Membros Douglas Dias Postado Maio 18, 2015 Membros Postado Maio 18, 2015 Relato de viagem – Road Trip Atacama 2015 Quando o Stefano me falou da ideia de, junto com o Zé Mané (André), fazer uma road trip até o Deserto do Atacama, não pensei duas vezes antes de me convidar pra aventura. Há anos tinha esse desejo, porém dessa vez a data pensada coincidiria com minhas férias já agendadas. Com a resposta positiva, agendamos uma conversa no mês de março, onde definimos a data (12 a 25 de abril) e, dentre outros detalhes menores, a rota que pretendíamos seguir, passando por Argentina, Chile e retornando pela Bolívia, evitando assim o Paraguai em razão da má fama da polícia e das estradas paraguaias. Combinamos também uma pequena distribuição de tarefas, onde fiquei responsável por estudar as rotas, paradas, quilometragens, etc. Já o Stefano cuidaria dos hotéis (decidimos não reservar, apenas ter em mãos as melhores opções) e o Zé cuidaria da documentação (seguro carta verde e autorização de tráfego, imprescindível para o caso de o condutor não ser o proprietário do veículo) e outros detalhes da caminhonete. Além disso, achamos melhor cada um fazer um plano de seguro viagem individual (fizemos pela MAPFRE). Após alguns dias de pesquisa em blogs, relatos do mochileiros.com, conversas com conhecidos e pesquisa de mapas na internet, fechamos a rota definitiva e decidimos que a melhor opção seria irmos com a L200 Triton (pelo 4x4 e pela autonomia de 600 km no diesel) do pai do Zé, pois ficou evidente que enfrentaríamos estradas esburacadas, de terra, de ripio (cascalho), e todo tipo de terreno adverso. E realmente valeu a pena essa escolha, pois as estradas que encontramos se mostraram um grande desafio, e poderiam ter se tornado um tormento se tivéssemos optado por um veículo menos robusto. Nesse ponto já passo a primeira dica: não aconselho ninguém a fazer o mesmo trajeto sem tração nas quatro rodas e com um veículo que não esteja em perfeitas condições, pronto pra aguentar o tranco. Durante a pesquisa me deparei com relatos de uns doidos que fizeram com um Prisma 1.0, mas depois de tirar minhas próprias conclusões, eu mesmo não faria o percurso novamente sem um estepe a mais, e de preferência com mais um veículo acompanhando, afinal só a sorte evitou que ficássemos perdidos no meio do deserto com os pneus furados. Vou tentar, então, mostrar um pouco do que foi essa aventura pela América do Sul, com a intenção de facilitar a vida de quem quiser fazer o mesmo roteiro . Preferi não incluir os mapas que selecionei dos trajetos, mas tenho todos salvos se alguém precisar. Dicas: 1) levar o mínimo de bagagem pessoal possível, pois isso facilita muito os procedimentos de aduana e imigração nas fronteiras (faça o que eu falo mas não faça o que eu faço... hehe). No mais, é imprescindível levar água e um pouco de comida para a viagem e quaisquer imprevistos no meio do deserto. 2) Na Argentina é obrigatório o seguro carta verde para o veículo, faça com antecedência. Também é proibido o uso de engate traseiro no veículo, e a legislação de lá exige que todo veículo tenha dois triângulos e um cambão, um tipo de reboque, mas arriscamos e fomos sem esse último mesmo.... 3) Organize-se com o máximo de mapas e informações que conseguir sobre os lugares em que vai passar. O GPS do Iphone foi tudo que levamos de tecnologia, nos ajudou muito nos trechos urbanos e estradas principais, mas o resto foi na raça, com mapas, Guia 4 Rodas e informações dos nativos que conhecem o local, pois quase não existem placas no Chile e Bolívia. 4) O RG serve em todas as fronteiras, mas deve ter menos de dez anos de expedição; a CNH não é aceita como documento de identificação, mas é necessária pra dirigir. 5) Viaje com companheiros gente boa e positivos (dispensa explicação!)!!! Ressalvo, apenas, que não vou me atentar aos valores de hotéis e restaurantes, pois tais escolhas vão muito da opção de cada um. Domingo, 12/03 – Leme a Foz do Iguaçu. Combinamos a saída para as seis da matina, mas como a cervejada havia rolado solta na chácara do Zé Mané no dia anterior, essa foi a hora que acordei, sem pressa.... Decisão correta, pois o Zé apareceu às sete horas, e logo descobrimos sua primeira peripécia da viagem: sua mala tinha caído da caçamba no caminho até a minha casa!!! Fizemos o caminho inverso e, por sorte, um funcionário do almoxarifado da prefeitura havia encontrado a mala e guardado! Aliviados, fomos buscar o Ursão (Stefano), arrumamos tudo na caçamba e zarpamos rumo ao desconhecido. Após 40 quilômetros, estávamos em Analândia quando descobrimos que o Stefano estava com o RG de 1998, e os países da América do Sul exigem o passaporte válido ou a identidade com menos de dez anos. Por sorte ele tem passaporte válido, então voltamos até Pirassununga onde encontramos com seu pai e, com o passaporte em mãos, finalmente a viagem começou de verdade. A aventura já prometia!! Fizemos o trajeto de 984 quilômetros até Foz do Iguaçu em aproximadamente doze horas, passando por Bauru, Ourinhos, Londrina, Cascavel, Corbélia, etc, tendo almoçado em um restaurante de beira de estrada em uma cidade do Paraná chamada Santa Mariana. Chegamos em Foz do Iguaçu por volta das 20:30, e logo encontramos o Hotel Del Rey, com preço muito bom, boas acomodações e localização, e um belo café da manhã padrão internacional, onde descansamos após sairmos pra tomar uma geladas e comer algo. Segunda feira, 13/04 – Foz do Iguaçu à