafting.

 

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Paramos em Bihác para compras cervejas e nosso jantar, e prosseguimos até o povoado na Croácia, onde um casal italiano nos recebeu de braços abertos.

 

14° dia

 

E assim chegamos ao Parque Nacional dos Lagos de Plitvice, mais um da série da UNESCO. Apesar de estar aberto havia poucos minutos, a fila na bilheteria já estava grande. Pagamos 180 kunas (~105 reais), o ingresso mais caro de alta temporada. Dos cerca de 20000 hectares de regiões montanhosas formadas principalmente por dolomito e calcário, apenas uma parte ao redor da sequência de lagos conectados por cachoeiras é acessível. O que torna o parque tão especial é a variedade nas tonalidades de verde e azul, causada pelos minerais e organismos contidos na água e pela posição do sol, como é possível perceber ao longo do dia. Como há trilhas com altitude, se consegue ter algumas vistas amplas e incríveis.

 

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De baixo, a vista das cachoeiras, lagos coloridos límpidos e vegetação íntegra também não deixam nada a desejar.

 

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Outro destaque são os cogumelos, presentes em suas mais variadas formas.

 

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Apesar dos acessos estarem em ótimas condições a sinalização confunde um pouco, como no caso em que eu e Paulo nos perdemos das gurias pela razão de que os dois caminhos da bifurcação indicavam a mesma trilha. Mas fora isso vale muito a visita ao parque.

 

No final chegamos a entrar em uma pequena caverna dentro da área de visitação, onde encontramos duas conterrâneas catarinenses, Laisa e Maria Júlia. Com o sol já se enfraquecendo, fomos todos degustar cervejas croatas, que passaram no teste.

 

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Mais uma noite na estrada, até chegarmos à hospedagem caseira próxima ao aeroporto de Rijeka.

 

15° dia

 

Depois de 1500 km rodados, deixamos o veículo e as garotas no aeroporto, e pegamos um ônibus até Pula, ainda no litoral croata.

 

Lá, caminhamos sob um sol forte por algumas ruínas de edificações antigas, como o Kastel, uma fortaleza no alto de uma colina e a Arena, um Coliseu em menor escala.

 

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Para almoçar, lulas deliciosas e baratas em um restaurante pequeno próximo à rodoviária, onde fomos em seguida para nos direcionar ao aeroporto.

 

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Voamos até Oslo pela melhor low cost europeia, a Norwegian, que tinha até wi-fi grátis! Como nosso voo seguinte sairia do mesmo aeroporto na manhã seguinte, passamos a noite nele mesmo, embora praticamente não tenhamos conseguido dormir.

 

16° dia

 

Finalmente chegara o dia mais esperado da viagem, conhecer o paraíso chamado Islândia, onde praticamente todas as belezas naturais são de livre acesso e custo. De posse do carro alugado, seguimos até o supermercado da rede Bónus, a mais acessível do país. Tão econômica que toda a comida que eu comprei para 4 dias custou em torno de 120 reais, basicamente nada, se considerar que a Islândia é um dos países mais caros do mundo. Somente uma refeição típica em um restaurante típico de uma cidade típica pode facilmente chegar a isso! Com esse valor eu consegui comprar o suficiente para passar esses dias comendo sanduíche de queijo, presunto, alface, tomate e picles, biscoito de chocolate, suco de laranja, maçã, leite e skyr, que é um tipo de leite fermentado não pasteurizado semelhante ao iogurte.

 

A primeira parada foi no Parque Nacional Þingvellir. O vale, além da beleza, tem uma importância histórica do período dos vikings, onde os maiores eventos do país tomaram partido. Também são bastante visíveis as falhas geológicas, pois o parque se situa bem no meio de duas placas tectônicas.

 

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Milhas adiante, passamos por campos enormes de musgos. Em meio a eles, vimos uma família coletando baldes de um fruto minúsculo chamado berjamór, usado para fazer geleias. Foram os únicos frutos que vimos em todo o caminho ao redor do país.

 

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Mais à frente, encontra-se uma das diversas áreas geotérmicas da ilha. Entre outros, ali jaz o maior gêiser do mundo, fora os do parque Yellowstone. O Strokkur entra em erupção de poucos em poucos minutos, com jatos de água fervente entre 15 e 40 metros de altura. A turistada se aglomera em volta para vislumbrar esse fenômeno interessante.

 

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Continuando o caminho pela zona mais rural da ilha, é fácil notar a claridade impressionante dos corpos d’água que estão sempre a cruzar o caminho, das geleiras para o mar.

