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Prainhas do São Francisco

 

O dia começou com um café da manhã daqueles! Tudo bem mineiro como o visitante espera encontrar. Nem dá pra descrever tudo que a família de dona Idelzuita, de 83 anos, tinha preparado para os hóspedes da Pousada. Mas logo me vem à memória e ao paladar o pão-de-queijo feito com ovo caipira e o tradicional queijo Canastra.

Esse vale a pena trazer um. Você encontra tanto nas Pousadas, quanto nas fazendas e nos mercadinhos das cidades que ficam ao pé da Serra. Os preços que encontramos ficavam entre R$ 15 e R$ 25 o quilo de queijo. Comprei um por R$ 15 num mercadinho no centro do município de Vargem Bonita.

Nosso café da manhã – estávamos em 5 pessoas – foi ainda mais especial porque da varanda era possível avistar o paredão de rocha da Canastra. Refeição observada por duas Siriemas que todos os dias aparecem no gramado perto do refeitório. Ali, uma coisa já ficou clara. A gente era a visita. Elas os primeiros moradores da Serra que iríamos conhecer. E naqueles três dias viriam outros animais, alguns ameaçados de extinção.

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Olho nas Siriemas e ouvidos atentos às histórias de dona Idelzuita, que cresceu ao pé da Serra. Ali ela soltou a primeira frase que fiz questão de anotar no bloquinho que eu carregava no bolso: “O garimpo não deixou ninguém rico. Valeu a ilusão”. A região da Serra da Canastra é uma das mais recentes zonas produtoras de diamantes de Minas Gerais. Foi descoberta na década de 1930.

A Pousada de dona Idelzuita fica numa fazenda. São vários chalés. O nosso ficava bem perto de uma das curvas do São Francisco. Dali partimos para o primeiro encontro com o Velho Chico que – na parte baixa da Serra da Canastra - ainda parece ser uma criança perto do que ele se transformará adiante. O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra e percorre 2.700 quilômetros em 5 estados brasileiros – Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas – até desembocar no Oceano Atlântico.

Fomos a pé até uma prainha de água doce, claro. São várias espalhadas por todo o percurso do rio. Basta se aproximar de algum ponto da margem do São Francisco para você encontrar cenários como este:

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Como é comum com os mais antigos no interior de Minas pedimos a benção do Velho Chico tocando o leito do rio. Dali partimos de carro para a grande aventura do dia: conhecer a cachoeira Casca D’Anta.

 

 

Cachoeira Casca D'Anta

 

 

A explicação para o nome da cachoeira estaria numa árvore comum na região: a Casca D’Anta. A árvore ganhou esse nome porque tem propriedades medicinais cicatrizantes. Diz a lenda que quando a Anta está ferida ela vai até a árvore e se esfrega no tronco para curar ferimentos superficiais.

Do município de Vargem Bonita até os pés da cachoeira Casca D’Anta são 23,5 quilômetros (22 Km de carro em estrada de terra + 1,5 Km de trilha a pé dentro da mata). Ainda no trecho de carro vale a pena ficar atento. De longe já é possível avistar a Casca D’Anta tamanha é a grandiosidade da queda d’água. Ela se forma 14 Km depois da nascente do São Francisco.

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Há placas indicando o caminho até a cachoeira, uma das principais atrações da Serra. Como é grande o trânsito de veículos 4x4 vale a pena fechar a janela do carro pra não ficar literalmente comendo poeira. Entre uma foto e outra vacilei e senti o gosto da terra na boca durante o percurso.

A estrada termina numa casa de pedra. Está é uma das portarias do Parque Nacional da Serra da Canastra. É a Portaria 4. O visitante deixa o carro no estacionamento – um terreiro de terra bem em frente a casa. A partir deste ponto é preciso seguir a pé. Antes o visitante paga uma taxa de R$ 8 para ter acesso a trilha que leva até a Casca D’Anta.

O pagamento é apenas em dinheiro. Estrangeiro paga R$ 16. A entrada é de graça para quem tem menos de 12 anos ou mais de 60 anos. Na portaria o visitante pode retirar um folheto com informações. O horário de entrada é das 8h às 16h horas. O visitante deve voltar e deixar o Parque até às 18h. No horário de verão, a entrada é estendida até às 17h e a saída até às 19h por conta da luz solar. É proibido entrar com bebida alcoólica e também com animais domésticos.

