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Exploratória Rio Itatinga (Nem só de glórias vive o aventureiro)


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"Nem só de glórias vive o aventureiro"

 

Dias antes...

 

Cogitei de realizar um sonho, encarar a respeitável Rainha da Serra do Mar , mas esbarrei com um problema: um raro e belo feriadão de 4 dias. Quem iria querer me acompanhar numa aventura dessas, que pode ser realizada em dois dias e uma noite? (acorda Vagner), ninguém, é lógico. Muitos preferiram se deliciar de roteiros de exigem e fazem jus à tantos dias, ou até mesmo curtir uma longa passagem com a família. “Viajei.”

Me vi novamente, de última hora, numa antevéspera, dominado pela ansiedade e a insônia, consultando os mapas e tentando calcular uma rota que se encaixasse com a minha disponibilidade e expectativa.

A mente ainda pendia pros lados da Serra do Mar, mais precisamente entre Mogi/Bertioga (Serra do Garrafãozinho), pra poder explorar um lugar onde muitos já estiveram, mas que poucos conhecem, e onde eu estive pela primeira e única vez a dois anos atrás. O topo da Garganta do Gigante.

 

O plano era de “invadir” o Rio Itatinga (invadir o rio?? (não entendi)). Sim, invadir o rio. Pois o mesmo está com seu acesso na margem esquerda totalmente cercado com arame farpado e placas de restrição, proibição de passagem a pessoas não autorizadas a partir dalí.

A empresa, CODESP (Companhia Docas do Estado de São Paulo), responsável pelos arredores, notou que muitos aventureiros surgiam de uma trilha que se inicia lá na SP-098, e terminava na Usina que capta água via aquedutos para abastecer a Vila Itatinga e parte da baixada. Através dessa trilha esses aventureiros aproveitavam o deleite duma bela represa, se impressionavam com o belo mirante para o litoral, arriscavam suas vidas na cabeceira da linda e gigante cachoeira, ou, ingressavam além da Usina, chegando a realizar a pouco frequentada travessia Mogi x Bertioga, via Funicular local (ainda ativa). Conclusão: para evitar maiores problemas (como em Paranapiacaba), a empresa meteu um belo de um bloqueio pra barrar “intrusos” como nós. kkk.

 

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“Pelo fato de acabar de realizar algo fantástico e inédito (Caminho dos Titãs), talvez eu tenha subestimado o vale do rio Itatinga, pensando que seria mamata chegar até ele e andar em seu leito.” Foi aí que ví que nem só de glórias vive o aventureiro.

 

 

RELATO

 

PRIMEIRO DIA - ALEGRIAS E FRUSTRAÇÕES

 

Dispondo de pouco tempo pra tal aventura, Adilson Silva, Tony Eduardo (que não sabem recusar convites),e Eu, partimos na direção sul da rodovia, desembarcamos no tradicional ponto de encontro de trilheiros na região, e às 08:00 h do dia 18/04/2015, pusemos nossos pés no início da trilha mais próxima do km 77 penetrando a Serra do Garrafãozinho.

 

Já que não temos um GPS decente, um Garmim por exemplo, fomos munidos apenas de uma bússola digital (lixo) e um mapa offline, e de quebra, dois aplicativos que o reconhecesse. Isso já nos ajudou algumas vezes, mas dessa vez os desgraçados não apresentaram nenhuma funcionalidade logo nos primeiros metros da trilha (não confie nesses malditos). Seguimos apenas com a cara e a coragem somadas à intuição e noção que tenho do lugar (FODEU rs). A longa caminhada de aproximadamente 8 quilômetros não chega a ser difícil, mas se torna uma pagação de promessa quando se tem uma cargueira nas costas e tendo que passar por todos os obstáculos que ela possa oferecer: lamaçal, pedras arredondadas e lisas, pinguelas/pontes feitas de troncos de árvores e afins.

