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CHEGANDO EM LAOS: UM PESADELO EM DOIS CAPÍTULOS

 

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Quando decidimos ir de Chiang Rai para Laos, havia algumas possibilidades: ir de avião – uma hora de voo, mas teríamos que voltar à Chiang Mai (mais três horas de viagem) e pagar R$ 500; de lancha – seis horas perigosas, com o barulho ensurdecedor do motor; de ônibus – 18 longas horas numa estrada ruim; e de barco – 14 horas divididas em dois dias, num ritmo lento, o que nos permitiria trabalhar, ler e dormir, por apenas R$ 150. A opção óbvia seria ir pelos céus, mas por uma questão de custo – e de aventura – resolvemos ir pelo famoso rio Mekong, admirando a paisagem. Como não tínhamos pressa, pareceu ser a melhor alternativa. Não deveríamos ter feito isso.

 

Acordamos às 5h30 de sábado para pegar uma minivan às 6h que, após 1h30, nos deixaria no barco. A van chegou depois de 6h30, já praticamente lotada. A viagem até a fronteira durou duas horas extremamente desconfortáveis. Aí ficamos um tempo na Imigração para retirarmos nosso visto, mais um período aguardando dentro de um ônibus, até que fomos levados a um outro local para pegarmos outra condução. Tudo isso com mochilas nas costas e mais 15 quilos em cada mala. De lá, fomos conduzidos para perto do porto, onde pegaríamos nossas passagens e faríamos reserva para pernoitar depois de sete horas na embarcação.

 

O atendente era muito gentil e atencioso, sempre sorridente, e nos garantiu que nosso hotel era ótimo, que haveria tuk tuks nos esperando no porto, e que não haveria comida no barco nem em outro lugar que não fosse na vendinha diante de seu escritório. Portanto, se não quiséssemos passar fome durante as sete horas seguintes, deveríamos comprar alguns suprimentos ali. Para isso, precisaríamos de kip (a moeda local), então trocamos com ele o suficiente para suportarmos a viagem sem sofrer de inanição. Acreditamos nele – por que não acreditaríamos? -, e rapidamente fomos percebendo que todas essas informações eram falsas. Todas.

 

Em nossa última parada antes de subir no barco, saltamos numa rua com várias tendas cheias de frutas e comidas. Naqueles que gastaram o pouco dinheiro que tinham – comprando porcarias como biscoitos porque era só o que havia na tendinha anterior – começou a surgir o nobre sentimento da indignação. O remédio foi comprar um cacho de bananas, que era tudo o que o nosso pouco dinheiro em kip era capaz de pagar.

 

Às 11h30 zarpamos, praticamente seis horas após subirmos na van. O calor intenso deixava tudo com cara de provação divina. Mas, como o casal simpático de nosso hotel havia dito que o passeio era ótimo, com bancos acolchoados e reclináveis, com uma vista linda e um ventinho gostoso, imaginamos que, uma vez o barco em movimento, seria mais fácil suportar aquela temperatura. Mesmo que por sete horas seguidas num dia e mais sete no outro.

 

Aí veio mais uma surpresa: havia bastante comida e bebida, se você tivesse dinheiro para comprar (não tínhamos). Os bancos eram acolchoados e reclináveis, mas nem tanto, e não poderiam ser classificados como confortáveis. E o calor, ah, o calor… Era insuportável.

 

Após um sofrimento de sete intermináveis horas, chegamos ao porto de nossa primeira parada, no qual ainda havia uma pirambeira a ser vencida. Exaustos, desnutridos e desidratados, tudo o que queríamos era chegar no hotel, tomar um banho, comer alguma coisa e desmaiar na cama. Imaginar subir aquilo com as mochilas e mais 15 kg nas costas, com nossas colunas em pandarecos, fez com que lágrimas surgissem em nossos olhos.

 

Até que alguns cidadãos apareceram, colocaram as malas nas costas e partiram morro acima. Fomos atrás imediatamente, mas eles eram muito rápidos. Saltavam por sobre troncos como gazelas felizes. Quando pararam, já no asfalto, logo percebemos do que se tratava: queriam dinheiro. Como não tínhamos mais kips – lembre-se, havíamos gasto o pouco que possuíamos com biscoitos (que haviam acabado) e bananas -, sugeri que ele ficasse com o que restava do cacho. O largo sorriso de poucos dentes que surgiu no rosto dele nos fez pensar que ele deveria estar com mais fome do que nós. De verdade nos comoveu e amansou um pouco nossa revolta.

