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MIRANTE DA PEDRA DA MACELA E CONQUISTA DOS DOIS FRADES

 

Era última semana do inverno de 2015, um calor absurdo, uma previsão de tempo perfeita e surge um convite de um amigo virtual, o Rodrigo, para uma exploração da Pedra da Macela e os Três Frades que se avistam a partir daquela. Estes picos - os Três frades - não possuem acesso por trilha, o que frustou muito o Rodrigo em sua visita ao local a 2 meses atrás, motivando essa nova investida para, de alguma forma, conquistarmos estes belos morros rochosos que se alinham em direção a Parati.

 

Sexta de noite saí de Campinas para encontrar o time que faria parte desta aventura - Loures, Piccoli e o idealizador Rodrigo - no sempre movimentado Habib’s do Jabaquara. Por conta do atraso do ônibus e do congestionamento na linha de metrô, acabei chegando um pouco atrasado, mas acabamos saindo do ponto de encontro bem mais tarde do horário combinado por conta da fome de todos que não resistiram a umas boas esfirras, mesmo as comendo fora do estabelecimento e sendo pressionados por um tiozinho nervoso a sair logo dali e dar a vaga do estacionamento pra outros clientes.

 

Deixamos o tiozinho um pouco mais irritado e meio cheios de esfirra (esse pessoal é tudo saco sem fundo) partimos em direção a cidade de Cunha, entre São Luiz do Paraitinga e Parati, bem na divisa dos estados de SP e RJ, já passadas as 23h daquela sexta-feira.

 

Depois de muita conversa e uns perrengues iniciais envolvendo necessidades fisiológicas urgentes na fila do pedágio resolvidas com a evacuação dos resíduos urinários atrás de um caminhão em movimento, chegamos, depois das 4h do sábado, ao início da estrada de manutenção que da acesso ao mirante da Pedra da Macela, que fica ao lado das torres de transmissão que dividem o espaço a 1.840 metros de altitude (meu GPS marcou altitude máxima de 1.792 metros). Como estávamos muito cansados e não tínhamos um plano definido de como seria a exploração proposta - se iríamos de cargueira para acampar entre os Frades e a Pedra da Macela ou se seguiríamos com mochilas menores com o suficiente para irmos e voltar no mesmo dia - cada um se mocozou de alguma forma e dormimos até que, às 6h30, depois de pouco mais de 2 horas de sono, todos acordamos com os gritos eufóricos do Rodrigo que parecia ainda estar sob o efeito das cervejas que havia ingerido no dia anterior. Como eu havia acabado de conhecer o cara, deixei os xingamentos o mais amenos possíveis para não frustrar nossa aventura já no início e comecei a preparar o café e a mochila com o equipamento que levaria para registrar a aventura mais um pouco de alimento e pouco mais de 2L de água para passar o dia, pois sabia que não haveriam mais pontos de água pela frente.

 

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Às 7h40 estávamos prontos, mas não avistávamos mais o Rodrigo. Não vi ele arrumar mochila nem tomar café. Como ele estava pilhado para subir até o mirante o mais rápido possível, iniciamos a caminhada supondo que ele já estaria pelo caminho. Ignoramos todas as bifurcações e seguimos direto para o mirante e, depois de 2,2 Km de subida em pouco menos de uma hora, com nenhuma dificuldade de navegação, chegamos no cume da Pedra da Macela, onde encontramos o Rodrigo deitado numa sombra curtindo um som no seu celular. Como eu havia previsto, o chefe da expedição não havia trazido nada de água nem alimento. Pensei “ele deve ser tão fodão que vai conquistar os Três Frades, voltar e não vai dar nem tempo de ficar com sede ou fome”. Não poderia estar mais errado…

 

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Um casal passou por nós e a moça fez questão de demonstrar sua consciência ambiental e pediu para que nós não deixássemos lixo. Para nós, foi só encheção de saco, pois seguimos a ideologia do “leave no trace” há muito tempo, mas dando uma volta pelo cume, é fácil perceber quanto porcalhão retardado sem noção passa por lá e deixa um monte de lixo, principalmente papel higiênico e latas de cerveja. Lamentável. Espero que a “chatisse” dela ajude a educar um ou outro que está iniciando no mundo das trilhas.