Após a segunda ponte, há uma trifurcação, à direita temos uma área de Camping + área de lazer, onde o pessoal se pendura na corda e se joga num lago igualmente no Lago Cristal. A trilha do meio, a que seguimos, leva ao Rio Itatinga, e a trilha da esquerda (não se esqueça dela), foi a trilha da misericórdia. Mais pra frente eu explico.

 

Seguimos até a quarta ponte, pegamos a picada da esquerda, percebemos o engano e retornamos o caminho principal. Passando pelo “vale das bromélias,” com três horas desde que começamos a caminhada, chegamos onde a trilha despenca rumo a Represa Itatinga. Paramos pra comer algo, escondemos nossas mochilas e fomos até lá pra matar a vontade que o Tony tinha de conhecer a tal represa. Toda hora ele perguntava: vai dar pra ver a represa? passava dez minutos: vai dar pra ver a represa? mais dez minutos: vai dar pra ver a represa?Tava parecendo criança indo conhecer o Zoológico na primeira excursão escolar kkk.

 

Vimos que tinha gente por lá, mesmo num feriadão, as roupas de funcionários penduradas no varal caguetavam isso. Pós fotos e vídeos, retornamos até onde deixamos as mochilas, pois naquele ponto começaria o nosso vara mato na tentativa de atingir as profundezas daquele vale.

O facão correia solto, fatiando o emaranhado que fechava nosso caminho. Fomos avançando com o rio sempre a nossa direita, tendo seu barulho como referência. As vezes dava pra ver entre as brechas na mata o dito cujo correndo branquinho, nos chamando ao seu encontro, e a gente não podendo atender seu chamado, rs.

Depois de muita batalha, avistamos a cabeceira de uma cachoeira, e pelo tanto de tempo que gastamos e o quanto avançamos varando mato, julguei que já tínhamos passado Garganta do Gigante (julguei errado), e era hora de começar a descer a piramba. Quando chegamos as margens do rio, reconheci de imediato, percebi que eu já estive ali antes. Ou seja, quase duas horas se lascando entre espinhos, solo fofo, cipó segurando as pernas e provocando alguns capotes, pra não render porra nenhuma.

 

Mesmo assim, instalamos a corda e decidimos descer pra analisar a situação. Foi alí que eu broxei, e broxei legal. Estávamos num dos mais bonitos mirantes que se tem na região, na cabeceira da tão desejada cachoeira, vendo toda a beleza a nossa frente, num lindo dia de sol e não podendo fazer parte de um dos seus cenários cabulosos.

 

Ficamos alí o tempo suficiente, para tirar fotos, fazer vídeos e concluir que não poderíamos concluir nossa missão. Era suicídio tentar transpor os paredões no fundo do vale, mesmo com auxílio de cordas. A água pulverizada da cachoeira é levada pelo vento vale a dentro e deixa as rochas cheias de limo.

Depois de ficarmos um tempo observando a paisagem, fomos vistos por uma pessoa que aparaceu no alto do morro, numa casinha próxima à Usina. Ela olhava, olhava, até que sumiu e repareceu com outra pessoa que apontava em nossa direção e na direção da trilha. Aos poucos foram aparecendo outras pessoas, e outras pessoas, até que chegamos a conclusão de que se tratava de um grupo de turistas que subiram pela Funicular, acompanhados de algum guia, vindos de Bertioga. Pra evitar maiores, saímos logo dalí.

 

Pra mim o rolê tinha acabado alí. Era hora de engolir o orgulho, enfiar o rabinho entre as pernas e vazar. Se o pessoal decidisse voltar pra casa, eu toparia na hora. Mas após discutir as opiniões, decidimos voltar até aqueeela área de lazer + área de Camping que mencionei antes (lembra?), onde tem a trifurcação, e nos deliciar com o que tinha por ali, e quebrar o “cabaço dos meninos,” que nunca haviam pernoitado na mata.

 

Brincamos muito por ali, cada um era dominado pelo espírito moleque, se pendurando na corda, se jogando na água e fazendo a farra. Tava tudo tão bom, que eu até havia deixado de lado a frustração de não ter conseguido alcançar o objetivo planejado e só queria aproveitar.

