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Capítulo 25: O eletrizante downhill pela Carretera de la Muerte.

 

24/04/15

 

Depois de passarmos a noite digerindo o furto do dia anterior, acordamos mais conformados e aceitamos a realidade de que não seria simples prestar uma queixa sobre o ocorrido. Não só perderíamos o dia de um dos passeios mais aguardados do mochilão, como tínhamos quase certeza de que tudo isso não daria em NADA. Solução: engolir o choro e redobrar a atenção nessa reta final.

 

Acordamos bem cedo neste dia. Na agência em que fechamos o passeio, fomos informados de que era preciso estar às 6h45 no local marcado. E assim o fizemos. Só que, ao chegarmos lá, tivemos dificuldade para localizar o ponto marcado no mapa... porque ainda estava fechado! Batemos na porta diversas vezes, tocávamos a campainha e nada de alguém nos atender. Estávamos começando a ficar preocupados quando, depois de uns 20 minutos, ouvimos o barulho de alguém se aproximando.

 

No local funcionava também um hostel, e a agência ficava ali dentro. Só que havia acabado de abrir, literalmente. Percebemos então que tínhamos chegado cedo demais sem necessidade. Entramos, fomos atendidos, preenchemos a declaração que você basicamente assume inteira responsabilidade por qualquer_merda_que_te_acontecer.docx e testamos as roupas e os equipamentos de segurança. Nesse meio tempo, alguns gringos do nosso grupo chegaram e fizeram o mesmo procedimento.

 

Depois de tudo acertado, fomos andando até um outro local onde nos seria servido o café da manhã, incluso no passeio. Era uma cafeteria bem simpática, recheada de rabiscos com depoimentos de diversos viajantes do mundo todo. Lá, fizemos amizade com um carioca gente boa (cujo nome não me lembro agora, acho que era Thiago ou Felipe, quase todo mundo chama Thiago ou Felipe) e que estava viajando pela América do Sul por tempo indeterminado.

 

Por volta das 8h, devidamente alimentados, entramos na van e seguimos viagem. Depois de mais ou menos 2 horas de estrada, paramos na "La Cumbre", uma grande área plana de terra próxima a um lago onde receberíamos as instruções de segurança, de comunicação e testaríamos nossa bike. Ali, diversas agências e grupos se reúnem. Fizemos a primeira foto do nosso grupo e começamos a descida.

 

25911144393_194add324a_k.jpg01_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Grupo da nossa agência.

 

25909084244_b3a896cf4f_k.jpg02_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Todo animado pra descida hehe.

 

Não sei se já falei dos tipos de bike que se pode alugar, mas são basicamente 3:

- Bike nível 3: suspensão frontal + freio à disco (custo: Bs.330).

- Bike nível 2: suspensão frontal + freio hidráulico (custo: Bs.370, mas com o desconto ficou por Bs.350).

- Bike nível 1: suspensão frontal e traseira + freio hidráulico (custo: Bs.460).

 

Eu evitaria a de nível 1, principalmente se você não está muito habituado a andar de bicicleta. O freio hidráulico é mais suave e leve que o freio à disco, e, acredite em mim, freio é algo que você usará o tempo todo no downhill, então qualquer conforto nesse sentido faz muita diferença. Já a suspensão dupla, se você tiver com uma grana a mais pra isso, ótimo. Mas se não tiver, não tem problema, a opção 2 será suficiente.

 

Como adiantei no capítulo 22, a primeira parte da descida é toda feita no asfalto. Esse trecho é muito bom. Dá pra pegar velocidade e confiança. Obviamente, como estamos no início da descida, partimos de um ponto de altitude muito elevada (e paisagens lindas). Ou seja... altitude + vento + velocidade = FRIO. Preparem-se para a friaca, principalmente nas mãos. Eu, já prevendo essa Execução Aurora nos meus dedos por ter lido relatos anteriores, coloquei uma luva de lã por baixo da luva do equipamento, e MESMO ASSIM senti minha mão quase congelar.

 

Outra informação importante é que, durante o downhill, a van com as nossas bagagens segue atrás do grupo. Um instrutor vai na frente, outro no meio e mais um outro atrás. Eles se revezam entre vigiar a galera e tirar fotos com uma GoPro. Ah, e não dá pra levar máquina própria, obviamente. Ah não ser uma GoPro com equipamentos próprios para pedalada, aí pode usar sem problemas. Só não vá querer fazer feito alguns que tentam selfie e perdem o equipamento no penhasco. Use-os bem acoplados ao capacete ou ao peitoral.