 

Subimos então na carroceria de uma picape – sem proteção traseira – e partimos por outra pirambeira segurando as malas, no estribo e rezando para não cair. E pela nossa vida, que – literalmente – estava em nossas mãos, correndo o risco de escapar por nossos cinco dedos (a outra mão impedia que a mala voasse ribanceira abaixo).

 

Até que chegamos no nosso hotel, no alto do morro.

 

Trash. Total.

 

Não havia sequer toalhas, então tivemos que tomar banho e nos enxugar com nossa canga, que graças a Deus havia sido lavada há pouco tempo e estava limpa e perfumada. As paredes pareciam de papelão, de tão finas, e se via o abismo por entre as frestas do chão. No quarto ao lado, um velho careca que tinha a voz igual a do personagem Brick Top, de Snatch, gritava e falava sozinho, como um louco embriagado de amor.

 

Ao irmos jantar no restaurante do hotel – que tinha uma vista magnífica para o Mekong – fomos interceptados por um simpático cidadão que, aparentemente, trabalhava na casa. Ele se aproximou com um sorriso amigo no rosto e perguntou, em inglês:

 

– Maconha?

 

– Não, obrigado – respondemos.

 

– Ópio? – insistiu ele.

 

Como proceder?

 

Agradecemos e declinamos gentilmente. Jantamos e depois nos recolhemos em nosso quarto.

 

Capotamos cedo, às 22h, pois o barco sairia às 9h do dia seguinte para mais uma jornada de sete horas. E porque estávamos acabados.

 

Por isso, não foi nada legal quando, aproximadamente às 3h da manhã, se iniciou uma sinfonia de dezenas de cães que se prolongou por bem mais do que uma hora. Devido à espessura de nossas paredes, era como se a matilha estivesse dentro de nosso quarto, conosco. Sim, estávamos no inferno. Amantes de cachorros que somos, tivemos o desejo de matar a todos eles.

 

No dia seguinte, acordamos, tomamos um café da manhã clássico à beira do rio Mekong, e fomos pegar o barco. Ninguém nos avisou, mas nossa nova embarcação valia por duas, comportava muito mais gente do que havia vindo no dia anterior e já estava praticamente lotada. Poltronas iam sendo colocadas de qualquer maneira dentro do barco, ignorando qualquer preocupação quanto à superlotação.

 

Conseguimos arranjar dois lugares bem no fim do barco – por isso, nossos bancos não eram reclináveis -, perto do motor (e do barulho), e finalmente seguimos viagem até Luang Prabang.

 

Ou assim imaginávamos, pois, após sete horas, paramos num “porto” com uma ribanceira maior do que a anterior, a 10 km do centro da cidade. Dessa vez não havia escapatória: teríamos nós mesmos que arcar com 15 kg no lombo, morro acima. E talvez caminhar arrastando as malas por quase uma ponte Rio-Niterói até chegar em nossa pousada.

 

A revolta era grande e foi compartilhada por todos no barco, que se recusavam a desembarcar, já que havíamos pago para sermos deixados em Luang Prabang. Era uma tentativa de motim, meus caros amigos bucaneiros, que não deu em nada (aqui cabe uma notinha: nada temos contra um passeio roots, com perrengue incluído, que informe de antemão o que está sendo comprado para que role uma preparação psicológica. Não achamos que seja uma “frescura burguesa” salientar quando o combinado não é cumprido reiteradas vezes).

 

Evidente que deixar a todos a 10 km do ponto prometido era um esquema para, lá em cima, no asfalto, nos obrigar a pagar alguém para nos transportar por uma módica quantia (já inclusa) até a hospedagem. Revoltados, pagamos a taxa em dólar (lembre-se que não tínhamos mais kip) e subimos em nosso transporte. Após alguns minutos, finalmente chegamos em Luang Prabang.

 

Ou seja, se alguém sugerir a você fazer o lúdico passeio de barco por dois dias entre a Tailândia e o Laos, não discuta: bata o pé, diga “Não” e vá de avião.