 

Com o tempo completamente limpo, pudemos contemplar toda a baia de Angra dos Reis, Parati e a Ilha Grande. Ficamos por 15 minutos nos maravilhando com uma vista de tirar o fôlego e aguçando a curiosidade para um futuro passeio por todo aquele marzão que avistávamos. Já eram 9 horas e não podíamos passar mais tempo por ali, sob pena de ser pegos pela escuridão no meio do mato desconhecido, então começamos a analisar o terreno e procurar por alguma trilha que fosse em direção aos Frades, mas nada encontramos. Se fossemos seguir direto para sudeste, onde víamos o nosso objetivo, nosso destino era um monte de mato após o qual um penhasco que colocaria todos nós em risco, então, analisando o mapa topográfico e aproveitando uma pequena abertura na mata a oeste do mirante, descemos o morro da Pedra da Macela por esse lado que tinha uma inclinação menos arriscada e fomos virando, aos poucos, para sudoeste até atingir a altitude do vale que separa o mirante da subida que antecede o “Primeiro Frade”, o que demorou 40 minutos, após o qual fomos seguindo pela curva de nível até iniciarmos a subida para o primeiro cume. Havia muito mato e seguir a curva de nível não é tão simples quanto parece, pois na verdade continuamos num sobe e desce bastante cansativo para desviar das partes com mato mais denso. Paramos para um breve lanche no caminho e às 11 horas alcançamos uma clareira de onde podíamos avistar os dois primeiros Frades e a Pedra da Macela de onde viemos. Não pareciam estar distantes e deu uma boa animada, dando a impressão de que concluiríamos com sucesso a nossa exploração.

 

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Às 11:15 chegamos ao que acreditávamos ser o cume do “Primeiro Frade”, onde o Piccoli, especialista em piruetas e cambalhotas, tratou de executar uma manobra arriscadíssima e escalou uma rocha que batizamos de Dedo do Frade. Trata-se de uma ponta de 4 metros de altura ao lado da pedra do cume do Primeiro Frade, mas com muita pouca área para se apoiar, tornando seu acesso muito arriscado. Após o nosso amigo fazer suas tradicionais poses para as fotos e desescalar com um pouco mais de dificuldade que teve para escalar a rocha, nos juntamos no topo da pedra e comemoramos com muita gritaria, o que deve ter chamado bastante atenção daqueles que estavam no mirante da Macela, provavelmente se questionando como aqueles malucos chegaram até onde estávamos.

 

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Após 20 minutos de descanso e mais lanche, voltamos a caminhar por cima das rochas, na crista da serra. Para evitar varar mato, tivemos que utilizar a corda duas vezes para dar segurança em trechos onde entre uma rocha e outra havia um abismo e não poderíamos arriscar nenhum escorregão. O Piccoli sempre ia na frente nestes trechos, pois suas habilidades permitiam que ele grudasse em qualquer lugar, possibilitando um deslocamento muito mais ágil que os outros. A vista continuava incrível. Podíamos avistar até a Pedra da Gávea e o litoral sendo invadido por nuvens que vinham do Atlântico Sul.

 

Em pouco menos de uma hora de nos rasgarmos no mato chegamos a mais um lajeado de rochas, onde achávamos ter chegado ao “Segundo Frade”. Embora o deslocamento muito prejudicado pela densidade da mata, a aventura estava parecendo mais fácil do que pensávamos, pois segundo nosso pensamento faltava apenas mais um Frade e depois era só voltarmos. Então voltamos a caminhar e após transpor mais um vale, às 13:30 estávamos no topo do último Frade…..só que não!! O Loures saiu para dar uma explorada na área e logo nos chamou para ver o que ele tinha descoberto e, após passarmos por alguns tuchos de capim elefante, pois até aqui esse mato nos persegue, avistamos mais um morro em formato de pão de açúcar. Sim, esse seria o verdadeiro “Terceiro Frade”, sendo que o lugar que achávamos que era o Primeiro Frade, na verdade, era apenas um ombro da montanha e o Segundo Frade era o Primeiro.