Quando a noite veio dar o ar de sua graça, montamos acampamento, acendemos fogueira depois de muito sacrifício, preparamos o jantar e fomos dormir cedo (os três numa barraca pra dois (imagina o aperto)), na manhã seguinte teríamos muito que aproveitar naquele lago (*SQN).

 

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SEGUNDO DIA - NAS ARMADILHAS DO CURUPIRA

 

Com a inquietação e curiosidade que tenho, propus aos meus amigos:

 

- Oh, vamos aproveitar que já estamos aqui e vamos explorar aquela trilha que pegamos ontem por engano. A gente deixa a acampamento montado aqui, e seguimos só com uma mochila, bem leve, só com o necessário. Assim a gente já fica sabendo o que tem por lá e não precisamos voltar aqui noutro dia só pra explorar aquele trecho, e quem sabe não seja por ali o nosso caminho de acesso ao Itatinga. O que vocês acham ?

 

- vamos, demorou. - é só isso que esses sabem responder kkkk.

 

Era 08:30 h quando deixamos nosso abrigo para trás e fomos rumo ao desconhecido, pra horas e horas depois poder voltar com o peito cheio de esperança, alegria, medo, alívio, frustração, preocupação e uma certeza óbvia: Deus é pai, e não padrasto. Ele sempre ampara os filhos teus.

 

ENTENDA O POR QUÊ

 

No dia anterior, quando pegamos por engano aquela trilha a esquerda, com seiscentos metros de caminhada nós demos meia volta por que sabíamos que estávamos seguindo pelo caminho errado. Já dessa vez, seguiríamos até onde desse. E deu muuuita coisa.

 

Meia hora depois de sairmos da área de Camping, já estávamos virando pra esquerda e adentrando tal picada, larga e bem aberta. Ela segue serpenteando um grande bosque de pinheiros e aos poucos vai de afastando do nosso objetivo. Por ora se fecha, por ora se abre novamente, quase a todo tempo em terreno plano, começa a descer em direção interessante, e muito depois de seu início, quando começa a subir um morro, apresenta mais uma bifurcação quase apagada.

 

- E agora, pra onde vamos?

 

Pela lógica, tínhamos que tocar pra direita, e assim fizemos. A caminhada segue agradável e sem dificuldades aparentes até começar a descer, descer e descer. A trilha volta a se fechar com maior frequência, abre as vezes e confunde quando passa por bambuzais a beira de riachos que precisamos atravessá-los mais a frente. Isso nos trouxe tantos problemas na volta.

 

Barulhos de quedas dágua aparecem aos montes no decorrer do caminho, repentinamente, do nada a trilha acaba numa valeta seca, onde com certeza, já correu muita água em época de chuvas fortes, mas que por agora só deixava rochas cheias de limo pra que pudêssemos descer, não tínhamos outra opção, a não ser avançar. Essa valeta tem uma extensão média de cem metros, e nos pega de surpresa quando acaba na beira de um precipício de aproximadamente 35 mts de queda livre totalmente na vertical. Mesmo se estivéssemos com a corda, seria muito ariscado descer por alí. E se descêssemos, qual seria o grau de dificuldade e risco ao subir ? Descartamos rapidinho essa hipótese. Voltamos um pouco pela própria valeta e avistamos um possível acesso a nossa direita. Estudamos os riscos e possibilidades, e decidimos descer pelo caminho semi aberto que ia contornando e se esquivando do paredão. Na grande perca de altitude não tivemos muita dificuldade, a não ser pelo forte declive que parecia se agarrar em nossos pés e nos jogar ladeira abaixo juntos com as pedras que rolavam.

O curioso foi que nessa etapa, achamos uma boca de balão perdida em meio a mata, corroída pela maresia que sobe do mar e pela neblina que abraça a serra diariamente. Pelo tamanho da boca, deu pra ter uma ideia de que o balão não era nem um pouquinho pequeno. Iríamos tirar uma foto na volta, mas esquecemos e passamos batidos.