O percurso da portaria até a cachoeira é de 1,5 quilômetros. A maior parte dele em estrada de terra. É bem tranquilo de fazer. Tanto que ao longo do caminho cruzamos com crianças e também idosos. Existe inclusive estrutura turística ao longo da estrada como área de camping, banheiro masculino e feminino e quiosques com mesas para o visitante descansar e fazer um piquenique.

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Mais próximo da cachoeira, a estrada dá lugar a uma trilha estreita em trecho de mata fechada. Vale a pena ficar atento porque alguns pontos são bastante altos. Esse percurso é às margens do rio São Francisco. Lá embaixo, as pedras formam piscinas naturais. Vimos grupos de pessoas se refrescando nas águas. Para chegar lá basta seguir por trilhas menores que levam até o leito do rio.

Quem segue em frente pela trilha principal chega até um mirante com uma visão privilegiada da Casca D’Anta. O ponto é excelente para tirar umas fotos.

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Ali também construíram uma pequena arquibancada para o visitante descansar e já admirar a imensa queda d’água que vai encarar em instantes. E ela surge do nada em poucos minutos de caminhada.

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Interessante reparar na reação das pessoas nesta hora. Elas ficam mesmo de boca aberta e com a cabeça inclinada para o alto. A cachoeira impressiona. A Casca D’Anta é a primeira grande queda do São Francisco. O paredão de água tem 186 metros de altura. Cai com tanta força que o impacto no lago provoca uma chuva que é lançada em direção aos visitantes. Impossível não se molhar.

Vale muito a pena levar uma capa de chuva para não ficar ensopado como eu fiquei. É tanta água que você tem a sensação de ter entrado na água com roupa e tudo. Vez ou outra é bom enxugar a lente da câmera. A água que acumula fica visível nas fotos...rs.

Chegar até o lago lá embaixo é bem arriscado. A chuva que se forma deixa as pedras escorregadias. O risco de acidente é grande. Antes de chegar na cachoeira tem inclusive uma placa alertando para os riscos, entre eles o de afogamento. O folheto que entregam na portaria não recomenda o banho na parte baixa da Casca D’Anta. Eu até me arrisquei nas pedras mas não entrei na água.

Importante usar uma calça comprida leve para não arranhar as pernas e um calçado com solado antiderrapante. Um repelente também é fundamental porque se você voltar no fim da tarde os mosquitos atacam mesmo. E funciona. Basta passar para eles se afastarem e dar sossêgo.

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As gotas d’água lançadas no ar formaram um belo arco-íris naquele fim de tarde. E pra quem acha que o espetáculo do dia termina ali vale a pena parar o carro na estrada durante o caminho de volta e observar o sol repousar atrás da Serra. É outra imagem que você não vai esquecer. O céu muda de cor. Fica laranja. Com o flash da câmera ativado, o céu fica avermelhado. Mas a maior surpresa da viagem aconteceria mesmo no dia seguinte, na parte alta da Serra da Canastra.

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Subida da Serra

 

O sábado amanheceu nublado, frio e chuvoso. Três combinações que ninguém merece justamente no dia que reservamos para conhecer a parte mais preservada do Parque Nacional da Serra da Canastra. Aproximadamente 70 mil hectares de cerrado. Um berçário de animais ameaçados de extinção. O topo da Serra. Mesmo com tempo fechado partimos para a aventura do dia. E ainda bem que não desistimos.

Chegamos em São Roque de Minas às 9 horas da manhã. De Vargem Bonita a São Roque de Minas são pouco mais de 50 quilômetros de distância. Fomos direto para a agência de turismo de aventura que iria nos levar para o passeio pela parte alta da Serra da Canastra. O serviço nós contratamos no dia anterior por telefone. Fica a dica! É importante reservar o passeio com antecedência, principalmente se você for pra lá em época de feriadão como foi nosso caso.

Como éramos um grupo ganhamos desconto e pagamos R$ 90 cada um. Preço Normal: R$ 100. Nosso carro era uma antiga caminhonete D20. A carroceria foi adaptada para acomodar os turistas no passeio. Havia dois bancos grandes, uma cobertura com uma espécie de lona e grades nas laterais onde a gente se segurava ao longo do percurso que foi com emoção...hehe. Além de nós cinco havia mais seis pessoas. Ou seja, eram 11 pessoas mais o guia que dirigia o veículo. Duas pessoas do grupo se revezavam na cabine junto com o guia.