 

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Depois das fotos e do lanche, o relógio já marcava 14:00, horário que havíamos combinado em voltar, mas voltar sem conquistar o último Frade era certeza de amargar o retorno até sabe-se lá quando, então propus que fossemos até lá desta vez para não termos que retornar apenas para concretizarmos o plano inicial. O desgaste já era grande, a água já estava acabando e não tínhamos muito alimento. Não levamos nada para um eventual bivaque caso não conseguíssemos sair de lá e o risco era grande. Não havíamos nem decidido se retornaríamos pelo mesmo caminho ou se desceríamos para o sul onde sabíamos que existia uma fazenda com uma estrada de terra que retornava onde o carro estava estacionado. Depois de discutirmos, ficou decidido que não iríamos até o último Frade, mas voltaríamos por outro caminho, descendo o vale no sentido sul com a intenção de interceptar uma estrada de terra que cortava um pasto e retornar ao “estacionamento”.

 

Lá de cima do Segundo Frade parecia apenas uma grande descida até a estradinha, porém a coisa foi tomando uma outra dimensão. Batemos mato por mais de 3 horas e nada de avistarmos a tal da estrada. O Sol já começava a se por e nós estávamos exaustos no meio de um monte de mato. Por sorte, encontramos alguns veios de água pelo caminho, porém de qualidade duvidosa. Já não tínhamos mais clorin para tratar a água e a comida já estava acabando. Às 17:20 chegamos num ponto onde uma rocha se erguia no meio do mato possibilitando uma visão melhor de onde estávamos e podíamos confirmar que estávamos no caminho certo, pois a estrada de terra estava a nossa frente. Continuamos a rasgar o mato com o resto de facão que o Piccoli havia levado, porém o cansaço já era tão grande que não conseguíamos nos manter focado e seguir o plano que havíamos estabelecido e acabamos desviando algumas vezes do caminho correto. Pra piorar, fiz um rasgo na minha mão direita ao me apoiar em alguma coisa pontuda e, ao retirar a ponta, começou a escorrer tanto sangue que meus zóio começaram a virar pra cima, então sentei logo antes que eu começasse a passar mal. Eu odeio ver sangue de gente, mas respirei fundo, pedi ajuda pra pegar um curativo no kit de primeiros socorros, limpei a ferida e estanquei o sangue. A mão doía um pouco, mas não dava pra ficar parado por mais tempo. Já estava escuro e não podíamos perder mais tempo, pois o risco aumentava a cada minuto que passava. Exaustos de tanto bater mato, depois das 18:20, decidimos seguir o curso de um rio na espectativa de que ele, em algum momento, cruzasse com o pasto da fazenda que era nosso objetivo. Depois de tanto nos deslocarmos para o sul, era hora de virar para a direita e começar a seguir em direção a oeste, porém o rio seguia o curso para sudeste, em direção a Parati, no sentido contrário ao que deveríamos estar seguindo. Não dava mais pra seguirmos o curso do rio. Tínhamos que insistir no sentido correto, por mais difícil que fosse, para sair daquele inferno verde. Foi aí que decidimos seguir no sentido sudoeste e o Piccoli tomou a frente em uma piramba super inclinada, onde os únicos apoios eram uns bambus meio soltos e podres que não passavam muita confiança quando, às 19:20, finalmente ele sinalizava, a gritos de vitória e alguns palavrões em bom a alto som, a chegada ao pasto da fazenda e a saída do matagal que quase nos triturou por completo.

 

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De tão surreal que foi ver aquela graminha baixa e fácil de andar por cima, ficamos uns 10 minutos deitados e contemplando o céu estrelado que fechava a aventura daquele dia com chave de ouro. Logo encontramos a estrada de terra que, na verdade, era um caminho de vaca que seguia até a porteira da fazenda e às 20:25 já estávamos no carro iniciando os preparativos da merecida janta.

 

Comemos até não aguentar mais e às 22:00 capotamos, cada um em seu canto - o Loures dentro do carro, o Rodrigo em sua barraca e o Piccoli e eu no chão, pois o tempo estava excelente e sempre que está assim não perco a chance de bivacar.