A medida que íamos descendo, o barulho forte de água correndo e despencando de rochas ia aumentando. Coisa que aumentava a suspeita de ser o Rio Itatinga, mas ao acabar o emaranhado da mata e o céu clarear mesmo com sua névoa matinal, vimos que se tratava do afluente que deságua no “procurado” não tão longe dalí. E se chegamos até lá, não seria em tal lugar o nosso ponto final. Decidimos descer mais um pouco, e mais um pouco e mais um pouco, até que as necessidades de avanço exigiam cordas, e a nossa havia ficado no acampamento. Descemos até onde deu, sem forçar a barra e sem por em risco nossas vidas.

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Quando uma cachoeira, consideravelmente alta, nos impediu de prosseguir, demos meia volta e tocamos o retorno exatamente às 11h, subindo tooooda aquela inclinação de volta. Mesmo estando uma temperatura agradável e até fresquinha, o suor pigando demais, a linguá pra fora quase batia no umbigo, as pausas então... huummm, várias. Nunca vi um aclive tão forte quanto aquele.

O caminho foi refeito da mesma forma até um pouco depois da saída da canaleta, exatamente até o bambuzal. A partir dali que, sem percebermos, começava o nosso martírio...

 

...a neblina pairou soberana como acontece na Silent Hill paulistana. Em alguns trechos parecia começo de noite, a densidade era tanta, que em pouco tempo já estávamos molhados, encharcados como se tivéssemos tomado um banho de chuva.

Seguindo como quem acredita estar no caminho certo, já com a neblina mais branda, chegamos numa parte onde a mata estava um pouco mais fechada do que quando descemos, continuamos, pois parecia o mesmo lugar de horas atrás. O terreno começou a ganhar altitude, e quando passamos por uma trilha que corta uma plantação de Taioba, saímos numa outra trilha na transversal, larga e que não lembrava em nada o percurso feito mais cedo. Bom, pensamos, vamos seguir pra esquerda que parece ser nossa direção. Seguimos.

 

Passamos por outra trilha a esquerda que realmente nos trouxe a certeza de que aquela não era a nossa rota, pois bem na “esquina” havia uma marcação feita com uma tampa de Toddy, e não vimos nada disso por onde passamos anteriormente. Andamos mais um pouco, e chegamos a um acampamento abandonado por caçadores, seguimos mais um pouco e na dúvida resolvemos voltar e pegar a direção contrária a partir de onde saímos. Fomos por mais um longo período perambulando até constatarmos que por lá também não teríamos bons resultados. Voltamos até as Taiobas, retomamos o caminho que fizemos até o ponto que lembramos e “sabíamos” que estava certo, vasculhamos os arredores, e nada de outro caminho que apontasse uma outra direção. Andávamos um pouco, parando de vez em quando, explorávamos as proximidades na tentativa de encontrar nosso caminho, e nada, repetimos isso várias vezes, e nada.

 

Subimos até aquela trilha transversal com a ideia de avançar bem mais do que a primeira vez, primeiro seguimos pra esquerda, passamos pela tampa de Toddy e pelo acampamento de caçador novamente, seguimos adiante por um bom tempo, e aos poucos só aumentava a confusão em nossas mentes, achando pontos de referência onde não tinha, alegando ter lembrado de tal obstáculo, de tal árvore que aparecia pela frente. Mas, na verdade, era pura ilusão, pois nunca tínhamos passado por ali antes.

Quando cruzamos com um riacho, foi batata, era certeza absoluta de que não era por ali e que nunca pisamos ali antes. Havia uma caneca laranja pendurada numa árvore às margens dágua, e logo em seguida o caminho se abria mais e mais com tanta folha derrubada com os golpes de facão de alguém que passara por ali recentemente. As folhas ainda estavam frescas. Resolvemos voltar todo o caminho percorrido e seguir um bom tempo na direção oposta, até ver no que dava.