Posadas/ARG Para o segundo dia, cumprimos o programado de viajarmos 310 km até Posadas/ARG, trajeto este realizado em aproximadamente quatro horas. Após um café da manhã monstruoso, partimos cedo para a fronteira com a Argentina. Lá o procedimento foi rápido: mostramos as identidades sem descer do veículo, o Zé apresentou o seguro carta verde (contra terceiros) e a autorização do pai dele para trafegar com o veículo, e fomos apenas questionados se transportávamos compras ou outros produtos, tendo sido liberados sem qualquer tipo de revista ou raio x. Recebemos um comprovante individual de entrada e fomos orientados a guarda-lo em segurança e apresenta-lo quando da saída do país. Da fronteira até a entrada do parque em Puerto Iguazu são no máximo quinze minutos de uma estrada muito bonita, cheia de borboletas amarelas. Sacamos pesos argentinos em um caixa eletrônico localizado na portaria do parque, mas recomendo não dependerem disso, pois logo o dinheiro acabou e muita gente ficou sem. Assim, melhor fazer o câmbio em Foz ou em Puerto Iguazu, após passar a fronteira. Como tínhamos pouco tempo, escolhemos visitar a Garganta do Diabo, e não nos arrependemos! Nunca vi nada igual, tanta potência, tanta energia, tanta água que parecia até cair em câmera lenta. Com certeza um dos lugares mais lindos que já visitei. Após muitas fotos e vídeos, fomos embora molhados, felizes e renovados pra toda a estrada que nos esperava pela frente. A estrada até Posadas era ótima (Ruta 12), e paramos pra almoçar numa cabana (comedor) à margem da rodovia, onde fomos brindados com uma comida caseira deliciosa e com a fanta laranja mais gelada que já tomei. Mais duas horinhas de viagem e chegamos a Posadas, linda cidade localizada às margens do Rio Paraná, com uma orla toda urbanizada e vários barzinhos ótimos. Encontramos o Hotel Posadas, bem no centro, arrumadinho, recepção em estilo colonial, e mais uma vez com ótimo preço. Após um bom banho, fomos à orla tomar algumas Quilmes pra comemorar a chegada na Argentina. Terça feira, 14/04 – Posadas a Monte Quemado Para o terceiro dia de viagem nossa programação era ousada: 1151 km até Salta. Porém, sabíamos que dificilmente seria possível cumprir essa meta, e logo cedo tivemos a certeza disso, pois o dia amanheceu chuvoso e isso atrasaria a viagem. Revolvemos sair sem pressa e tocar até onde conseguíssemos, apesar de sabermos que as opções de hospedagem nesse trecho em que atravessaríamos as províncias del Chaco e de Santiago del Estero seriam escassas, com apenas uma opção de hotel em Monte Quemado, muito mal avaliada em outros relatos de viagens. Seguimos por 340 km de boas estradas, pela Ruta 12, passando por Corrientes e chegando em Resistência, onde paramos pra abastecer e comer, dessa vez em um bistrozinho muito massa que encontramos com a sorte e com a política da boa vizinhança. Preço bom e comida melhor ainda, sempre antecedida por um pãozinho e um molhinho pra forrar a barriga. Após tentarmos sacar dinheiro sem sucesso, trocamos dinheiro com uns frentistas de posto mesmo, a um preço justo, e seguimos pela Ruta 16 por mais aproximadamente 430 km de retas, dessa vez por uma estrada não tão boa, com trechos remendados e esburacados, com muitos animais na pista, demandando bastante atenção de quem trafega por ali. Já era noite, chovia e já estávamos conformados em dormir em alguma espelunca em Monte Quemado quando a sorte mais uma vez brilhou pra nós! Aproximadamente um quilometro antes de chegarmos em Monte Quemado tivemos a visão do paraíso: um hotel recém inaugurado, chamado Cacho Hotel, na beira da pista, com um barzinho show de bola, restaurante próprio, quarto com ar condicionado, e melhor, por apenas cinquenta reais per capita. Sem pensar pagamos, nos acomodamos, e mais uma vez partimos pra cervejinha merecida depois de tantas horas na estrada. E dá-lhe Corona gelada! O único ponto negativo desse hotel ficou por conta do café da manhã: café, leite e pãozinho meia lua. Nem tudo é perfeito.... Quarta feira, 15/04 – Monte Quemado a Salta Dia tranquilo de viagem por 386 km até Salta (aproximadamente quatro horas e meia), reto pela Ruta 16 até Metan, onde seguimos rumo ao norte pela Ruta 09 até Salta. Trecho muito bonito de transição entre o chaco, rasteiro e retorcido, para uma paisagem dominada por árvores e um pequeno vislumbre das montanhas que nos aguardavam adiante. Em Salta, ficamos surpreendidos com a beleza da cidade, com um jeito europeu e bela arquitetura. Escolhemos muito bem mais uma vez e ficamos hospedados no Hotel San Francisco, localizado bem no centro histórico da cidade, há dois quarteirões da praça principal, com ótimo quarto e atendimento. Após descarregar a bagagem, almoçamos no restaurante Charrua (sensacional) e fomos bater perna no centrinho, onde visitamos o Museu de Arqueologia de Alta Montanha de Salta, que tem no seu acervo muitos objetos incas e três múmias congeladas descobertas em 1999, no alto do monte Llullaillaco, na fronteira da Argentina com o Chile, a uma altura de 6.739 metros, mortas em um ritual de sacrifício em honra dos deuses da montanha . Conhecidas como “los niños de Llullaillaco”, as três múmias incas que compõem o acervo do MAAM estão entre as mais bem conservadas do mundo. Seus cabelos, pele, roupas, sangue e órgãos internos são tão preservados que parece que vão acordar a qualquer momento. A mais velha, conhecida como Donzela, foi congelada quando tinha cerca de 15 anos. O mais