 

Obs: Há barcos que fazem um “cruzeiro de luxo” e que devem ser muito mais confortáveis do que aquele que pegamos. Se realmente quiser fazer a travessia pelo Mekong, pesquise bem. Também havia a opção de fazer essa viagem a partir de Chiang Mai, com três dias de duração.

 

Visto do Laos

Pega na chegada da fronteira

Preço: US$ 31

1 foto 3×4

 

Slow Boat

De Chiang Rai Para Luang Prabang

Preço: 1.550 THB (R$ 155)

Duração: 2 dias

 

Boonmee Guesthouse

Endereço: Pakbeng (parada do barco em Laos)

Preço: 500 THB (R$50)

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LUANG PRABANG: UM ÓTIMO LUGAR PARA RELAXAR

Laos é um país muito pobre e bastante remoto, cujo povo humilde e simples carrega uma simpatia indisfarçável no rosto.

 

Patrimônio Cultural da Humanidade, de acordo com a UNESCO, Luang Prabang é uma cidadezinha como sua gente: acanhada mas bastante agradável. As diferenças básicas que notamos entre o Laos e a Tailândia dizem respeito à sua população, aos templos e à comida de rua (e à economia, claro).

 

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Todos os templos que visitamos em Luang Prabang cobravam entrada. Fomos em um – Phu si hill – bem no alto de uma escadaria que brindava o visitante – que conseguisse chegar lá em cima ainda vivo – com uma belíssima vista.

 

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Diferentemente da Tailândia, não aconselhamos comer nas barraquinhas de rua. Passamos mal por uns três dias seguidos, com febre, vômitos e dor de barriga.

 

Também, ao contrário do modo de vida tailandês, não há prostituição. Se você, forasteiro, quiser levar uma local para cama, terá que casar com ela. Não aconselhamos.

 

Também desaconselhamos o consumo ou a compra de drogas. Há muitos policiais fingindo ser traficantes, e a pena varia entre o pagamento de 500 dólares e a morte. Caso o sujeito vá para a prisão, a família – ou amigos – tem que levar comida para o preso. Do contrário, ele morrerá de fome. O Estado é muito pobre e não gastará o pouco que tem alimentando contraventores.

 

Devido ao péssimo sistema público de saúde, os laocianos têm um lema: “Não fique doente”. Não se vê muita gente idosa nas ruas, e o motivo é muito simples: estão – quase – todos debaixo da terra (a estimativa de vida no Laos não chega a 57 anos).

 

Um passeio interessante a se fazer em Luang Prabang é ir até as cachoeiras de Kuang Si. Distantes cerca de 45 minutos do Centro Histórico, elas lembram bastante aqueles passeios à Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Recomendamos que você se programe e vá bem cedo. Caso contrário, você terá uma sensação semelhante a ir à Praia de Ipanema, na hora do almoço, num fim de semana de verão.

 

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Ou seja, longe de ser agradável, disputando metros quadrados, palmo a palmo, com a mais autêntica farofa. Evite isso. Mas, se somente puder ir nessas condições, ainda assim recomendamos. Conseguimos encontrar um cantinho menos visado e passamos ótimos momentos.

 

Fomos até protagonistas de uma daquelas fotos em que os turistas se tornam modelos involuntários. No nosso caso, a menina foi super simpática, se apresentou com um sorriso e, na hora da pose, até abraçou este que vos escreve. Que não viu outra alternativa a não ser também abrir um largo sorriso.

 

Tomada de confiança, ela então pediu para que seu parceiro tirasse mais uma fotografia. Depois, como que para evitar algum mal-entendido que pudesse ser causado pelo bicho verde do ciúme, agradeceu muito gentilmente e se retirou.

 

No fim, não tivemos dúvidas. Assim como amamos a Tailândia, adoramos Luang Prabang!