Novamente nas Taiobas, marquei algumas árvores com a faca pra saber que não deveríamos encontra-las de novo. Andamos por muito tempo, agora pra direita, pra poder concluir que aquele também não era o nosso caminho. Voltamos às Taiobas, descemos até o bambuzal, procuramos pelo certo e nada encontramos. Era um sobe/descer de acabar com qualquer um, repetimos isso tantas vezes que o cansaço começou a bater, as pernas fraquejavam, a fadiga era quase dominante se não estivéssemos com o psicológico firme. Havia acabado nossa água, a alimentação já era a base de amendoim, castanhas e bolachas que ainda tinham aos montes. Ainda bem que apareciam riachos por todos os lados e o Clor-in vinha no kit de primeiros socorros dentro da mochila.

Os pequenos afluentes que tinham pelo morro poderiam ser nossa válvula de escape, mas quando adentrávamos por eles, explorando e caçando nossas próprias pegadas, vinha a tona uma nova frustração. Em um deles, eu até explorei bastante, subi muito e para alegria dos meus amigos que me esperavam lá pra baixo, eu gritei: Achei, achei nossas pegadas, podem subir. Enquanto eles subiam, eu analisei com mais calma e vi que a ondulação do solo e as sombras das folhas me causaram uma ilusão de ótica, não eram pegadas (eu estava delirando). E já que estávamos ali decidimos continuar subindo. E adivinhem onde saímos ? Na plantação de Taiobas novamente/trilha transversal. CARAAAAALHO. Estávamos andando a horas, sem nem saber pra onde, parecendo baratas tontas. A única resistência que ainda nos movia era a psicológica, por que a física já estava comprometida a tempos. A qualquer tropeço bobo, um capote, a qualquer cipó enroscado nas pernas, outro capote. Tava muito foda.

Ainda tivemos coragem pra descer, pela enésima vez, e tentar procurar uma saída a partir do ponto que lembrávamos já ter passado. E foi numa última tentativa, naquela baixada, onde entramos numa área mais fechada da mata pra caçar nossa libertação, que eu me vi mais desorientado do que nunca, vi que estávamos ariscando além do deveríamos e acabaríamos nos perdendo mais ainda. E minhas preocupações não se resumiam apenas e passar mais uma noite na mata e/ou o recente trampo que o Tony arranjou, isso era o de menos. O que realmente me trazia aflição, e até dava medo, era a possibilidade de pernoitar na mata com as roupas encharcadas. Sera que aguentaríamos a queda de temperatura na madrugada ? Uma hipotermia poderia ser fatal.

 

Foi aí que veio a decisão...

 

...quando abaixei minha cabeça sobre o bastão de caminhada. Reinou um silêncio absoluto, que nem os pássaros cantaram, as árvores não chacoalharam com o vento, que também parou. Foi como se o tempo tivesse sido congelado.

 

- o que foi Vagner, tá passando mal ? - perguntaram meus amigos.

Quase sem forças, com a boca seca e uma voz que quase não saiu além dos lábios, respondi:

- estou pensando. Só isso.

 

Com a calma de um monge Tibetano, refiz mentalmente todo o caminho que percorremos pela manhã, cheguei a uma conclusão. Comuniquei meus parceiros que o nosso norte estava pra esquerda.

 

- aê pessoal, seguinte: vamos subir esse morro de novo, pegar aquela trilha transversal e tocar pra esquerda, não importa onde vai dar, vamos seguir naquela direção até sei lá onde. Vambora, não podemos ficar aqui batendo cabeça no mesmo lugar. Se por acaso a gente sair numa cidadezinha vizinha, a gente abandona o acampamento e vem buscar amanhã, ou outro dia. O mais importante pra irmos embora já está aqui com a gente: celular, dinheiro e documentos. Vambora, vambora. E lá ia a gente, mais uma vez, morro acima até chegar na trilha transversal.