novo, o Menino, tinha apenas seis. A Menina do Raio, morta aos sete, apresenta queimaduras no rosto e vestes por causa de uma descarga elétrica que a atingiu quando seu corpo ainda estava na montanha. No fim de tarde aproveitamos para ver o sol em um dos mirantes da cidade (Cerro San Bernardo). Subimos de carro, mas muita gente sobe de teleférico ou a pé e aluga uma bike lá em cima pra fazer o down hill. Lugar lindo e um belo por do sol, com os raios atravessando as nuvens e clareando o sopé dos Andes. Pra finalizar, a cidade pedia um divertimento noturno: fomos ao cassino do hotel Sheratown, que rendeu boas risadas e onde matei minha curiosidade, e depois comemos uma pizza emborrachada em algum barzinho da Rua Balcarce, onde estão situados os melhores bares e restaurantes da cidade, um lugar bem animado mas que não conseguimos aproveitar muito pois já estávamos quebrados.... Quinta feira, 16/04 – Salta a San Pedro do Atacama (SPA) Finalmente o esperado dia de atravessar o Paso Sico (4080 metros), fronteira entre Argentina e Chile. A previsão era fazer o trecho de aproximadamente 450 km em até dez horas, mas acabamos fazendo em menos tempo (aproximadamente sete horas). Tão logo nos dirigimos à periferia de Salta, começa a subida em direção aos Andes pela Ruta 51. São 31 km de asfalto até Campo Quijano (1579 metros), onde se inicia uma estrada de ripio, em boas condições, trecho este que se estende por 23 km até Estacion Chorrilos (2111 metros), onde novamente a estrada se torna de asfalto e a paisagem começa a mudar novamente, se tornando árida e pedregosa conforme vencemos os quilômetros. Nesse trecho que passa por Punta Pastil (2640 metros), Santa Rosa Pastil (3080 metros), Abra Blanca (4080 metros) e vai até Estación Muñano (3953 metros) começamos a avistar também o Nevado de Acay (5716 metros), à direita da estrada e, bem de longe, o Nevado Queva (6130 metros). Para mim, que nunca havia visto neve, foi uma visão extraordinária, aqueles picos nevados surgindo na nossa frente e dando um aperitivo do que nos esperava adiante. Após Estación Muñano a estrada volta a ser de ripio, porém sempre em boas condições, restando apenas 21 quilômetros até San Antonio de los Cobres (3775 metros), última cidade antes da fronteira, e que parece um cenário de filme pós apocalíptico, empoeirado, desolado. Aproveitamos para abastecer no último posto de combustível disponível e comprar uns petiscos e uma coca cola pro nosso almoço no deserto, e logo seguimos rumo ao Paso Sico. Após San Antonio de los Cobres pudemos perceber que estávamos, definitivamente, no deserto. Nos 76 quilômetros restantes até a fronteira com o Chile, foram várias e belas paisagens: a Abra de Chorrilos, passagem entre as montanhas situada a 4560 metros; a Lagunilla, uma mistura única de vegetação rasteira, pedras e água transparente, situada à esquerda da estrada; o Campo Amarillo, uma imensidão de vegetação rasteira amarela que dá um tom amarelado ao chão do deserto, contrastando com o azul do céu; os primeiros salares da viagem, Cauchari e Del Rincon; e por fim muitas vicunhas correndo pela imensidão de pedra e areia, cruzando nosso caminho descuidadamente por diversas vezes e alegrando a plateia. Um pouco antes de chegarmos ao Paso Sico a parada é obrigatória no “Puesto Fronteirizo da Gerdarmeria Nacional Argentina”, situado no meio do nada, onde tivemos toda a bagagem e o veículo revistados, porém com toda educação possível, e entregamos o comprovante de entrada no país, aquele recebido lá em Puerto Iguazu. E assim nos despedimos da Argentina com uma boa impressão, pois em nenhum momento fomos importunados ou extorquidos pela polícia, ao contrario do que imaginávamos quando planejamos a viagem. Mais alguns minutos e alcançamos o tão famoso Paso Sico (4080 metros), uma fronteira invisível entre Argentina e Chile, com apenas uma placa indicativa bem no meio de um altiplano muito bonito, onde a parada para fotos é obrigatória!! Detalhe que essa rota não existe em nenhum mapa oficial, seja do google maps, da Revista 4 Rodas, etc, sendo citado apenas em relatos de viagem e em mapas que achei com alguma pesquisa na net. Passada a fronteira, a Rota 51 argentina se torna Rota 23 no Chile, porém continua em ótimas condições, que nos deixaram surpresos e animados pra acelerar um pouco mais a L200... Apesar de ser de ripio (cascalho), não existem buracos grandes, e vimos até alguns carros de passeio fazendo o trajeto. Entretanto, esteja pronto pra um pneu furado pois é pedra que não acaba mais.... São mais 120 km de ripio até a vila de Socaire, os quais percorremos em aproximadamente três horas, com várias paradas para fotos e até um piquenique gelado! Considero esse trecho e depois a chegada em SPA o ápice de todo o trajeto, tamanha a beleza e a novidade de tudo que encontrávamos, a surpresa com o cenário depois de cada curva, laguna, monte nevado, em cada salar que víamos. E haja fotografia! Após o Paso Sico, passamos pelo chamado “Valle de los sueños”, cercado de montanhas com o sopé dourado pela vegetação e o cume coroado pela neve, contrastando com o céu azul. Uma visão inexplicável, que nos fez ter certeza de que havíamos optado pelo melhor caminho até SPA, embora o Paso Jama fosse todo asfaltado e muito bonito também. O vale termina na Abra de Sico (4465 metros), e logo na sequência já é possível avistar o “Puesto Fronterizo Carabineros de Chile”, um posto policial situado a 4334 metros de altitude, por