 

Tivemos uma ótima noite de sono, salvo por um momento em que um grupo de bêbados passou por nós gritando feito retardados. No dia seguinte teríamos o domingo inteiro pra fazer o que quiséssemos e decidimos explorar a cidade de Cunha. Passamos pelo centro e, depois de comermos umas “porcarias” numa padaria, fomos visitar a Cachoeira do Pimenta. São uns 12Km de estrada de terra a partir da área central de Cunha e chega-se ao local onde existe alguma estrutura para recepcionar os turistas, com placas de “não deixe lixo” e “proibido som alto” distribuídas pelo estacionamento, que comprovavam que, ou o povo que frequenta essa cachoeira é analfabeto, ou simplesmente não tem educação nenhuma e deixam suas latinhas de cerveja jogadas pelo chão com o carro ao lado com aquelas músicas super agradáveis tocando bem alto.

 

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Logo ao lado do estacionamento é onde fica a muvuca. Os poços são incríveis, mas não vale a pena ficar no meio desse monte de gente. Não demorou para nós arrumarmos nossas pequenas mochilas, sem esquecer de ítens de emergência como curativos, alimento extra, clorin e lanterna. Vai que agente acaba se metendo em outra enrascada. Nunca se sabe haha…

 

Depois de escalarmos as rochas ao lado direito das quedas d’água, chegamos até o topo da cachoeira que na verdade é uma sequência de cachoeiras com 5 a 10 metros de altitude que somadas ganham altitude de 90 metros, e descobrimos que tem uma trilha bem fácil que tem até corrimão que da acesso a toda a cachoeira, finalizando numa barragem que abastece toda a cidade de Cunha, mas todo o povo que estava lá se acumulou lnos primeiros poços ao lado do estacionamento, deixando o restante das quedas todas para nós. Escolhemos um lugar onde havia a um poço bem fundo e possibilidade de alguns saltos. Tiramos muitas fotos e filmamos todos pulando no poço e depois comemos o lanche que havíamos levado e ficamos deitados na pedra tomando Sol, até que a roupa estivesse seca para irmos embora, o que não demorou muito.

 

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Retornamos ao carro às 13:10 e, já que ainda estava cedo, o Piccoli e eu fomos explorar a parte de baixo do rio. O Prince saiu saltando de pedra em pedra enquanto eu me arrastava de bunda com medo de tomar um tombo, mas devagar chegamos até uns pequenos cânions, em 10 minutos de exploração, e depois resolvemos voltar para arrumar as coisas e ir embora.

 

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Paramos mais três vezes para comer pelo caminho, contemplar a Mantiqueira de um mirante e tomar café e às 19:50, depois de um pouco de trânsito na região de Taubaté e próximo a São Paulo, eu já estava na rodoviária providenciando minha passagem de volta a Campinas.

 

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Fica o relato, então, aos que foram até o mirante da Macela e se perguntaram se não seria possível chegar até os Três Frades. Não chegamos até o último, mas não tenho dúvidas de que é possível e, depois de todo o perrengue que passamos, se for fazer esse passeio, recomendo que volte pelo mesmo caminho e não faça como fizemos, descendo para o sul a fim de interceptar o pasto para retornar ao estacionamento por caminhos de vaca. Por não ter trilha consolidada, é um passeio de dificuldade mais elevada, é recomendável que se leve pelo menos 10 metros de corda, um ou mais facões bem afiados, água e alimento para o dia inteiro e, claro, kit de primeiros socorros. Um mapa topográfico com a posição dos picos marcadas e uma bússola também não podem faltar.

 

Assim foi mais uma aventura, provando que essa turma consegue transformar qualquer passeio no parque em um perrengue monstro de estrupiar o corpo, mas que vive intensamente as coisas simples que o mundo oferece.

  • Colaboradores
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Booaaa...

 

Conquista de respeito, brother.!

 

Qdo soube dessa aventura, pensei q vcs tivessem ido pela trilha dos 7 degraus (Q já ouvi falar), passando pela mesma fazenda em q saíram.

 

Mas enfim... independente do caminho, se nota que foi um perrengue dos bons. Compensador.

 

Parabéns à troop.

  • Silnei changed the title to Mirante da Macela e Conquista dos Dois (Três) Frades

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