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Dia 16/04:

 

Compramos nossas passagens numa promoção da Gol, por isso nosso voo era bem cedo. O plano era ficar pelo menos 1 dia em BH e talvez conhecer algum ponto de rapel nas proximidades, depois seguir até Ouro Preto, e então de trem até Mariana, e por fim São João del Rei e Tiradentes.

 

Mas é claro que tudo mudou no caminho, porque assim como a vida, planos são pequenas ilusões que criamos para termos a sensação de controle e conforto perante o inevitável.

 

Chegamos em BH e o grupo de rapel só sairia 2 dias depois e como essa viagem foi no estilo “mochilão”, não teríamos como acompanhá-los, por isso desistimos. Sendo assim, visitamos o “Museu das Minas e do Metal” na Praça da Liberdade, com seu acervo deslumbrante de minerais, rochas, gemas e até meteoritos.

 

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Do outro lado da Praça, no CCBB, havia uma exposição de Kandinsky, pintor abstrato russo. Além do CCBB ocupar um prédio simplesmente incrível, essa mostra foi muito bem elaborada, não só com obras do artista, mas com várias outras obras do mesmo período, além do contexto histórico e muitas referências culturais. Imperdível!

 

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Pegamos um ônibus na rodoviária e partimos para Ouro Preto, chegando no fim da tarde. O Sol já sumindo no horizonte deixava sua marca dourada sobre a cidade, destacando ainda mais aquela aura mágica de uma cidade que exala história.

 

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Das ladeiras íngremes de calçamento de pedra às ruas estreitas que serpenteiam os morros, Ouro Preto é uma cidade ímpar e encantadora, que cheira à arte e história.

 

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Deixamos nossas mochilas na pousada (construída em 1730), onde havíamos feito reserva, e saímos para conhecer um pouco da cidade e alguns de seus pontos turísticos.

 

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Dia 17/04:

 

No dia seguinte, já munidos de mapas e alguns roteiros colhidos em sites de viagem, saímos logo cedo com nossos planos na cabeça e ávidos por desbravar Ouro Preto.

 

Logo na primeira praça fomos abordados por um guia local (existem muitos por lá e eles identificam os turistas à primeira vista). Minha reação inicial foi dispensá-lo... Ele, levemente embriagado, sacou um folheto velho, todo amassado com um cartão dele mesmo, querendo nos levar até uma mina de ouro desativada.

 

Nesse momento estávamos indo para a "Mina do Chico Rei", cuja história é incrível. Um escravo negro chamado Chico, que por conta do estado de saúde debilitado de seu senhor, fez um acordo para comprar sua própria alforria, pagando o dobro de seu valor original, na época 1,6 kg de Ouro.

 

Após o feito, continuou trabalhando na mina e com a ajuda dos outros escravos, foram pagando a alforria dos demais, até que ele conseguiu se tornar proprietário da mina, se consagrando como "Chico Rei", e todos os envolvidos conseguiram sua liberdade.

No entanto, hoje essa mina é um dos pontos mais visitados de Ouro Preto e tornou-se claramente um lugar para turistas.

 

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A oferta feita pelo guia que nos abordou foi: “Você não precisa me pagar nada, apenas o valor do lugar. Eu te levo até lá!”

Sou desses que gostam de aventura, de conhecer de perto, de ir onde o nativo vive... Mas venho do gueto, não nasci ontem, sei como funcionam os golpes em turistas desavisados...

Com o pé atrás, e com a antena mais do que ligada, concordei e acompanhamos o guia. No caminho ele falava de energia, do universo e que estávamos aqui para sermos felizes e que para isso não precisávamos de muito.

 

Aos poucos fomos percebendo um vocabulário elaborado, algumas informações muito coerentes e de grande relevância. A paisagem foi mudando enquanto subíamos e descíamos ladeiras, as casas de época foram dando lugar para casinhas simples. Estávamos longe do centro histórico, estávamos na periferia da cidade. Definitivamente este não era um “passeio” para qualquer um.

 

Ao todo, são 2046 minas catalogadas em toda Ouro Preto, fora as clandestinas ou as que foram enterradas debaixo de alguma construção sem deixarem registros.

Chegamos até a “Mina de Ouro Felipe dos Santos”, lugar bem simples, onde a mina é praticamente um buraco no fundo do quintal.

Seria uma armadilha para turistas? Se sumíssemos ali, ninguém sabia onde estávamos. Dar meia volta?

Ao entrar, fomos apresentados ao Geraldo, o dono atual e guia da mina que nos guiaria na aventura subterrânea.

 

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No livro de registros, havia dois nomes do dia anterior, mostrando que poucas pessoas vão até o lugar. Pegamos nossos capacetes e topamos o desafio. Logo na entrada a diferença de temperatura. Muito mais frio e úmido. As passagens estreitas eram abertas com martelos e picaretas pelos escravos, em alguns pontos é necessário andar abaixado e até quase engatinhar para conseguir passar.

 

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O ar gelado que sobe da garganta escura da mina, o chão escorregadio e o teto baixo, as marcas das marteladas na parede. Não havia nenhum escoramento nos tetos e paredes, apenas um buraco contínuo e aparentemente infinito. Eu tentava não pensar na possibilidade daquilo desabar, mas era em vão, era só o que passava pela minha cabeça enquanto adentrávamos mais e mais.

 

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Durante o percurso, o guia contava a história do lugar e da mina. Muitos ditados populares surgidos da época dos escravos, uma verdadeira aula de história numa viagem ao centro da Terra e pelo tempo. Por fim, chegamos a um buraco na parede onde era necessário subir para ter acesso e era possível ouvir o forte barulho de água. O Geraldo indicou o local, mas disse que não iria junto porque era muito apertado, só passava um por vez. Quase tivemos que ir engatinhando de tão pequena e estreita que era a passagem até o final do túnel que subia, mas no fim, de dentro da pedra surgiu uma cascata de águas geladas e cristalinas.