onde passamos sem sermos parados e ser vermos uma alma viva. Na sequência um novo vale, dessa vez com o salar e laguna de Laco à direita e com a Abra de Laco à frente, pra mim a visão mais bonita da viagem, com a neve beirando a estrada. Um quilometro antes da Abra de Laco (4570 metros), o lugar mais alto da viagem até ali, vi uma estradinha secundária que saía da principal e ia em direção à neve, e pedi para o Zé Mané parar e dar ré, pois eu queria tocar a neve pela primeira vez. Os caras disseram que eu estava doido, que não tinha estrada nenhuma, mas quando viram que havia, se empolgaram e tacamos a caminhonete na trilha por mais ou menos um quilometro, até chegar em um ponto com neve branquinha e abundante. Me diverti com a neve um pouquinho e depois fizemos ali mesmo nosso piquenique de salame, copa, queijo, pão e coca cola, com nutela de sobremesa!! Com vista pro salar de Laco e a Abra de Laco, dificilmente um piquenique vai ter uma visão dessas novamente, uma mistura de branco do sal, da neve, das nuvens, com azul da água, do céu, e o amarelo das plantas. Nem percebemos o frio que estava (devia estar abaixo de zero)... ganhei uma bela dor de garganta naquela noite! E na sequência da estrada: Laguna Tuyaito (4095 metros) à direita da estrada, imensa, com alguns flamingos, a mais bonita que vi durante a viagem; Salar Águas Calientes (3993 metros); e logo a visão dos vulcões Miniques e Miscanti, sempre dominando a visão a leste. Logo a estrada começa a perder altitude e, após algumas curvas tranquilas chegamos a Socaire e reencontramos o asfalto. A partir daí, seriam menos de 100 km até SPA, mas a sensação é de que tinha sido pouco e a travessia do Paso Sico poderia durar mais muitas horas, de tão sensacional que é o visual. Após alguns pouco quilômetros, mais uma surpresa: fomos recebidos por uma raposa do deserto, lá chamada de Zorro Culpeo, ou Zorrito, que ficou parada junto à estrada olhando para nós. Paramos a caminhonete e ficamos alguns minutos olhando o bichinho, e ela ali nos encarando sem medo, sentadinha no deserto. Tirei fotos, fiz um vídeo, ela se levantou e foi embora, e nós também. E conforme a estrada ia baixando e se tornando reta, passamos por Toconao e começamos a avistar o Salar de Atacama a oeste e o vulcão Licancabur ao norte, pra finalizar esse dia com chave de ouro. No fim, fizemos esse trecho muito mais rápido que o esperado (apenas sete horas e meia), sem nenhum prejuízo visível (ainda). A nota negativa do dia ficou com o procedimento de entrada no Chile, na aduana que fica na entrada de SPA. Ao contrário do que havíamos lido, fomos muito mal recebidos por dois funcionários da aduana, apesar de um terceiro, que fala português, ter sido gente boa. Após apresentarmos as identidades, passaporte do Stefano, o documento do veículo e a autorização para trafegar, a mulher da aduana carimbou o passaporte, fez o documento de entrada do veiculo, e devolveu toda a documentação para nós, que presumimos ser todo o tramite necessário para entrada no país (engano nosso, explico quando escrever sobre a saída do Chile...). Detalhe: havia uma cabine da policia fechada, sem qualquer funcionário, placa ou aviso. Porém, o outro funcionário escrotão da aduana revistou toda a bagagem da caminhonete, revirou tudo no veículo, até lia os papéis que estavam no lixo! Depois, o pior: mandou o Zé Mané colocar a caminhonete onde havia um buraco pra olhar por baixo... ficou uma meia hora olhando peça por peça, no motor, estepe, pneus, desmontou a tampa da caçamba pra ver se tinha droga dentro, e queria tirar o assoalho de carpete! Nessa hora o Zé Mané protestou e o chileno aliviou, deu mais uma olhadinha e acabou nos liberando. Pra finalizar o dia de aventuras, percebemos o pneu direito traseiro murcho e furado, porém ainda deu tempo de fazer a vulcanização em uma borracharia (lá chamada de gomeria) antes de escolhermos o hotel. Acabamos escolhendo o Hotel Corvatsch, cuja dona é brasileira e nos recebeu muito bem, com boas acomodações, bom café da manhã, preço justo e boa localização (bem no centro turístico), ao final da Rua Gustave Le Paige. Lá ficamos amigos da Canela, simpática cadelinha que fazia festa e brincava com todos os hóspedes. O hotel também faz os tours tradicionais do local, para quem preferir o conforto das vans e tiver paciência pros demorados passeios... Sexta e sábado, dias 17 e 18 de abril – San Pedro do Atacama Durante os dois dias de estadia em SPA, aproveitamos pra descansar na sexta pela manhã. O restante foi para aproveitar ao máximo o pouco tempo que teríamos ali. Como já havíamos passado pelo Paso Sico, na sexta a tarde evitamos as lagunas altiplânicas e fomos por conta nas atrações próximas à cidade, como Valle de la Luna, Valle de la Muerte, Piedra del Coyote, salar de Atacama, etc, todos eles passeios imperdíveis e de facílimo acesso, com visuais que parecem de outro planeta, os quais sequer vou tentar definir pois nem fotos nem palavras são fiéis. No sábado de manhã, saímos as 4:30 da matina de SPA, para um tour de van até os Geisers del Tatio, distantes 90 km. Pegamos uma friaca de gelar os ossos, com oito graus negativos por volta das 6 da matina, antes do sol nascer. Porém a paisagem compensa o sacrifício. Tomamos chocolate quente fervido nos gêiseres, acompanhado de um lanchinho, e de lanterna na cabeça começamos a visitar os primeiros poços. Enquanto o sol nascia o lugar ia ficando cada vez mais sensacional, com seus jatos