 

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Outra das atrações mais deslumbrantes e visitadas do país está logo em frente: é a Gullfoss, a cachoeira dourada. Ainda que seja uma das maiores da Europa, não chega nem perto de nossas Cataratas do Iguaçu, mas nem por isso deixa de ser uma belíssima paisagem, ainda mais se considerar o onipresente arco-íris, que às vezes chega a ser duplo. Escapou por pouco de virar uma hidrelétrica no século passado.

 

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Essas são as principais atrações do Golden Circle, a zona mais popular entre os turistas. Muitas vezes eles não passam disso. Como nossa intenção era cruzar toda a Ring Route, a principal estrada que atravessa a Islândia inteira (ainda que seja de pista única, de tão pouco trânsito), prosseguimos, passando pelos marshmellows gigantes de feno, que enfeitam as regiões cultiváveis ao redor de toda a massa de terra.

 

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A noite surgia quando paramos rapidamente para fotografar a Seljalandsfoss. Uma pena eu só ter descoberto depois da viagem que nessa cachoeira de 200 pés era possível caminhar por trás da queda d’água.

 

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No breu total, encostamos nosso carrinho em um mirante de uma praia, ao lado de um trailer.

 

17° dia

 

Para não passar tanto frio, ligamos o aquecedor do carro. Não sei se esquecemos de desliga-lo, mas pela manhã acordamos com a bateria completamente descarregada. Apesar de já haver uma porção de carros por ali, como todos eram alugados e não vinham com o cabo para carregar bateria (!), quem nos salvou foi o tal do trailer de venezuelanos que pernoitou no mesmo lugar.

 

Depois do susto, voltamos um pouco o caminho para localizar o que restava do acidente aéreo de 1973 em uma praia islandesa. Não sobrou muito da carcaça do avião americano que está atolado na desértica Sólheimasandur.

 

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Voltamos à praia anterior, para contemplar todo esplendor das areias negras e das colunas basálticas de Reynisfjara.

 

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Cheguei a escalar as rochas para fotografar mais de perto os puffins ou papagaios-do-mar, desengonçadas aves árticas com rostos bastante peculiares.

 

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E voltamos à estrada principal, passando pelo vulcão impronunciável (Eyjafjallajökull) que entrou em erupção recentemente. Ali próximo, tomei um banho de gato no gélido rio.

 

Tentamos ainda subir a região montanhosa de Landmannalaugar, um desafio para nosso veículo urbano, mas fomos vencidos pela falta de combustível, tendo que retornar. Mais além, campos verdes de musgo e escarpas, deixando a paisagem constantemente variada.

 

Eis que surge no fundo do cenário duas geleiras que se confundem com o horizonte, separadas por uma montanha marrom. Havíamos chegado à maior massa de gelo da Europa em volume, no descomunal Parque Nacional Vatnajökull. Caminhamos da sede do parque até a geleira propriamente dita, com seu próprio lago onde boiavam icebergs. Como nunca tinha pisado em uma, saltamos pelo rio que desaguava dela até atingirmos os blocos mais externos de gelo sujo. Poucos passos depois retornamos, pois o sol estava se pondo e não queríamos virar picolés.

 

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Quando achamos um pico para dormir, coincidentemente lá estava o trailer novamente! Enquanto tomávamos uma cerveja no carro, notei que havia algo diferente no céu, onde quase não se via estrelas devido à lua cheia. Primeiro apareceu algo como um halo branco cruzando de um lado a outro. Depois, transformou-se em um rastro de cometa. Quando mudou de forma para uma onda, tive a certeza de que era a tão sonhada aurora boreal! Gritamos de alegria tão alto que acordamos os vizinhos, que também se uniram a nossa comemoração. Era quase impossível ver uma aurora naquelas condições; mesmo assim, durante quase uma hora a onda de coloração branca a verde clara apareceu e sumiu do céu. Pena não ter conseguido uma foto boa, mas a recordação daquele momento já está valendo.

 

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18° dia

 

A fim de ganhar terreno, nos revezamos na direção. Acordei já na laguna glacial Jökulsárlón. Em meio a diversos icebergs, abundam aves marinhas e focas, ansiosos pelos peixes que são levados pelas marés até o ambiente protegido.

 

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Já no lado leste da ilha, subimos pelo litoral, sem grandes novidades pelas horas seguintes, a não ser pela lagoa de cisnes e uma ou outra forma geológica. Só paramos quando encontramos no meio do nada uma banheira de água quente, e bota quente nisso. Não perdemos a oportunidade para tomar aquele banho.