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Se você planejava subir a Serra com carro de passeio ainda bem que chegou até este ponto do texto. Não faça isso! A estrada é para carros 4x4 ou com suspensão mais alta. São trechos cheio de lama, trechos alagados, trechos em que o carro anda em cima só de pedras e bem irregulares. Não vimos nenhum carro pequeno lá em cima. Além das máquinas mais potentes, apenas motoqueiros e ciclistas se aventuravam pelo chapadão naquele dia.

Boa parte da subida é ao lado de penhascos. Em trechos com muita lama, o carro patina de um lado para o outro e exige habilidade e experiência do motorista. A neblina é forte e o campo de visão é pequeno. Imagina agora tudo isso e você lá atrás na carroceria. Tá explicado agora porque o passeio foi com emoção né...

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Toda essa aventura é no percurso até a Portaria 1 do Parque Nacional da Serra da Canastra. É por esta portaria que o visitante chega até a nascente do Rio São Francisco. Do município de São Roque até a Portaria 1 são aproximadamente 7 Km. Neste ponto os visitantes precisam descer e pagar R$ 7 cada um para ter acesso ao Parque.

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A partir deste ponto a viagem ficou um pouco mais tranquila. A neblina foi embora. O sol brilhava mais forte e era possível avistar longe pelos imensos campos de cerrado. Pra quem não está acostumado a esse tipo de vegetação – como foi o meu caso – chama a atenção a ausência de árvores. A impressão que dá é que aqueles campos foram alvo de desmatamento. Mas não. É assim mesmo o cerrado. Capim pra todo lado, arbustos, árvores pequenas e com troncos retorcidos. Árvores mais altas mesmo só onde tem água, como na nascente do rio São Francisco.

Nascente do Rio São Francisco

 

Da Portaria até a Nascente do São Francisco são 5 Km. Se você chegar lá querendo ver um olho d’água brotando da terra vai se frustrar. O que se vê é um pequeno córrego já formado. É até compreensível isso se pensarmos no impacto ambiental que seria se todo visitante fosse até o exato local onde o São Francisco nasce.

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Lá em cima você conhece a primeira ponte erguida sobre o rio. É de madeira e bem pequena. Daquelas que passam um carro por vez. Tocar na água daquele pequeno córrego é algo precioso. Um tesouro protegido pela estátua de São Francisco de Assis com a famosa oração embaixo. O monumento foi erguido próximo à nascente do Velho Chico. Confesso que não sou muito fã dessas intervenções humanas num lugar como este.

Neste ponto da viagem, nosso grupo diminuiu para 9 pessoas. Duas moças que estavam na cabine com o guia já planejavam andar a pé pela Serra. Sinceramente senti vontade de fazer o mesmo que elas. Ouvir o silêncio daquela imensidão, a chance maior de observar animais. Ainda volto lá um dia para essa aventura.

Por outro lado sobrou mais espaço na caminhonete e a viagem ficou um pouco mais confortável. Um pouco, porque não vou mentir. Depois de horas sentado senti um pouco de dor na lombar e por duas vezes bati a cabeça no teto da carroceria. Além disso pegamos um trecho de chuva. A água acumulou sobre a lona e começou a pingar em cima da gente já que o tecido não era impermeável. Mesmo assim faria o passeio de novo. As cenas que iríamos registrar valiam qualquer esforço.

 

Parte Alta da Cachoeira Casca D’Anta

 

Cerca de 30 Km depois de deixar a nascente chegamos à parte alta da cachoeira Casca D’Anta, a mesma cachoeira que conhecemos no primeiro dia de viagem. Os carros ficam estacionados num terreiro em frente a uma construção com banheiros para os visitantes. Ali começa a trilha para a parte alta da cachoeira. É neste ponto que o São Francisco literalmente desce a Serra. Ao longo dos anos, a força da água lavou a terra e formou imensos cânions.

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Antes de despencar lá de cima, há uma sequência de cachoeiras e piscinas naturais.

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Naquela manhã não havia ninguém dentro d’água. Também o tempo não ajudou muito. Estava frio, a neblina era forte e choveu em alguns momentos. Além disso, comentários de que um turista chegou a morrer por causa de um choque térmico numa das piscinas, meses atrás, assustou nosso grupo. Decidimos chegar ao topo da montanha na tentativa de ver a cachoeira do alto.

