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Circuito Ausangate – Sete amigos e um intruso (ou novo amigo) na Cordilheira Vilcanota


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Minha história com o trekking de Ausangate teve início em 2013, quando pesquisando sobre alguns circuitos de trekking em altitudes elevadas encontrei umas imagens que me deixaram impressionados pela beleza do lugar. Naquele ano falei com meu grande amigo Peter sobre o circuito e meu interesse em percorrê-lo, mas Peter sugeriu que fôssemos a Huayhuash e assim Ausangate ficou pra outra oportunidade. A ideia de percorrer aquelas paragens nunca saiu da cabeça e em novembro de 2014 durante uma trilha na Chapada dos Veadeiros, voltei a falar com Peter sobre esse projeto e ele topou. Devido à gravidez da esposa, eu só poderia em maio ou início de junho. Com a data definida tratei de convidar mais amigos para o trekking, chamei Adriano, Fábio e Andrea, todos moradores de Brasília e Peter convidou o Edver, de Veranópolis, formando nosso grupo para essa pernada. Depois da má experiência com a alimentação em Huayhuash, sugeri que não fôssemos com uma agência, que contratássemos guia e arrieros e que levássemos nossos equipamentos e nós mesmos preparássemos a comida. A ideia foi aceita por todos do grupo e assim começamos os preparativos. O Peter conseguiu o contato do guia Cirilo e entrou em contato com ele, explanou nossa ideia e definimos os dias e as condições da pernada, ficando a responsabilidade do Cirilo em contratar arrieros e mulas, fornecer uma tenda pra cozinharmos e ser responsável por sua alimentação e pela alimentação dos arrieros. Assim, ficou combinado de nos encontrarmos em Cusco no dia 30 de maio para partirmos para Tinqui, onde iniciaríamos a caminhada. Faltando 15 dias para nosso trekking, Luciano, amigo do Peter foi convidado a participar da trilha e se juntou ao nosso grupo. Decidimos contratar um transporte privado para nos levar até Tinqui e nos trazer de volta a Cusco ao final do trekking e Cirilo ficou responsável em alugar uma van para nos transportar. A galera chegou em Cusco em dias distintos, Peter, Luciano, Fábio e Andrea foram antes e fizeram o Trekking em Lares como aclimatação, Edver foi com a esposa no dia 25 de maio e Adriano e eu chegamos no dia 27 e, aproveitamos para conhecer Machu Picchu.

Dia 29 de maio nosso guia entrou em contato com Peter para perguntar se poderia acrescentar um caminhante ao grupo, e como não houve objeção, o intruso se juntaria aos sete amigos para o Circuito Ausangate, na Cordilheira Vilcanota. No dia 30 de maio todos nos encontramos e partimos rumo a Tinqui, cerca de 150km de Cusco, antes de cair na estrada fomos a uma rua de comércio popular comprar brinquedinhos que distribuiríamos para as crianças que encontrássemos nas trilhas. Na van conhecemos o intruso, que viria a se tornar um amigo querido, Yatir, um israelense gente boa que rapidamente se entrosou ao resto do grupo e acabou se tornando um amigo de todos. A estrada até Tinqui é sinuosa, o que me deixou um pouco mareado. Em Tinqui almoçamos e passamos o resto da tarde conversando sobre o trekking e tirando as últimas dúvidas com o guia, além dessa parada servir como aclimatação, pois Tinqui está 800m de altitude acima de Cusco. Depois de uma péssima noite, no dia 31 de maio pela manhã depois de conhecer o restante da equipe, os arrieros Alejandro (irmão de Cirilo), Pascoal (tio de Cirilo) e o garoto Elbis (sobrinho de Cirilo), partimos para o início do trekking.

 

Dia 01: Tinqui (4100m) à Upis (4300m) – A mamãe noel e o futebol nas alturas.