 

Ao final do passeio, eles entregam um DVD com as fotos e os vídeos da descida. Para eu que estava acostumado com a qualidade da D5300 nessa viagem, não achei as fotos láááá essa coisa toda, mas dei uma editada leve pra tentar melhorar um pouco a qualidade.

 

26241155300_09086822c2_k.jpg03_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Lindas paisagens na primeira parte da descida.

 

26421657322_7b1e8528ec_k.jpg04_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

A primeira parte é feita no asfalto.

 

26447879791_052af9bb1f_k.jpg05_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Mais uma paradinha pra foto.

 

Um fato curioso é que, no meio dessa primeira parte, no asfalto, sentia que estava perdendo velocidade. Não estava conseguindo acompanhar o instrutor da frente, e comecei a perceber que o restante da galera tava se aproximando. É bom a gente tentar pedalar perto dos instrutores (mas cuidado, não vá querer pedalar feito um louco se não tiver experiência pra isso) pois eles costumam tirar umas selfies e daí se você está próximo a eles acaba tendo mais fotos no DVD (dica marota do Tio Rodrigo aqui). Só sei que eu tentava mudar marcha, tentava as posições de aceleração (inclinar o tronco pra frente pra reduzir o atrito com o vento), tentava de tudo... e nada de conseguir ganhar velocidade.

 

Até que chegamos à primeira parada. Nos reunimos todos num acostamento para dar início a uma nova etapa da descida, e foi aí que comentei da situação da minha bike com um dos instrutores. Ele mexeu nela e conseguiu consertar o problema, que era na marcha. A partir daí, ela ficou filé, e consegui seguir no ritmo que eu queria.

 

Os instrutores reuniram todos ali para explicar que, a partir daquele ponto, passaríamos por um trecho de chão de terra, pedras e cascalhos, bem similar ao que encontraríamos na Estrada da Morte propriamente dita. Serviria como um treino para a gente sentir como a bike reage àquele relevo. E vou falar uma coisa pra vocês, É SINISTRO. Ela treme toda, por vezes quase foge do nosso controle, mas isso, é claro, pra gente que tem esse espírito de competição e não aceita ficar pra trás kkkkkk a galera que vai devagar acaba tendo menos dificuldade (eu acho, não fiquei lá pra conferir rs).

 

Depois de um tempo naquela estrada, era hora de fazer uma parada para o lanche (incluso no passeio). Um sandubinha simples, uma coca-cola quente, uma banana, um chocolate e uma garrafa d'água. Tranquilasso! Nesse tempo, entregamos nossas bicicletas pro motorista, que as guardou de volta em cima da van. A partir dali, seguimos de van até o ponto de iniciar a descida pela Estrada da Morte de fato.

 

Chegamos lá já com a adrenalina tomando conta. Víamos os grupos se organizando e alguns iniciando a descida. Recebemos nossas últimas instruções e fomos informados de que "há momentos em que podemos encontrar automóveis subindo a estrada, então temos que nos manter na mão da descida, que é a via da esquerda"... ou seja, a via próxima ao penhasco ::hein: hahaha. Mas sempre que surgia um veículo subindo os instrutores faziam o sinal de parada para que todo mundo ficasse em segurança, é tranquilo.

 

COMEÇAMOS A DESCIDA!!! Olha, não tenho como relatar muita coisa aqui a não ser que foi UM DOS PASSEIOS MAIS FODAS QUE JÁ FIZ NA VIDA, e sem dúvidas o mais divertido de todos esses 26 dias de mochilão. Adrenalina pura. Aquele medo misturado com empolgação. Por umas duas vezes eu dei umas derrapadas e quicadas tão sinistras que vi a imagem da minha mãe descendo do céu e colocando um DVD com o filme da minha vida, o que quase me fez repetir o incidente da caganeira em Machu Picchu. Rapazzzzz, foi por pouco hahaha. O carioca que tava atrás de mim chegou a gargalhar de tanto medo que ele sentiu por mim naquele momento kkkkkkk. ::lol4::

 

Mas que importa é que SOBREVIVEMOS, e ainda ganhamos uma camisa no final para provar isso rs. Foram praticamente 4 horas de muita descida, entre cascalhos, pedras, mata, cachoeira e tudo mais, mas que parecem terem sido 40 minutos, de tão rápido que passou.