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A trilha é estreita e ao lado do desfiladeiro. Alguns trechos são de pedra e, às vezes, é preciso se apoiar com as mãos para vencer os obstáculos. O percurso é relativamente pequeno. Não demora e o visitante alcança o topo. Você chega a um Mirante – a uma altura de 300 metros - onde é possível observar os vales ao redor da Serra da Canastra. Infelizmente, não tivemos sorte naquele sábado. As nuvens avançaram sobre a Serra e não era possível ver nada lá em baixo. Decidimos voltar e seguir o passeio por cima da Serra. Viriam as cenas mais marcantes da viagem...

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Cachoeira Rasga Canga

 

Quem tá na Serra é pra se sujar. Dito e feito. No caminho para a cachoeira Rasga Canga nosso carro atolou. O guia tentou passar por cima de moitas de capim, ao lado de um alagamento na estrada. Mas o terreno estava encharcado e um dos pneus traseiros agarrou. Não saía por nada. Resultado: a ala masculina da expedição teve que descer pra empurrar e fazer peso sobre a roda. Ficávamos pulando e fazendo peso sobre a roda atolada enquanto o guia acelerava. No fim deu certo! Depois fiquei me perguntando se isso já estava no roteiro do guia pra aumentar a adrenalina lá em cima da Serra...

Cerca de 17 quilômetros depois de deixar a parte alta da Casca D’Anta chegamos perto da cachoeira Rasga Canga. Você deve estar se perguntando o por quê desse nome né! Lá não souberam me explicar e ainda não encontrei uma explicação. Descemos do carro e seguimos por uma trilha de aproximadamente 10 minutos. As águas que ali despencam são do córrego do Rolinho. Neste ponto, o córrego se divide e forma duas cachoeiras com piscinas naturais, uma bem ao lado da outra. Depois elas se juntam e o córrego segue seu caminho.

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A essa altura do dia, o sol brilhava mais forte. Pedaços de céu azul apareciam entre as nuvens. O corpo estava mais quente por causa das caminhadas. Combinação que favorecia um mergulho. E foi o que muitos fizeram. Caímos na água. A piscina natural na primeira queda d’água é mais rasa e mais indicada para crianças.

Se você é daqueles que quer chegar perto da espuma que a cachoeira forma na água é bom ficar atento porque lá a correnteza é forte. Nós chegamos lá, mas um ajudando o outro. A força da água é tanta que se você ficar em pé e jogar o corpo para trás – contra a correnteza – você demora a cair porque a força da água no sentido contrário é muito grande.

Atravessando uns blocos de pedra você chega a outra queda d’água, bem ao lado, com uma piscina natural ainda maior. Gostei mais desta segunda. Com o devido cuidado para não escorregar é possível subir pelas pedras e ficar em pé, debaixo da cachoeira. É outro momento de massagem natural nas costas, de água fria. Nadar na piscina que se forma lá embaixo é mais incrível ainda. Mas esta é bem funda. Só pra quem sabe nadar mesmo. Bem no meio da piscina há uma grande pedra. Ali dá pra ficar em pé e quem está de fora tem a impressão que você está caminhando sobre as águas sem afundar. E exatamente neste local aconteceu algo que não vou esquecer.

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Eram muitos peixes pequenos nadando bem ao nosso lado, sobre a pedra. O primeiro pensamento que vem é de querer pegar algum deles. Depois pensei: “Se eles não fogem é porque quem vem até aqui não tenta fazer isso”. Resolvi sentar na pedra – num trecho mais baixo – e fiquei imóvel com a água na cintura. Os peixes se aproximaram um a um. Não demorou muito eu estava cercado. Eles começaram a morder de leve minhas costas, pernas e braços. Nada que assustasse, afinal eram muito pequenos. Um contato com a natureza que jamais vou esquecer.

Pegamos a trilha de volta ao nosso carro. Na subida, um susto. Uma mulher de outro grupo se desequilibrou numa das pedras enquanto descia em direção à Rasga Canga. Ela sofreu escoriações e, aparentemente, a pressão dela ainda caiu. A mulher acabou desistindo e voltou para o carro. Fica aí outro alerta! Além de estar bem equipado com calça comprida leve, calçado com solado antiderrapante, entre outras coisas é importante cuidado ao fazer as trilhas para não antecipar a volta pra casa. De novo, não esqueça o repelente. O dia vai avançando e os mosquitos também.