Depois de nos registramos num posto de controle, saímos de Tinqui em direção à Upis, caminhada fácil, 10km por estrada de terra que levamos pouco mais de 3 horas para percorrer, não sei se pela péssima noite que passei ou por não ter tomado café da manhã, meu ritmo era horrível, estava sempre atrás e seguia num passo de lesma, devagar e sempre. Nesse primeiro dia Yatir e Adriano já se destacavam pelo bom condicionamento físico e aclimatação, caminhando sempre mais rápido que os demais. No caminho encontramos várias crianças e a Andrea, muito paciente, era a relações públicas do grupo, tentava conversar com as crianças e fazia o papel de mamãe noel, distribuindo brinquedinhos a elas. Durante o trajeto, apesar de muito nublado já tínhamos uma vista do imponente nevado Ausangate e seus 6.384 metros de altitude. Nesse dia acampamos no quintal da casa do Cirilo e logo após armar as tendas caiu uma chuva fina. Depois da chuva fomos conhecer os familiares de Cirilo e aproveitamos para jogar futebol com as crianças, atividade cansativa nos 4300 metros de altitude de Upis. O grupo mostrava muita sintonia e até Yatir já fazia parte das brincadeiras. Ainda nos divertimos experimentando os trajes típicos, curtimos um lindo entardecer e depois de jantar, caímos no sono. Tive uma ótima noite, acordei brevemente apenas uma vez e pela manhã as barracas estavam cobertas de gelo, confirmando o frio que faz nessa época do ano.

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Dia 02: Upis (4300m) à Janpaucacocha (4600m) – Caminhando nas trilhas de “O Senhor dos Aneis”.

Começamos a caminhar às 09:15 da manhã e com 1:30 chegamos às termas de Upis, camping oficial do circuito. Um local agradável e com uma visão espetacular do Ausangate. A partir desse ponto praticamente não há casas e começamos a caminhar numa região muito parecida com os locais onde foram gravadas as cenas de O Senhor dos Aneis. Diferentemente do dia anterior, meu ritmo melhorou absurdamente e já caminhava com certa facilidade nas elevadas altitudes. Com cerca de cinco horas de pernada, alcançamos o primeiro passo do trekking, o Arapa Abra, de 4850m de altitude. Logo depois do passo vimos as primeiras vicunhas, que pastavam no alto de um cerro à esquerda. O cenário era espetacular e trazia visuais de tirar o fôlego: picos nevados, cachoeiras, lagunas e montanhas fantásticas surgiam a todo momento. Em sete horas de pernada chegamos às margens da Janpaucacocha, uma linda laguna cercada por montanhas onde passaríamos a segunda noite. Mais um final de tarde com chuva e outra noite fria.

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Dia 03: Janpaucacocha (4600m) à Pampacancha (4600m) – O dia das geleiras e lagunas.

Felizmente o dia amanheceu meio limpo e o sol deu as caras, tornando o visual ainda mais espetacular. Alguns gansos nadavam tranquilamente na laguna abaixo do acampamento. Teríamos pela frente o dia mais puxado do circuito, com dois passes em 12 quilômetros de caminhada, sendo um deles de 5200m de altitude. Sem dúvida nenhuma, esse é um trechos mais fantásticos do trekking, caminhamos ao lado de geleiras paradisíacas, passamos por cachoeiras, lagunas de diversas tonalidades e lindas montanhas, algumas com picos nevados, outras de uma arquitetura deslumbrantes e algumas de tons avermelhados. Nesse trecho avistamos mais vicunhas e também viscachas. Deslumbrados com a beleza do lugar, alcançamos o Apaneta Abra de 4850m de altitude sem dificuldades. Dali, descemos até Ausancatecocha, onde fica outro acampamento oficial do circuito, a 4650m de altitude, local no qual paramos para o almoço. Aqui começa a íngreme subida para o Palomani Abra, com seus 5200m de altitude, ponto culminante do circuito, que levamos pouco mais de uma hora e meia para alcançar a partir de Ausangatecocha. No Palomani havia neve e brincamos feito crianças. O vento frio cortava a pele e depois da curtição e de inúmeras fotos, o Cirilo nos deu algumas folhas de coca para que fizéssemos agradecimento aos Apus (divindades) por termos conseguido chegar até ali. Na descida para Pampacancha passamos pela Laguna Colorada, uma impressionante laguna avermelhada com uma linda geleira debruçada sobre ela. E assim, caminhando por paisagens paradisíacas chegamos à Pampacancha, onde acampamos no quintal de uma casa de pastores. Nessa noite comemos trutas fritas pescadas pelos arrieros. A noite fria não impediu que ficássemos fora da barraca para apreciar a lua cheia iluminando as montanhas em volta. Outra noite tranquila e gelada.

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Dia 04: Pampacancha (4600m) à Otorongo (4650m) – Os encantos da neve.