 

Nos refrescamos com aquela água da montanha e ficamos agradecidos por estarmos ali. Tentamos imaginar quantas pessoas perderam suas vidas naquele espaço confinado, quantos escravos trabalharam contra sua vontade, para abrir aquelas passagens apertadas e sufocantes em busca de ouro para seus senhores.

 

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Saímos da mina um pouco sujos, mas pensativos. Fomos a algumas igrejas e em outra mina, essa um pouco maior, mas igualmente assustadora por poder observar as marcas de ferramentas manuais nas paredes e o perigo iminente de um desmoronamento. Nosso guia (aquele que encontramos na praça anteriormente) nos disse: “A escravidão não acabou, apenas foi trocada pela servidão, os senhores são os mesmos.” Isso ficou ecoando em nossas mentes, ao observarmos que em tantas pousadas, hotéis, restaurantes e comércios haviam muitos funcionários negros, mas nenhum dono.

 

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Na visita à “Casa dos Contos”, o lugar onde a extração de ouro era pesada e onde se descontava o “quinto” da Coroa, havia uma senzala de pedra fria nas fundações da casa, onde montaram um museu com algumas peças de época. Entre elas várias algemas, grilhões e correntes. Havia também um alicate, feito especificamente para cortar o tendão de Aquiles de escravos que tentassem fugir. Fiquei emocionado, um misto de tristeza e vergonha.

 

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Dia 18/04:

 

Acordamos bem cedo e encontramos com nosso guia do dia anterior que havia prometido nos levar para fazer uma trilha. Pegamos um ônibus local na Praça Tiradentes e logo já estávamos rodando fora da cidade. Desembarcamos uns 30 minutos depois e entramos na trilha debaixo de Sol forte, a vegetação baixa ao redor. Andamos por cerca de 40 minutos quando avistamos uma construção, que seria a entrada do Parque das Andorinhas.

 

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Que lugar incrível, de exuberante beleza natural. Um riacho cortava as pedras pontudas e seguido seu curso, demos de cara com uma fenda na pedra de uns 40 metros de profundidade, onde forma-se por baixo das pedras a "Cachoeira das Andorinhas", uma obra indescritível da natureza.

 

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À esquerda da cachoeira, um cânion com uma vista sensacional de toda a região e a "Pedra do Jacaré", de tirar o fôlego.

 

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Aproveitamos todo esse contato com a natureza para nos reenergizar em meio a calangos, peixes, aves, um teiu que deu o ar da graça e até algumas vacas que apareceram por lá. Pegamos a trilha de volta, no começo da tarde. Ao chegar na estrada, vimos alguns ciclistas e um utilitário que descia devagar com um bombeiro esticando algumas fitas de marcação. Haveria no dia seguinte um campeonato de Downhill e estava rolando o treino naquele momento.

 

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Pegamos carona na caçamba do utilitário, que era do organizador do evento e nos poupou bastante tempo e energia, nos deixando no bairro da Piedade, onde pudemos assistir um pouco dos treinos e almoçar.

Aproveitamos o fim de tarde para visitar outras igrejas e alguns pontos do Centro histórico como o Museu da Inconfidência e o Museu de Mineralogia e Metalurgia na Praça Tiradentes.

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Dia 19/04:

 

Sabíamos que o trem para Mariana partia às 10hs., então chegamos na estação antes das 9hs., porém por ser domingo, já havia uma fila enorme. Fomos nos informar e descobrimos que o trem já estava lotado, restando somente o horário das 15hs.

Queria muito ir de trem até Mariana, mas não achei uma boa perder um tempão numa fila, além do valor da passagem que achei bem caro. Desistimos!

 

Descobrimos que da rodoviária saia um ônibus para Mariana a cada meia hora, e foi p/ lá que fomos, gastando muiiito menos! ::otemo::

A cidade de Mariana é bem pitoresca, com suas igrejas e construções históricas, além da comida típica que aproveitamos por lá.

 

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A “Mina da Passagem”, que fica entre Ouro Preto e Mariana, é uma mina bem maior com grandes galerias abertas na pedra. Esteve ativa até 1998 e chega-se nela por um carrinho de trilho preso por um cabo.

 

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Dia 20/04:

 

No último dia, resolvemos ir até Lavras Novas, o ônibus sai da estação de Trem de Ouro Preto e percorre boa parte do percurso em estrada de terra, subindo uma encosta contornando a serra, é bem assustador.

Pudemos conhecer a região belíssima em um jipe 4x4 (Único jeito de passar). Um lugar fantástico com muita natureza onde vale a pena ficar algum tempo, mas como só tínhamos um dia, aproveitamos o máximo que pudemos.

 

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Conhecemos parte da Serra do itacolomi, finalizando com um banho de cachoeira.

 

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Ao desembarcarmos em SP, ainda no aeroporto, fomos tomar um café e presenciamos uma cena bizarra, logo cedo, de um passageiro xingando uma atendente negra da cafeteria, sabe-se lá por qual motivo.

“Apenas trocamos a escravidão pela servidão.” Continua ecoando...

  • 2 meses depois...
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Massa o relato... to indo pra essas bandas em Julho. Vc disse q pegou ônibus pra ir pra Lavras Novas e lá rodou de jipe. Foi com agência? E a trilha no Parque das Andorinhas? Dá pra ir sem guia de boa?

Abraço!

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