 

A maior surpresa da viagem

 

O fim de tarde já ia ficando mais próximo quando voltamos pra estrada. A expectativa de ver animais silvestres era grande já que, segundo nosso guia, depois das 16h é mais comum avistar os animais. Quando nosso carro parava na estrada todos já sabiam. "Tem bicho por perto". Hora de ligar as câmeras e observar a fauna do nosso cerrado.

O primeiro bicho a cruzar nosso caminho media 56cm de comprimento com envergadura de até 123cm. Tinha cara de mau, até pelos seus hábitos. São carniceiros. Se alimentam de peixes, cobras, lagartos, filhotes de aves, entre outros animais. Mas o que ele tinha de sério tinha também de bonito. Corpo nas cores preta e marrom, pescoço na cor branca e cor laranja acima do bico. Era o gavião-carcará.

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Gaviões na verdade, já que vimos vários lá em cima e bem de perto. A melhor foto conseguimos de dois que pousaram em cima de um amontoado de pedras. Não se intimidaram com nossa presença. Para nossa sorte.

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Seguimos viagem, mas a expectativa de avistar outros animais da Serra seguia com a gente. Vale ficar de olho nos campos na tentativa de ver algum movimento. Mas nada como ser um morador da região para desenvolver essa habilidade. Nosso guia deu uma prova disso. Mesmo no volante, ele avistou algo no vale à esquerda da estrada. Parou o carro e todos logo já desceram do carro perguntando: “Que bicho é agora?”. Ele não sabia ainda ao certo mas acreditava ter visto algo nos arbustos.

Lá fomos nós descer a montanha. De longe o guia reconheceu o animal. Um mamífero que pode chegar a 2.20 metros e 45 Kg. Tem uma cauda grande, com pelos grossos e focinho comprido. Era um tamanduá-bandeira.

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Como tem olfato aguçado logo percebeu nossa presença e ficou imóvel atrás de uns arbustos. Mas como continuamos caminhando pela montanha, o tamanduá fugiu pela montanha oposta.

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Logo paramos para admirar a beleza do bicho e também para não assustá-lo ainda mais. Não acreditávamos no que acontecia diante dos nossos olhos. Um animal ameaçado de extinção que a maioria de nós nunca tinha visto antes.

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Antigamente o bicho podia ser visto em todos os estados brasileiros. Hoje, segundo a Ong WWF Brasil, já está extinto no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Infelizmente está na lista de espécies ameaçadas de extinção. Vale fazer essa reflexão lá em cima da Serra. Como não sentir remorso sabendo que nossa espécie está exterminando pra sempre outros animais da terra? Daquelas coisas que não dá pra entender.

De volta ao carro seguimos pela estrada. A esta altura eu estava na cabine junto com o guia. Aproveitei para ouvir as histórias. Ele contava do dia em que viu um lobo-guará a poucos metros de distância. Outra espécie ameaçada de extinção que vive na área do Parque Nacional da Serra da Canastra. Onde ele tinha visto o lobo? No Curral de Pedra. E era pra lá que estávamos indo. Nosso último destino na parte alta da Serra.

 

Curral de Pedra

 

Pouco antes do pôr-do-sol chegamos ao Curral de Pedra. Muros de pedras colocadas uma sobre a outra– sem o uso de argamassa – formam o antigo curral. No passado, o lugar servia de abrigo para rebanhos de gado que eram levados para pastar no alto da Serra. Hoje, o local está tomado pela vegetação. Ficamos atentos, mas naquele fim de tarde o curral de pedras não foi o destino de nenhum lobo-guará.

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Bem ao lado do curral tem um Mirante de pedras. É bem fácil de subir. Já a vista lá do alto difícil de esquecer. Campos e mais campos de cerrado a perder de vista. Vale a pena fechar os olhos e ouvir o silêncio da Serra. O silêncio de uma Serra aliás é algo que me motiva a enfrentar trilhas e longas caminhadas. É a oportunidade de ouvir a natureza e se sentir parte dela. E é com essa sensação que você desce a Serra da Canastra e volta para a cidade.

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Informações úteis

 

A Serra da Canastra fica no sudoeste de Minas Gerais, perto da divisa com o estado de São Paulo. Tá quase no “nariz” de Minas. Seis municípios estão situados nos arredores da Serra: Capitólio, Delfinópolis, Sacramento, São Roque de Minas, São João Batista do Glória e Vargem Bonita.