 

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Royal Palace

Preço: 30.000 Kip (R$ 7,50)

 

Wat Xieng Thong

Preço: 20.000 Kip (R$ 5,00)

 

Phu si hill

Preço: 20.000 Kip (R$ 5,00)

 

Kuang Si Wartefall

Preço: 20.000 Kip (R$ 5,00)

 

Tamnak Lao Restaurant

Endereço: Sakkaline Road, Luang Prabang, Laos

 

Dao Fa Bistro

Endereço: Sisavangvong Rd, Luang Prabang, Laos

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O ANO NOVO EM LUANG PRABANG

Inicialmente ficaríamos em Luang Prabang apenas uma semana, mas como o Ano Novo se aproximava resolvemos aumentar nossa estadia e permanecemos o dobro do tempo.

 

Celebrada entre 13 e 15 de abril, a festividade que saúda a chegada de mais um ano é marcada por guerras de água, das quais participam todos que estão na cidade: locais, turistas, crianças, adultos, sem preconceito ou restrição, querendo ou não.

 

Diz-se que a água serve para lavar o azar e prestar respeito a Buda. Que quanto mais molhado você for, menos problemas e obstáculos terá em sua vida. Que assim seja, pois passamos metade da semana encharcados.

 

Era muito divertido ver marmanjos de quase dois metros de altura duelando atrás de carros com crianças de pouco mais de meio metro. Luang Prabang ficou lotada de turistas que disputavam armas de plástico cada vez maiores nas vendinhas das calçadas.

 

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Picapes percorriam as ruas cheias de gente nos bagageiros jogando água de grandes tinas, baldes ou bacias; locais usavam mangueiras para molhar a todos que passavam; garçons estrategicamente localizados atiravam água em clientes passados e futuros.

 

Era uma festa! Cujo único ponto fraco, devemos destacar, era a música (ruim) extremamente alta que teimava em se fazer escutar de potentes alto-falantes. Uma das mais tocadas era um funk brasileiro.

 

Por falar nisso, nossa cultura tupiniquim estava mesmo em baixa por lá: a quantidade de camisas da Alemanha “7×1″ Campeã do Mundo era assustadora, principalmente o modelo rubro-negro, numa proporção aproximada de 10 para 1 em relação à branca (mais uma pra conta do Felipão).

 

Devido ao Ano Novo, a cidade estava muito cheia e, por isso, tivemos a “oportunidade” de nos hospedar em três lugares diferentes, que variavam entre o muito bom e o ruim (pelo menos, o quarto em que ficamos no Phousi Guesthouse era apertado e escuro, além de inseguro). Conseguimos ficar uns 10 dias (no início e no fim da viagem) numa pousada ótima, Thatsaphone Hotel, com boa internet, TV com HBO, limpa, espaçosa, confortável e com diversas opções de café da manhã. Em comum entre as três hospedagens, uma ótima localização.

 

Em tempo: em uma das pousadas, Phousi Guesthouse, tentaram entrar em nosso quarto pensando que não havia ninguém, fechando a porta em seguida ao descobrirem que estava ocupado. Mais tarde, tiramos uma foto de nossos pertences antes de sairmos para jantar. Ao voltarmos, cerca de 40 minutos depois, verificamos que alguém havia entrado em nosso quarto e mexido em nossas coisas. Não levaram nada porque estava tudo dentro da mala, trancada com cadeado. Portanto, olho vivo!

 

No fim das contas, a decisão de ficar uma semana a mais para curtir o Ano Novo em Luang Prabang nos deixou muito felizes. Mesmo sem roupas secas.

 

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Thatsaphone Hotel

Endereço: Sisavang Vong Road Ban Choum Khong, Sisavangvong Road, Luang Prabang 06000, Laos

Preço: US$ 32

 

Phousi Guesthouse

Endereço: 29. Ban ChoumKong, Luang Prabang, Laos

Preço: US$ 30

 

Villa Champa

Endereço: Ban Vatnong, interjunction Pakhouay, Khounboulom Road, Luang Prabang, Laos

Preço: US$ 25

  • 1 ano depois...
  • Colaboradores
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Parabens pelo topico!! Sensacional!!

 

Vou chegar bem na vespera do ano novo em Luang Prabang. Vcs sabem dizer como foram as atrações por lá? Minha maior duvida mesmo é em relação a cachoeiras Kuang Si, vcs sabem se elas ficam abertas a visitação nesse periodo? e as demais atrações como o palacio real e templos?

 

Muito obrigado e parabens novamente pelo conteudo ^^V

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