Nesse dia saímos mais cedo, pois percorreríamos cerca de 15 quilômetros e teríamos um passo de 5.000 metros de altitude pela frente. Desde Pampacancha descemos até alcançar uma linda pampa que subia suavemente em direção ao nevado Três Cumes. Ali passamos por mais um acampamento oficial do circuito, encravado num lugar lindo, com uma vista fantástica dos nevados ao redor. Todos tivemos certeza que seria muito melhor ter caminhado um pouco mais no dia anterior e ter acampado nesse lugar maravilhoso. O Fábio estava com diarreia e não aparentava estar muito bem. Apesar de suave, a subida era longa e o Fábio estava ficando pra trás. Diminuímos o ritmo para que ficássemos mais juntos e no início do trecho mais íngreme o guia parou para almoçarmos. O Fábio disse que se parássemos seria pior pra ele, pois o frio estava forte e ele não queria comer, achando melhor continuarmos e pararmos somente após o passo. Concordamos e seguimos em frente. Nesse trecho há muitos totens e fomos enganados duas vezes, achando que havíamos alcançado o passo, mas aí, víamos que estava mais adiante. E nesse chega, não chega alcançamos o Campa Abra, com 5000 metros de altitude e começamos a descer com um vento forte vindo do norte. A descida foi tranquila e cerca de uma hora após o passo paramos pra almoçar. Ali ao lado, a Andrea encontrou o acampamento base pra que vai escalar o Campa. Depois de comer voltamos à trilha mais animados. O tempo estava fechando e vez ou outra caía um pouquinho de granizo. Nesse trecho vimos muitas vicunhas e viscachas. Encontramos uma camponesa vendendo seus artesanatos de tecido e após uma leve subida chegamos ao mirador da Laguna Ticllacocha, uma visão fantástica, é indescritível a beleza daquele lugar. Descemos até a área de acampamento de Otorongo e aproveitamos pra descansar um pouco e jogar conversa fora na tenda refeitório depois de oito horas de caminhada. O acampamento fica às margens de duas lagunas, com um visual paradisíaco. Enquanto o restante do pessoal foi armar as tendas, eu, Adriano e Yatir ficamos comendo pipoca e conversando. No fim da tarde começou a nevar e corremos pra montar as tendas. No início foi ótima a sensação dos flocos caindo na gente, mas a neve foi aumentando e o frio castigando, o vento forte atrapalhava bastante a montagem da barraca e quando terminamos, eu e Adriano estávamos exaustos. Escureceu bem mais cedo e o frio estava de doer. Mal terminamos de jantar, corremos pros sacos de dormir. Por causa do cansaço, dormi feito uma pedra e pela manhã o céu limpo foi uma agradável surpresa.

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Dia 05: Otorongo (4650m) às Termas de Pachanta – A beleza das lagunas sagradas.

O dia amanheceu limpo e os campos brancos por causa da neve da noite anterior. O branco deu um ar especial ao lindo local de acampamento. Saímos para vislumbrar e aproveitar aquele local magnífico. Rolaram até algumas brincadeiras com a neve, a volta à infância acaba sendo inevitável. Andando pelos arredores do acampamento, tive noção do frio da noite anterior, algumas lagunas estavam congeladas mesmo após o nascer do sol, que coisa linda era aquilo. Eu e Yatir fizemos vários filmes dessas lagunas. Na volta ao acampamento, enquanto arrumávamos as coisas, o menino Elbis reclamou de dor no ouvido e o Adriano confirmou que ele estava com otite e medicou o pequeno guerreiro. Eu e Luciano queríamos ficar mais tempo ali, pescar um pouco e curtir toda a aura mágica daquelas paragens, mas como a maioria preferiu seguir até Pachanta, nos planos tiveram que mudar. São apenas sete quilômetros, mas um caminho esplendoroso. Passamos por inúmeras lagunas que segundo o guia eram consideradas sagradas pelos locais, cada qual com sua beleza singular. Esse trecho é fácil e rápido e depois de passar pela casa de alguns camponeses e margear um bonito rio, chegamos ao povoado de Pachanta e suas águas termais. Decidimos não acampar e dormir nuns quartos que os moradores alugame também achamos melhor contatar a van para que viesse nos buscar em Pachanta, assim economizaríamos 10 quilômetros de caminhada por estrada de terra. À tarde caiu granizo e mais um pouco de neve e tiramos o resto do dia para ficar de molho naquelas águas cálidas, alguns bebendo cerveja, outros só curtindo a água deliciosa depois de cinco dias sem banho. O frio externo não nos intimidou e só saímos da água depois de anoitecer. Como eu e Luciano éramos os reis do desleixo, pra variar, não levamos lanterna e na volta para o quarto acabei caindo dentro do córrego de águas geladas que separa as piscinas dos quartos. Noite um pouco ruim, mas deu pra descansar um pouco. O Adriano apresentou diarreia e disse que não dormiu nada.