 

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A estrada nessa hora passava pelo interior, subindo a montanha, tanto que passamos por áreas com manchas de neve. É claro que eu não perderia a oportunidade de caminhar, também pela primeira vez, nesse tipo de terreno.

 

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Corríamos sobre a estrada de cascalho, quando passamos por um carro parado no acostamento pedindo auxílio. Como já havíamos sido ajudados no dia anterior, não poderíamos deixá-los por conta própria, mesmo que já estivéssemos atrasados. Assim ajudamos os singapurenses a trocar o pneu furado.

 

Seguimos com uma parada rápida na Dettifoss, a cachoeira mais caudalosa da Europa. O rio desemboca próximo a nossa parada seguinte, o cânion Ásbyrgi. Este, por sua vez, foi formado no degelo após a última era glacial. Atualmente consiste em um vale em forma de ferradura preenchido por uma floresta de bétulas, salgueiros e pinheiros, um lago e paredões verticais de até 100 m de altura.

 

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Para voltar à Ring Road, onde pernoitaríamos, usamos a estrada no lado oeste do cânion, que na verdade estava ainda em construção. Mais um desafio off road com quase um atolamento e quase um pneu furado.

 

Chegamos à noite em mais uma região geotermal e bastante odorífera. O que parecia ser de longe uma erupção, de perto virou a quinta maior usina geotérmica do país, Krafla, onde podíamos circular livremente. Como já era tarde, demos meia volta e fomos até a vila mais próxima de Reykjahlíð. Nela, Paulo tomou o chá mais caro da sua vida em troca de uma tomada e wi-fi. Ficamos no estacionamento do hotel mesmo, colocamos as 5 camadas de roupa e dormimos.

 

19° dia

 

Muito fedor e mosquinhas nesse dia. Começando pelo Hverir, campo de poças efervescentes de lama e enxofre. Esses bichos, apesar de não picarem, incomodam demais. Caminhávamos rapidamente em meio aos campos sulfurosos devido aos animais e ao cheiro desagradável.

 

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Há uma série de outras atrações nessa região, mas com o tempo curto só pudemos passar. Desde o lago Myvátn, cujo significado do nome remete aos insetos malditos, também a cratera do vulcão inativo Hverfjall e, ainda, uma pequena subsidência alagada, que reflete o azul do céu.

 

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Ainda na região, erguem-se as colunas de lava de Dimmuborgir. Únicas no mundo, oferecem trilhas em meio às formações que já foram cenário para a série Game of Thrones (assim como várias outras partes da Islândia). No entanto, também é uma zona dominada pelas pragas voadoras.

 

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A última das grandes atrações do norte do país é a volumosa Goðafoss, a cachoeira dos deuses.

 

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Poucos quilômetros de estrada depois, passamos pelo mirante de Akureyri, uma das maiores cidades, ainda que não necessite nem de uma foto panorâmica para cobrir todo seu terreno.

 

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Dali em diante, foram centenas de quilômetros correndo contra o tempo, e deixando algumas atrações menores de fora do roteiro. Pudemos apenas subir o vulcão glacial Snæfellsjökull, inserido em um parque nacional de mesmo nome, no extremo oeste da ilha. As condições lá em cima estavam péssimas para uma visita ocasional, bem como eu gosto. A certo ponto a estrada foi interrompida por neve, tivemos que fazer um desvio, até o momento em que todo o caminho estava interditado e, para piorar, uma neblina forte impedia a visão. A única presença humana era um veículo com esteira para se locomover nesse terreno, acredito que para resgate.

 

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Retornamos. Já não havia mais luz quando completamos o circuito e chegamos em Reykjavík, 2200 km depois da partida. Para essa noite eu reservei o albergue Capital Inn.

Na hora de levar o Paulo ao aeroporto, percebi que ele não tinha se dado conta que o aeroporto que o levaria de volta não era o de Reykjavík, a 1 km dali, mas o de Keflavík, a 48 km! Voei para conseguir deixar o cabeção no exato momento em que o portão iria fechar.

 

20° dia

 

Nos poucos minutos que tive antes de meu voo, dei uma passada rápida pelo centro da capital, que apresentava um movimento nada comparável com capitais de outros países. Vi a interessante escultura Sun Voyager à beira-mar e a igreja Hallgrímskirkja, inspirada nas colunas de basalto de Reynisfjara.

 

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Lamento não ter tido tempo para ficar mais nesse que sem dúvida é o país mais bonito em termos de natureza, considerando todos os 45 em que já estive.

