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Aquecimento: Chacaltaya é a primeira vítima


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:arrow: FONTE: O Globo

http://oglobo.globo.com/blogs/blogverde/post.asp?cod_post=217144&cx=0

 

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O Glaciar Chacaltaya, na Bolívia, se tornou este ano primeira estação de esqui do mundo a sucumbir ao derretimento da neve. Fechou as portas, vítima do aquecimento global. Apesar de absurdamente precária, a estação era uma pérola para quem ama os extremos da natureza: a mais alta do mundo, com pistas entre as rarefeitas altitudes de 5.200 e 5.400 metros, a área de esqui mais ao norte do Hemisfério Sul, a mais equatorial da Terra e a primeira área de neve da América do Sul a ter um ski lift.

 

O freezing level (altitude em que a precipitação vira neve) de lá costumava ficar entre assustadores 4.500 e 5.500 metros, uma altitude de tirar o fôlego. Mas, por conta dos efeitos do aquecimento global na região, a neve escasseou e o glaciar onde estava instalada a precária estação simplesmente derreteu. Estudos mostram que, entre 1992 e 2001, Chacaltaya encolheu13 metros de equivalência de água (clique aqui para saber mais sobre o estudo). Hoje, restam apenas 5% da geleira. Os últimos vestígios do glaciar, segundo os prognósticos dos especialistas, devem derreter até 2015. Ainda há algumas ocorrências de neve, segundo alpinistas que frequentam o local, mas são raras.

 

O derretimento do Chacaltaya não é um drama apenas para esquiadores aventureiros. O glaciar era importante contribuinte da bacia de água que abastece cidades como La Paz e El Alto, na Bolívia, e agora o principal temor é da falta da necessidade mais básica do homem: água. No início deste ano, representantes de vários países do mundo estiveram em Chacaltaya para avaliar o problema. O governo da Suécia prometeu financiar estudos. A ministra das Relações Internacionais do país escandinavo, Gunilla Carlson, prometeu "tentar encontrar uma solução para este problema, que é mundial".

 

Chacaltaya, no entanto, continua servindo como local aclimatação para alpinistas, por conta da sufocante altitude. E, durante o ano, ainda recebe alguns aventureiros. A engenheira ambiental e alpinista Alessandra Arriada relata, para o Blog Verde, o desespero da falta de ar acima dos 5.000 metros:

 

"Falta de informação, descaso, ou seja, a gente sempre acha que não vai acontecer com a gente. Pensei que o mal da altitude não era assim. Que eu subindo aos poucos e devagar não iria sofrer com o soroche. E que subir a montanha seria fácil.

 

O mal da altitude, ou mal da montanha, ou ainda soroche, ocorre pela falta de oxigênio que se tem à uma altitude a partir de 3.500m aproximadamente. É uma sensação muito ruim, você sente fortes dores de cabeça, náuseas, tontura, confusão mental e não consegue fazer nada. É seu corpo tentando se adaptar a essa condição extrema e pode ter conseqüências seríssimas como um edema pulmonar e até a morte. E o único tratamento é descer imediatamente para altitudes menores.

 

Não foi o que eu fiz. Desde os primeiros dias minha aclimatação foi péssima. Não consegui me alimentar direito, nem me hidratar e insistia em caminhar e forçar o organismo, achando que pudesse melhorar de repente. Os sintomas foram piorando, desde a falta de ar até a perda de raciocínio, tonturas e desmaios. Na subida por El Alto até a estação de esqui via meu corpo ir pifando lentamente. Fui piorando cada vez mais. Molenga e azul por causa da hipoxia. Corri para o oxigênio e tudo. Hospital, correria, até uma infecçãozinha alimentar básica, causada pela debilidade na qual eu já me encontrava. Um fiasco. Então, mesmo querendo comprar a passagem para o Ano Novo em Cuzco no Peru, eu me dei conta que o fim da viagem era ali. Acabava pra mim a vontade de escalar e de fazer qualquer coisa a não ser respirar. Eu queria o ar de volta, e mesmo que eu não quisesse, meu organismo queria, e eu tinha, por ordens médicas, que voltar. It’s time to GO. Então, peguei minha mochila, fui roubada pela última vez até o aeroporto (o táxi se não vai com a tua cara te cobra fortunas) e rastejei até o avião. E quando você sai daquela altura absurda, seu corpo milagrosamente volta à perfeição. Dá aquela sensação de: putz, eu podia ter ficado, já estou melhor (nem pense nisso, óbvio). Mas eu estava feliz por estar de volta, feliz de ter ido, apesar do susto."

 

Se andar já é difícil, imagine esquiar... Uma aventura e tanto.

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