 

Já não havia mais tempo pra muita coisa, então aproveitamos que a trilha era larga, com um solo bom pra caminhar, e começamos a andar, ou melhor, quase corre. A disparada que demos foi de tanta impulsão que parecia que estávamos andando mais rápido do que se anda no asfalto. Passamos pela tampa de toddy, pelo acampamento de caçador, pela caneca laranja e continuamos sem dar uma pausa. Os cortes na mata aumentava sua intensidade, parecia que alguém ia a nossa frente abrindo caminho, e o que nos restava era seguir esse caminho, que continuava bem aberto e de fácil navegação. Sentamo o pé!! A única coisa que fizemos nos próximos quilômetros, foi andar, andar e andar. E as vezes cair, rs.

Passamos por mais um riacho, que dessa vez estava marcado com uma caneca azul pendurada numa árvore. Isso dava a esperança de que o caminho daria nalgum lugar, ou encontraríamos um senhor barbudo, com seu cachorro e seu facão roçando a mata, e seria nessa hora que iríamos pedir uma orientação, ajuda, sei lá. Até a possibilidade de que seríamos resgatados por um Águia da Polícia Militar passou pela minha cabeça. Outra saída seria tentar achar o sinal do celular e contatar os amigos que sabiam por onde estaríamos nos aventurando. Eu os deixei avisados, e isso seria uma chave mestra nas buscas desse trio perdido. Mas não, preferi me concentrar no caminho recém roçado e sair logo dali.

 

A trilha começou a descer muito, fez curvas acentuadas e continuou livre até uma outra bifurcação (e agora ? fudeu!!). Exploramos primeiro a direita, vimos que não deu em nada, tocamos pra esquerda em ritmo mais acelerado, mas não por muito tempo. Uma hora e meia andando em alta velocidade nessa trilha, e a danada acaba num rio (fudeu de novo). Atravessamos esse rio a procura da continuação da mesma, e para nossa desilusão, ela não tinha continuação. Foi aí que desabamos.

O desespero começou a dominar um dos nossos, era visível em seu rosto, a reação foi imediata quando propusemos voltar tudo aquilo e tentar um novo recomeço. Um deles sentou-se não chão, desolado, abatido e preocupado, dizendo que não arredaria o pé dali, e que não voltaria por aquele caminho de jeito nenhum e estava decidido a ficar parado ali.

Mais uma vez, com uma calma de monge, contornei a situação, pois se via claramente que o desespero era o sentimento dominador naquele momento, e que o auto controle se fazia necessário. Os que estivessem mais fortes psicologicamente teriam que acalmar que fraquejasse. E assim se fez

 

Minutos depois, já estávamos submersos da cintura pra baixo, e na outra margem do rio, preparados para voltar aquela longa caminhada, decidi explorar mais um pouco. Logo a frente estava a continuação da trilha, que não a vimos por conta de umas árvores tombadas e arbustos que encobriam nossa visão. Sentamo o pé novamente.

Acabaram os sobe/desce, o terreno era plano e o rio corria sempre a nossa direita e a trilha ia se fechando, sumindo cada vez mais. Pouco mais de dez minutos, chegando perto de um longo e grosso tronco árvore que eu nem dei atenção, o Tony gritou: olha, onde estamos. Meu cérebro levou alguns segundos pra entender a situação, e quando me dei conta, já estávamos saindo no final da trilha, gritando, pulando de felicidade, pois essa trilha é EXATAMENTE aquela da esquerda na trifurcação ao lado do nosso acampamento.

A euforia foi tamanha, que o Tony já pulou com roupa e tudo no lago gelado daquele rio, enquanto eu agradecia a Deus e abraçava meu companheiro Adilson. Mas não demorou muito, eu me joguei na água também.

Estávamos exausto, fracos e com muuuita fome. Fomos até o acampamento, nossas coisa estavam intactas como as deixamos, e na hora de preparar um almoço (quase janta), vimos que os fósforos estavam encharcados também. Sem muita opção, comemos o que estava pronto, só pra enganar o estômago, desarmamos acampamento e sarpamos no mesmo ritmo em que chegamos.