 

E assim cheguei ao aeroporto de Oslo-Gardenmoen, de onde precisei tomar um trem de 90 coroas (~45 reais) para chegar ao centro. Entrando em um mercado, em meio a tantos imigrantes árabes, indianos, africanos e chineses, o choque monetário foi grande. Achei que passaria fome ali, de tão caro que era tudo. Saí de lá com um pacote de torradas.

 

Tomei um metrô (30 coroas) até o cemitério, ao lado do qual ficava o Vigelandsparken, um parque onde permanecem mais de 200 esculturas de um só artista, no caso Gustav Vigeland. Além de algumas obras perturbadoras, não vi muito mais. Tanto que há mais moradores que turistas por lá.

 

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Voltei caminhando, fotografando as construções clássicas, como palácio, prefeitura, catedral e teatro.

 

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Depois fui até o porto, de onde consegui uma bela imagem da iluminada e colorida baía de Oslo. Uma pena que o caminho que seguia, por debaixo da fortaleza costeira, estava pouco visível; umas luzes iriam ajudar muito.

 

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Passei pela Ópera, atravessei o centro e cheguei ao Anker Hostel. Não o recomendo, pois além do preço já alto, ainda te obrigam a alugar a roupa de cama por uma taxa absurdamente cara. Foi de longe o albergue mais caro da minha vida.

 

21° dia

 

Ao invés de passar a manhã pulando de ilha em ilha, decidi ir até uma das florestas mais próximas da capital. Depois de meia hora no metrô, cheguei à estação Frognerseteren, que desemboca na Nordmarka Forest. De cara, várias bifurcações, pois existe uma rede de trilhas impressionante. Novamente o GPS me salvou.

 

Mais um novo bioma pra coleção. Depois da tundra na Islândia, veio a taiga da Noruega, um tipo de floresta de coníferas restrito às altas latitudes boreais. De bom, mirtilos à vontade; de ruim, solo encharcado – tanto que em muitos trechos a trilha passa por troncos caídos usados como ponte.

 

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Em uma das vezes que saí da trilha me deparei com um cão brincalhão. A dona disse que o estava treinando para a temporada de caça de aves.

 

Depois de caminhar bastante cheguei a Sognsvann, onde fica um lago grande e uma estrutura para a população, que frequentava em massa, ainda que fosse um dia de semana.

 

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Como havia comprado o passe ilimitado de transporte para o dia (90 coroas) segui em direções e paradas aleatórias no caminho, incluindo uma parada em um supermercado, onde eu finalmente achei uma marca de produtos alimentícios com preço acessível, a Smart 365. Dali em diante só comprei isso, desde suco de laranja, passando por um guisado de carne com batata e até creme de caviar.

 

Como queria distância de qualquer gasto adicional, passei a tarde fazendo outra trilha em uma floresta a leste da cidade. Lá cruzei com um homem e um cão que procuravam lobos. Legal, mas melhor não ficar ali depois do pôr-do-sol.

 

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De fato, pretendia ver o pôr na colina Ekeberg, o cenário de fundo da tela famoso O Grito, do norueguês Edvard Munch, exposta na Galeria Nacional de Oslo. Para isso, voltei ao centro e embarquei no bonde, o mais veloz em que já estive, mas do lado contrário da rua. Tudo bem, aproveitei para dar uma volta a mais. O que eu não sabia é que ao chegar ao ponto final, quando todos os passageiros menos eu desembarcaram, o bonde tinha mudado de linha! De fato, só notei quando eu estava indo para a direção oposta de onde deveria, e o motorista bigodudo tinha virado uma loira bem apresentável. Azar, só me restou voltar para o albergue, já que o sol tinha dado adeus.

 

Minha estadia em Oslo terminou com a degustação de caviar falsificado. Comestível, mas muito salgado. Sou mais a farofa de ova de tainha da minha mãe.

 

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22° dia

 

A última facada antes de ir par ao destino seguinte foi dada pelo ônibus/trem que levavam até o aeroporto de Oslo-Torp, 249 fucking coroas norueguesas!

 

Em compensação, quando desembarquei do aeroporto de Vilnius, Lituânia, só foi necessário 1 euro para pegar o translado para a cidade!

 

A hospedagem da vez, Home Made House, faz jus ao nome, pois foi o local mais aconchegante e caseiro que estive durante a viagem, e só me custou 12 euros a diária com café-da-manhã. Logo em minha chegada conheci David, um cara que se não tivesse me dito que era americano eu não acreditaria, de tão bom que era seu português. Ele, que já tinha morado no Brasil, estava viajando a 14 meses ininterruptos, desde que conseguiu fazer sua carreira de locutor de rádio virar independente de localização, o sonho de muitos como eu. Com ele e com uma australiana de traços orientais que chegou na mesma hora que eu, saímos para uma volta pelo centro, a fim de ver os prédios históricos.