de água e fumaça. Além dos gêiseres o percurso em si já vale a pena, repleto de vicunhas, lhamas, flamingos e outros pequenos animais do deserto, além de campinas e cactos muito bonitos. A parte triste foi aguentar a lentidão da volta, com paradas demais, que deixam a excursão entediante... Por isso se estiver de veículo próprio ou alugado e tiver noção de localização, faça os passeios por conta, pois assim se evita a demora dos tours e se economiza uma boa grana. As estradas são boas e, apesar de não haverem muitas placas, basta uma boa conversa com os nativos sobre o rumo a tomar. Chegamos por volta das 13 horas em San Pedro, e após algumas comprinhas, cervejas e filé “a lo pobre” pegamos a L200 e fomos para o meio do deserto, às margens do salar de Atacama , tirar fotos das estrelas. Melhor decisão que tomamos, pois os “tours astronômicos” cobravam até 200 dólares, e sem gastar um real fomos pra onde quisemos, sem turista mala e curioso, e fomos premiados com uma noite perfeita, sem luar, que proporcionou belas fotos do céu ao Stefano. Realmente, a fama é justa: céu mais limpo e lindo do mundo pra observar as estrelas, que eram tantas e tão brilhantes que impressionavam. Ficamos ali por quase uma hora, olhando o céu e as estrelas cadentes, um pouco incrédulos de que estávamos mesmo ali, entre areia, pedras e estrelas, livres no sentido absoluto da palavra. Felizes da vida, fomos pro hotel descansar pois o dia seguinte seria uma verdadeira aventura e uma incógnita. Por fim, sobre SPA: possui toda estrutura para receber turistas, com bons hotéis, farmácia, muitos restaurantes e várias lojinhas e feira para comprar badulaques. Porém, lá os preços são altos se comparados com outros lugares que visitamos, então esteja preparado. A maioria dos locais aceita cartão de crédito, mas também existe a opção das casas de câmbio. Ressalto: compre apenas os bolivianos necessários para o primeiro dia de viagem ou alguma emergência, pois pagamos muito caro no câmbio (1 real por 1,65 bolivianos). Domingo, 19/04 – SPA a Uyuni (Bolívia). Dia de rumar pra Bolívia e encarar o trecho que era por nós considerado como o mais perigoso da viagem, seja pela má fama das estradas e polícia bolivianas, seja pela pequena quantidade de boas informações que possuíamos sobre os caminhos até o Salar de Uyuni. Nossa intenção inicial era seguir pela Reserva Eduardo Avaroa, e lá passar pela Laguna Colorada, um local que queríamos muito visitar. Porém, essa rota levaria dois dias para ser feita completa, e não dispúnhamos desse dia a mais. Além disso, as informações sobre a estrada não eram animadoras, e por isso teríamos que seguir outros jipes, além de dormir em um abrigo de montanha bem precário. A outra opção era desviar por Calama e entrar na Bolivia por Estacion Avaroa, mas novamente era um caminho muito longo, com a estrada em condições não muito animadoras, e com menos atrações naturais. Por isso saímos conversando em SPA, e depois de muito procurar por informações confiáveis, fomos muito bem recebidos por uma senhorinha boliviana que trabalha na agência Travel Latina Life, situada na rua Toconao, 447, que faz vários roteiros e inclusive até o Salar de Uyuni. Ela nos desencorajou a ir por Calama e pela Laguna Colorada, confirmando aquilo que havíamos pesquisado, mas nos indicou uma estrada que é utilizada pelo pessoal da região e pelos tranfers de turistas, feitos em veículos 4X4, mais curta, em boas condições, e de razoável facilidade de localização. Ela nos forneceu um mapa ilustrado, sem escalas, onde existia a estrada e onde estavam indicados os principais pontos de referência, nos aconselhou a ter autonomia de combustível de 600 km, além de água e comida...rs Isso nos fez cair na real sobre o caminho que estávamos tomando, mas as informações recebidas nos deixaram confiantes pra encarar, afinal era o caminho mais curto, indicado por alguém que demonstrava saber do que falava. Por coincidência, apesar dessa estrada não constar em nenhum dos mapas que eu havia encontrado antes, ou mesmo no google, é a estrada que está indicada no guia da revista 4 Rodas. Com as informações em mãos, partimos em direção ao Hito Cajon (4480 metros), fronteira entre Chile e Bolívia. Seguimos rumo ao Paso Jama por 37 km, sempre subindo até o sopé do vulcão Licancabur (5960 metros), que dominou a paisagem durante toda a estadia no deserto do Atacama. Passando o vulcão pegamos à esquerda em uma estrada de ripio que segue por mais 8 km até a fronteira da Bolívia, onde fica situada a aduana e a imigração. Logo de cara o policial conferiu o passaporte do Stefano e disse que necessitava de um carimbo de saída do Chile. Brochados, tivemos que voltar pra aduana em San Pedro do Atacama, e quando o Stefano apresentou o passaporte o policial da imigração pediu o comprovante de entrada no país. O problema é que não tínhamos esse documento!! Como contei antes, na chegada a SPA fizemos o procedimento da aduana, demorado e exagerado, e fomos praticamente enxotados de lá. Não havia um policial sequer, somente um guichê fechado e sem placas, o que nos induziu a concluir que estava tudo certo com a documentação... Engano dos mirins, pois ficou faltando o procedimento de imigração e o recibo de entrada e saída, com o carimbo da polícia. Pra ajudar, o policial rambo latino passou a gritar e dizer que havíamos cometido um delito! Ficamos calmos e argumentamos que havíamos feito o documento da aduana, mostramos os documentos