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Dia 06: Pachanta à Cusco - A despedida e a vontade de repetir o trekking.

Acordamos cedo e depois de nos despedirmos dos arrieros e de dar algumas lembrancinhas a eles partimos de van em direção a Cusco. Na van já comecei a sentir saudades daquele que foi um dos mais belos trekkings que fiz pela América do Sul. As paisagens paradisíacas, as companhias, as novas amizades, enfim, todo o conjunto tornou essa caminhada excepcional e especial e ao rever as imagens em casa, a saudade foi grande.

Obrigados aos companheiros Adriano, Peter, Fábio, Andrea, Edver, Luciano, Cirilo, Yatir, Elbis, Alejandro e Pascoal pela agradável compahia e por terem feito parte desse sonho que se tornou esse trekking. Um abraço a todos!

 

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  • Membros de Honra

Parabéns Renato!

 

Ótimo relato, excelentes fotos! Estou aguardando a continuação. Foi realmente um trekking maravilhoso, com uma turma super legal e muito bem preparada.

 

Achei Ausangate mais bonita que Huayhuash, talvez pela maior proximidade com as montanhas e geleiras. O tempo sempre frio e meio nublado tb davam uma áurea mais mística a estas montanhas.

 

Quando vc acabar o relato vou postar umas fotos tb.

 

Abs, Peter

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  • Membros de Honra

Grande Renato!

 

Excelente relato! Fotos lindíssimas!

 

Faço minhas, as palavras do Peter: "Foi realmente um trekking maravilhoso, com uma turma super legal e muito bem preparada."

 

Também vou postar umas fotos assim que você finalizar a redação.

 

Bons ventos,

Edver

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  • Membros de Honra

SENSACIONAL!!!!!!! ::otemo::::otemo::::otemo::

Parabéns, lugar belíssimo. Ainda mais caminhando com os amigos.

Como sempre digo, companhia é tudo, você pode estar no lugar mais belo do mundo, se ao seu lado estiver alguém desagradável não será uma experiência boa.

Estando com os amigos, até a sala de espera do posto de saúde é um lugar legal. :mrgreen:

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  • Membros de Honra

Sei que Dientes de Navarino é um desejo antigo seu, assim como Ausangate era um desejo meu. E se tudo der certo em janeiro ou fevereiro desembarcaremos em Navarino.

Vcs foram ótimos companheiros e deixaram essa pernada ainda mais fantástica.

Tomara que nosso grupo tenha outras oportunidades de caminhar juntos pelas mais variadas trilhas que desejarmos.

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  • Membros de Honra

Complementando as informações:

 

Fomos com o Cirilo Gomzalo Huaman, guia independente, que providenciou os arreios, tendas cozinha e refeitório e transporte para o início e final do trekking. Pedimos para ele não incluir alimentação. Mas um dia ele nos ofereceu deliciosas trutas pescadas no jantar.

 

Peguei este nome recomendado no site Best Hikes.

 

O valor que ele cobrou, para 6 dias/5 noites, foi de US$ 210 por pessoa. Comparado com os 450 a 600 dólares que cobram algumas agência de Cusco foi um ótimo preço. É melhor tratar direto com os guias/arrieiros pois as agências de Cusco exploram muito este pessoal, pagando a eles uma miséria e cobrando caro dos turistas.

 

Ele era guia/cozinheiro trabalhando para agências. Até que guiando um grupo de franceses, uma francesa veio reclamar da qualidade da comida. Ele respondeu que a agência só havia dado 120 dólares para pagar os arrieiros, o guia e a alimentação de todo o grupo e era o que ele podia fazer. A francesa surpresa puxou o recibo e mostrou que só ela havia pago cerca de 500 dólares para a agência. Daí ele decidiu se tornar um guia independente.

 

O e-mail dele é cigohotrek@hotmail.com.

 

Recomendo o Cirilo. Apenas sugiro que vcs peçam a ele que a 1ª noite do trekking seja nas águas termais de Upis e na 3ª noite, no acampamento oficial entre Pampacancha (4600m) e Otorongo (4650m), antes dos 3 picos, lugares lindos.

 

Abs, Peter

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