 

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Como foi subjugado pela União Soviética, esperava ver um país pobre e destruído, mas me surpreendi com a prosperidade e limpeza, que não ficava atrás da Europa ocidental. Entre os edifícios mais impressionantes, consta a Igreja de Santa Ana, feita com tijolos à vista.

 

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Atravessando o rio chegamos a uma nova nação, Užupis. Não, essa não é mais uma das micronações que estão na moda ultimamente, é apenas uma brincadeira feita por artistas, que elegeram seu reduto e expõe variadas obras no local. Você pode até ganhar um selo no passaporte, além de conferir a constituição emplacada em um paredão, em diversos idiomas.

 

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A chuva bateu no final do dia, quando seguimos para a praça principal da catedral. Com essa combinação climática o cenário ficou surreal.

 

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Bem no período estava acontecendo o festival Sostinės Dienos, traduzido por algo como dias da capital. Feiras e shows ocorriam em barracas e palcos no centro da cidade, durante a tarde e à noite.

 

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Comi um prato típico em uma das bancas, embora não tenha identificado o que havia nele, além de carne e pimenta. Para beber, escolhi no mercado uma lata de um líquido chamado gira. Ao tomar era impossível saber se era refrigerante ou cerveja. Na verdade, pesquisando, descobri tratar-se de uma bebida típica fermentada de pão, com teor alcoólico bastante reduzido, mas saborosa.

 

Depois de umas voltas, David retornou ao albergue, enquanto eu e a pseudo-japa chamada Camha fomos tomar umas cervejas de verdade. Chegamos ao supermercado às 22 horas e alguns minutinhos. Para nossa surpresa, os estabelecimentos são proibidos de vender qualquer tipo de álcool após as 22 horas! Nossa única opção foi ir a um bar. Quando chegamos estava havendo uma partida da seleção nacional de basquete, então o estabelecimento estava cheio. Lá, provei a cerveja branca Švyturys Baltas. Deliciosa! Tanto que trouxe algumas pro Brasil. Às 24 o bar fechou e tivemos que ir embora.

 

23° dia

 

Fui de ônibus à cidade vizinha de Trakai, que além de um lago usado em esportes aquáticos, guarda um bocado de história medieval e moderna. Um impressionante castelo restaurado reside em uma ilha, e hoje funciona como um museu. Vale a pena pagar a taxa de entrada, mais pela narração e artefatos históricos do que pela arquitetura. Ali ficava o núcleo da capital do Grão-Ducado da Lituânia, que em tempos remotos chegou a incorporar toda a Bielorússia e partes da Polônia e da Rússia. Como recebe um número considerável de turistas estrangeiros, toda parte escrita está disponível também em inglês.

 

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Fiquei um bom tempo no castelo. Quando saí, almocei em um dos vários restaurantes da orla. Provei vários kibinai, semelhantes a nossas empanadas, e adorei.

 

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A digestão eu fiz caminhando bastante pelas florestas próximas. Definitivamente devia ter ido de bicicleta, pois até eu achar e chegar ao parque que estava procurando, onde já foram catalogadas mais de 200 espécies de musgos (!) já era hora de voltar.

 

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Comprei uma caneca medieval de souvenir, que custou pouco, e voltei até o ponto de ônibus, não sem antes passar no supermercado e lamentar não poder ficar mais dias nesse país onde meio litro de cervejas de verdade custa a partir de 50 centavos de euro.

 

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Para essa próxima noite, além de Camha, se uniram mais um francês e uma belga à trupe. Depois de muito procurar por um restaurante de um guia que não existia mais, acabamos jantando em um restaurante indiano um tanto caro, mas bom para minha última refeição da viagem.

 

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Fomos em seguida a outro bar, onde passamos as horas seguintes à base de cerva.

 

24° dia

 

Provei as últimas panquecas de café-da-manhã, me despedi de todos e segui para o aeroporto. O voo me levou a Frankfurt-Hahn, de onde precisei de um translado até Frankfurt.

 

Passei a tarde caminhando pelo centro e comprando chocolates, cervejas e outros bens consumíveis para trazer ao Brasil. Resultado final, os cerca de 11 kg de peso da mochila na ida viraram 30 kg na volta!

 

Despachei uma parte e voltei pro Brasil, revivendo mentalmente toda essa longa e proveitosa jornada que me fez novamente ter a certeza de que conhecer o mundo é maravilhoso e deve ser feito sempre que possível.

 

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