do Stefano e do veículo, com data, assinatura do funcionário e tudo mais. O policial nos fez esperar, entrar novamente na fila de turistas, mas no fim, depois de um puta medo de ser preso e uma longa espera ele assinou nossa saída e literalmente nos expulsou do Chile!! kkkkk Ou seja: vacilamos, mas nos faltou informação, seja dos relatos que lemos na internet, seja da aduana chilena na chegada ao país, até porque se estivéssemos de má fé poderíamos ter entrado e saído do país sem sermos notados. Por isso, o resumo do procedimento de entrada e saída do Chile é: passagem pela aduana e imigração (polícia), que são dois guichês diferentes no mesmo prédio, sendo que a aduana vai fornecer a autorização pro veículo e a polícia vai conceder o comprovante de entrada, um documento carimbado e que deve ser guardado para ser apresentado na saída. Aliviados e já imaginando o tanto de risada que essa história renderia no futuro, subimos de volta até o Hito Cajon, com o sol já quase a pino. No fim, o atraso imprevisto nos rendeu a oportunidade de contemplar mais uma vez o vulcão Licancabur e, chegando à aduana, fomos recebidos por um casal de raposas (zorro culpeo), que ficaram por ali observando o movimento. Bela visão que nos animou para o restante do percurso do dia. O ingresso na Bolívia foi tranquilo. Primeiro passamos pela imigração, onde um policial simpaticão e partidário de Evo nos atendeu com educação, nos passou um formulário para ser preenchido, pediu RG e passaporte, e forneceu um papelzinho verde comprovando nossa entrada no país, o qual deveria ser guardado e entregue na saída. Depois fomos à aduana, onde outro funcionário fez os procedimentos de entrada do veículo (exigiu a CNH do Zé Mané, documento do veículo, autorização do proprietário, e forneceu uma autorização de tráfego pro veículo). Pedimos umas dicas sobre o percurso e tocamos em frente por uns 15 minutos até a entrada da Reserva Nacional da Fauna Andina Eduardo Avaroa, onde paramos, pegamos mais um mapa grátis e algumas referências, pagamos 150 bolivianos por pessoa pela entrada e finalmente entramos na reserva. Daí em diante seriam pouco mais de 100 km no interior da reserva, e realmente as dicas que recebemos estavam corretas, pois nesse trecho pegamos somente estradas de ripio que nem fizeram cócegas na caminhonete, mas que fariam sofrer um carro de passeio e atrasariam muito qualquer veículo sem tração nas quatro rodas. Por outro lado, exigiu de nós muita atenção pois lá não existem placas e as estradas sempre tem bifurcações. Logo de início, avistamos a Laguna Verde (4400 metros) dominando a visão do vale, com o Licancabur como pano de fundo. Seguimos em direção ao norte por aproximadamente 60 km de deserto, passando pelas formações rochosas chamadas de Deserto Dali, e com a vista do Vulcão Putana à oeste. Após passarmos pelo abrigo na Vila de Polques, onde existem fontes de águas termais, contornamos o Salar de Chaviri pela esquerda e no máximo dois quilômetros após Polques pegamos à direita na “bifurcação” (na verdade é uma guinada à direita....), rumando pra nordeste antes da entrada para os gêiseres Sol de Mañana. Não existe placa na bifurcação indicando o caminho a tomar, e na dúvida pare em Polques e se informe ou pergunte pra algum jipeiro sobre o caminho para Villa Mar. Após um breve trecho pra nordeste, a estrada retoma seu curso norte e a paisagem sempre surpreendendo com salares, rios, vicunhas, montanhas, lhamas, etc... mais 40 km e chegamos na saída da reserva. Fora da reserva, a paisagem vai se tornando menos desértica, porém a estrada piora consideravelmente e passa a exigir bastante do veículo, com muitas pedras, caminhos mal marcados, curvas fechadas, onde o trajeto não rende e leva-se uma hora pra andar poucos quilômetros.... Assim, literalmente aos trancos e barrancos, levamos umas duas horas pra andarmos 44 km até Villa Mar, onde paramos pra pagar o pedágio de 5 bolivianos cobrado pelos habitantes do povoado e, nessa hora, percebemos que o pneu traseiro direito estava furado, mas não estourado. Pra ajudar, descobrimos que a ferramenta necessária pra descer o estepe da camionete não estava onde deveria!! Se foi furtado nos hotéis em que ficamos ou já não estava lá é uma pergunta que o Zé Mané nunca vai saber responder, mas isso não importava... o que importava era que, se o pneu tivesse furado ou viesse a furar antes de conseguirmos a tal ferramenta, estaríamos f...!!! Enchemos com o compressor de ar que havíamos levado e decidimos tocar o quanto o pneu aguentasse, até encontrarmos uma borracharia. Fomos seguindo um jipe que ia até Uyuni e que passou por ali bem naquela hora levando uns gringos, e o pneu aguentou bem no trajeto de 120 km pelo Valle das Rocas, passando velo vilarejo de Alota até a rota 701, a principal da região, que se torna rota 5 após San Cristobal. Seguimos pelo altiplano em uma estrada razoável mas sem sinalização alguma, com várias lhamas na pista e ao redor. Seriam mais 154 km até Uyuni, e nesse trecho demos uma das maiores sorte de toda a viagem: faltando 100 km pra Uyuni, quando estava pra escurecer e o pneu não aguentava mais, chegamos em um povoado chamado San Cristobal e, em pleno domingo, no meio do altiplano andino boliviano, às 18:30 da noite, achamos uma borracharia (gomeria) aberta ao lado de um posto de combustível na primeira entrada da cidadezinha. O pessoal de lá mal falava boliviano, se comunicando em quéchua, mas entenderam o que