Quando bateu 17:45 h, chegávamos ao fim da trilha, exaustos, aos trapos, com alguns arranhões e carrapatos pelo corpo. Era o final de uma exploração que nos trouxe muitas emoções, uma aventura que chega a ser difícil de explicar como foi, mas que que trouxe vigor às nossas almas e uma certeza em nossas mentes: QUEREMOS VOLTAR NESSE LUGAR, pra poder tentar, por mais uma vez, atingir o utópico Vale do Rio Itatinga.

 

 

Abraços.

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  • Colaboradores
Postado

Já falei que tu é doido? ::lol4::

 

Pior, doido é quem topa ir contigo.. haha

Nessas trilhas ai não me meto não, fico só de longe a observar. ::lol3::

Qualquer coisa, chamo o águia. rs

 

Sensacional o perrengue, parabéns! ::cool:::'>

  • Colaboradores
Postado

É Armorines...

 

Foi uma aventura e tanto, meu amigo! Fico imaginando várias coisas que poderiam ter acontecido, mas o que realmente aconteceu foi o melhor pra nós.

Obs.: eu também fiquei cansado na hora de escrever a parte em que estávamos "perdidos." kkkk Eu tinha que compartilhar tal experiência.

Agradeço sua atenção ao relato.

Abraço.

  • Colaboradores
Postado

Edu (Umpdy)...

 

Você que me conhece melhor, sabe o quanto eu sou retardado, sabe também que quem aceita meus convites pra aventuras sempre volta com muita história pra contar, ou devo dizer: PERRENGUES PRA CONTAR ::hahaha:: kkkk.

 

Abraço, mano!!! ::otemo::

  • Membros de Honra
Postado

Vágner, só dos caras voltarem vivos já estão no lucro!!! ::lol4::::lol4::::lol4::

 

Lendo teus relatos eu entendo o apelido do Edu e os "idiomas" que ele passa a falar após horas de caminhada!!! kkkkkkkkkkkkkkkkkk

  • Colaboradores
Postado

Guilherme...

 

Lucro total, 100% kkkk

E se o Edu continuasse aceitando meus convites até hoje, acredito que ele já teria aprendido todos os idiomas que existem na face da terra kkkkkkkkk.

Abraço man

  • Membros
Postado

Eita preula. Que perrengue da mulestia !!! kkkkk

Parabens a todos por aguentarem firmes :)

Já tomei uns perdidos e realmente, manter o psicologico tranquilo, parar para pensar com calma, é a melhor solução.

Fico feliz que conseguiram sair ilesos, e principalmente, SOZINHOS !!! Do mesmo jeito que entraram, kkkk.

Não que receber ajuda do Aguia desmoralize, não é isso, mas prezo muito pela auto suficiencia, hahahaha.

Parabens mais uma vez. Apesar de se enfiarem em furada, conseguiram se sair muito bem perante a dificuldade, rs.

E a gente aqui se divertiu horrores com o relato, kkkkkk

Valeu por compartilhar a experiencia !!! :)

  • Colaboradores
Postado

Vivi...

 

Foi um sufoco e tanto. E a auto suficiência foi a cereja do bolo. O passeio no Águia baixaria a moral um pouquinho, mas seria legal e uma nova experiência, e das boas kkkk.

Que bom que curtiu e se divertiu com o relato. Rolou até uma diversão com a distração alheia, né!? Kkkkkkkkkkkkkk (brinks).

 

Sempre compartilho minhas experiências, mesmo que não tenha os resultados que buscamos :)

Aguarde os próximos kkk

 

bjs

  • Membros
Postado

Foi muita aventura!! um ótimo relato e com certeza vocês devem ter trilhados por caminhos que nenhum outro trilheiro já deve ter feito nesta região, rsrsrs!!

Que bom que tudo acabou bem...

abs

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