Escolhemos essa última para ficar. O município de Vargem Bonita tem 2.214 habitantes (População estimada em 2014/IBGE). É a primeira cidade a ser banhada pelas águas do São Francisco. É bem pequena mesmo. Daquelas que você atravessa de carro rapidinho! Se você se perder lá fique tranquilo porque vai descobrir a hospitalidade mineira. Aconteceu com a gente!

O caminho mais curto para Vargem Bonita – partindo de São Paulo – tem 524 Km. O tempo de viagem é de aproximadamente 6 horas e 30 minutos.

O primeiro percurso é de São Paulo a Campinas. Neste trecho você pode seguir tanto pela Rodovia Anhanguera quanto pela Bandeirantes. O segundo trecho vai de Campinas a Mococa (última cidade do estado de São Paulo) passando pelas rodovias Dr. Gov. Ademar Pereira de Barros e Prof. Boanerges Nogueira.

Já em solo mineiro, o visitante segue pela Rodovia Domingo Ribeiro Resende até Passos. Depois de Passos você vai passar por uma imensa ponte sobre o Rio Grande (um cenário bonito de ver) e seguir até Vargem Bonita (no sentido de São Roque de Minas).

 

A sequência das principais cidades é a seguinte:

 

SãoPaulo/Cajamar/Jundiaí/Vinhedo/Campinas/Jaguariúna/MogiMirim/Aguaí/CasaBranca/Mococa/MonteSantodeMinas/SãoSebastiãodoParaíso/ItaúdeMinas/Passos/Capitólio/Piumhi/VargemBonita.

 

A medida em que o visitante se aproxima de Vargem Bonita ou São Roque de Minas, já é possível sentir a altitude. Nesse trecho final vale a pena reduzir a velocidade já pra apreciar a paisagem e – o mais importante – poupar os animais. Infelizmente vimos vários atropelados na pista. Uma cena triste de ver depois de observar tanta vida silvestre lá em cima da Serra.

 

Gastos da viagem

 

Viajamos no feriadão de 1º de maio. Chegamos lá na sexta-feira (01/05) e voltamos no domingo (03/05). Pagamos por 3 diárias na Pousada. O preço no feriadão era de R$ 200 por pessoa incluindo café da manhã e jantar. Como estávamos em 5 pessoas pechinchamos e a diária caiu pra R$ 150. Você encontra Pousadas mais baratas. Mas a ideia de avistar o paredão de rocha da Canastra da janela do Chalé foi o que nos seduziu.

Como na hora do almoço o visitante vai estar em algum canto da Serra é importante levar lanches para consumir. Você anda bastante, nada, sobe e desce trilha. A fome aperta mesmo! Como avistar um tamanduá-bandeira marcou essa viagem, não resisti e trouxe um artesanato que reproduz o animal em madeira. Tá aqui na sala de casa - que não demora - vai parecer uma selva de tanto bicho que tô juntando nessas andanças!

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Seguem os gastos:

 

Hospedagem –- 3 diárias ----------------------------- R$ 450,00

Pedágios –------ 8 na ida + 8 na volta ------------- R$ 102,30

Combustível ---------------------------------------------- R$ 310,00

Alimentação ---------------------------------------------- R$ 61,62

Passeio Parte Alta da Serra -------------------------- R$ 90,00

Entradas Parque Nacional -------2 ingressos----- R$ 15,00

Queijo Canastra ------------------------------------------R$ 15,00

Artesanato (Tamanduá-bandeira de madeira) --- R$ 29,00

 

* O valor de combustível + pedágio dividimos entre as 5 pessoas do grupo.

 

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Por falar nisso, agradeço ao João, Ailson, Tânia e Guilherme por esses 3 dias compartilhados na Serra da Canastra! Obrigado também a você que fez essa viagem junto com a gente acompanhando os relatos. Espero ter colaborado caso esteja planejando conhecer esse pedaço importante de Minas. E quando voltar de lá passe aqui pra comentar a viagem! Nem que seja pra dizer: SUBI A SERRA!

 

Abração!

 

Blog: http://subiaserra.blogspot.com.br/

Facebook: https://www.facebook.com/pages/Subi-a-Serra/859043820870952?ref=tn_tnmn

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  • 2 semanas depois...
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Obrigado pelo comentário Li Rodrigues.

Vou dar uma olhada nos seus relatos também.

Ainda quero conhecer os nossos países vizinhos.

Grande abraço!

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