precisávamos e fizeram um bom serviço que nos custou 50 bolivianos. Surpresos com nossa sorte, seguimos até Uyuni e lá chegamos por volta das vinte horas. Por absoluta falta de melhores opções, comemos qualquer porcaria na praça principal e fomos para o hotel Oro Blanco (parece piada mas não é...rs), de qualidade duvidosa, porém barato e bem localizado. Quanta aventura pra um só dia! Segunda feira, 20/04 – Uyuni à Sucre Acordamos já com a ótima notícia de que o café da manhã não estava incluso na diária, porém para não estragar o dia nem reclamamos, pagamos e colocamos as coisas na caminhonete, pois havíamos decidido visitar o salar por conta própria (os passeios regulares eram muito demorados, até as cinco da tarde) e depois comprar ou mandar fazer a ferramenta que faltava pro estepe. Porém, eis que nessa hora surge um boliviano se apresentando em português, chamado Edgar, o cara que resolveu todos os nossos problemas! Fechamos com ele um passeio só pra nós três no jipe dele, poupando assim a caminhonete do sal e podendo conhecer melhor o salar, sem medo de se perder. Combinamos de sair as 9 e voltar no máximo as 13 horas. A agência do Edgar é vizinha ao Hotel Oro Blanco, e se chama Jhoeva Tours (jhoevatours@hotmail.com), e ali guardamos nossas malas enquanto fizemos o passeio. O próprio Edgar nos acompanhou até o banco onde sacamos bolivianos (caixa eletrônico na praça principal da cidade), e no trajeto lhe falamos sobre a ferramenta que precisávamos e a dificuldade em comprar diesel (na Bolivia, o preço do combustível é o triplo para estrangeiros, e as vezes os frentistas nem querem vender). Pra nossa alegria, ele se ofereceu para conseguir a ferramenta e comprar o combustível em galões para abastecermos depois! Quase não acreditamos em tanta sorte, chegamos até a desconfiar de tanta boa vontade, porém a desconfiança estava errada. O passeio no jipe Toyota do Edgar foi demais! Nosso guia Wil, figuraça, foi ouvindo hard rock anos 90 o passeio todo. O caminho é por Colchani, e não existem placas indicando o rumo. Conhecemos rapidamente o cemitério de trens e rumamos pro salar. No salar de Uyuni (3650 metros) passamos pelo Hotel de Sal, alguns pontos alagados de onde se extrai sal para artesanato, fomos à Ilha Incahuasi, tiramos as tradicionais fotos em perspectiva, vimos os Ojos del Salar e a escultura em sal do Rally Dacar, sempre se situando através do vulcão Tunupa (5435 metros). Posso dizer que em menos de quatro horas visitamos os lugares mais sensacionais que já conheci, sensação indescritível e que chega literalmente a fazer doer os olhos. De volta à Uyuni por volta das 13:30, fomos direto almoçar e, quando chegamos na Jhoeva Tours, lá estava nosso combustível e nossa ferramenta! O Edgar foi até um soldador e mandou fazer a chave. Mais do que agradecidos, pagamos a ele uma certa quantia e fomos até a sua residência, onde fizemos o contrabando de óleo diesel.... Despedimo-nos prometendo indicar os serviços do Edgar para todos que um dia fossem a Uyuni, admirados com a cortesia e hospitalidade com que fomos recebidos. Tive a impressão de que é um povo orgulhoso de suas raízes e unido no propósito de evoluir enquanto nação, e isso inclui receber bem os turistas. Pra completar o dia perfeito, rodamos 361 km em cinco horas pela rota 5, com asfalto perfeito e uma paisagem sensacional, passando por Potosi (4100 metros), que infelizmente não pudemos visitar, e chegando em Sucre por volta das vinte horas. Fomos direto ao hostal que o aplicativo booking indicou, e nem pensamos duas vezes antes de descarregar as malas: o Hostal de su Merced (http://www.desumerced.com/) fica bem no centro histórico de Sucre e é um palacete colonial reformado, muito bonito. Os quartos são nota dez, o café da manhã é completo e pagamos muito barato! Depois de guardar a caminhonete na garagem e tomar um banho fomos a pé mesmo tomar umas e rangar. Demos sorte mais uma vez e encontramos um pub muito massa chamado Joy Ride Café, onde tomamos várias brejas e comemos um hambúrguer firmeza, com papas fritas, fechando o dia com chave de ouro. Terça feira, 21/04 – Sucre a Santa Cruz de La Sierra Com certeza o pior trecho de estrada da viagem. Foram 500 km vencidos em dez horas de muita tensão. Apesar de o começo da rota 5 a partir de Sucre ser asfaltada, esse trecho é muito esburacado, cheio de curvas fechadas e obras sem sinalização. Outros perigos constantes esse trecho de asfalto são as pedras de deslizamento caídas na pista e várias lhamas, vacas e cachorros perambulando. Porém, quando acaba o asfalto a estrada não melhora em nada, continuando cheia de curvas, pista única, ribanceiras, em uma paisagem surreal de vales escavados pela força das águas e da lama que desce das montanhas, deixando qualquer vestígio de deserto pra trás definitivamente. Estranho como pode uma estrada que liga duas das maiores cidades do país ser tão precária... imagino que isso represente um pouco a conjuntura político social boliviana atual. Não é a toa que só vimos jipes e caminhões por todo o trajeto, e realmente eu jamais faria esse trecho em um carro de passeio. Quando acaba a Rota 5 e tomamos a Rota 7, retorna o asfalto, porém a estrada consegue piorar ainda mais. Para ajudar começou a chover bem na hora que escureceu, em mais um trecho de serra, agora passando ao sul do Parque Nacional Amboro. Cansados e tensos, chegamos a Santa Cruz de la Sierra e fomos direto pro apê do Marcelinho (Grilo), amigo lemense