 

26513977915_7e16f05d16_k.jpg06_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Estrada da Morte super simpática nos dando boas-vindas "Venham, queridos...".

 

25911111813_4a657ad328_k.jpg07_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Olha aí a dita cuja. Mas é bonita, né?

 

26241126850_17b3879f93_k.jpg08_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Adrenalina full time.

 

Num certo ponto da descida, paramos todos para aquela foto clássica na "Curva del Diablo". É impressionante. Diz a lenda que o diabo enganava os viajantes ali criando uma ilusão de que era uma estrada reta, e eles seguiam passando direto e caindo no precipício. ::sos:: (tárepreendidocruzcredo)

 

Enfim, eu estava preocupado nessa parte porque sabia que não poderia usar minha máquina pra fazer uma foto boa, mas até que o instrutor tirou uma que prestou rs. Eu, Antenor e o carioca.

 

26447858141_9f982e27e2_k.jpg09_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Curva del Diablo - Carretera de la Muerte.

 

25909042204_ca90aadec3_k.jpg10_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Algumas cruzes pra criar um ambiente bem tranquilo durante a descida.

 

26513956095_1afab5c6b6_k.jpg11_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Tinha até cachoeira. Mas o que tem de perigoso, tem de lindo, né?

 

No final, a gente parou num bar, entregou as bikes para serem lavadas e compramos uma cerveja bem gelada. É aquele clima de comemoração e alívio por estar vivo e ter sobrevivido a uma das estradas mais perigosas do planeta. Ô coisa boa. A breja, claro, não estava inclusa no pacote, e nos custou 14 bolivianos.

 

25909032734_9dd0754f5b_k.jpg12_dowhill_la_paz by Rodrigo Alcure, no Flickr

Una Paceña, por favor.

 

Seguimos para o local do almoço (25 bolivianos buffet liberado, não incluso no pacote + Bs.10 num refri e Bs.8 numa água), e onde seria o tal local que poderíamos tomar um relaxante banho de piscina. Pura conversa fiada. Tinha um buraco azulejado lá com uma água fria e suja que ninguém teve coragem de entrar - mentira, eu dei um mergulho e depois saí, só mesmo pra dizer que entrei rs. Depois fomos tomar uma bela ducha quente e trocar de roupa, essa sim tava boa.

 

Por volta das 16h, retornamos pra La Paz, onde chegamos perto das 20h. Foi o tempo de jantar um franguinho frito + refri por 18 bolivianos cada (agora entendo por que parei de tomar refrigerante, nunca tomei tanto como nesse mochilão rs) e seguir pro hostel.

 

Amanhã seria nosso último dia em La Paz. Dia de embarcarmos para o nosso destino final dessa viagem, exatamente onde tudo começou.

 

E não é que este relato já está chegando ao fim? hahaha. Vou sentir saudades.

 

SALDO DO DIA:

Bs.14 cerveja

Bs.25 almoço buffet

Bs.10 refrigerante

Bs.8 água

Bs.18 franguinho + refrigerante

TOTAL: Bs.75 (US$ 11)

 

Próximo capítulo: ¡Hasta la vista, baby! É hora de voltar pra casa.

  • Amei! 1
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Faço minhas as palavras da quel.teixeira:

 

1- que passeio do caralho!!!

2- não é pra mim! Kkkkk ::Ksimno::

 

 

Muito massa o passeio, eu sou louquinha da silva, mas se eu fizer esse passeio não volto pra casa ::mmm:

 

No mais... Semana que vem meu mochilinha começaaaa ::ahhhh::

  • Colaboradores
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Cara, caraca, carái... que relato!!!

Confesso que li rápido algumas coisas, mas salvei para ler com calma tudo, pois em Maio de 2017, pretendo fazer esse mochilão. Com certeza plagiarei muito do seu roteiro e farei uso de muitas dicas. Mês que vem saio de férias e terei tempo de planejar a do próximo ano. O que vou incluir nele vai ser trilha para Macchu Picchu, além de Lima e Santiago para visitar uns amigos.

E inveja branca das suas fotos, preciso configurar minha camera para tirar algo parecido kkkk

 

ABçx

::otemo::

 

Hahaha isso aê, Márcio. A ideia do relato é que ele seja bem útil mesmo. Pode se jogar nessa trip porque é sucesso garantido!!! Abraço.

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