que estuda medicina por lá e fez a besteira de nos receber! Hehe Aliás, que recepção! Camaradagem total do Grilo! Invadimos a casa, tomamos conta da sala, e de tão cansados da viagem nesse dia só conseguimos comer um Burguer King na esquina e dormir. Quarta feira, 22/04 – Santa Cruz de la Sierra Esse dia tiramos pra dormir até tarde, comprar muamba, beber todas e almoçar no Irish Pub onde assistimos Real Madrid X Atlético de Madrid, tomamos mais umas e voltamos pro apê do Grilo assistir o tricolor enfiar dois na galinhada! Cidade legal, movimentada e rica, com um trânsito que conseguiu ser mais caótico que o da Argentina. Lá é na raça e no braço, sem placa de pare! Quinta feira, 23/04 – Santa Cruz de La Sierra à Corumbá Foram 655 km de uma estrada razoável (rota 4), quase sempre reta, passando por San José de Chiquitos e pela fronteira em Puerto Suarez. Nesse trecho de aproximadamente 9 horas almoçamos em um restaurante roots de beira de estrada e pela primeira vez fomos vítimas da famosa polícia boliviana, pois fomos parados e o policial mostrou um radar onde aparecia 107, dizendo que o limite era 80 e por isso teríamos que pagar uma multa... logo ele pediu pro Zé Mané descer do carro e já pediu a grana. Fomos embora batizados, mas pelo menos o policial foi simpático e não nos deu dor de cabeça! Em Puerto Suarez demos uma volta no Shopping China antes de cruzarmos a fronteira. Do lado boliviano ninguém nos parou ou pediu nossos documentos de entrada no país. No Brasil um fiscal nos parou, perguntou o que transportávamos, mostramos as notas fiscais e fomos liberados sem qualquer revista. Encontramos o Hotel Nacional Palace, muito bom e barato, bem no centro, e ao lado do Dolce Café, um restaurante onde tomamos vários chopps Brahma no famoso estilo canela de pedreiro, trincando de gelado. Sexta feira e sábado – Corumbá, Três Lagoas e Leme De Corumbá até Três Lagoas cruzamos o Mato Grosso do Sul passando pelo Pantanal e por Campo Grande (pela BR 262, 757 km em aproximadamente dez horas). Em Três Lagoas ficamos no Hotel Mediterrâneo, na beira da estrada e dentro da cidade, com preço bom, boas acomodações e café da manhã. Por fim, mais 548 km até Leme, trecho que vencemos sem muito esforço, afinal estávamos calejados, e no final rodamos quase 7000 km de todo tipo de estrada, com todo tipo de surpresa e paisagem, e, se faltou placa no caminho, não faltou companheirismo, espírito de aventura e energia positiva pra atravessarmos a América do Sul, lá e de volta outra vez. Experiência sem preço com dois “grandes” parceiros, de tamanho e coração, que me ensinaram muito e com quem tive o prazer de partilhar momentos de risadas, dúvidas, contemplação da natureza e muitos perrengues! Espero que o relato ajude aqueles que quiserem fazer o mesmo percurso ou parte dele. Estou a disposição para mais informações. As fotos do passeio, na sequência do percurso, estão no meu perfil do facebook: https://www.facebook.com/douglas.dias.9440/media_set?set=a.10204183600898301.1073741830.1475035092&type=3 Citar
Colaboradores Diego G Cardoso Postado Maio 20, 2015 Colaboradores Postado Maio 20, 2015 Ótimo relato Douglas. Coloque as fotos da aventura para nós. Principalmente do Paso Sico, é um Paso que no futuro pretendo passar. Abraço... Citar
Membros Douglas Dias Postado Maio 25, 2015 Autor Membros Postado Maio 25, 2015 Obrigado Diego, espero que o relato ajude quando for fazer o Paso Sico. Não deixe de ir, você não vai se arrepender. Coloquei algumas fotos da viagem no facebook, o link está ao final do relato. Ainda não aprendi a mexer direito aqui no forum, mas de qualquer maneira tentarei colocar algumas fotos. abs!! Citar
Membros Douglas Dias Postado Maio 25, 2015 Autor Membros Postado Maio 25, 2015 Algumas fotos do rolê, na sequência do relato. Citar
Membros Guilherme Adolf Postado Maio 28, 2015 Membros Postado Maio 28, 2015 Amigo, parabéns pela trip! Fizeram um roteiro fantástico! Fiz uma trip mais longa e que incluiu esse trecho SPA->Uyuni pelo Hito Cajón. No meu caso porém, eu fiz a rota pela Laguna Colorada, e afirmo: vocês conseguiriam! Talvez iriam furar o pneu da mesma forma, mas a paisagem dessa ruta é mais bonita! São mais 4 lagunas, além da Colorada e a Arbol de Piedra. Quando se chega em Polques, existem esses dois caminhos, como se formassem um Y. Eu fui pela esquerda e vocês pela direita. Na verdade, meu plano inicial era subir até Uyuni pela esquerda e voltar pela direita.. Levei dois estepes, e por sorte, nenhum pneu furou, mas no caso eram pneus novos e cravudos. Ah, e comigo aconteceu a mesma coisa que teu colega, sobre o visto de saída do Chile hehehehe Cheguei na imigração boliviana e tive que voltar pra carimbar o passaporte.. aposto que eram OS MESMOS funcionários que me atenderam, uma mulher e um velhinho.. baita confusão... Sobre a aduana boliviana, é ótimo saber que agora ela está integrada na imigração! Quando fui em fevereiro, tive que ir na aduana lá próximo dos geiseres sol de la manana.. complicado achar! No Salar, fui quando estava cheio, e eu entrei com meu carro, arrisquei muito, mas acho que valeu muito! Poder dirigir pra onde desse na telha hehehe Agora, realmente, o PIOR trecho é o da ruta 5, é MUITO RUIM.. estourei o meu segundo amortecedor e quebrei várias folhas do meu feixe de molas.. tava ruim o negócio! Além dos pedágios cobrados naquela estrada de terra né? pqp!! kkkkkk Abraços! Citar
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